18/09/2019

Coaching de coaching



            BOA TARTE, VENCEDORES! Eu não ouvi direito… BOA TARDE, VENCEDORES!



            Isso! Tenha sempre isso em mente, cada um de vocês. Olhe para o espelho todos os dias e repita com voz empostada “Bom dia, vencedor”! Porque quando você erra, você pode ter duas atitudes, ou encara como fracasso, ou encara como aprendizado; e quem aprende, não fracassa. Você pode até cometer mais erros todos os dias, mas serão erros novos, com novos aprendizados, novas oportunidades, e a cada oportunidade você verá mais facilmente a próxima.



            Vou contar a vocês uma história triste, muito triste, mas uma história de superação e vitória. Quando eu era criança, meu pai me dizia para eu estudar e trabalhar, porque assim, dizia ele, eu seria um vencedor, eu seria realizado na vida profissional e pessoal. E eu me esforcei! Eu me esforcei muito! Estudei com afinco, trabalhei como um burro de carga, não desisti de meus objectivos e corri atrás dos meus sonhos. Após muitos anos com toda essa dedicação e disciplina, olhei para minha conta bancária e concluí que… eu estava… pobre! Mas o que deu errado?



            Eu vou dizer para vocês o que deu errado. As pessoas pensam que só estudar e trabalhar bastam para vencer na vida. Vocês também acreditam nisso, eu sei, mas não recrimino vocês. Todos pensam que é assim. Eu pensava que fosse assim, até perceber que estava trabalhando para continuar trabalhando, só para sobreviver, ou seja, eu estava me desgastando de graça. De gra-ça! Quer dizer que estudar e trabalhar não dá resultado, certo? Errado! Não é o que eu estava fazendo, mas como eu estava fazendo. Descobri meus erros, aprendi com eles e investiguei cada passo errado que eu dei.



            Lembram que eu falei que trabalhava feito um burro? Pois é esse o erro mais recorrente. E é assim que vocês trabalham, ou não estariam aqui em busca de socorro. Burros trabalham por capim, e capim é de graça, então se trabalha assim e seus rendimentos empatam com suas despesas, está tudo bem. Só que a vida não é perfeita e imprevistos acontecem, emergências não pedem licença. Seu carro quebra e você precisa recorrer ao cheque especial para pagar o conserto, há um acidente ou doença e você se endivida mais com hospital, porque a saúde pública NUNCA foi o que as propagandas dizem que é, um descuido produz um incêndio e você fica na rua da amargura com sua família… enfim, são situações às quais estamos todos sujeitos, quando então o salário medíocre de sua vida medíocre não é mais suficiente.



            Isso me aconteceu. E o que eu fiz? Fiquei com pena de mim. Eu estava fazendo tudo certo, acordando cedo para ir trabalhar, fazendo o meu melhor no meu posto de trabalho, voltando cansado para casa no fim do dia, mas não tinha resultado. As pessoas pensam que fazendo isso, conseguem garantir um futuro, mas não conseguem. Sabem por quê? Porque dar o seu melhor para os outros, só dá retorno para os outros. Não estou incentivando o egoísmo, estou incentivando o amor-próprio. E foi o que eu decidi, olhei mais para mim, vi um monstro do pântano e fui dar um jeito na barba e no cabelo. Então voltei a olhar para mim e pensei o óbvio, abrir meu próprio negócio.



            Lindo, só que não. Eu sempre trabalhei como um burro de carga, então o que eu aprendi naqueles anos todos? O que burro sabe fazer? Pastar. Abri uma lanchonete em frente a uma escola. Pensei comigo mesmo, como um burro trabalhador “O que pode dar errado”? Bom ponto, boa clientela potencial, oferta de ítem indispensável que é alimentação, preços compatíveis com o mercado e vontade de trabalhar… como um burro. Resumindo, adolescentes saíam correndo sem pagar, fornecedores me vendiam mercadoria estragada, as coisas quebravam do nada, as contas chegavam e o capital de giro se esvaia rápido. Eu descobri que o público bom preferia os sanduíches de infarto do pit-dog tumultuado, feitos sem higiene nenhuma, aos meus lanches limpos e saudáveis em minha lanchonete higiênica.



