06/12/2021

O maldito opressor do bairro

  

Via Área de Mulher


           Pedro Exelissómenos era um homem comum de um bairro pobre comum, com uma vizinhança pobre comum, que preferia pagar cem por cento de juros em prestações a perder de vista em uma televisão maior do que a parede, a ter uma de tamanho médio e investir os recursos restantes no bem-estar da família. Pedro, porém, não se sentia confortável nessa situação, estava mais se espremendo para se adequar do que propriamente usufruindo da vida que levava. Certa feita, na volta para casa, o ônibus com suspensão e chassi de caminhão precisou fazer um desvio, passando por um dos poucos bairros nobres restantes, posto que a maioria se mudara para cidades privadas que chamam de "condomínio fechado", como se este já não existisse aqui dentro. Enquanto os outros se admiravam com a riqueza e alguns cuspiam nos carros estacionados, inclusive em um raro Mercedes-Benz SL500 com a capota baixa, Pedro observava o que até então lhe passava desapercebido. Não era só pela coleta mais freqüente que aquelas ruas eram limpas, todo o lixo era depositado em local adequado e bem organizado, mesmo as coisas que os ricos não queriam mais eram postas de modo a não atrapalhar o caminho dos vizinhos. A grama também era interessante por estar bem cuidada e bem aparada, enquanto sua rua era um matagal só. Bem, aquilo ele poderia fazer, não precisava ser rico para ser limpo e civilizado. De repente reconsiderou a compra daquele celular caro e badalado. Estava mesmo na hora de comprar um novo, mas optou por um modesto que, surpresa, atendeu com sobra a todas as suas necessidades. Como custou menos do que um carro usado, pôde parcelar em menos vezes e pela primeira vez sem juros.


            Pedro chegou em casa e viu aquela baderna em frente à sua porta. Na falta de um tesourão, pegou um facão e deixou aquele mato com cara de grama, voltou para dentro a tempo de pegar o lixo e o colocou em uma caixa à porta, então foi tomar seu banho. Para quem passava em frente, a diferença era gritante, a casa de Pedro estava cercada me mato que os vizinhos esperavam que a prefeitura roçasse. Com o lixo bem acondicionado, os coletores levaram rapidamente sem deixar cair nada pelo caminho, com isso sua frente também estava bem mais limpa do que as dos vizinhos. Até aqui tudo bem, era só uma casinha mais limpa do que as outras, situação que pensavam que não fosse durar muito tempo. Mas durou. Com aquela imagem de civilidade pulsando em sua mente, Pedro começou a prestar mais atenção à sua casa e à sua família, mudando suas prioridades e realocando seus parcos recursos para seu lar. Em vez de comparar aquele televisor O-led de cem polegadas com imagem tridimensional e sistema de som tetradimensional, manteve o seu de quarenta que já tomava boa parte da parede. O dinheiro não gasto foi investido na família. Pôde pagar um tratamento dentário em uma clínica melhor e não deixou de prestar atenção à decoração que, olhando de perto, poderia fazer similar em sua casa com madeiramento que vê jogado fora no bairro. Não foi difícil encontrar a matéria-prima de precisava. Tratamento com óleo queimado, cortes bem feitos em uma marcenaria e pronto. Toras mais brutas se tornaram um caminho do portão à porta de casa, que por dentro recebeu painéis de madeira em todos os ambientes, que inclusive permitiam pendurar prateleiras e elementos de decoração.


            Para os que passavam a trabalho pelo bairro, era como ver uma casinha de classe média em um espaço limpo no meio do lixão. O carteiro já não confundia mais os endereços, inclusive porque o da casa estava bem nítido e ladeado por pastilhas de cerâmica azul, enquanto na vizinhança o melhor que havia era algo pintado à mão em pedaços de lata que a ferrugem já carcomia, muitas vezes ilegível. Por dentro as mudanças eram comentadas pelas visitas, porque eles estavam comendo melhor, não necessariamente gastando mais, mas os hábitos da casa estavam se refinando quase que inconscientemente. Nem tudo vinha mais do supermercado do bairro, que já não supria mais as necessidades da família, muita coisa era trazida de lojas mais centrais, o que também não deixou de ser notado pelos vizinhos, que não viam mais Pedro torrando seu dinheiro nos botequins próximos. Alguns amigos se afastaram e gente nova tomou seu espaço, acentuando mais as mudanças, que não demoraram a se refletir na indumentária, eles não aceitavam mais pagar caro para parecerem mendigos e fazerem propaganda grátis para marcas da moda. Um discreto e eficiente Prisma branco não demorou muito mais a encontrar vaga na garagem daquela casinha, do lado oposto ao do alpendre com seus bancos rústicos de madeira de toras descartadas em podas m al feitas pela prefeitura. Estavam tão imersos nessa nova vida, que só os comentários dos parentes os fez se darem conta do que estavam fazendo. A bem da verdade, só trabalharam com o que já tinham, em cima daquela mesma casa que passaram a cuidar melhor, e isso por si já tinha feito uma gigantesca diferença, o facto de estar limpa e com a pintura em dia a destacava das demais.


            Pedro e sua família começaram a pegar gosto naquilo em que estavam vivendo, em poucos meses sua humilde casinha já não tinha mais "suja" e "sufocante" como adjetivos. Só com material descartado, e algumas velhas revistas de decoração, conseguiram transformar sua casinha humilde em uma humilde ilha de beleza e bom gosto naquela vizinhança. Sua parte da calçada estava limpa e com a grama aparada, o lote contando com jardins verticais e lugares para se sentar e descansar. Claro que nem tudo fugia à regra, eles tinham suas contas em redes sociais, então publicavam normalmente imagens e vídeos curtos, cuja diferença paulatina foi notada e comentada pelos contactos, até chegar ao ponto em que pareciam ser uma família de classe média não deslumbrada. Agora não só comentavam como compartilhavam as postagem aos milhares, fazendo o mundo ver gente pobre sem pobreza mental, arrancando elogios de várias partes do mundo, com o bom gosto e a originalidade arrebanhando fãs pelos quatro cantos do mundo. Ah, isso foi demais! Quem eles pensam que são para querer parecer mais do que seus vizinhos? Não demorou para um ou outro jogar seu lixo na frente daquela casa, e as queixas não demoraram a serem respondidas com violência, então parecia que o bairro todo jogava seu lixo na calçada bem cuidada deles. Facilitou a vida da coleta, mas os coletores não gostavam do que estavam vendo, aquilo de jeito nenhum era lixo de uma casa só.


            Pedro conseguiu em uma demolição uma grande estrutura de condomínio para o lixo, acreditando que isso resolveria o problema, mas não. Ignorando a providência, continuaram jogando lixo em sua calçada, e eles tiveram que trabalhar mais para manter sua frente limpa. A ousadia, nutrida pela impunidade, posto que o poder público deu de ombros para as denúncias, fez os autores publicarem em vídeo o que faziam, e nesta era em que o podre tem mais apoio do que a sanidade, os vândalos conseguiram fãs. Não demorou a aparecerem fezes bem na saída da casa, e o lixo ser jogado para dentro do lote. Com tristeza a família Exelissómenos decidiu se mudar, mas em silêncio, sem nem mesmo contar aos parentes. Em um dia de jogo de futebol, com todos amontoados e berrando em poucos lugares, conseguiram ir embora levando o que conseguiram de toda aquela decoração já feita, mas muita coisa simplesmente não podia ser transportada. Findado o jogo, com a derrota amargando e sendo nutrida pelo álcool, alguém aventou que Pedro seria torcedor do time vencedor, então graças a Deus que saíram cedo e sem alarde, porque o que eles puderam destruir, foi destruído. Só não tiveram o linchamento que pretendiam porque a esta altura Pedro estava ajudando a organizar sua nova casinha, ajeitando como podia os elementos de decoração que tanta ira atraiu daquela vizinhança. Aos filhos autorizou continuarem a postar imagens e vídeos, desde que não revelassem seu endereço.


            Mas para a felicidade deles, estavam mais próximos daqueles internautas que tanto elogiaram suas postagens, e reconheceram de cara o estilo enquanto passavam por aquela nova rua. Ao baterem à porta para pedirem indicação, encontraram o próprio artista, cujas feições e olhar não escondiam suas origens humildes e sofridas, mas já não era aquele olhar de derrota e rancor de outrora. A tristeza então era pelas circunstâncias que obrigaram sua família a sair à francesa daquela casinha, que virou ponto de tráfico e aterroriza a antiga vizinhança. Ele começou orientando os novos vizinhos sobre o que poderiam fazer com o pouco que tinham, no caso dos passantes mais abonados como não parecerem cafonas deslumbrados. Como gosta de crianças, fez coisas com compartimentos secretos, surpresas, elementos que mudam de forma e se transformam em outra coisa, com isso encantando até os adultos. Foi no primeiro Dezembro na casa nova, com a decoração deslumbrando e virando notícia, que Pedro precisou deixar seu emprego, porque as insistentes encomendas de lojas e residências tomaram todo o seu tempo, precisou abrir um CNPJ e colocar a família para trabalhar. Decorações de natal com compartimentos secretos, surpresas, alta interatividade e alto grau de personalização deram início à vida para a qual então já estavam realmente prontos e familiarizados. Comprar celular caro? Televisor gigantesco? roupa brega e cara com jeito de mendicância fazendo propaganda para a grife? Atormentar a vizinhança com som no último volume e obrigar todo mundo a ouvir o que eles querem? De jeito nenhum! Até porque o que eles gostam de ouvir hoje, simplesmente não combina com exibicionismo, não combina com pobreza mental.

27/11/2021

Comentários que ninguém me pediu, mas fiz assim mesmo

Clara Nunes



Ao contrário de vias externas, que fazem os sistemas mais avançados confundirem uma lua cheia com sinal fechado e forçam uma frenagem de emergência por causa de um trem que está correndo no subsolo, o ambiente funcional é perfeito para veículos autônomos, tão perfeito que pode até dispensar assistência externa de antenas transmissoras e satélites. Aliás, não existe autonomia real se há dependência de meios externos para qualquer coisinha que se faça. O ambiente controlado de uma empresa, ou mesmo de treinamento das forças armadas, é o melhor possível para não só utilizar, como também aprimorar carros autônomos, de modo que venham a ser realmente autônomos, sem precisar usar crianças estabanadas a correr inadvertidamente para a rua como cobaias. Da mesma forma, embora com restrições, corredores fechados de uso exclusivo do transporte público são excelentes para isso, não só pelo uso (teoricamente) restrito da via, mas também pelo milionário preço de um bom ônibus articulado ou biarticulado, que diluiria muito bem os custos de um sistema de controle de automação veicular, embora aqui o monitoramento humano ainda seja imprescindível.

