25/11/2011

Vamos levar a casa para passear?

http://www.brownsrvsuperstore.com/index.html

Tenho me perguntado como seria morar em um motorhome. Não que eu tenha cacife para comprar um, ainda, mas consegui encontrar algumas vantagens muito atraentes, inclusive usando meu conhecimento de causa. Eis alguns fabricantes nacionais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui. Uma revista brasileira especializada aqui.

Eu tenho um problema sério com vizinhos, sou pouco sociável e às vezes gosto de ficar sozinho. Mas como ficar sozinho de verdade, com o melô da dengue no último volume a tocar "se eu te pego, ai-ai, se eu te pego, ai-ai, se eu te pego ai-ai..." como se o quarteirão inteiro fosse o quarto do fedelho? Se até as músicas de que gosto me incomodam, em volume excessivo! E Campinas virou um pardieiro! Desde que abriram a avenida Leste-Oeste sem um acesso adequado, as ruas estreitas do bairro estão em perene horário de pico, das seis às dezoito horas. O barulho é um inferno! E o vizinho pentelho ajuda a piorar o quadro, abrindo o carro e aproveitando a frouxidão da fiscalização.

Com um motorhome não haveria este problema, eu simplesmente ligaria o possante, engataria a primeira e ainda poderia buzinar para o folgado dar passagem, já que gente assim se acha dona da rua também.
Imaginem a cena. Um baita motorhome, poderia até ser montado no baú de um Mercedes 1418 chassi longo, com três ou quatro cornetas de ar comprimido, chegando à traseira do moleque abusado e, repentinamente... FUÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Asseguro que ele sai da frente, se não tiver uma taquicardia. Vizinho incoveniente não seria problema, o simples facto de haver mobilidade fácil te permite ficar longe deles, quando o pau quebrar no ápce da bebedeira.

Seria uma moradia relativamente barata. Vejam bem, o aluguel de uma boa casa de três quartos, bem acabada e bem localizada, não sai por menos de mil reais. Por menos da metade tu consegues ser mensalista de um bom estacionamento, perto de tudo, e ainda inclui a vigilância da empresa. Sim, também há a possibilidade de dar o endereço do estacionamento para comprovação de residência. Um bom pode custar de setenta a trezentos mil reais, sendo este uma baita casa sobre rodas, com tudo muito bem acabado, bastante espaço e chiliques para família nenhuma botar defeito. Pelo preço de um apartamento pequeno, que logo vai descascar e te dar dores de cabeça com vizinhança próxima demais, compras um ônibus transformado para quatro moradores. Condomínio de qualidade é seguramente mais caro do que a mensalidade no estacionamento, que pode te providenciar pontos de água e luz sem dificuldades. Aliás, provavelmente rachar estas contas reduziria o custo da mensalidade.

E a hora de viajar? Ah, aí está a grande vantagem, o maior e verdadeiro encanto de um  motorthome. Mensalidade em dia, a vaga é tua, poderá continuar a receber correspondência, jornais, revistas, panfletinhos irritantes, e ainda podes negociar o uso de tua vaga na ausência de tua casa. Ao fazer os planos com família e/ou amigos, deve-se levar em conta que trata-se de um veículo grande e comparativamente lento, em relação aos carros de turismo, afinal é um ônibus com carga sempre próxima da máxima, o motorista precisaria ser experiente e cuidadoso. Observado isto, o resto é alegria, pois até os buracos das nossas estradas os pneus de um ônibus absorvem melhor do que os dos carros pequenos.

Andando com cuidado, chega-se com segurança a qualquer lugar. Pernoita-se em postos de combustível, aproveitando para reabastecer, onde também pode-se obter informações novas em folha sobre a estrada adiante. E as crianças? Ah, não haveria aquele choro de "Quero fazer cocô", porque o sanitário está lá dentro. Com a estrutura e o custo de um motorhome, é possível encher as poltronas com acesórios de entretenimento e conveniência, a molecada teria com o que se distrair, além da paisagem. Além de não ser necessário tolher a liberdade dos petizes, afinal estariam em sua casa, não no hotel, poderiam pular no sofá e correr pelo corredor do ônibus à vontade. Seria um factor de agregação familiar ainda inexplorado em terra brasilis bananallis. Adolescentes, em especial, fariam a festa, blogando todos os dias com uma novidade, actualizando seus perfís em redes sociais e enchendo seus contactos com um conteúdo que valeria à pena.