            Sabem qual era o meu erro? Eu descobri em casa, vendo meus filhos e sobrinhos: eu era formal demais. Eu queria vender para adolescentes, mas falando a linguagem dos velhos! Adolescente não quer formalidade, não presta atenção em detalhes, não se importa em como o lanche foi produzido, não liga para muito conforto, ele quer é sentir sabor e encher a barriga. Eu gastei uma nota preta para oferecer ao meu público-alvo o que ele NÃO QUERIA! E gente exigente simplesmente não entra em uma lanchonete acanhada em frente a uma escola barulhenta! Fiz TUDO errado.



            Tardio, mas eu aprendi. Passei mais um ano trabalhando arduamente, mas não mais como um burro. Afora eu visava abrir meu próximo negócio e estudei para fazer as coisas certas, da próxima vez. Abri uma garagem de carros usados. Novamente um bom ponto, com bom ambiente, preferência a modelos que saem fácil, e desta vez tudo adequado ao meu público-alvo! Preços, condições, ambiente e tudo mais adequado a pessoas de classe média-baixa que preferem um bom usado completo a um zero pelado! Desta vez deu certo, certo? ER-RA-DO! Eu falhei no básico. EU NÃO ENTENDO NADA DE CARRO! É a minha mulher que leva nossos carros pra revisão! Até abrir essa garagem, eu não sabia que o motor do Fusca era atrás!!! E para trás eu fui passado! A polícia chegou a bater na minha garagem, porque eu tinha comprado carros roubados! Encontraram até droga em um Audi que estava no estoque!



            Preciso dizer que me ferrei? Não, né! Fracassei de novo? Também não. Porque eu aprendi e, assim como daquela vez, não repetiria mais os erros na próxima tentativa. E voltei a ser empregado, voltei a estudar e planejar por mais algum tempo. E assim fui. Decidi abrir um cursinho, que estava muito na moda, eu achava que era só ter um prédio e algumas cadeiras, o resto vocês podem deduzir. Voltei a ser empregado.



            Mas eu não fracassei! Me recuso a aceitar o rótulo aleijante de “fracassado”. Eu aprendi, e aprendi muito. Pelo menos eu tentei, não fiquei sentado no apartamento, com a boca aberta, escancarada, esperando a morte chegar. Olhei para o lado bom, sempre há os lírios-do-campo para os olhos de um jardineiro dedicado. Podem não ser muitos, mas estão lá. E esses lírios me encorajaram a continuar em meio ao matagal selvagem.



            Com o tempo eu parei de ter prejuízo, até cheguei a ter pequenos lucros no meu último negócio, um brechó que em ensinou que o mercado muda. Eu comprava roupas usadas ruins, consertava e esperava vender por um preço bom. Funcionou por quase um ano. Meu erro foi o que eu disse, eu não acompanhava o mercado. Primeiro eu vendia por um real as peças que ninguém queria, só para desocupar o estoque, mas algum tempo depois eu via essas mesmas peças em outros brechós, vendendo bem. Eu descobri que a moda é não só cíclica, como também composta de ciclos muito rápidos entre os ciclos maiores. As peças que eu vendi a um real cada, a concorrência comprou e vendeu por dez, quinze reais seis meses depois. Já ouviram falar de trouxa manso? Eu fui um trouxa manso. Mas vendi o negócio a uma amiga que entende de moda, e com ela decolou. Hoje é uma boutique com grife própria.



            Você precisa aprender o que sabe fazer de melhor, aquilo que as pessoas pagariam para você fazer, e não aquilo que você vê as pessoas sendo pagas para fazerem. Entenderam a diferença? Não? Eu também não via, por isso me ferrei tantas vezes. Eu queria ganhar dinheiro com coias que eu mal sabia fazer, em ramos repletos de especialistas, só porque eu via esses especialistas se dando bem. Mas chega um ponto em que você aprende que certas coisas, mesmo que sejam boas, não são boas para você; ao menos não para serem abraçadas como meio de vida. E é esse o aprendizado que vou compartilhar com vocês no decorrer no nosso curso.