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Ainda sobre esse excesso de confiança na tecnologia, que querem nos enfiar goela abaixo, a dependência de fornecimento externo de instruções e permissões já começou a causar mais dores de cabeça do que os entusiastas conseguem esconder. Ficar trancado do lado de fora do carro por não haver meio físico para o próprio dono entrar, ou dentro por não poder sair, pode acarretar riscos à integridade física. Não me refiro apenas à chateação de perder o controle de sua propriedade e ficar debaixo de chuva, e um Tesla não é barato nem nos Estados Unidos, mas também aos casos de emergência em que a celeridade das providências podem ser a diferença ente a vida e a morte, como um médico precisar sair no fiofó da madrugada para atender um paciente na mesa de cirurgia, situação que está longe de ser rara. Imagine isso acontecendo com uma ambulância, com uma viatura policial ou do corpo de bombeiros. Ter que quebrar os vidros do carro para resgatar seu filho, por exemplo, e descobrir que o caro mandou um alerta de tentativa de roubo para a polícia, seria uma experiência horrível. Não menos pior, imaginem a sua casa “smarthome” barrando a sua entrada por falha no servidor do fabricante, ou porque um hacker decidiu usar isso como meio de chantagem; pior, um hacker pedófilo decidiu usar isso para gravar seus filhos pelas câmeras da própria casa…

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Agora, por que há tanto incentivo para que tenhamos essa confiança cega na tecnologia? Suspeito que um dos motivos é o adestramento para que tenhamos paulatinamente confiança cega nas instituições, nas ONGs, nas empresas, enfim, o que facilitaria nos convencer a ter confiança cega no Estado; leia-se, políticos. Notaram que os amantes da Tesla, por exemplo, agem tal qual uma torcida organizada, às vezes como uma máfia? Foi só a Ford lançar aquele (AAAAAAAARG!!!) suv eléctrico do Mustang e a imprensa especializada morrer de amores por ele, que seus proprietários passaram a ser ameaçados pelos teslanóicos. Gente assim é facilmente mobilizada para agredir e até matar opositores de figurões, que ficariam limpos na imprensa por não terem precisado mandar ninguém fazer nada. Aliás, se eu fosse um repórter automotivo e começasse a ver no Celestiq qualidades que não tivesse visto no Model S, eu providenciaria segurança privada. Com esse tipo de gente submissa e raivosa à disposição, é extremamente fácil conseguir censurar a mídia, seja por coerção, por destruição dos meios de publicação ou por puro extermínio; coisa que certos países já fazem, cujos regimes são cegamente acatados por gente da própria mídia e por formadores de opinião na internet.

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Uma forma velada de censura, por exemplo, é dar amplo espaço a gente que é totalmente contra ou totalmente a favor de algo, mas dar pouco ou nenhum espaço para o outro lado, no caso de uma mídia informativa como a dos jornais. Ironicamente, só que não, são justamente aqueles que reclamam de censura externa os que mais a impõe em suas instalações, muitas vezes até pela linguagem corriqueira não ser a padronizada pelo editor. Muito pelo medo de turmas barulhentas, mas muito menos numerosas do que fazem parecer, afugentarem os patrocinadores e atraírem as atenções de políticos mais oportunistas, a editoração enviesada adora lançar bombas contra quem o senso comum rotula como mau, ainda que sobre esse alvo se erija justo o sustentáculo de tudo o que mantém esses mesmos jornais de pé. Se há uma coisa que esses gritadores odeiam em seus domínios, e o golpe de 1889 o fez na prática, é a plena liberdade de pensamento e expressão.

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Escrever textos enormes, prolixos e repletos de referências, para só nas últimas linhas do último parágrafo contar o outro lado da história, e ainda usando uma linguagem sem graça, faz parte da tática, confiando que o grosso dos leitores só lê as partes de destaque. Adoram lembrar da nefasta era da escravidão africana, mas hoje dão de ombros para as aflições que dilaceram o coração dos países africanos. Assim como a memória de uma professora que morreu defendendo seus alunos não vale absolutamente nada para eles, as vidas de professores e estudantes mortos por rebeldes também não. E por falar nisso, a imagem que eles vendem da África é basicamente aquela caricatura que predominava no cinema até meados dos anos 1970, como se não houvesse metrópoles e indústrias naqueles países. Mesmo os europeus, que moram ao lado, têm uma visão mais deturpada do que seus avós tinham dos africanos, não devendo em nada ao americano mais alheio ao mundo.

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Aliás, o próprio continente americano, que um dia eles empinavam seus narizes para chamar de “colônia”, é um grande desconhecido deles, que se contentam em ruminar noticiários que confirmem suas visões e narrativas de estimação. Arrotam a defesa de liberdades, mas quem mais faz isso ainda tem e não abre mão de suas colônias, inclusive uma delas é nossa vizinha de extremo norte. Hoje não passam de um monte de países que se amontoam na marra, se tolerando na marra e fazendo poses na marra para passar a imagem de continente civilizado que já não são, e nunca foram tanto quanto apregoam. No tocante ao poderio bélico, mais ladram do que mordem, já que sem o apoio americano que desprezam, provavelmente teriam sido engolidos pelos soviéticos. Diga-se de passagem, foi a interferência de “ONGs” européias a gota d’água para Putin decidir invadir e anexar a Criméia de forma humilhante. Toda aquela conversa de paz, amor e união, de “estar estando promovendo o entendimento intercultural” só mascarava a velha arrogância de mandar soluções que o dono da casa não pediu, e enfiar goela alheia abaixo suas paranóias. Reunir Rússia e Ucrânia em um lugar neutro para aparar as arestas? Não, vamos primeiro fazer um serviço de inteligência o mais amadorista e caricata possível, porque nossas boas intenções nos livrarão de toda e qualquer conseqüência de nossos actos. O Kremlin está obrando e se locomovendo para eles, já viu que são tão bonzinhos quanto o próprio governo russo.

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Os americanos também não estão tão bem das pernas, afinal neste início esquizofrênico de século ninguém está, mas pelo menos andam por conta própria, apesar de gente que quer proibir inovações apenas porque não pode controlá-las. Não é de hoje que o pavor pelo poder fora das próprias mãos atrapalha um país, com os Estados Unidos não seria diferente. Gente que prefere cultivar a culpa e apontar o dedo, em vez de investigar se, e como o mal causado pode ser reparado, nunca é realmente afeita à liberdade individual, porque teme doentiamente que uma pessoa livre se torne uma ameaça às suas crenças e narrativas, então vende a ilusão de que a diluição do indivíduo em uma coletividade rotulada seria a salvação da humanidade. Falando sério, se tu não se aventura ao controle ou, pelo menos, ao domínio de uma novidade, seus inimigos o farão livremente, e é o que está acontecendo agora. O caso do bitcoin, lamento informar, a adesão dentro do próprio território americano já é grande e muita gente já o utiliza como moeda corrente. Se preocupar se isso vai afetar o Dólar em vez de adequar a moeda à nova realidade, isso sim causaria uma tragédia irreparável à população; e como diz a primeira emenda, o povo é o país. Não um partido, não uma legenda, não um grupo, mas o povo.

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O Japão, por exemplo, que é conhecido pelo conservadorismo com que trata sua própria economia, a ponto de os japoneses preferirem utilizar notas e moedas no cotidiano, mesmo que a escancarada intimidade com a tecnologia moderna, já está planejando utilizar oficialmente o bitcoin como forma corrente de pagamento, mesmo conhecendo a resistência financeira de seu povo. Provavelmente porque as empresas envolvidas já aprenderam, mesmo que tardiamente, as lições amargas da excessiva intervenção estatal na economia, que tem levado a recessões repetidas, só não agravados com inflações galopantes graças justamente à disciplina fiscal do próprio cidadão comum, que economiza ou gasta de acordo com seus próprios critérios. À parte as críticas à cultura japonesa, claro que em sua parte rígida, que tem por si causado os problemas de natalidade e suicídio, ela é responsável pela rápida e espontânea adesão do japonês comum a qualquer medida que visem o bem comum, mesmo que o governo peça o contrário, tanto que não estão aderindo à eletrificação dos carros como os cordeirinhos cheios de culpa estão fazendo na Europa; isto em particular um aprendizado amargo da segunda guerra. Dela também veio a pior aplicação da tecnologia que eles fomentam, mas do outro lado do mar, ou seja, o mesmo lado que alardeava que eles o fariam.

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Claro que os ladradores do fim do mundo nunca vão reconhecer que o país ao qual seus rabos estão presos, seja por financiamento, permissão mercadológica ou por dependência acadêmica, é justo o Estado policial que eles diziam combater, mas cujas botas hoje lambem e cujas atrocidades hoje fingem que são apenas parte da cultura local, não devendo haver interferência externa. Apontam seus dedos sujos para o Brasil, principalmente em prol das girafas da Amazônia, repetem discursos de ódio do bem alheio, reproduzem opiniões em queixumes catastrofistas como se fossem relatos de factos consumados, mas fingem que sua ditadura de estimação não faz nada de errado. País que é tão avesso à liberdade, que já começou a trocar até os jornalistas por versões cibernéticas virtuais, com a ajuda da tecnologia deep fake, que faria até mesmo os smurfs parecerem reais e plausíveis em um telejornal. Se os humanos já não contestavam as instruções do partido único e compulsório, mesmo tendo que dizer agora o oposto agora do que disse antes, sem nem corar, imaginem um robô virtual! E ao contrário do que aconteceria se fosse no ocidente, ninguém disse nada, nem um piu a respeito de desempregar jornalistas e calar a imprensa. Aliás, eles já aumentaram a queima de carvão para gerar energia! Ambientalistas?

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Enfim, são tantos assuntos acumulados e foi tão pouca condição para escrever, que uns vinte textos ainda não seriam o bastante para eu encerrar o ano com dignidade. Mas gostaria de comentar sobre algo que o brasileiro começou a rascunhar, ainda engatinhando e sujando fraldas, que é garantir por si mesmo a própria aposentadoria, porque já vimos que o Estado sozinho não dá conta. O nosso modelo de previdência só funcionaria se todo mundo pagasse, mas bem poucos, de preferência só os bem pobres usufruíssem. Imagine, por exemplo, se todos os brasileiros decidirem ao mesmo tempo, usar a rede pública de saúde! Já precisei tirar do meu bolso para suprir necessidades de emergência. Da mesma forma já tenho uma magra e humilde previdência privada para evitar que os desmandos estatais me joguem na necessidade de precisar do assistencialismo estatal. Mais do que sobrevivência, é também questão de dignidade humana.