Na verdade, de uma pequena e popular Fiat Fiorino já se faz um motorhome para dois, com móveis escamoteáveis, dobráveis ou infláveis e um banheiro químico. Ou individual, com mais espaço do que os leigos podem imaginar. Para quem tem cacife e faz a pergunta "Até que nível pode ter um motorhome?", dou a resposta dos preparadores, que ouvem a mesma pergunta sobre quanta potência um carro pode ter: Quanto tens para investir? Existem veículos que, não bastasse já serem imensos, ainda são expansíveis, mantendo a mobília bem encaixada quando em movimento, quando estacionado suas laterais deslizam para fora, mais do que dobrando o espaço interno. Alguns podem facilmente receber um automóvel na parte de baixo. Claro que a criatividade ajuda a baratear e melhorar o veículo, é questão de ter pensamento lateral.

Nos Estados Unidos, país imenso, onde a cultura do campismo é muito difundida, a indústria de traileres e motorhomes é próspera, os preços são mais em conta e muita gente mora sobre rodas. Os hotéis não sofrem por isso. Mesmo com crise as pessoas viajam, alugam e compram motorhomes.

No Brasil, país imenso, onde a cultura do campismo é considerada programa de índio, os preços são salgados e mesmo assim muita gente mora sobre rodas. Os hotéis (pífios que temos) fazem de tudo para desestimular esta prática, sem oferecer nada em troca. Tenho alguns amigos que conheci pela rede, e com quem agora tenho mais contacto pelo Facebook, que tentam reavivar a cultura do trailer, que já foi razoável no país. Apesar do desinteresse popular, é uma prática ainda viva, que poderia gerar muitos postos de trabalho, e forçar os hotéis a melhorarem seus serviços. Não que o campista convicto vá trocar seu motorhome por um quarto de hotel, não facilmente, mas eles veriam que existe uma opção real e viável, teriam que rebolar para melhorar preços e serviços.

18/11/2011

Juventude à direita

A garotada está acatando.

Esclareço novamente que não sou de direita, de esquerda, meia-volta volver!

Repito que muitos esquerdistas já me chamaram de pelego, muitos direitistas já me chamaram de comunista,e os dois acham que têm a interpretação certa do que eu realmente sou. Então guardem suas ranhas partidaristas para outro blogueiro, este texto é para meus leitores habituais, e àqueles que sabem ler sem procurar códigos subliminares que comprovem que sou uma ameaça... Se eu realmente fosse, vocês estariam fritos.

Quando a suposta redemocratização aconteceu, em 1985, saímos de uma ditadura para uma ditabranda. A constituição de 1988 desagradou deveras os técnicos, mas os políticos amaram... Hoje sabemos o porquê. O alarde em prol da mesma foi ensurdecedor e, corroborado pelo fim do regime, ninguém percebeu que ali estavam todas as inúmeras brechas e falhas, que permitiriam um festival de permissividade com o erário sem precedentes. É o que temos hoje.

Durante muitos anos (uns vinte, mais ou menos) a chamada direita ficou calada, porque as mazelas da época da ditadura ainda estavam frescas na memória do povo, e porque os políticos que dela se aproveitaram ainda estavam fazendo asneiras com o dinheiro dos impostos. Só que a chamada esquerda começou a ser eleita e também começou a fazer besteiras, chegou a emplacar a frase "A esquerda é uma excelente oposição". Começou a crescer a idéia de que a esquerda deveria dar idéias e à direita caberia colocar em prática... O que parecia ser uma proposta de parceria, que daria o tom realmente democrático à república das bananas, acabou tornando-se uma guerra ideológica fria.

Alguns anos passaram em relativa paz, e bastante maceira. Esquerdistas começaram a cair em desgraça e trocar de partidos, como qualquer outro político, e os militantes começaram a ficar tensos, sem saber o que dizer ao eleitorado. Os mais exaltados simplesmetne empunhavam bandeiras, colocavam hinos comunistas na vitrola (ainda havia vitrolas) e respondiam com discursos prolixos e apaixonados a qualquer pergunta, mesmo que fosse sobre as horas. Claro que a parte direitista, pavio curto (né, Caiado!) pra caramba, começou a dar respostas à altura, ganhando a discussão no grito, literalmente.

