05/06/2013

Por causa de um gatinho?

Fonte da imagem: AmuMag
 
Por causa de um gatinho ela chorou. Nem era seu, mas mesmo assim ela chorou.

Não, não se trata de linguagem figurada, era um felino de uma amiga. O animal sofreu muito, por falta de socorro veterinário, por falta de compaixão de quem poderia ajudar, por falta de ajuda de quem não honra seus quarenta e seis cromossomos.

Oras, dirão alguns, deveria se condoer pelas crianças carentes, pelas pessoas famintas, em vez de chorar por bicho. Oras, digo eu, por que não se calam? Ela chorou por uma criatura de Deus, como choraria por uma criança, e chora quando a dor é grande.

Além do mais, há uma pessoa de luto por causa do gato. Uma pessoa próxima, que os insensíveis não levam em conta. Não fosse pelo gato, ela choraria pela dor da amiga, mas chora também pelo sofrimento do gato.

Ela chorou porque é sensível à dor do outro, não importa quem o o quê o outro seja. Ela não teria se tornado freira anglicana, se não tivesse compreendido esta lição: Amai o próximo como eu vos amei. Francisco de Assis levou como ninguém esta regra, o que ela faz é tentar seguir na medida do seu possível.

Não, ela não força, ela a segue de coração aberto. Ela sabe que quem agride um animal doméstico, não terá piedade de uma criança ou um idoso. A vulnerabilidade é a mesma, até maior em certos aspectos, pois o bicho não sabe registrar denúncia.

Uma pessoa de coração nobre, não escolhe por quem sofrer, sofre junto por qualquer um. Pessoas de coração nobre são raras. Pessoas que optaram por ele, mais ainda.

Viver em um ambiente de promiscuidade, conseqüência mais freqüente do egoísmo, e ainda assim manter a sensibilidade para com a dor do próximo, sem escolher quem será esse próximo, é dom de quem não tem sangue correndo nas veias, mas ouro líquido, de que também é feito seu coração.

Sim, ela chorou por causa de um gatinho, que não tinha absolutamente nada para dar em troca, e cuja falta não concederá herança alguma, a não ser mais uma dor no peito a forjar sua candura. Mas não espero e não peço aos insensíveis que compreendam isso, só peço que se não tiverem uma palavra doce para oferecer, que se calem.

2 comentários:

Patrícia Balan disse...

Como é que eu faço para parar de chorar de alegria pela tua vida? Quem se apieda de animal também fala palavrão, xinga funkeiro e motorista de ônibus. De repente é só a depressão! Você vê o que tem nos teus olhos. Esses que quando Deus fez, tava doido para se mostrar!

Nanael Soubaim disse...

Eu vejo tudo o que o filtro do ego não permite aos normais.