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27/10/2021

O Politburo Global


 


Imagine uma empresa pressionando toda uma comunidade com ameaças e chantagens. Começaria dentro de suas instalações, com funcionários queixosos sendo sumariamente demitidos. E por queixosos pode-se entender praticamente qualquer coisa, mesmo um comentário a respeito do calor que faz no depósito de embalagens. Qualquer coisa que vá contra a imagem de empresa perfeita e benevolente, mesmo involuntária, ainda que as ações sejam o exacto oposto, seria prontamente reprimida. Uma queixa contra um superior então, seria vista como tentativa de sabotagem e calúnia com o intuito de promover a insubordinação e perturbação do bom andamento do trabalho feliz e próspero, conseguido exclusivamente graças à competência e ao bom coração dos chefes da empresa, que por isso devem ser obedecidos sem contestação. As argumentações em defesa do infrator seriam protocolarmente recebidas, porém já com o intuito de impor uma punição exemplar, assim o conteúdo dessa defesa seria usado tão somente para ser utilizado contra a parte defendida, com cada parágrafo, cada frase, cada palavra cuidadosamente escolhida sendo deturpado e interpretado ao bel-prazer da junta julgadora.

 

Qualquer citação a nomes da alta hierarquia ou de erros antigos, seria declarada manifestação caluniosa, acarretando além de prolongadas sanções internas, incluindo trabalho insalubre e humilhações públicas, a demissão crua do denunciante, que então responderia a processo por injúria, calúnia, difamação e actos de terrorismo interno. Ainda lhe seriam cobradas as custas dos procedimentos processuais internos, bem como a inclusão permanente de seu nome em uma lista negra dos que perde o status de ser humano para se tornar um objecto indesejável. Mais humilhação e assédios seriam impostos por todos os meios possíveis de comunicação, incluindo mensagens e chamadas no meio da noite, ameaças por redes sociais e e-mail, bem como advertências para o caso de ele estar pensando em denunciar o assédio. Pelo sistema interno de som os empregados seriam obrigados, sem negligenciar o trabalho cada dia mais abusivo, a ouvir longos discursos de desagravo às lideranças da empresa, com citações raivosas ao traidor maldito pior do que um cão, todas as vezes que os altos chefes julgassem pertinentes. Sistemas de inteligência artificial com reconhecimento facial, vocal e de gestuário assegurariam não só a segurança, como o conforto e o bom relacionamento entre os servos dos altos chefes. Não haveria privacidade, posto que ninguém teria o que temer ou esconder.

 

Com a demonização da vítima e rígida proibição de comunicação interna, mesmo com o colega do lado, sem a prévia revisão dos agentes de fiscalização, a alta chefia veria por bem ampliar o controle interno. Começaria com os fiscais de boa convivência e harmonia interpessoal conversando entre si sobre como é glorioso terem líderes tão competentes e de bom coração a zelar pela prosperidade e segurança de seus subalternos, aleatoriamente puxando conversa com algum empregado, do qual se esperaria resposta pronta e sem titubear em favor d alta chefia, tanto melhor quanto mais ufanista for, não importam os exageros bajulatórios empregados. Toda manifestação de adulação e subserviência seria não só bem-vinda como também compulsória. Para isso funcionar bem, haveria uma larga flutuação interpretativa das palavras e expressões, fazendo até mesmo um “estou cansado” poder variar entre uma manifestação de insatisfação para com o trabalho e um protesto interno não autorizado contra a empresa, dependendo do contexto e do humor de quem tiver ouvido. Claro, a delação seria encorajada, porque o único amigo possível é o alto chefe, por cuja benevolência e por nenhum outro motivo todos ali e suas famílias ainda estão vivos.

 

Campanhas internas sucessivas e massificadas de assédio e diminuição do indivíduo o fariam esquecer, aos poucos e com o acréscimo paulatino de restrições, de que sobrevive por sua força de trabalho e que a empresa não faz favores em pagar seu salário. Salário que, aliás, seria progressivamente substituído por productos e serviços da própria empresa, a bem da harmonia familiar dos servidores que se sentiriam tentados ao consumo desnecessário e vicioso, restando apenas uns caraminguás para despesas ordinárias cotidianas com bobagens inofensivas a que tendem as pessoas sem responsabilidade e de baixo grau civilizatório. Rapidamente a cooperação compulsória incluiria o acesso irrestrito dos fiscais aos seus smartphones, que poderiam ou não ser devolvidos sem qualquer explicação, bem como o acesso a mensagens pessoais e redes sociais, que poderiam ser utilizadas livremente pela empresa para corrigir preventivamente desvios de opinião, a fim de evitar que o servo se encontre desnecessariamente em situação constrangedora ao olhos dos altos chefes. Com o tempo e a aceitação, a interferência se estenderia aos amigos e familiares dos servos, que seriam prontamente excluídos dos contactos a qualquer sinal de recusa à cooperação, o que obviamente renderia reprimendas públicas para o servo que não soube orientar seu círculo pessoal para a boa moral de opinião e expressão. Perdas e isolamentos pontuais são normais e necessários, nem todos se submetem prontamente à doutrina socializadora do bem-amado chefe supremo, que só visa o bem-estar geral e plena felicidade dos que dele dependem.

 

Com os contactos devidamente colhidos, eles também receberiam sua cota de assédio midiático e doutrinatório, para evitar que influências externas estranhas e perniciosas possam corromper a harmonia interna de convivência, opinião e pensamento dos tutelados pelos altos chefes, eles sempre preocupados e observadores da felicidade harmônica daqueles que lhes devem total obediência. Seria contado ao círculo pessoal como o tutelado é feliz e bem tratado no árduo labor em favor da prosperidade geral, com a história da empresa sendo revista periodicamente para impedir qualquer insurgência dissonante, para o bem geral e felicidade coletiva. E para o bem maior dessa harmonia, os altos chefes determinariam o acompanhamento das condições familiares de seus tutelados, dando-lhes relatórios regulares fornecidos pelos mesmos fiscais de harmonia que sempre os acompanham e amparam. Photos amistosas dos encontros amistosos e repletos de sabedoria seriam enviadas de seus filhos e conjugues, para que o tutelado possa se dedicar com tranqüilidade e prazer ao trabalho progressista e humanizador em prol do progresso coletivo. Não importa onde estejam os familiares, eles serão encontrados e abordados com o mesmo carinho das abordagens laborais internas. Claro que todos eles cooperariam da mesma forma, fornecendo seus spartphones e computadores para acesso livre e responsável, com acesso a todos os contactos e, eventualmente, correções preventivas de conduta social e de opinião.

 

Qualquer influência perniciosa ou de opinião desarmoniosa para com o ambiente sócio laboral da empresa, seria totalmente apagada das redes sociais em caráter permanente, de modo a permitir o progresso coletivo e responsável sob o cetro misericordioso dos altos chefes. Sanções pontuais seriam aplicadas, para o bem comum e felicidade geral dos tutelados, especialmente contra quem ousasse interferir nos assuntos internos e deliberações da empresa, se necessário com a destruição total do agressor. Os tutelados e seus parentes saberiam a quem recorrer, saberiam a quem delatar, saberiam a quem servir e saberiam a quem louvar, não se deixando enganar pela falsa liberdade venenosa de livre expressão e pensamento, que simplesmente não cabe na complexidade das relações culturais internas de uma empresa soberana e poderosa, que tem em sua longa tradição o alicerce de seus próprios procedimentos, sua própria e rica cultura, sua própria e justa tábua de leis, até mesmo o próprio e meticulosamente bem-composto hino da empresa. Assim, protegidos de toda e qualquer influência externa, a felicidade suprema reinaria entre os tutelados, sob guarda e proteção benevolente de seus altos chefes e do bem-amado chefe supremo.

 

Problemas? Sim, decerto, todo avanço traz consigo desafios e pequenos desgastes naturais, mas que devem ser enfrentados com alegria e entusiasmo sob as diretrizes da empresa, sem a qual todos estariam fadados ao completo fracasso. Não sejamos insolentes, não demos ouvidos aos inimigos de nosso progresso, aqueles que nos acusam têm inveja da prosperidade e harmonia, porque conseguimos vender nossos artigos de qualidade para o mundo inteiro e estamos engolindo os concorrentes, inclusive aquele estabelecimentozinho rebelde do outro lado da esquina, que ainda resiste à paz da qual somos guardiões, mas é questão de tempo até ser tomado e integrado às diretrizes de fidelidade e total subserviência. Em nossa empresa não há inveja, não há cobiça, não há empresa, porque tudo é de todos e ninguém sente falta de nada, todos os bens e serviços são gentilmente prestados pela empresa, com a sabedoria de dosar o suficiente para cada caso e necessidade. Ninguém é dono de nada, mas todos são felizes e têm o dever de assim se apresentarem, com o sorriso e o entusiasmo de quem não precisa se preocupar com o amanhã, com problemas, com absolutamente nada! NADA!

 

O que parece um cenário distópico de livro apocalíptico onde uma ditadura toda conta de toda uma sociedade, infelizmente não é ficção e não é uma empresa, uma empresa já teria sido massacrada por sindicatos e bastaria um boicote para dar o recado. Isso é feito por Estados e instituições acostumados a impor-se pela coerção aos demais, sempre eufemizando o que dizem e fazem, praticando o mal e diante desse mal culpando outros de terem-no feito. Não me refiro somente à China e Rússia, esta apenas um bebê rebelde se comparada àquela, mas a todo o aparato transnacional repleto de discursos benevolentes, mas que tendem a transformar o indivíduo em um idiota incapaz e totalmente dependente das decisões verticais para qualquer decisão importante, especialmente na lida social cotidiana, que fica cada vez mais repleta de neologismos bizarros, conceitos impostos desprovidos de fundamento e o completo desrespeitos pela própria cultura e história; como se reescrever uma época fosse apagar suas mazelas e conseqüências vigentes. Não sei quantos de vocês precisa de ônibus, mas algo que eu já escrevi aqui tem se agravado, não se limitando mais às pessoas mais pobres e de bairros mais distantes entre si.