Com o tempo ambos os lados foram encruando e ganhando acabamento mais fosco, que logo ficou abrasivo demais para uma convivência salutar. A coisa pegou fogo quando do plebiscito de 1993 (aqui) quando pudemos escolher a forma e o sistema de governo. Não fossem o amadorismo e o ufanismo infantil, o risco de hoje sermos uma monarquia parlamentarista teria sido real. Para quem pensa que os monarquistas saíram cabisbaixos, faça uma pesquisa na internet (como aqui, aqui, aqui e até no twitter, aqui) e veja melhor. Foi a visibilidade ganha pelos monarquistas que cooptou muitos jovens da época à direita moderada. Não se trata de um movimento de meia idade, há uma juventude crescente, mesmo a republicana, abandonando os movimentos de esquerda e indo para a direita e centro-direita.

Rapidamente as mazelas da esquerda apareceram e se mostraram iguais às de todos os outros, então os direitistas ficaram crús e fincaram pé em sua posição. Mas a debandada dos garotos para o outro lado da balança, veio mesmo com a eleição do Lula, de cujo governo os escândalos eram sistematicamente acobertados pelos militantes, e os que tentavam argumentar eram duramente agredidos em caixas de comentários. A incoerência de quem fala dos horrores da ditadura, mas dentro do seu quintal faz exactmente o mesmo, decepcionou uma parcela grande da juventude. Até a ascensão econômica de quem não for de determinado partido tornou-se crime, aos olhos dos radicais de esquerda.

Nos últimos cinco anos, a agressividade das alas radicais (de ambos os lados) chegou a níveis fundamentalistas. Só que um dos lados não está defendendo quem foi pêgo em flagrante corrupção. Lembram do ministro Rubens Ricupero? Para quem não se lembra, clique aqui e veja o vídeo aqui. Ele confessou, acreditando não estar sendo filmado, e o repórter também acreditou estarem em sigilo, que o que fosse ruim ele esconderia, que não teria escrúpulos para isso. Vejam bem, ele não foi flagrado em acto de corrupção, o que ele fez foi falar uma asneira do tamanho do Maracanã, igual às que já estamos (perigosamente) acostumados a ouvir dos ministros de hoje, e o povo pediu sua cabeça na hora. A oposição da época, hoje situação, não esperou um segundo para exigir sua renúncia. Agora no poder, essa ala esquerdista defende com unhas, dentes e ofensas explícitas pessoas flagradas no ilícito. O superfaturamento da reforma do parque Mutirama, em Goiânia (vejam aqui) é o facto mais recente.

Bem, a juventude sempre foi vista como contrapeso ao sistema, pois o sistema hoje tem outras cores e ela não arredou pé. Vendo tanta gente disseminando ódio (não vem que não tem, tenho experiência de vida, sei reconhecer palavras de ódio quando as percebo) apenas para preservar a imagem de seus partidários, o termo "comunazi" brotou e floresceu no meio. Neste semestre, para piorar o quadro, um dos líderes declarou abertamente estarem treinando gente para fazerem uma patrulha em defesa de seu partido, e já o estão fazendo, a qualquer custo, usando palavras de ordem e ocupação em massa quando faltar um argumento plausível. Não é para defender o país, é para defender os correligionários e o governo, inclusive os aliados... O que leio dessa gente não difere em nada do que aprendi sobre dogmatização, doutrinação fundamentalista e lavagem cerebral... Dez anos lidando com psicólogos, ajudando seus maluquinhos e estudando a respeito, me serviram de algo. A garotada que está trocando de lado também percebe isso. "Eles não lutavam contra a corrupção? Não exigiam conduta ética e poética até no jeito de olhar? Então por que estão agindo exactamente ao contrário?" são os questionamentos mais freqüentes com trema que conheço. O que mais irrita-os, porém, é a completa submissão ao comando do partido, como se fosse uma igreja de fanáticos. Assim que ocorre um escândalo, ficam a esperar pelas ordens do diretório para saberem o que fazer, ainda que já saibam o quê.