            Uma de vocês me abordou na entrada, me perguntando como eu consegui sacar esse meu empreendimento. Como eu descobri o que eu faço bem? Devo isso ao mala do meu cunhado, que para variar disse algo aproveitável. Eu falei em uma reunião de família das lições que eu aprendi em todos esses anos de tentativas, e que por isso não estava triste, apesar de ter fechado tantas vezes; até porque a última vez foi quase um sucesso, que passei a uma amiga que concretizou esse êxito. Bem, esse cunhado tentou me irritar falando com ironia “Uau, como você fala bem! Devia cobrar para falar essas pérolas de fracassado”. Eu iria mandar uma garrafa de cerveja na testa dele, e ser preso por lesão corporal grave, quando percebi que fora a parte do “fracassado”, ele tinha razão. Eu aprendi muita coisa e eu já vi muita gente desistindo, por não apender coisas básicas que eu aprendi a duras penas.



            Eu tenho um conhecimento valioso, uma história de vida muito rica, e a experiência me ensinou a comunicar isso com eficiência. Só que eu comunicava isso de graça. E todos vocês certamente fazem isso, comunicam de graça um conhecimento que lhes custou caro para conseguir. CHEGA! Vocês não são burros! Vocês não são fracassados! Vocês são vencedores e eu vou ensinar a vocês como colocar essa vitória para o mundo exterior. A transformar essa criatividade em dinheiro, mas não apenas em dinheiro; em lucro líquido. Porque como eu, vocês descobriram que os negócios ordinários não são para vocês. Não é um producto ou um endereço que fará vocês vencerem na vida. Vocês vencerão falando bem, convencendo e transmitindo sua experiência, que será somada à minha.



            Cada um de vocês será um coaching de renome e sucesso. É para isso que vocês estão aqui e eu vou ajudar vocês. Repitam comigo, como se estivessem ao espelho, logo após acordar: BOM DIA, VENCEDOR! De novo! De novo! De novo!



            Isso mesmo! Amanhã começa o módulo 1.1 de 100, espero todos vocês aqui, neste mesmo auditório deste mesmo hotel. Boa tarde, vencedores, e até amanhã.

12/09/2019

O mundo pode ser seu - Diorama

Elgin Park e uma de suas obras.

            É bem difícil encontrar uma pessoa que não se encante com uma bela maquete, uma miniatura bem-feita, ou um diorama com grande riqueza de detalhes. Eu conheço gente assim, por isso posso dizer que é uma minoria indigna de qualquer estatística séria. No máximo traço de gráfico. Principalmente para quem não tem disponibilidade de espaço, seja em casa, seja em um espaço alugado ou cedido, uma coleção de miniaturas de boa qualidade enriquece muito qualquer ambiente, ainda mais quando se trata de um vintagista, que geralmente tem bom gosto acima da média. Há quem compre maquetes de lançamentos imobiliários, quando a obra fica pronta e as unidades já foram vendidas… uma maquete de trinta andares cabe na sala e, ao contrário do edifício, pode ser admirada em todos os ângulos e decorada ao gosto do dono, para efemérides, sem precisar da autorização do condomínio.



            Mesmo aqueles que podem ter os objectos originais, às vezes principalmente essas pessoas, têm um brilho quase pueril nos olhos ante a possibilidade de ter uma versão menor, que possa ser apreciada de modo que as dimensões do original não permitem. No caso de um carro, admirar a parte de baixo sem precisar de um elevador de oficina, e sem o risco de um acidente fatal, é uma terapia para conhecedores. Isso além do facto de que alguns carros são tão raros e disputados, que é mais fácil conseguir as fortunas que eles custam, do que alguém disposto a vender o seu. Já soube de um divórcio, nos anos 1980, por conta de um Duesemberg… a miniatura mais avantajada, cara e ricamente detalhada, não teria causado isso.



            Vamos ao básico. As diferenças fronteiriças entre miniatura, maquete e diorama não são rígidas e digitais, na verdade são muito analógicas e às vezes a linha que os divide é larga e difusa.