 

Pessoas de comunidades diferentes que têm dificuldades em se comunicar, agora engloba também indivíduos com, ao menos deveriam ter, alto grau cultural e acadêmico. São pessoas com uma tonelada de citações na ponta da língua, mas que mal conseguem se virar quando encontram outras de turmas diferentes, tanto mais quanto mais díspares for o assunto central que os uniu. Entretanto, quando a chamada é para defender pautas e ideologias, todos passam a falar a mesma língua, ainda que cartazes pedindo liberdade estejam ao lado de outros exaltando “ditaduras do proletariado”, eles simplesmente não raciocinam por conta própria, só seguem as ordens de um líder central que talvez nem conheçam, mas cujos diretórios a ele se reportam. Mesmo diante das mazelas e dos arroubos autoritários de quem defendem, atacam o outro lado como se fosse ele o responsável pelo acontecido. Piorou muito quando o próprio Estado, levando ao extremo o excremento mental de “o que importa é a interpretação, não a lei” para praticar aqui o que seus deuses fazem com países vizinhos que não podem se defender. Imaginem um pedófilo julgando à sua interpretação as leis de proteção às crianças, então terão uma idéia do perigo a que essa prática nos expõe, porque agora qualquer um pode ser preso por absolutamente qualquer motivo, mesmo por crime de opinião, bastando o discurso ser suficientemente prolixo e repleto de manobras retóricas para convencer um magistrado. Se isso não assusta, imaginem um nazista no lugar do pedófilo a julgar um negro homossexual. Não é efeito colateral! Cuidar para que ninguém se entender pessoalmente, mas se unir em uníssono em defesa do que seus ditadores de estimação proíbem em seus territórios, é parte do procedimento. Assassinar os idiomas locais faz parte da tática.

 

As redes sociais, que já foram fone de entretenimento e socialização, hoje são abertamente acusadas por muita gente com canais prósperos que, por tocarem em feridas de ditaduras que agem livremente nessas mesmas redes sociais, têm seus conteúdos censurados ou excluídos sem maiores satisfações, só tendo-os de volta à exposição depois de muito tempo e perda dos bons modos diplomáticos, como tem acontecido com o Marcelo do excelente Hoje No Mundo Militar e o canal China Em Foco. Eu mesmo já o fui e, perto deles, sou um nada em produção de conteúdo, mesmo assim meus blogs são bloqueados na China… que com todas as atrocidades e ameaças a vizinhos que tem feito, fala o contrário em redes sociais e fica impune, mesmo sendo suas falas notoriamente mentirosas, com a plena e plácida aquiescência dos tais “verificadores da verdade”. Para os outros o simples facto de acreditar ou não em algo já é motivo para censura e até represálias, quem já ouviu “você devia ser expulso da faculdade por creditar nisso” pode ter uma idéia do que estou falando, aos outros desejo que nunca saibam. Os países que foram abertamente ameaçados por aquela tirania, por outro lado, são tratados como disseminadores de notícias falsas no meio acadêmico, artístico e nos conselhos das empresas de mídia, o que inclui as de redes sociais. Usar o que décimo terceiro ancestral de um indivíduo desses países teria feito, como argumento acusatório, é plenamente aceito e o assédio prontamente ignorado pelos (tambores rufando e metais tocando) VERIFICADORES DA VERDADE. Qualquer queixa mais severa é respondida com discursos prontos e cheios de neologismos medonhos como “estamos estando estarendo promovendo uma discussão ampla e democrática ao nível de socialização enquanto promoção da verdade dos factos” de fazer inveja ao mais barato e inepto dos advogados de porta de cadeia. Na prática manipulam as pessoas umas contra as outras e deixam ditadores livres para espalhar sua influência, estimulando aqui o que daria fuzilamento sumário em seus domínios; como exigir vagões de metrô com separação por sexo ao mesmo tempo em que exige banheiros unissex, bem como processar lésbicas por recusarem sexo (fundo musical de drama medieval aqui) com “mulheres trans” e ainda as fazerem se sentirem culpadas por isso. Esse tipo de desarranjo social é encorajado pelos idiotas úteis de que se servem, mas lá dentro de seu território eles exigem mulheres femininas e homens másculos.

 

Não à toa Putin perdeu o respeito pela comunidade européia, que tem feito contra seus países membros o mesmo que Moscou fazia com os países escudos soviéticos. Basicamente o mesmo que a então URSS e hoje a China estimulam seus lacaios a fazerem contra os países onde nasceram, contra sua história, contra sua cultura e até contra sua soberania. Também não à toa a Polônia está para ser a próxima baixa na União Européia, porque sua população ainda se lembra com frescor das dores que sofreu sob o jugo de uma ideologia que o politburo de Bruxelas quer impor na marra, sem dar a menor importância a aspectos culturais, tradições e traumas de cada população. Não importam os motivos, não aderir integral e subservientemente aos ditames dos burocratas que não dão satisfações à população, é motivo para represálias duras; sim, teremos um Polexit, não é se, mas quando. E é isso que estão tentando fazer no Brasil, bem debaixo de seus narizes, conforme venho alertando há anos, com a plena cooperação do judiciário, o maior culpado pelas mazelas do país. A mesma imprensa que destruiu as vidas dos donos da Escola Base, e que hoje se vendeu em alguns casos literalmente ao PCC, o que os impede de tocar nas atrocidades que ele comete, repete o bordão de compromisso com a verdade, a justiça e os valores democráticos, que seu agora proprietário despreza com asco, usando-os tão somente para chegar ao poder em cada nação lacaia e então impor com literalidade suas leis cruéis. Não por acaso, o PCC financia viagens de políticos e estudantes à parte mais próspera e controlada da China, de onde fazem transmissões lisonjeiras e trazem todo o discurso antiocidental que o regime propaga.

 

É ingenuidade acreditar que imposições de burocratas, ainda mais estatais, visam o bem comum, pior ainda o bem-estar do indivíduo. O estado não produz, só gere, e à amiúde gere muito mal, quase sempre com foco exclusivo para o benefício de seus gestores. De regra básica, para vocês se defenderem, peço que verifiquem até que ponto oque estão lendo ou ouvindo é auditável, qual o nível de transparência e até que ponto a fonte se permite ser investigada; notícia que não é auditável, não é confiável, não importa a fonte. Eu já adianto e já disse aqui muitas vezes que a auditabilidade e a autocrítica nacional são quase que exclusividades do ocidente, principalmente do continente americano. Mais uma é a abordagem de temas sensíveis, quem quer resolver o problema tenta te despertar o senso de responsabilidade para com o que estiver acontecendo, lacaios de ditaduras já chegam apontando o dedo e te incutindo culpas, como se uma mulher escolher ser dona de casa fosse crime hediondo e abrisse um portal para a volta da escravidão legal, por exemplo. Assim como nas máfias, os verdadeiros mandantes jamais são expostos pelos testas de ferro, que nunca se assumem como tal, então desconsidere de cara quem não aceitar expor a fonte primária para auditoria. Tenha paciência ao fazer suas investigações, levei vinte anos para chegar a muitas conclusões, algumas até mais, mas hoje os acontecimentos mostram que eu INFELIZMENTE estava certo.

 

Talvez eu pudesse ficar aqui a escrever eternamente sem jamais ter o texto pronto, mas acredito que o que já expus é suficiente par quem se dispõe ao doloroso fardo de raciocinar por conta própria. E antes de me despedir: Voltem aos seus blogs!

 

Inspiração para o texto: A Referência

06/10/2021

Seu concorrente é seu melhor amigo

 

1955 Packard

É consenso no mundo militar que o seu inimigo mais poderoso pode vir a ser, e sem grandes surpresas muitas vezes torna-se, seu maior aliado. Foi por isso que os americanos, mesmo com o risco confirmado, armaram e deram suporte ao exército soviético durante a segunda guerra mundial. Com os soviéticos indignados e furiosos, espumando de raiva, esfregando as caras dos nazistas no asfalto quente, eles puderam se dedicar mais a tirar satisfações de quem os atacou pelas costas. E o Japão derrotado, mas não rendido, tornou-se décadas depois o maior aliado contra a nova ameaça, que francamente não tinha feito nenhuma questão de esconder suas ambições e seus métodos; as gerações seguintes novamente não aprenderam nada com seus ancestrais. É assim em todas as áreas da vida, em todos os ambientes, provavelmente em todos os supostos planetas habitados e civilizados do universo; até mesmo um parasita pode se converter em aliado, como acabou acontecendo com as mitocôndrias, que de meros coletores de material se tornaram parte indissociável das células modernas.

Assim como a economia, a gravidade e a termodinâmica, não é uma lei inventada por uma pessoa, é uma regra inerente à própria existência. Um oponente honesto, que prime por jogar limpo, é o melhor parceiro que uma pessoa ou uma empresa pode ter, mesmo tendo às vezes ganas de torcer seu pescoço. A pessoa porque um, por assim dizer, inimigo franco deixa todas as suas falhas à mostra, sem disfarces, mas sem cair na armadilha de exceder a dose necessária. Ele não te romantiza, te enxerga com uma crueza que nenhum psicoterapeuta é capaz porque depende disso para te sobrepujar. Assim, com essa franqueza ferina, a proximidade desse inimigo te deixa a estrada limpa e sinalizada para o teu crescimento, com todos os alertas contra as armadilhas que o teu ego espalhou pelo caminho; é ele, o ego, o único e potencial inimigo que alguém realmente pode ter. Para não dar a esse “inimigo” o espaço que ele almeja, tua atenção à virtude e aos riscos te farão exemplo até para ele, que em último caso será o único a levar uma flor ao teu túmulo, ainda que para ter a satisfação de ter sobrevivido ao adversário, mesmo que caia fulminado antes de sair do cemitério.

Por causa de um oponente de valor, uma pessoa se esforça sempre e dá sempre o seu melhor, sabendo que o menor deslize dará preciosos milímetros de faixa para ele ultrapassar e ganhar preferência. Com o tempo, e fazendo as contas que esse adversário atento nos obriga a fazer sempre, vem a sabedoria de não precisar temer e tampouco perder tempo remoendo pequenas falhas e atrasos, porque a disputa é, ainda que palmo a palmo, de longo prazo. Aflições desnecessárias e ansiedades nutridas por eventos adversos é que te deixarão real e nitidamente para trás. Pode até haver o caso de esse inimigo te ajudar em segredo, é claro que ele JAMAIS vai admitir tê-lo feito, ou de forma dissimulada, porque ele também terá percebido que o teu progresso é que o faz perceber suas falhas antes que elas se tornem casos perdidos. Os erros que um rival vê o outro cometer com sua família, e ele prestará toda a atenção do mundo a eles, se esforçará para não repetir na sua, e o sucesso do rival logo chamará a atenção do outro para suas falhas. Assim um se torna para o outro um compêndio dos erros que não deve cometer, ou pelo menos deve-se abster-se ao máximo e corrigir com a maior presteza possível.