O golpe de misericórdia veio com a última crise mundial. A Alemanha de Fräu Merkel, direitista moderada, é o único país da zona do Euro com as contas em dia, enquanto os países que se arreganharam para políticas sociais sem ter lastro, por puro populismo, estão de pé às custas da interferência francoteutônica. Estudando muito além da cartilha que os partidos costumam impôr aos seus militantes, esses garotos acabaram concluindo que o capitalismo funciona. Claro que muitos estão radicalizando e fazendo esterco, simpatizando com grupos fascistas, mas isto aqui não é um blog do gênero 'chumbo grosso', não perco tempo com eles. A juventude que adere à direita cita a própria China, com argumentação muito bem embasada, para defender seu ponto de vista. Enquanto os fundamentalistas usam exclusivamente as informações dos regimes comunistas e seus partidos como fonte de sua confiança, a garotada decepcionada lê tudo, embora nenhum dos dois seja imparcial, seria pedir muito de jovens. O facto é que um lado usa o material liberado por aqueles governos, desprezando tudo o que sai de outras fontes, ainda que de dentro dos países, exactamente como os neonazistas. Lamento ter que fazer a comparação, não é de caráter ou similar, é somente de método, porque o resultado no subconsciente é o mesmo.

Quem me conhece sabe o quanto detesto discursos, retóricas e a famigerada prolixia, esta em virtude de meu pragmatismo acentuado, mas tenho amigos prolixos e desceria o cacete se tocarem um dedo neles. Pois a maioria dos esquerdistas não sabe se comunicar sem recorrer aos bordões e palavras de ordem de seus partidos. É muito chato! É muito incoveniente! Acabam falando tudo, menos o que faz a questão em foco funcionar! É preciso ter muito conhecimento de causa para saber o que eles realmente querem dizer, porque tanta palavra jogada numa só oração, cansa os ouvidos e os olhos. Deve ser por não ter time nenhum que eu nunca simpatizei com oradores apaixonados. Eu quero resultados plausíveis, não só de imediato, para aparecer, mas resultados com lastro e continuidade.

Releiam o que acabei de escrever no parágrafo acima. Embora minha preocupação com os necessitados possa ser visto como esquerdista, meu senso prático é considerado essencialmente de direita. São minhas asas, eu fico na fuselagem, comandando o avião. Acontece que os radicais de um lado só lêem (e deturpam) o que eu escrevo com viés para o outro. E é por causa do pragmatismo que deixo claro, que alguns jovens declaradamente de direita começaram a simpatizar comigo. Não que concordem com tudo o que digo, mas concordam com minhas intenções. E como estou pê da vida com o governo, especialmente no tocante ao regime automotivo e energético, minhas especialidades, acabamos convergindo em muitos pontos. Como politipatas não toleram qualquer conversa amigável com seus desafetos, como que assumindo uma guerra fria, atacam-me mais os esquerdopatas do que os direitopatas.

Essa garotada promete vingança nas próximas eleições. Uma parcela dela jura que o Brasil não será uma república por muito mais tempo.


11/11/2011

Seres humongos

Vem bater em mim, babaca!

Na contramão da evolução biológica, espiritual, intelectual, moral et cétera e tal da humanidade, os humongos estão espalhando seu terror pelos noticiários com factos que eu pensava terem ficado nos anos quarenta, nos rincões mais afastados e desassistidos.

Estamos iniciando a primeira década do século XXI e ainda vemos gente(?) espancando seus cavalos, só porque os coitados trabalharam à exaustão o dia todo sem comer uma folha de grama sequer, e agora estão rendendo menos. E não, não são só os mais velhos e embrutecidos pela vida que fazem isso, moleques de vinte e poucos anos, que fizeram filhos sem pensar que eles têm custo de manutenção, descontam nos pobres animais as suas frustrações, obrigando-os a competir com os carros em horários impróprios para a tração animal.

Há em Santa Catarina uma ação da Polícia Rodoviária para educar os carroceiros, na tentativa de reduzir os maus tratos aos animais de tração pelos animais de coche. Via de regra, em especial em rincões como este, pensa-se que o animal é uma mercadoria como outra qualquer, que se descarta sem qualquer preocupação que não seja livrar-se do problema. Quando entra dinheiro de aposta então, que se lasque o animal, seja cão ou galo, a barbárie regride à idade antiga.