            Miniatura é justamente o que o nome diz, uma versão menor do que o objecto representado. É como um genérico de maquete e diorama. Se fosse do mesmo tamanho, seria réplica, que é outra coisa e outro assunto para um texto futuro. A miniatura pode ser um simples brinquedo mais sofisticado, com boa dose de detalhismo, para alegrar uma criança, mas também pode ser uma réplica em escala; um modo chique para denominar versões menores que são tão ricas em detalhes e em que as partes funcionam de modo tão fiel ao original, que uma boa sessão photográphica enganaria até mesmo experts, fazendo-os pensar que se trata de um original.



            Maquete é uma representação em tamanho menor de uma obra de grandes dimensões, mais utilizada na indústria da construção para que os potenciais clientes tenham uma idéia precisa do que pretendem comprar… ok, sabemos que muitas vezes existe uma distância astronômica entre o que é apresentado, e o que é realmente entregue, mas isso é um problema para o Procon, a polícia e o senso de direito e união de consumidores, que o brasileiro não tem. Enfim, a maquete é a miniatura levada ao profissionalismo, mas por isso mesmo se tornando algo mais, pela necessidade de dados e história e/ou prognósticos de que uma mera miniatura prescinde. E um prognóstico nada mais é do que uma especulação, por mais embasamento que tenha, da história futura. E história é justo o que conta uma réplica em escala de um P-47 Thunderbolt, por exemplo.



            Diorama… não, não me refiro a um evento da Dior e nem à pequena cidade do interior de Goiás. Diorama é quando a maquete é contextualizada no espaço-tempo. Por exemplo, uma réplica em escala de uma parede em ruínas com um piso de época e um soldado morto, se tiver bom grau de realismo, é um diorama de guerra, ainda que seja guerra urbana. E é aqui que o diorama se põe no topo da hierarquia dos três, existe a necessidade de realismo, o que quase sempre o torna mais caro e difícil de produzir do que uma simples (?) maquete. Um bom diorama pode levar anos para ficar pronto, mesmo ocupando o espaço de uma pesa pequena.



           A rigor, o primeiro diorama de verdade é o bonsai, ou pelo menos o seu precursor. Surgido na China do século VIII, caiu rapidamente no gosto dos japoneses, com suas sérias restrições de espaço, em especial dos monges, estes então podiam ter uma boa lembrança de um lugar sem precisar se apegar a ele, e sem possuir mais do que é capaz de carregar. Por volta do século XVIII o bonsai atingiu o estado de arte de que desfruta hoje, com técnicas tão refinadas que mesmo as menores versões podem ser capazes de gerar flores e frutos, reagindo às estações do ano como qualquer árvore normal. Isso, em um cenário em escala, é o suprassumo do realismo.



            É aqui que as cosias complicam para as pessoas comuns. Bonsais não são baratos e nem muito simples de se manter. Eles precisam de cuidados a mais do que uma simples planta pequena, o que inclui uma poda periódica das raízes, ou a planta vai crescer mais do que o desejado e, tristeza, deixar de ser um bonsai; o crescimento é irreversível. Assim como há pouca gente fazendo bonsais no Brasil, também há poucas aptas a prestar os devidos cuidados, o que dificulta e encarece sua manutenção.



            É por isso que existem as árvores de cenário, muitas compradas já prontas. Aliás, árvores, figuras humanas e de animais, mobília, veículos, enfim, tudo prontinho para quem se dispuser a pagar o preço… a maioria é importada, especialmente as de maior qualidade. É aqui que entra o talento brasileiro para o improviso…  e não, a casa da Barbie não é um diorama. A própria boneca não é realista o suficiente para isso, o que não significa que seus caros acessórios não permitam fazer um belo cenário de época, podem e os fãs mais bem remunerados montam alguns de rara beleza, mas tudo ainda fica com cara de brinquedo.
Se é para te fazer feliz, e é essa a premissa de ouro do miniaturismo, vale sim.