Não vamos nos iludir que inimigos sempre farão tudo diferente, é conversa mole. Eles fazem rigorosamente as mesmas coisas de formas diferentes, mudando estilos e adereços, nada mais do que isso. O seu inimigo em uma guerra vai guerrear, em uma corrida vai correr, em um teatro vai encenar, em um palco vai cantar e assim por diante. Se fizerem realmente coisas diferentes, um não incomodará o outro e não haverá motivos para contendas, assim não haverá rivalidades. O seu inimigo é você mesmo jogando no outro time. Ele te conhece tão bem que poderia ler sua mente apenas olhando nos seus olhos, e seguramente se aproveitaria dessa baixa de guarda para tirar vantagem. O facto de ser um “inimigo” leal, não significa que ele não entrará no seu território sempre que puder, por exemplo, para conquistar sua família falando bem de você e demonstrando qualidades que só ele notou até hoje, assim te deixando de mãos atadas para falar mal dele em público.

Ele não vai tirar proveito de sua família, muito pelo contrário, vai defendê-la como se fosse dele. Contraditório? Não! Humilhante! Ele fará de tudo para você perceber que ele é que está certo, e sua família acreditar que a sua implicância não tem nenhum fundamento. As flores que você deixou de dar à esposa, os agraços de boas-vindas que nunca mais deu ao marido, as conversas francas de que uma criança necessita e seus filhos já nem lembram como são, as datas de aniversário que a correria fez mofar na agenda, os detalhes na indumentária que o tédio da rotina jogaram ao esquecimento, as promessas que a falta de uma pressão moderadora te fizeram quebrar e muito mais, tudo isso está nos planos do rival. Se tiver um mínimo de juízo, ainda que como instinto de sobrevivência, o troco há de ser dado na mesma moeda, mas de forma personalizada. É uma aliança compulsória, bipolar e a certa altura será indispensável.

Da mesma forma um concorrente honesto será capaz de reconhecer o valor da tua empresa, mas se valerá justamente disso pra exaltar a dele e convencer a tua clientela a experimentar o que ele oferece. Ele vai agregar valores e diferenciais que remeterão imediatamente àquilo que você oferece, mas sem os problemas crônicos que você negligenciava por custos, por tradição, teimosia ou o que quer que seja, seu concorrente terá se debruçado sobre o problema até encontrar uma solução razoável e economicamente viável. Quem se lembra da Kia Besta, sabe dos benefícios que trouxe à Kombi. Por décadas sem concorrência, permaneceu praticamente sem qualquer aprimoramento, limitando-se a atender minimamente a legislação ano a ano, só evoluindo de facto quando a coreana chegou e chamou para si as atenções do público que simplesmente não tinha escolha. Quando a Besta saiu de linha, a Kombi novamente parou no tempo e, sem concorrentes, a VW não exitou em descartá-la sem deixar descendência assim que não era mais rentável…  e perdeu a liderança que nunca mais vai conquistar de volta.

Assim como a Cadillac é a única coisa que impede a Ford de cometer mais uma asneira e enterrar a Lincoln, a concorrência com a Besta e em menor escala com a Towner era o que motivava as atenções que a Kombi recebia da marca. A bem da verdade, a falta de concorrência real e leal tem corroído nossa indústria há tempos, em todo o ocidente. E é o pior tipo de corrosão, pela falta de uso. Foi de tal forma que quando as importações foram abertas, muito de nossa indústria se reduziu a pó, principalmente as fábricas de brinquedos e de tecidos. A falta de concorrência ostensiva nos deixou particularmente de tal forma despreparados, que quando ela veio quase decretou a extinção de nosso parque industrial. A própria indústria automotiva nacional, que cometeu o pecado de simplesmente eliminar marcas adquiridas, em especial a VW que mentiu descaradamente que manteria Chrysler e DKW, nosso portfólio era tão pobre a acanhado que mesmo as marcas de luxo fizeram a festa. Nós tínhamos os fora de série, claro, alguns deles muito sofisticados, mas eram incapazes de suprir uma demanda séria, demoravam muito para ser entregues e custavam o mesmo que esportivos puro-sangue e sedãs de alto luxo consagrados que povoavam o imaginário do brasileiro, eles a pronta entrega. Tivessem dado o devido apoio aos fora-de-série, que aliás eram clientes das grandes montadoras, teriam enfrentado melhor os importados, diluído os custos na maior escala de produção de componentes vitais e hoje teriam um portfólio digno de exportação… Não nos esqueçamos da Troller.

Para quem não sabe, e infelizmente o brasileiro tem memória de areia, a própria predadora VW já precisou recorrer à concorrência no Brasil. Claro que Scania e Toyota, à época, não eram concorrentes directas, embora a Bandeirante disputasse com a Kombi a preferência nos lugares onde não havia estradas. O problema foi na seção de pintura, que nos anos 1970 simplesmente pegou fogo, obrigando os executivos a fazerem negociações emergenciais rapidamente em uma época em que o Fusca vendia mil carros por dia no Brasil, na época metade da nossa frota motorizada era só Fusca. Isso não só resolveu o problema como salvou a Toyota do Brasil, cujo aluguel da ociosa seção de pintura deu fôlego financeiro em uma época de vacas anoréxicas. Isso além te ter enriquecido um pouco nossas ruas, com Fuscas usando as paletas da Scania e da Toyota se diferenciando dos outros. Mas passou a crise e os benefícios da cooperação com os rivais foi esquecida. Os primeiros caminhões VW, para constar, nada mais eram do que Caminhões Dodge com cabines VW… e as propagandas da ápoca, como aconteceu com a DKW, diziam que os clientes Chrysler então poderiam contar com a rede VW.

Não muito diferente da indústria americana, que com a perda gradativa das pequenas e criativas marcas, foi perdendo também o incentivo doméstico e os toques de criatividade de que as três grandes tanto sentem falta hoje. Essas pequenas tiravam leite de pedra, faziam modelos obsoletos continuarem bons por muito tempo, até terem condições de apresentar uma geração realmente nova, com isso ainda se davam o luxo de zombar da mesmice de General Motors, Chrysler e Ford; e mesmo essa “mesmice” deixava a indústria brasileira no chinelo. Com o ocaso das marcas pequenas, as japonesas tomaram conta. Um problema disso é que ao menos na época, elas não primavam pela lealdade na concorrência, o Iene era, ainda mais do que hoje, mantido baixo pelo governo japonês justamente para forçar uma competitividade maior, o resto vocês já sabem. Mais tarde veio a China que fez essa tática parecer brincadeira, fazendo dumping descarado e descaradamente desmentido diante dos números expostos, o resto vocês já sofrem. Às vezes, mesmo em se tratando de um rival, é preciso ajudar a resolver seus problemas para que eles não cresçam demais, saiam da casa dele e entrem na sua. Uma parceria com a AMC para produzir compactos, para os quais a GM não tinha cabedal nenhum, teria freado os orientais e feito bem a ambas; foi justo para os orientais que a clientela das extintas pequenas migrou, e todos perderam. Dar o devido valor e esporádico amparo ao concorrente doméstico, talvez tivesse minimizado a crise de 2008 a ponto de não haver riscos de insolvência. Hoje eles têm centenas de pequenos fabricantes, mas são como os nossos saudosos fora-de-série, e a maioria só produz kits para montar ou modificar carros já existentes.

E no dia 5 deste mês tivemos mais um exemplo de como a falta de concorrência é danosa, com a queda do grupo que controla o Facebook, Instagram e WhatsApp. A burrice de colocar todos em um só lugar ajudou a agravar o problema, porque a queda de um se estendeu quase que imediatamente aos outros. Para quem pensa que foram apenas seis horas sem redes antissociais, muita gente tem nessas plataformas, na verdade essa plataforma única de três faces em que os três serviços se aglutinaram, o seu meio de vida. Soube de microempresários que tiveram trinta mil ou mais reais de prejuízo, e isso para quem só tem uma porta ou um pequeno estoque em casa, é muito dinheiro! Para quem vive de circular rapidamente bens e serviços, seis horas em horário comercial são uma eternidade. O hábito de se tratar o website como uma loja física piorou o quadro, porque uma loja física não pode ser simplesmente derrubada por um problema tecnológico, enquanto uma virtual só precisa de uma oscilação de energia para travar uma venda; ou pior, para travar o cartão do cliente no site, aí a coisa fica realmente feia! Houvesse cooperação com outras plataformas, inclusive as que foram engolidas, transtornos e prejuízos teriam sido mitigados.

Por último, mas não menos importante, vejamos o exemplo dos Estados Unidos, que perdeu um oponente poderoso, que o impelia a ser sempre melhor, mas cujo vácuo foi ocupado por um parasita que mente diante da verdade exposta e dá de ombros para os métodos, inclusive contra seu próprio povo. Aquela rivalidade elegante e inspiradora, ainda que perigosa, mantinha as atenções e os esforços no seu progresso, sempre migrando o mais rapidamente possível os avanços da área militar e espacial para o cotidiano do cidadão, que na época ainda conseguia se maravilhar e usufruir o máximo dessas conquistas. Hoje o que temos é uma parcela perigosamente grande da população americana simplesmente acomodada em confortos, simplesmente se deitando na almofada sem mais se encantar com o facto de tê-la e poder usufruir dela, consumindo entretenimentos que fazem os mais bestas dos shows dos anos 1970 parecerem altamente intelectualizados, somando-se a isso intelectuais moradores de bolhas que querem decidir até o que as pessoas devem pensar. Na falta de um rival real, aceitaram os inimigos imaginários que picaretas impuseram. Não deveriam ter deixado a Rússia à própria sorte, esta que sempre foi madrasta para os russos. Hoje são eles que precisam ocupar parte do vácuo deixado, a custos altos, porque o império parasita já quer forçar vácuos para ocupar, agindo como uma figueira estéril, que estrangula e vampiriza seu hospedeiro, gerando frutos ruins de aparência aceitável, só produzindo de verdade para si mesma. A esse parasita não interessam alianças, só subserviência.