Aos que alegarem problemas sociais, econômicos e todo esse discurso que só funciona em palestras, logo aviso que sou de um lugar que, ainda durante minha infância, era pouco mais do que uma extensão das fazendas. Pois aquela gente que jamais ouvira falar dos Beatles, que não sabia quem era o presidente e nem sonhava que houvesse outros idiomas, tratava seus animais muito melhor; embora a rudeza da lida não fosse escondida. Não digo que não havia crueldade, havia, gente ruim há em todas as épocas. Naquela época, os donos de animais enfrentavam a rápida obsolência, os (até hoje) grandes caminhões FNM enfrentavam condições de estradas que se acreditava serem só para carro de boi... Levando facilmente quinze toneladas por atoleiros. O padrão de vida não caiu muito porque era comum se ter uma rocinha, e não havia muito o que se cobiçar... Bem, na verdade até já havia, o Aero Willys era um sonho de consumo comum, para alguém cujos pertences pouco iam além de mesa, cadeiras e cama rústicas, era muito mais do que um sonho proibido. Então não se pode culpar a tentação do mercado para justificar o mau comportamento dos carroceiros de hoje. Se até um lider neonazista se arrependeu e pediu ajuda a um activista negro, para eliminar as tatuagens, então qualquer um que se disponha a se colocar no lugar do outro consegue se colocar no lugar do cavalo.

Não falo apenas de agressões no couro do bicho, mas também de lesões graves que muitos donos infligem, e que muitas vezes levam o animal a óbito. E quando são presos, os animais ainda se revoltam, como se não tivessem feito mal algum. Porque para eles, a exemplo do que era com os senhores de escravos, o animal é só uma coisa que tem obrigação de dar retorno sem investimento nenhum. Piora as crianças serem incentivadas, ganhando de presente bichos que serão descartados rapidamente, como coelhos, chihchilas, e répteis. Elas estão aprendendo desde cedo que bicho é mercadoria, como um brinquedo que depois de perder a graça pode ser jogado fora.

Ainda cito um idiota que amarrou seu cão ao seu veículo e o arrastou pelas ruas. O animal foui salvo e adoptado por uma família de humanos, mas a perversidade daquele ser humongo o fez perder uma pata. Sim, o animal bípede foi multado, mas isto não apaga os danos físicos e psicológicos que o cão sofreu. Sim, caríssimos, as outras espécies têm sentimentos, portanto têm psicologia, até mesmo os répteis têm um pouco. O prejuízo que um animal maltratado sofre pode ser comparado ao de uma criança, mas o animal nunca poderá dizer o que sofreu e o quanto ainda está sofrendo. O bicho terá pesadelos pelo resto da vida, por mais bem tratado que seja pela nova família, e não conseguirá sequer se expressar direito a respeito. Graças a Deus já há psicólogos para animais, mas esta ciência ainda é nascente, especialmente no Brasil e há poucos profissionais no mercado.

Já há pessoas que adoptam bezerros recém nascidos, porque muita gente ainda sacrifica-os para que não bebam uma gota sequer do leite que querem vender. Não, não me refiro a grandes grupos corporativistas e cruéis que bla-bla e blo-blo, é gente(?) comum que mais faz isso. Por que? Bem, cada um tem seus motivos, mas acredito que nenhum justifica a crueldade. Crueldade não escolhe ideologia, condição financeira, religião nem preferências particulares, quem tem tendências a ser cruél e não se importa com os métodos para alcançar seus intentos, será cruél com gosto.

Da mesmíssima forma que eles sofrem com agressões, a maioria gratuita, também sofrem com os abusos sexuais. Zoofilia vicia o bicho, ele pode se desesperar para sentir a relação sempre. Conheço caso em que o cão de uma família passou a se oferecer às visitas, foi quando a esposa descobriu o que o marido fazia com o bicho. Em todos os casos, o ser humongo só está preocupado com sua própria satisfação e com nada mais. Houve em Goiânia, há muitos anos, o caso de um idiota que não se contentou em abusar da cadelinha da esposa, ele obrigava o casal de filhos a assistir à cena.