            O mais simples é fazer um cômodo aberto com duas ou três paredes e os móveis. Um quarto, por exemplo, pode ser feito sobrepondo e colando duas caixas de sapatos, que podem ser decoradas com imagens baixadas da internet, devidamente redimensionadas, incluindo papel de parede e piso. Um pouco de habilidades manuais é necessário, porque será preciso recortar, modela e até pintar, por menores que sejam as intervenções. Palitos de espetinho podem tanto reforçar as paredes, quanto formar a estrutura da mobília, com palitos de dentes formando as partes mais delicadas. Retalhos de tecidos, vendidos por uma ninharia, serviriam para a roupa de cama, tapetes e as cortinas, com arremates feitos com cola. Isto é tão básico quanto genérico, mas quem tiver paciência e perseverança, vai se surpreender com os resultados.



            Na verdade, até as pessoas próximas vão se surpreender com as suas mudanças, ainda que sutis, de comportamento. Toda forma de arte é um canal poderoso para o subconsciente, mas o miniaturismo põe tudo isso em três dimensões sólidas, facilitando muito o autoconhecimento e, se for o caso, o trabalho de um psicoterapeuta. Não só isso, a vida escolar é muito potencializada. Aqueles trabalhos sobre base de isopor que as crianças fazem, podem ser considerados rudimentos de um diorama e, se os adultos soubessem estimular em vez de simplesmente pressionar, o envolvimento de todos os sentidos tornaria o aprendizado não só mais rápido, mas também indelével. Pois é, muitos de vocês são miniaturistas e ainda não se deram conta.



            Como tudo o que fica acima da linha de cintura, a arte da miniaturização é ignorada ou mesmo malvista no Brasil. Lá fora, desculpem o clichê, existem empresas especializadas em suprir o mercado de amantes e profissionais da área, inclusive com a possibilidade de se comprar casas de época, em várias escalas, completas! Com precisão de medidas e riqueza de detalhes de fazer inveja a muitas casas de verdade. Imaginem poder encontrar aqui, casas, carros, trens, trilhos, árvores, animais e figuras de pessoas, tudo pronto para montar sua cidade de época; ou no máximo personalizar peças para que fiquem ao seu gosto. Imaginaram? Vão sonhando, porque pelo menos isso ainda é grátis. Aqui há poucas lojas, em poucas cidades, com comparativamente poucas escolhas a preços relativamente elevados, mesmo para os padrões dos miniaturistas profissionais. Decerto que a nossa baixíssima demanda conspira contra.



            Um expoente dos dioramas de época é Elgin Park. Ele costuma fazer ensaios que mesmo os olhos ais bem treinados, têm dificuldades em identificar como cenários em escala. Ele é um homem insuspeito, em seu aspecto até bucólico, mas domina técnicas altamente sofisticadas, unindo seu vasto cabedal a um talento artístico raro. Um pequeno carrinho a controle remoto, com uma câmera no lado do motorista, faria qualquer um se ver entrando em uma rua dos anos 1950, mesmo aplicando o zoom. A questão aqui é que um miniaturista do naipe de Park, sabe adequar a textura do objecto real às dimensões reduzidas do diorama. É esse o segredo e é essa a dificuldade maior, os materiais usados na vida real não terão sua granulação reduzida só por serem cortados em tamanhos menores, ou utilizados em porções menores. A água, por exemplo, tem viscosidade fixa, de acordo com a pressão atmosférica e a temperatura ambiente, assim um curso d’água em escala nunca terá o comportamento de um natural, o mesmo valendo para o vento. Uma miniaturização de alta ou extrema qualidade, não pode simplesmente utilizar a mesma matéria utilizada no tamanho real, não sem adaptações e até manipulação da fórmula. Daí a necessidade de estudar e praticar, como em tudo na vida, para fazer aquele diorama que bem poderia ser cenário de um filme.