Agora, empresário, olhe bem ao seu redor. Veja tudo o que seu esforço e suas estratégias conseguiram amealhar. Faça um breve histórico das últimas crises severas, desde 1998, dê especial atenção às vezes em que seu empreendimento correu o risco de fechar as portas, faça uma análise crítica honesta de tudo o que precisou enfrentar e das decisões amargas que precisou tomar até agora. Antes de bater no peito se achando o máximo, acenda uma vela para o seu concorrente, com toda certeza ele é um dos grandes responsáveis pelo seu sucesso.

22/09/2021

O mundo de infantilizados

 


Não sei se vocês já se deram conta de o quanto tornou-se arriscado contrariar uma pessoa. Os mais desatentos podem acreditar que a estafa mais freqüente se deve aos tempos difíceis que atravessamos, bem é também isso, mas não é só isso; é verdade, mas não é toda a verdade, não é nem a península da verdade. Encontrar um adulto que não veja uma discordância ou negativa como ameaça de morte está se tornando uma tarefa inglória. Várias vezes eu falei de adultos se portando como crianças mimadas, pois a coisa piorou muito, o mimo de querer atacar e não tolerar ser atacado tornou-se pandêmico. Não, as redes sociais não inventaram isso, o problema é antigo e já abordei em outros textos, a parcela delas desta empreitada medonha é a catálise, são enzimas que fazem tudo parecer muito maior do que realmente é, o que não seria um grande problema se todos os adultos tivessem feito dezoito anos, mas muitos não fizeram. A bem da verdade, a mim parece que a maioria nem fez dezesseis. O agravante é o facto de, admitam ou não, os adolescentes imitarem os adultos ainda que em modo reverso, daí vocês podem imaginar a caca que sai.

 

Do meu ponto de vista (não opinião, mas PONTO DE VISTA, a posição em que me encontro em relação aos acontecimentos) vejo pessoas até então ponderadas e sensatas, que levavam no deboche e risadas as contrariedades cotidianas, começarem a se levar a sério e contrair as moléstias inerentes, como repetir compulsivamente discursos alheios e não se darem conta da carga de rancor e ódio que recebem com isso, um veneno que vai fazer doer cada vez mais e tolher progressivamente suas capacidades de discernimento. Um exemplo é de uma pessoa por quem ainda nutro muito carinho, cuja consciência dos riscos e burrice das generalizações parecia ser uma apólice de seguro, mas hoje vem justamente seguindo e compartilhando opiniões de pessoas que generalizam descaradamente contra os que considera ser seus inimigos, afirmando que TODOS os de um grupo ou outro são absolutamente maus ou absolutamente bons, claro que com outras e prolixas palavras, a mesma prática de radicais religiosos para controlar seus seguidores e, em última instância, perseguir os que tiverem os estigmas do mal. Essa novela é repetida e eu já a vi literalmente milhares de vezes, em muitas delas vários capítulos exibidos simultaneamente… e continuo a assistir a essas reprises tóxicas. Para essa pessoa, agora, todos os indivíduos do grupo que seus mentores desgostam, são previamente julgados e condenados, sem o menor traço de investigação e sem querer saber os nomes dos bois; é aquela gente, então deve ser odiado.

 

Não se trata apenas de política, essa erva daninha enraizou em praticamente todos os campos. Vá, por exemplo, dizer que prefere sedãs familiares aos esportivos e verá uma legião de ofendidos por tu não babares por Lamborghini e Ferrari, tentando te fazer confessar crimes não cometidos. Isso é só um exemplo e já me aconteceu. O que agrava esse fenômeno quando se trata de política, é a imensa quantidade de apelos sentimentais e humanitários que os gurus da área despejam o tempo todo, mas para os quais na vida real não dão a mínima, basta ver os heróis que e porque eles cultuam. São pessoas para as quais, a medida em que se radicalizam, a vida do outro perde valor se estiver do outro lado da discussão, e com o tempo esse outro já nem é mais visto como ser humano. Recentemente um contato causou problemas deliberadamente em vários grupos e perfis, caçando briga por políticos. Eu estranhei ele trocar de perfil apenas dando pequenas mudanças no nome, ao longo dos meses, mas faz poucos dias que o flagrei ameaçando processar quem o xingasse, que era precisamente o que ele estava fazendo com os simpatizantes de outra corrente, ou quem simplesmente não concordasse com a dele. Não precisei investigar muito para descobrir que ele simplesmente saía pelo facebook procurando discordantes com o firme propósito de atacar, ridicularizar, humilhar os outros e fazer troça de qualquer sofrimento de que tomasse conhecimento. Agora, praticamente isolado, queima carbono com postagens de indirectas.

 

Quando se faz engenharia reversa do histórico dessas pessoas, se descobre que aos poucos, com maior ou menor ímpeto e velocidade, elas abandonam a busca de notícias dos factos, o que convenhamos tem se tornado cada vez mais difícil, para buscar publicações que corroborem com as narrativas adoptadas; as semelhanças com igrejas fundamentalistas não são mera coincidência, a estrutura funcional é a mesma. Muitas vezes essas pessoas gostam de compartilhar coisas como “Não gostou, passa por cima e esqueça” mas praticam o oposto na primeira oportunidade, naturalmente, como se nada de errado estivesse acontecendo, algo como “Oi, dei um murro na sua cara agora há pouco, vamos sair pra tomar um sorvete”. Claro que se o murro for na deles, o convite será rispidamente rejeitado, mas na situação oposta eles vêm discursos prontos de reconciliação e tentando incutir culpa à menor reação contrária, como crianças pirracentas. Aliás, pirraça parece ter se tornado a ideologia oficial do país, com as pessoas se recusando a ver as qualidades do opositor e aprender com elas, bem como fechando os olhos para as mazelas dos seus, novamente se valendo da polarização extrema com um raciocínio simplista, versando com amplitude sobre a superfície da água. A redução da capacidade de discernimento não é, entretanto, responsabilidade exclusiva deles, existe toda uma estrutura patológica suportando comportamentos imaturos e egocêntricos. Já faz algum tempo que as pessoas têm se deixado ser tratadas como mentalmente inaptas, e o primeiro fornecedor dessa droga foi o telejornalismo, que com técnicas de locução apresenta primeiro a sua conclusão e depois a notícia editada ao sabor de seus interesses, assim não importa o que tiver sido apresentado, a tendência do espectador será aceitar a conclusão prévia. Nas versões impressas as técnicas são outras, como deixar para um último e tímido parágrafo o outro lado ou o complemento da notícia, já sabendo que as pessoas têm ficado preguiçosas para ler o que não lhes der prazer.

 

O tolhimento do raciocínio para tirar conclusões e tomada de decisões tem cobrado seu preço, que é repassado à vítima já viciada e os que a cercam, como acontece com qualquer cadeia de tráfico de drogas. A proliferação de programações idiotas e idiotizantes, muitas vezes com frágil aparência cultural, é um dos reflexos disso. Decerto que a actividade partidária se beneficiou disso. O efeito colateral é a progressiva estreiteza do raciocínio, com as pessoas se recusando a cogitar o que quer que não esteja em sua zona de conforto intelectual, com o tempo comprometendo até mesmo a fluência linguística. Eu tenho testemunhado em pessoas próximas um empobrecimento vocabulário acentuado, tanto verbal quanto escrito e, meu Deus, como meus olhos doem de ter que ler certas coisas! Algumas sequer consigo decifrar! O excesso de emojis e gifs ajuda a dar uma idéia do que a pessoa quer dizer, e medir o grau de infantilização a que já está exposta, mas mesmo isso já está falhando, com figurinhas que nada têm a ver com o assunto sendo colocadas como resposta ou complemento da…  aham… comunicação. Não me refiro a pessoas de baixa formação escolar, há pessoas com pós-graduação ou mais contaminadas com isso. Gente diplomada com severas restrições de vocábulo e nenhuma capacidade de interpretação de texto, quando muito recorrendo a citações memorizadas para maquiar a deficiência, tem saído em profusão das academias. Agora imaginem a deterioração linguística da população comum, que mal lê um parágrafo por dia. Adultos cronológicos que desconhecem palavras básicas da língua portuguesa, que mal conseguem se comunicar fora de seus territórios, que podem mal cobrir a área de um bairro.

 

Nas redes sociais isso é muito amplificado e tanto mais quanto maior a interatividade. Conflitos por motivos torpes com “Vá se f@d3r filho da p¢t4” tomando o lugar do “bobão cabeça de mamão”, usando de argumentação do mesmo nível, enchem as caixas de comentários. A situação ficou ainda mais pesada quando a turma de visão rasa cheia de referências começou a querer ditar o que cada um deve pensar, se achando a escola do mundo, assim soltar “a coisa tá preta” pode custar vinte e quatro horas ou mais de banimento por acusação NUNCA INVESTIGADA de racismo. Às vezes nem terá sido o interlocutor o denunciante, mas o contacto do contacto do contato que conhece alguém que tem um contacto mais radicalizado e este tomou as dores que não foram sentidas, bem como julgou e condenou o autor como réu revel. Nem quer saber se houve intenções, em que contexto a expressão foi utilizada e nem mesmo que já faz parte do cabedal popular, Tico e Teco decidiram que aquilo é o mal absoluto e deve ser exterminado. E a gerência da rede social, o que faz? Isso, censura! Como é humanamente impossível analisar milhões de casos diários, deixam por conta de um algoritmo a ingrata tarefa de adivinhar o que o cidadão está pensando, quando na verdade nem é capaz de diferenciar um cotovelo de um seio. Mas as contas de ditaduras que em seus países baniram essas empresas, essas estão a salvo de qualquer represália.