Sei o que meus leitores habituais estão pensando, pelo que disse logo acima, e lamento confirmar seus temores. Quem abusa de um animal, por agressão ou zoofilia, não está longe de fazê-lo com uma criança. Há pessoas que acreditam que animais sequer devesse ser vendidos em lojas, pelo menos não no tipo de loja a que estamos acostumados, para que percam a pecha de mercadoria.

Há em Nova Iorque um projecto para substituir as carruagens por carros eléctricos, no mesmo estilo dos carros da bélle époque, por causa de pressões de entidades que defendem os animais. Exageros à parte, não são poucos os catadores de material reciclável que trocaram os cavalos por monstrengos mecânicos, soldando pedaços de motocicletas a uma armação metálica de carga, fazendo triciclos bizarros, que que funcionam e andam mais rápido do que os cavalos, atrapalhando menos o trânsito e se lixando para o mau humor do dono. O triciclo sim, é um objecto, uma coisa, algo que pode apanhar à vontade sem medo de magoar ou traumatizar. É gente pobre que em vez de comprar um bicho e expô-lo às agruras do trânsito, juntou peças, foi ao mecânico e fez um veículo próprio para carga. Há empresas que fazem a transformação bem feita (aqui, aqui, aqui e aqui) mas ainda é caro para a maioria... E não existe financiamento apropriado para o caso. Pelo menos em Goiânia, esses veículos são bem tolerados pela população e autoridades, até porque o motor não se assusta com buzinas e o trânsito flui melhor, porque o peso e o volume que os cavalos puxam é igual, só que muito mais lentamente.

Pelo menos para os cavalos, como foi há cem anos, a esperança plausível de libertação está na motorização para pequenas cargas, que está se dando aos poucos pela iniciativa da parte menos humonga das pessoas. Há usos muito mais nobres para os eqüinos, pergunte a fisioterapeutas e psicólogos. Já para os outros, como cães, gatos, coelhos, hamsters, que são abandonados ou simplesmente jogados fora, infelizmente só a punição em massa para causar choque, seguida de uma campanha maciça de educação para resolver.

Os animais, meus amigos, não têm como irem à delegacia prestar queixa, nem como interagir de modo a esvair seus traumas. São como crianças, só que crianças que jamais chegam à fase adulta, que jamais podem se defender.

05/11/2011

Eu observo o trânsito

http://educadorestransito.zip.net/

Vi o trânsito da capital se deteriorar nos últimos cinco anos. Na verdade ele já estava se intensificando de forma vertiginosa desde meados dos anos noventa, mas deterioração mesmo é cousa mais recente.

Alguns vão perguntar quem fez a pesquisa, qual a universidade internacional por trás dela, quais os métodos e todo um inquérito academista de quem não dá valor ao que não sai das salas fechadas e cheias de estatísticas. Tirei esta conclusão da prática, da dificuldade em atravessar uma rua sem ter que pegar carona em uma ambulância, da maior demora em fazer o mesmo percurso e das barbáries que testemunho todos os dias, dignas de quem comprou a habilitação sem ter pisado na pista de testes do detran.

Algo interessante que vi muitas vezes, quando os semáforos apagaram, o que é cada vez mais corriqueiro, é a capacidade do bom motorista em gerir seu próprio comportamento. Isto independe de idade, situação econômica, se é público ou particular, tamanho do veículo e sua lotação. Vocês ficariam impressionados em ver aquelas picapes full size (às vezes com reboque) em grande quantidade, dançando ente os carrinhos pequenos e os ônibus, sem incidentes, sem sequer haver risco de colisão, enquanto a sinalização está pifada. Os condutores simplesmente colocam em prática o respeito ao espaço e  à vez do outro, nada além disso. Ainda que com mais lentidão, o trânsito flui mesmo na ausência dos escassos agentes de trânsito. O resultado é que ninguém se estressa, os pedestres atravessam as vias com relativa segurança, todo mundo chega ao seu destino dentro do prazo previsto e, principalmente, o raro espetáculo da civilidade em solo brasileiro se dá à frente de quem quiser ver.