            Algo que um miniaturista mais dedicado pode fazer por si mesmo, é estudar o bairro onde seus avós viveram e, quem sabe, conseguir reproduzir a casa de onde seus pais saíram. Advirto que se trata de uma tarefa extenuante, sem prazos plausíveis, e dependendo do caso pode ficar bem caro. Mas a satisfação de uma casa antiga, em que suas lembranças caminhem junto com seus sonhos, com um ou dois bonsais ladeando e um carrinho antigo na garagem, poderá fazer milagres desde o início do planejamento, até o dia em que ficar exposta no local definitivo. Aqui vem o bom senso, uma casa pequena não pode dedicar o espaço de uma mesa de jantar a uma peça de decoração. Ou se altera a escala, adicionando-se mais dificuldades, ou se simplifica o cenário; outro aprendizado para a vida adulta, que é o de fazer escolhas e arcar com elas.

A biblioteca de Bruce Wayne


            A minha intenção aqui não é transformar o Brasil em um polo mundial do miniaturismo, ainda mais o de época, apesar de que eu ficaria muito satisfeito com isso. Meu intento é dar aos leitores uma opção sadia e orientações mínimas para ocuparem seu tempo, e de quebra aumentar seu cabedal cultural, porque muitos dos que começam com quartinhos de caixas de sapatos, simplesmente não param mais de se aperfeiçoar. E com o aperfeiçoamento do hobby, vem também o pessoal.

Sobre a obra de Elgin Park, pela lente de Michael Paul Smith, clicar aqui e aqui.

Sobre Ali Alamedy, outro talento do miniaturismo, clicar aqui.

Sobre o miniaturista George O'Keffe, clicar aqui.

Sobre o brasileiro Leo de castro, clicar aqui.

Outros miniaturistas brasileiros, ainda desbravadores, clicar aqui.

Tutoriais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

09/09/2019

Uma luz no fim do túnel! Será o trem?


    De antemão deixo claro que ainda estou enfrentando problemas de toda sorte, tenho pulicado no Palavra de Nanael a duras custas, então compreendam que minha melhor forma ainda não foi retomada... mas a despeito da franca decadência ainda em curso dos blogs, tenho recebido algumas surpresas interessantes.

    Há algum tempo as estatísticas até então preguiçosas, têm reagido em pequenos picos com uma freqüência em lento crescimento. De início eu via aliviado os picos atingirem de dez a treze pontos, uma ou duas vezes por mês, no restante do período os blogs voltavam a ficar às moscas. Tudo bem, eu não esperava nem metade disso, depois que o Tweeter democratizou a preguiça de escrever e ler.

    Com mais dois ou três meses tive um incremento inesperado de acessos, que já batiam facilmente os trinta pontos, uma ou duas vezes por mês. Vendo as origens, notei que se instalou uma prática de rodízios nacionais. Os Estados Unidos deram o pontapé com picos sazonais de mais de trinta pontos, então o Brasil começou a reagir e emplaca de vinte a trinta pontos, de vez em quando. A Europa começou a tropeçar e cair aqui dentro, especialmente Alemanha e França, dando de quinze a vinte pontos em média, cada um. Ok, isso raspou um pouco do meu desânimo e passei a escrever um pouco mais para essa gente que não comenta. Decerto que poderia ser só um surto por um erro do motor de busca, mas a freqüência tem se tornado muito confiável.

    Há cerca de um mês tive uma grata surpresa da Ucrânia, cujos nativos certamente não entendem patavinas do que eu escrevo, mas há brasileiros por lá e é principalmente a eles que credito os noventa e seis pontos de acesso que recebi. Eu não esperava por isso, então também não esperava que isso se repetisse, mas se repetiu, e desta vez a Rússia quis saber o que eles estava lendo com tanto interesse.

    Sou gato escaldado, então não fiz expectativas, apenas respirei aliviado pelo rio picométrico de esperança que surgiu, e que de tão frágil eu seguro com a mínima firmeza necessária, para que não se rompa. Enfim, apenas aproveito o momento, que pelo menos isso é fruto de meu árduo esforço desde o ano de 2006.

    Hoje, entrando novamente nos bastidores, para espantar as moscas, eis que vejo o cenário que printei e exibo acima do texto. Pico de 116 dos 133 acessos só dos americanos, e crescendo. Nada mau para uma página que estava se cobrindo de limo, por falta de visitas. Decidi ver os acessos em meus outros blogs; À Bateria, Demônios Internos, Talicoisa e Vintage Way of Life. Pois as contagens estão muito semelhantes, sendo que a Vintage Way of Life bateu os 148 acessos hoje. O mais intrigante é que se trata de um dos blogs mais esporádicos.