 

E para o gargalhar dessas mesmas ditaduras, tanto ao algoritmo quanto os censores humanos aceitam qualquer birra como denúncia, às vezes até uma letra digitada errado como prova para censurar uma publicação. Ter dois adultos usando palavreado mais rústico para conversar, já é motivo para punições mais severas. A impressão que fica é que eles querem que nos tornemos todos Pollyannas, que só postemos coisas belas e agradáveis (não sei a quem) o tempo todo, que só escrevamos palavras carinhosas e enternecedoras, não importa o estado de espírito em que a pessoa esteja, como narrou o filme “O Demolidor”. Essa tutela forçada com censura de pensamento tolhe ainda mais o discernimento, já que haveria alguém para pensar e concluir no seu lugar; ou, pelo menos, haveria, se os próprios censores não fossem enviesados e simpatizantes de ditaduras, posto que não as punem, portanto com pensamentos também tolhidos. O resultado é a infantilização dos adultos, que respondem em duas principais frentes opostas e igualmente perigosas, uma aceitando usar fraldas e chupetas, outra tentando ser mais ogra do que queixada faminto. No meio, tentando sobreviver, temos dois tipos, o que ainda não se deu conta da desgraça que está acontecendo, mas sabe que não gosta do modo como tem sido tratado, e o que acompanha desde o começo essa degeneração, e não raro tem crises depressivas. Os infantilizados são a maioria, estão brincando de adulto e levando a ferro e fogo os seus brinquedos, enquanto adolescentes maldosos conduzem a brincadeira, evitando a qualquer preço que aqueles tentam contato saudável com o mundo adulto, repetindo o mantra “o mundo é mau, ninguém presta e ninguém vale nada” em seus ouvidos puerilizados. Assim, quando buscam uma notícia, já têm em mente o que querem saber e não toleram resultados diferentes, como se a realidade fosse obrigada a se moldar às suas expectativas, tal qual criança mimada de cinco anos. Já se apresentam a autores de algo que não tenham gostado de espírito armado e dedo em riste, acusando previamente e mandando estudar aquilo só o fazem quando corresponde ao que esperam saber.

 

Vocês notaram que os carros estão cada vez mais parecidos com brinquedos Hot Wheels? Que os esportivos parecem cada vez mais terem sido feitos com origami? Não é coincidência, é conseqüência. Se antes havia o medo de envelhecer, hoje o medo é parecer ter mais de trinta anos, porque a partir dessa idade não se é mais formalmente jovem e a coerência de atitudes passa a ser cobrada com rigor… ou passava, antes de ser socialmente aceito um marmanjo de quarenta se comportar como um púbere que tomou seu primeiro porre. Andar balançando lateralmente já foi sinal de problema ortopédico ou tontura, hoje caminhar como um bebê trombando em tudo e em todos é considerado normal, e ter a mesma reação de um ao ser contrariado também é. E do que uma criança pequena gosta? Gosta de coisas arregaladas, de desenhos exagerados e estereotipados, de caretas e luzinhas coloridas piscando por toda parte, de uma babá electrônica guiando seus passos et voilà, temos o design industrial contemporâneo. Esse mesmo critério é utilizado nas redes sociais.

 

Hoje sou visto entre outras coisas como encrenqueiro, por não aceitar ser infantilizado. As mesmas pessoas que outrora me admiravam por eu ser ponderado e coerente, hoje reclamam de mim por ter mantido oque eu demonstrava desde o começo, mas não admitem que elas mesmas podem ter mudado para pior. O tal “pensamento crítico” não é aplicado ao próprio escopo, assim não ajuda nem um pouco a pessoa a se melhorar, até porque a pessoa não quer. Porque isso implicaria em colocar em xeque seus heróis e suas narrativas, abandonar a conveniência de filosofias rasas e simplistas, admitir que pode estar errado e que o que foi tomado como inimigo pode não ser tão ruim assim, que todas as ofensas dirigidas a ele podem não ter base real e outras coisinhas mais, que acarretariam a necessidade de trocar as fraldas por calças ou saias. Mas é tão confortável se manter infantilizado, acreditar que existem heróis bonzinhos que pensam por você, te fazem acreditar que as decisões são suas e te dão um diploma de bem-comportado com o selo de aprovação do líder, enfim, entregar seu destino a outrem e brincar de ser adulto livre e independente, repetindo bordões alheios e aceitando suas conclusões; confortável como a picada do vampiro.

 

Já faz tempo que deixei de me encantar com palavras, que passei a estudá-las com ceticismo e frieza, sem me importar mais com sua forma, justo para não cair nas armadilhas acolchoadas em que outros se deitam placidamente. Isso explica em parte minha maior dificuldade para escrever e a aleatoriedade das publicações. Ainda que isso choque alguns de vocês, é um remédio tão amargo quanto necessário para me manter desperto porque lamento informar que, antes de melhorar, ainda vai piorar muito.

12/08/2021

Sem surdina e sem vergonha!

 


Não foi uma, duas, três… foram inúmeras vezes ao longo de muitos anos que ouvi falar de controle da poluição sonora em Goiânia, no fim da década passada chegaram a fazer barulho e parecia que daria em algo, mas foi só mais barulho mesmo… como se não tivéssemos o bastante! Antes que comecem a queimar motocicletas e expulsar seus fabricantes do país, um esclarecimento: Quando uma motocicleta sai da fábrica, o nível de ruído é relativamente baixo a ponto de permitir até ouvir o funcionamento da corrente, especialmente em média velocidade. Há casos em que uma moto original nem é percebida pelo pedestre e o condutor precisa acionar aquela buzininha estridente. Apesar de atrasadas em relação aos carros, motocicletas são submetidas a restrições cada vez mais severas de emissões de gases e ruídos, a ponto de até nelas o carburador estar com os dias contados, ainda assim todas já saem de fábrica com catalisador, que em si já restringe a passagem dos gases e reduz o nível de ruído. Em resumo, todas elas saem de fábrica já adequadas ao sacro direito de repouso de estudantes e trabalhadores. Sem exceção, desde a espartana Honda Pop até a luxuosa Gold Wing, até mesmo as genéricas chinesas que usam peças de motos nacionais fora de linha, o fabricante faz a sua parte; quando a moto sai da concessionária é que complica.

 

Para tornar uma motocicleta mais ruidosa, basta remover catalisador e o silencioso, mas isso não pode ser feito apenas cortando o escapamento, ficaria visível a grandes distâncias e os fiscais perceberiam mesmo com o veículo parado, então é preciso levar a uma oficina, quase sempre boca-de-porco, remover os miolos e remontar as carcaças. Pronto, o imbecil tem um veículo com aparência original de moto moderna, mas nível de ruído de fazer inveja às Yamahas envenenadas dos anos 1980. Existem escapamentos esportivos que prometem algum ganho real de potência, quase sempre irrisório para peças que não são baratas, as mais caras chegam a custar o mesmo que uma motocicleta de entrada e mesmo assim não fazem nada de relevante quando sozinhas, mas o aumento do nível de ruído é bem perceptível, especialmente em altas rotações. Aborrece a maioria, mas mesmo com essa artimanha cara ainda pode ser tolerável. Preparar um motor não é para amadores e não é barato; e filtro “esportivo” não é veneno! Basicamente é preciso preparar o motor para trabalhar com os novos limites, e nos modernos isso inclui retrabalhar o módulo da injeção, geralmente sem garantias de que a máquina vai suportar a nova carga de trabalho… e sem garantias de que vai passar na vistoria do Detran.

 

O que os malas fazem é algo bem mais simples e danoso, simplesmente retiram os miolos do escapamento, para combinar com o vazio de seus crânios, e trocam a injeção por um carburador para eliminar o limite de rotações. Eles sabem que a moto será levada para o pátio assim que caírem em uma blitz, mas os vidas-loucas só pensam no prejuízo quando vem a cobrança, e tentam passá-la para terceiros. A receita é simples: um carburador, que simplesmente fornece ar e combustível sem medir nem controlar nada, uma admissão mais aberta e escapamento sem restrições. Assim uma motocicleta que saiu de fábrica mais silenciosa do que as Kombis carburadas, fica mais ruidosa do que um Boeing 737 em procedimento de decolagem. A intenção não é se divertir com o som metálico e puro de um motor a 10000RPM, a diversão é justamente arruinar o necessário descanso do máximo possível de pessoas, porque esses lixos acelerados são ouvidos literalmente a mais de um quilômetro. Piora o facto de eles usarem marchas mais baixas para precisarem manter aceleração máxima a fim de desenvolver alguma velocidade, demorando mais tempo em cada trecho da cidade e atormentando mais pessoas com mais intensidade por períodos maiores. Poderiam estar a mais de 150km/h, mas estão a um terço disso e a população útil paga o preço.

 

Justamente por nada disso ser barato eles costumam usar essas mesmas motos como ferramentas de trabalho, nem sempre é TRABALHO, mas vamos só a este. Uma artimanha para admissão em empresas mais exigentes é pegar o escapamento de uma moto legal na hora da vistoria ou entrevista, troca desfeita assim que consegue a vaga. Por isso nem sempre ser possível e por haver demanda crescente e descriteriosa, a maioria trabalha por conta própria não como motociclistas, mas como cachorros loucos, costurando o trânsito em marcha baixa e alta rotação, dando de ombros para a segurança e o patrimônio de terceiros, destruindo retrovisores (cada dia mais complexos e caros) sem cerimônia e sem o menor remorso, ainda que aquele seja um carro de aplicativo, de que seu motorista depende para levar comida para casa, mas sem retrovisor ele não pode circular. Importando-se unicamente com o próprio prazer, destrói a motocicleta por uso abusivo por quase sempre saber como conseguir outra fácil por meios tortos. Em muitos casos porque o “papaaaaai” passa o cartão e ele tira uma nova da loja no mesmo dia, mas esse estrume de classe alta é assunto para frente. Por causa do estrume pobre os trabalhadores de verdade ganham má fama. Sim, é comum o cidadão precisar comprar uma motocicleta surrada para trabalhar, mas NEM DE LONGE uma moto mal conservada faz o ruído de uma deliberadamente modificada.

 

Já conversei com empresários que usam serviços de entregas e eles me descreveram seu pesadelo com esses tipos. Eles fazem questão de estragar a motocicleta e, quando indagados, soltam gargalhadas abobalhadas, que se convertem em prantos de arrependimentos crocodilianos assim que recebem o cartão azul. A descrição que me fizeram, e que soam grego aos leigos, vão desde garfos zero quilômetro completamente tortos ou trincados a rodas zero quilômetro empenadas como se fossem acidentadas. Quando vão investigar as numerosas multas que chegam, dão graças a Deus por a Polícia Federal não ter batido à porta. Até sugeri que lhes dessem motos eléctricas de baixa potência e aspecto mais feminino, mas eles reiteraram que esses cachorros loucos não dão a mínima, demonstram ter prazer em destruir patrimônio alheio, e seria também por isso que eles não fornecem mais motocicletas, contractam já exigindo veículo próprio para que o prejuízo vá para o bolso de seu causador; à parte os patifes que realmente esfolam o trabalhador, a maioria não fornece a motocicleta porque não quer riscos desnecessários. Bons tempos em que frotas de Fusquinhas com a propaganda da empresa faziam as entregas… mas um Fusca de firma não costura o trânsito com tanta facilidade e não encantaria adolescentes descerebradas sem limites, elas são parte das motivações, o sexo fácil e sem regras fomenta muito esse comportamento nocivo.