Notei que não existe rico abusado e pobre despeitado atrapalhando a segurança no trânsito, existe o motorista mau, porque o mal motorista ainda se esforça em não cometer besteiras. Já vi Ferrari dando passagem para Golzinho quadrado, Camaro parando o trânsito atrás para a velhinha terminar a travessia, Mercedes-Benz cedendo a vez ao pau de arara do transporte público, bem como Fusquinha parando um pouco antes da faixa e dando ao pedestre do trânsito visibilidade maior transversal. Também já vi carros lotados, muitas vezes com famílias, sendo usados como ameaças motorizadas.

Em todos os casos o tamanho do carro simplesmente dificulta a manobra, e olhe lá. Todos os donos de carros grandes que conheço, me relatam as mesmíssimas dificuldades para encontrar vagas que os dos pequenos. Observando os tamanhos das vagas, notei que muitas não chegam a três metros, quando os menores carros nacionais têm mais de três e sessenta, inclusive a maioria dos buggies. De outro lado, vejo um grande número de vagas onde cabem facilmente um Landau, com seus cinco e quarenta, e as picapes grandes as aproveitam. Em suma, a quantidade de vagas muito grandes ou muito pequenas, que observei, é aproximadamente a mesma; raramente um meio termo. Suponho que motocicletas saem e deixam essas vagas muito pequenas, o que me faz lamentar que os donos dos carros não estejam por perto para remanejar seus veículos e criar uma vaga aproveitável.

Os veículos de duas rodas, aliás, são os que me causam mais preocupação. Seus condutores confiam demais, muito além dos níveis salutares, no tamanho e na agilidade deles. Quando o trânsito fica parado, eles não hesitam em costurar entre os carros, acelerando tudo para pedir passagem, que faz os 70km/l possíveis em algumas motocicletas virarem lenda. Eu conheci quem consegue a marca, sem nenhuma técnica avançada de pilotagem. Pior ainda é quando o trânsito está com as brechas preenchidas pelos motociclistas, porque então eles não pensam duas vezes antes de subir na calçada, e dane-se quem estiver na frente. Algo que eles poderiam fazer, se valendo do pouco tamanho da maioria, é descer, empurrar a moto na faixa de pedestres, montar de novo e seguir viagem, mas muitos preferem acelerar na calçada.

Não se iludam com a fragilidade das bicicletas, quase todos os ciclistas ignoram que elas também estão no código de trânsito e precisam respeitar suas regras. Basta um único idiota para que toda a organização voluntária dos condutores seja quebrada, e o veículo deste idiota mão precisa ter motor, na verdade nem pedais, um skatista com síndrome de revolta contra tudo isso que aí está, pode sozinho atrapalhar uma dezena de carros grandes... desde que não haja no meio um idiota igual a ele, que não se importe em ser processado por atropelamento. Eles existem. Não é só a armadura de aço, alumínio ou plástico industrial de alta resistência, que faz o cidadão comum se achar invulnerável, uma estrutura tubular ágil e estreita, que caiba em qualquer espaço, pode fazer o indivíduo sentir-se um velocirapitor do trânsito... E não é que o comportamento predatório é o mesmo? Um veículo de tração humana que não respeita a vez do outro, atrapalha tanto quanto um caminhão.

O que eu conclui com isto e com vários outros episódios em outras áreas da sociedade? Que o brasileiro é um primeiromundista ordeiro enrustido, ávido por uma oportunidade para dar vazão à sua civilidade reprimida. Quando tem oportunidade, e cooperação do bando, respeita o espaço e a vez do outro sem a necessidade de uma autoridade por perto. Havendo incentivo do governo, que parece ganhar muito mais com a indústria da multa do que valem as vidas perdidas, com fiscalização eficaz, a vinda maciça dos carrões americanos não piorariam em nada o nosso trânsito. O cidadão honesto, que fica perdido no meio da bandalheira, está ávido para sair do armário de aço e assumir o motorista exemplar que não o deixam ser. Pelo que vejo, o tamanho do carro influi muito menos na fluidez do que o tamanho da civilidade.

Conclui que quando o cidadão quer, dirige uma F550 com a mesma elegância social de quem dirige um Gurgel Motomachine. Quando não quer...

Dicas de como proceder para melhorar o trânsito, cliquem aqui.