    O que está acontecendo? Eu não sei... ainda. Só posso afirmar que o formato tradicional dos blogs não está cansado como muita gente pensava. Pode ser que os primeiros realmente tenham tropeçado e caído aqui por acidente, com certeza alguns estranharam o que viram e voltaram depois por pura curiosidade, mas isso está acontecendo em praticamente todos os blogs! Não tenho acesso às estatísticas do Talicoisa porque o Fio me deu o bolo, mas as visualizações dos 281 capítulos do Dead Train aumentaram. Então não é só um surto e não se trata mais apenas de mera curiosidade; não apenas curiosidade.

    Não tenho elementos para acreditar que retomaremos os tempos de glória dos blogs, mas seguramente os blogueiros voltarão a ter o prestígio e a relevância de outrora. Então, meus queridos, tirem seus textos da gaveta vamos blogar!

    E vocês, caros leitores, não tenham cerimônia, podem comentar.

06/09/2019

Como passar vexame na internet

   
Alfred E. Newman from Mad Magazine by Al Feldstein

    Dicas práticas e infalíveis para quem quer se queimar bonitinho, pelo menos uma delas servirá para o seu caso.

    Exista

    Ninguém precisa sequer ter uma conta de e-mail para ter sua figura publicada, compartilhada e achincalhada em rede mundial de computadores e, quem sabe, até mesmo em algum programa mequetrefe de televisão que vive de falar de outros programas de televisão e de vídeos bobos. Claro que há alguns processos aqui, outros acolá, mas o que eles ganham com publicidade supera em muito os valores das indenizações, imagine a quantidade de celebridades de baixa patente que ganhará com a exposição da tua imagem! Então, quando começarem a rir de ti ou te agredir sem motivo aparente, pode desconfiar disso.

    Clique à vontade

    A internet está repleta de janelas dos mais diversos tamanhos e com as mais inimagináveis artimanhas para te convencer a clicar. Afinal, que mal pode acontecer... além de roubarem tuas senhas, invadirem tuas contas, clonarem teus documentos, fazerem compras e empréstimos no tem nome, te colocarem como suspeito de crimes, colocarem a polícia federal à tua porta logo de manhã bem cedo e assediarem com ameaças todos os teus contatos? Bem, o mínimo que pode acontecer é teus dados serem usados para passar aquelas correntes ridículas, espalhar teorias conspiratórias e fake news, passar malas diretas e espalhar vírus para todos a tua lista de relacionamento. Eles vão adorar.

    Compartilhe sem checar

    Desde teorias conspiratórias até as velhas e famigeradas correntes para aquela criança fictícia, compartilhe tudo e mande para o máximo de pessoas que puder. Embase tudo em pesquisas que nunca foram feitas por cientistas que nunca existiram em universidades famosas que nunca foram abertas. Mas compartilhe sem medo de ser feliz, mostrando para todos o quanto o resto do mundo está errado e só o teu grupinho de espertos está certo, negando inclusive as leis da física, as mesmas que fazem o teu computador funcionar. Sua carinha não demorará a estampar memes de todos os estilos e em todos os idiomas inimagináveis.

    Emita uma opinião

    Diz o velho deitado que os mais ferrenhos e activos defensores da liberdade costumam ser justo os piores inimigos da liberdade alheia: "Você é livre para ser e fazer o que eu sou e faço". A internet está cheia deles. As redes sociais então, lá nós tropeçamos neles a cada postagem aberta. Escolha qualquer uma, seja sincero e manda bala. Não dou meia hora para uma legião de inimigos instantâneos aparecerem e te atormentarem de tal modo, tão massivamente, que não terás tempo sequer para contra-argumentar sem que centenas de comentários jocosos e ameaçadores se colocarem entre a tua resposta e o primeiro reclamante, então tudo o que escreveres vai parecer ridículo e sem sentido. Isso não será por acaso, será de propósito, não deixar o outro falar é a tática básica, bem como inventar argumentos em longos textos para te fazer parecer inculto. Tua fala vai correr o mundo.