 

Claro que a indolência crescente e o padrão de exigência típico de novos-ricos se alastrando por toda a sociedade, tanto quanto o mau gosto generalizado inerente, faz com que o consumidor contemporâneo não se importe com os meios usados para a entrega ser feita, quer tudo na hora e com preço promocional! É o pretexto perfeito para o cachorro louco, e o pesadelo perfeito para quem realmente quer trabalhar direito. É facto que quem trabalha direito preferiria comprar um Mille 1998 para fazer suas entregas, com mais segurança e conforto do que qualquer motocicleta é capaz de oferecer, mas com esse trânsito moribundo simplesmente não dá. Antes de virem falar em custos, façam as contas. O baixo consumo de uma motocicleta se dá em razão da relativa baixa carga de trabalho do motor, que foi pensado para girar rápido e entregar boas porções de força em uma gama ampla de velocidades, se um imbecil decidir abusar dela, principalmente com modificações absurdas, essa vantagem desaparece e a balança pende paulatinamente para o Mille, que com seu motor muito maior pode pegar muitas entregas de uma só vez e cobrir uma área muito grande em uma única viagem, sem expor o entregador a intempéries e abordagens escusas… ou poderia, se prefeitos e vereadores ainda morassem nas cidades de que deveriam cuidar, mas moram em condomínios fechados e muitas vezes nem andam de carro. A película de asfalto aspergida em algumas ruas de Goiânia, por falar nisso, já está cheio de buracos.

 

Antes de algum idiota útil vir com discursos acerca de situações que não conhece, e seus filósofos de estimação menos ainda, eu lidei e de vez em quando ainda lido com esses tipos. Desde meados dos anos 1980 que o declínio das relações familiares (sim, se não quiser ouvir a outra metade da história, dê licença) vem causando ou incrementando esses estragos. Com garotos se casando ou simplesmente “ficando” cedo demais, às vezes antes da maioridade, sem ter aprendido praticamente nada com seus pais, que talvez pouco tivessem aprendido com os deles, tendo que aprender de modo torto as noções de limite que o mundo exterior dá com rudeza; por não ter recebido limites em casa, em vez de meditar a respeito das lições, muitas vezes se revolta por tê-las recebido e acha que por isso ninguém o ama, ninguém o quer, ninguém o chama de Alô Doçura. Nesses mais de trinta anos que eu acompanhei com atenção, cerca de quatro gerações nasceram e cresceram achando que o mundo inteiro lhes deve satisfações e proventos, com a mídia dando suporte a essa mentalidade umbilical. Não, nem todos se corromperam e nem todos os que se sentiram lesados pagaram a terceiros na mesma moeda, mas os que o fizeram eram numerosos e barulhentos o suficiente para causar o estrago, e choraram alto o bastante para atrair as lentes piedosas das câmeras de televisão, comportamento repassado à posteridade putrefata que temos hoje. O assassino passou a ser visto como vítima e sua vítima como apenas um número a servir de palanque eleitoral para direita e esquerda, dando-se ombros à família desamparada, retroalimentando o ciclo maldito.

 

Some-se a isso a fiscalização porcamente feita e meramente punitiva, quase unicamente para arrecadar com multas e taxas de liberação, penalizando quase sempre só o veículo, deixando o meliante livre para arranjar outro e voltar a fazer caca sonora pela cidade. O resultado são os pátios cheios de veículos aproveitáveis amarrados numa burocracia aleatória, obesa e burra, feita por quem não diferencia um disco de freio de um volante, apodrecendo às intempéries, enquanto o cretino está livre para barbarizar. Nem adianta tentar reter a habilitação, eles dirigem mesmo sem ela, às vezes sem jamais terem entrado em um CFC; outra coisa burra que inventaram, porque não atenuou em absolutamente nada a periculosidade do trânsito. Isso vale tanto para os imbecis que pensam que não têm nada a perder quanto para os cretinos que pensam que não têm nada a temer, as leis da física cobram caro para ensinar que estão errados. Quanto ao segundo grupo de amebas com nomes em colunas sociais, cito o caso de um filho de um certo ministro do Fernando Chilique Maldoso, que atropelou e matou por dirigir como louco em Brasília. Por ser menor de idade à época, não tinha habilitação. O que aconteceu bem pouco tempo depois? A porcaria da ECA foi posta em prática! Não defende as crianças de gente realmente ruim e nenhum dos ladradores que a defendem encara um traficante que abusar delas, mas as deixa completamente imunes às responsabilidades com que teriam que arcar, ainda que dentro de sua capacidade cognitiva e de resposta, mesmo que matem a sangue frio, para livrar o mandante do crime de uma acusação… isso quando o ilícito não se dá por vingança pessoal, o que para uma criança pode ser ABSOLUTAMENTE qualquer coisa, mesmo uma contrariedade rotineira.

 

Não foi para defender crianças e adolescentes que essa porcaria foi inventada, foi para dar imunidade aos filhos deles, os que a formularam e aprovaram! O alastramento e agravamento das tensões sociais e de segurança pública não são importantes para eles, não até fazerem discursos para angariar votos do eleitorado desesperado. O resultado é que qualquer besta de classe média que faz consórcio de Hilux passou a se achar parte da casta de intocáveis de Brasília, se vendo no direito de usufruir de uma imunidade que não tem e se achando à prova de balas. Chamar essa trolha precariamente alphabetizada de “elite” é ofender a própria língua portuguesa! Mesmo os que têm recursos para tanto, dificilmente merecem o termo, quando muito estudam para passar e esquecem tudo no dia seguinte. Infelizmente, porém, é nela que a juventude se espelha, gente com muita titularidade ou cobertura midiática e nenhum conteúdo.

 

Esquecendo-se de que as balas são supersônicas, ou talvez não sabendo pois o diploma foi comprado, os biltres mimados aceleram brutalmente no meio do trânsito e não raro desafiam a polícia em suas ruidosas, disformes, cafonas e horrorosas motocicletas, chorando na delegacia e fazendo ameaças quando são submetidos à lei da ação e reação. Então vem advogado que inventa argumento para transformar vítima de pedofilia em réu, papai endinheirado e corrompido ameaçando expulsar todo mundo da corporação, depois o imbecil faz vídeos mostrando o quanto foi injustiçado e prometendo sair do país (quem dera) para sempre, enfim! Fazem tudo o que JAMAIS fariam contra um traficante, cuja lei é a do velho oeste. Então vem um pé rapado encantado com a glamorização do crime e a criminalização da polícia, decide que se o descerebrado com dinheiro pode, um descerebrado ferrado também pode, arranja uma motocicleta mais torta do que sua própria fama e pronto! O descerebrado com dinheiro vê o descerebrado pobre obrando pela cidade e decide que pode mais do que ele, então em vez de simplesmente pôr a vida alheia em risco, a ceifa em um vídeo ao vivo. Aí sim, cumpre a promessa de ir embora do país antes que um flagrante possa acontecer. O descerebrado ferrado então tenta sentir o mesmo nível de adrenalina e se lasca, porque não tem dinheiro nem para a passagem de ônibus, que dirá sair do país! Mas vira herói de debilóides.

 

E com esses paradigmas o comportamento de símios no cio se intensifica, com o Estado se limitando a arrecadar com multas e taxas, sem a mais remota intenção de resolver o problema e perder essa fonte de renda, que não sei para onde vai, mas não é para as ruas da cidade. Solução? Infelizmente não vejo sinal de uma pacífica, embora não queira conflito armado, posto que quem fez o estrago são justo quem faz a lei e quem deveria executá-la, este aliás dá os piores exemplos possíveis. Filho de desembargador, por exemplo, tornou-se imune à lei, quem tentar prendê-lo recebe voz de prisão. Não precisa pensar muito para se dar conta de que além da arrecadação com multas e taxas aleatórias, o facto de os filhos mimados deles fazerem isso inibe qualquer ação efetiva para resolver o problema. É também pela sensação de impunidade que a saúde pública é corroída pela poluição sonora que, por lei, jamais deveria acontecer, mas no Brasil leis são feitas para anularem outras leis que continuam em vigor. Infelizmente foi-se o tempo em que crianças mimadas eram coisas de rico, agora temos desde os anos 1990 pobres mimados também, cuja indumentária grotesca dá subliminarmente o tom de ameaça a quem tentar limitar seus prazeres, combinando com o que fazem com as motocicletas e nelas com a sanidade pública. Em ambos os casos os parasitas sociais correm para suas famílias ou suas turmas, quando a força policial, que é o que impõe respeito à lei e não o nariz empinado de um magistrado arrogante, está em seu encalço.

 

Eu bem poderia aqui incentivar à desobediência civil, incitar a população a fazer justiça com as próprias mãos, dizer que uma parede de caminhões que apareça repentinamente na contramão não daria tempo para essas zoonoses falantes desviarem e evitar serem colhidas pelos para-choques e pneus dos brutos, que jogar balões de água com acetona repentinamente os desnortearia e os meteria em acidentes que poderiam ser fatais, não, eu não vou fazer isso… e nem precisaria. A confiança nas instituições já está no solo, é pouca coisa para se dar um abalo sísmico e nem a “força nacional” inventada pelo pior deles dar conta da revolta, então não haverá desembargador satânico arrogante que gosta de dar voz de prisão a policiais, todos vão simplesmente se esconder como os covardes que realmente são e apenas assistir à lei de Talião ser posta em prática por quem foi posto de lado pelos que interpretam a lei ao seu bel prazer… na verdade isso já acontece aqui e acolá, pontualmente, em rincões onde a pessoalidade ainda permeia relações comerciais e burocráticas. Porque o CPF não chora, o RG não se ofende e o CNPJ não sofre, quem chora, se ofende e sofre é a pessoa que os porta, então para um cidadão indignado e abandonado pelo sistema é sim tudo pessoal. Mais pessoal do que o apego doentio daqueles idiotas de motocicletas pelos seus prazeres baixos.

 

Os que poderiam evitar isso, assim como eles, estão muito acomodados em sua zona de conforto dentro da bolha burocrática em que entraram, como uma casta superior. Aquilo que não lhes doer na pele não será resolvido, já que dentro das bolhas habitacionais em que vivem essas coisas não acontecem, violariam as regras do condomínio.