    Faça textões lacradores

    Nada como um catatau digital, prolixo e repetitivo, para te fazer se sentir o amo e senhor da razão, até porque tem gente que acredita que isso resolve alguma coisa e adora adular lacradores. Capriche na argumentação, faça o maior número possível de citações, force a barra para que tudo se encaixe e não deixe isso por menos de cinqüenta longos parágrafos. Não menos importante, se esmere em desqualificar quem pensar diferente do que tiveres escrito, e peça para compartilharem. Em cinco minutos a tua fama de chato sem conteúdo que se leva à sério estará consolidada. Os teus fãs logo virão em tua defesa, decerto que sim, mas isso será oxigênio para a fogueira cibernética que queimará teu filme. Mas não se intimide, faça mais textões ainda maiores e mais lacradores, alegue perseguição e chore pitangas pelo teclado, diga que estão tentando calar tua voz e que setores da sociedade repressora não querem que o mundo saiba da verdade, então evoque todo o cabedal de citações e referências e pronto, já estarás se levando a sério e ninguém mais no mundo o fará.

    Peça uma opinião

    Isso é o básico de todos os erros. Centenas ou mesmo milhares de opinadores malucos aparecerão na tua linha de tempo, mas não é este o problema, não o maior de muitos, o problema é que todos vão se digladiar para cada um impor seu ponto de vista, opinião, dogma, ideologia, citação e o escambau. Mesmo que duas pessoas escrevam basicamente a mesma coisa, se não o fizerem de forma essencialmente semelhante, vão brigar assim mesmo. Tua linha de tempo se tornará um inferno apocalíptico e teu perfil será sinônimo de chacota, tomado imediatamente como exemplo a ser evitado por quem quer ter um mínimo do instável sossego da rede.

    Emita tua opinião leiga em um tópico técnico

    Algo como "se fosse bom já teriam inventado" ou "as grandes corporações vão matar ele", básicos de quem acredita em teorias conspiratórias, mas jamais se dedica ao estudo de um tema afim, será garantia de milhares de respostas de quem realmente conhece o assunto, desde os simples curiosos até pós-doutores, mastigando conceitos e resultados de estudos que provam que estás sentado bem encima daquilo que negaste, e mesmo tão mastigado não vais entender pois, bem, és um leigo pateta e não tens conhecimento nem para ter dúvidas. Então tens dois caminhos aqui, um é pôr o rabinho entre as pernas, o outro é insistir com argumentações simplistas, que é o que a maioria faz... então sim a tua candidatura ao Ignóbil estará lançada.

    Banque o intelectual incompreendido

    Esta é infalível. Adopte ou mesmo invente neologismos longos e intrincados, tanto melhor quanto mais estúrdios forem, e use-os em profusão, faça discursos acalorados até para responder a um "olá". Sim, cedo ou tarde alguém vai questionar essa prolixia supérflua, mas isso é bom para o vexame, use isso como uma afronta à tua liberdade básica de expressão enquanto livre pensador incompreendido oprimido pelo patriarcado jucaido-cristão ocidental imperialista pós-neoliberal sapiofóbico na figura aleatória e dissipadora de seus agentes inconscientes manipulados pela grande mídia acobertadora de conspirações notórias do grande poder central. Não se esqueça de construir suas falas de modo que só as tuas regras funcionem, ainda que precises revogar todas as leis da termodinâmica. Com o tempo vais se levar tão a sério, e achar tão genial, tão melhor do que este mundo indigno e ignorante, que vais se viciar nisso e tudo isso vai se retroalimentar até te isolar em teu mundo de teorias. Pronto, já és o protótipo e paradigma do internauta pagador de mico. Vais fazer questão de passar vexame, até porque sem isso o teu ego inflado de pseudointelectual não conseguiria se sustentar.

    Por fim, se tens dúvida sobre teres passado algum vexame sem teres percebido, lembre-se de um ditado dos jogos profissionais de carteado: Se você não sabe quem é o trouxa à mesa, então o trouxa é você.