30/05/2009

Sobre as gatonas

Começo avisando que ainda não são coroas. Eram coroas até meados dos anos 1980, quando as pessoas ainda envelheciam no ritmo normal. Hoje a vida adulta começa mais cedo e se estende por duas décadas mais, a beleza plástica se mantém sem precisar perder a dignidade de querer parecer uma eterna adolescente. Portanto elas são moças mais experientes, não coroas.

Abordar uma mulher nesta fase da vida tem seus melindres. Ela vai rir da tua cara cheia de espinhas, se chegar como chegas para as menininhas do teu colégio. Ela vai te dar um murro que fará teu nariz ficar para dentro, se chegar como chegas para a tua mãe ou (pior) tua tia solteirona. Se não tens naturalidade para mudar o comportamento de acordo com a pessoa e o ambiente, fique admirando de longe, bem longe porque ela perceberá a tua cara de voyeur amador. Ela tem uma vida inteira pela frente, mas já viveu o bastante para conhecer o comportamento masculino. Deixe a mulher madura para o homem maduro.

É folclore pensar que ela, por já ter experiência de vida, conhece na prática as mil e uma noites de Sherazade. Quando ela era criança, não se tinha essa permissividade que há hoje, dificilmente encontra-se alguém que realmente tenha feito o que as revistinhas pornôs dizem que todo mundo faz. Quase tudo é cascata.

Assim como sexo já não é prioridade para essa mulher, embora algumas despiroquem com a súbita liberdade e seja o que Deus quiser. Ela não acha que não querer transar com três homens em um elevador panorâmico, na hora do rush, com um helicóptero de tevê sobrevoando o local, seja frigidez. Ela sabe o que quer e o que não quer, ela não quer se expor de graça como quando era uma garotinha.

Ela adora flores. Fica realmente encantada. Mas não se impressiona mais. Ela sabe que o impulso do momento, como as flores, murcha e se desfaz em pouco tempo. Mais do que isso, ela sabe que jóias não murcham. O que seria uma jóia? Um colar? Uma pulseira? Uma aliança? Ela é alegre, expansiva, mas tem um mínimo de respeito por si mesma. Ela pode até não querer casamento, mas quer compromisso. Ela merece um compromisso.

É complicado dar cosméticos, ela já elegeu os seus preferidos e aqueles dos quais quer distância. Dar um creme contra rugas é uma loteria, pode render beijos, pode render uma surra. A não ser que tenhas muita intimidade com maquiagem, evite dar esse tipo de presente. Ela sabe se maquiar, a maioria dos homens não consegue distinguir dois tons próximos de vermelho. Deixe que ela peça à maneira dela, com a sutileza de quem parece não se importar. Mas ela se importa.

Roupas são algo mais fácil. Há quanto tempo a conhece? Quais tuas intenções? Se convivem há mais de um ano no mesmo ambiente (como o trabalho) já tens segurança para comprar algo parecido com o que ela usa. Não invente, é preciso muita intimidade para uma extravagância e muita segurança para uma ousadia. A mais bela e bem acabada lingerie, ainda que a agrade, pode gerar constrangimentos; provavelmente gerará constrangimentos. Ela pode ou não aceitar, se aceitar ficará pensando nas tuas intenções, a amizade dificilmente será a mesma e muito mais dificilmente evoluirá para outro caminho. Agora, se fores íntimo da família e a conheces há dez anos ou mais, boa sorte, as chance de agradar são maiores; só cuide de dar a lingerie em caixa fechada, de preferência na casa dela.

Ela gosta da liberdade que conquistou. Entre um homem e sua liberdade, ela prefere ficar para titia. Se pretendes ter uma amiga nesta faixa etária, ainda que a tua seja a mesma, lembre-se do que já falei no texto anterior, elas crescem mais cedo e muito mais do que nós. Respeite a inteligência e a maturidade dela. Se pretendes avançar e namorar esta mulher, respeite os amigos que ela traz de longa data, ela já os tinha quando a conheceu, da mesma forma como queres que ela respeite as tuas amigas. Se o negócio é de HOMEM, se é para casar, então prepare o espírito e tenha ciência de que ela manda na casa. Ela saberá abrir mão da algo se houver retorno. Mas não é pedir algo e dar em troca o que não lhe interessa, ela pula do barco se ver um furo que não foi mencionado antes. Lembre-se, ela é independente, é livre e tem amigos que a amparam sempre que ela precisar. Boas amizades são uma conquista cara para ela.

Ela lê. É bem informada e gosta de trocar idéias. Uma pessoa bem informada (não necessariamente um expert) tem maiores chances de passar bons momentos com esta mulher, seja só pelo momento, seja para algo posterior. Ela é como a natureza, detesta vazios, seja na vida, seja nas pessoas. Ler jornais ajuda, ler revistas ajuda, ler livros ajuda. O problema é o que ler nos jornais, o que ler nas revistas e que livros ler. Até pode ser um gibi, se os comentários forem proveitosos. É preferível ouvir alguém falar com autoridade sobre a personalidade perturbada de Peter Parker, do que alguém tentando parecer PhD em economia internacional.

Ela continua sendo mulher. Toda a meiguice e toda a ira pertinentes continuam lá. É de lua. Se pisar no pé dela, teus dedos voam. Não é por ter idade para ser mãe que deixou de sonhar, ainda que não demonstre. Ela não gosta de ser cobrada. Ninguém em sã consciência gosta, mas ela muito menos. Uma bela amizade pode ruir com um "Você tem que parar com isso, você não é mais criança!". A idade cimentou o alicerce de suas emoções, por isto mesmo ela se sente segura para ter variações maiores de humor. Ela tem estabilidade para bancar essa extravagância.

Sabem o que mais? Eu não trocaria uma quarentona por três de vinte, não só porque são mulheres e não artigos comerciais, mas porque as maduras têm conteúdo. Há as de vinte e poucos que têm muito conteúdo, mas uma de quarenta na mesma situação é uma fonte fértil que não precisa se ancorar em algum conceito, ela tem os seus próprios.

Ela gosta de festas, mas não gostaria de viver em uma. Ela gosta de ser útil, se passar mais de uma hora em uma festa, logo estará ouvindo alguém e levantando seu ânimo, mesmo que nunca tenha visto a pessoa antes. Ela é a estrela, mas gosta de ver o brilho alheio, para isso te manda para o centro do salão de dança sem que perceba. Então, enquanto estás atraindo atenções, ela está assistindo ao espetáculo de uma certa distância. Mas é tua amiga, asseguro.

Boas piadas sempre serão bem vindas. Ela não tem tantos pudores, só pede para não baixar o nível, ao menos não em público. Assim como contos e causos de tua vida, são muito melhores de se ouvir do que o teu desempenho na última balada, ou o tricampeonato de atletismo Kama Sutra. Lembre-se, ela tem conteúdo e aprecia conteúdo. E imprescindível.

Ela é mais atenta aos detalhes do que as mais jovens. Um beijo na mão, abrir a porta do carro, agradecer no dia seguinte pela companhia. Mesmo que fique na amizade, detalhes assim te darão mais confiança e intimidade do que um marido padrão teria com ela. Mas dão a chance de evoluir, quem sabe...

23/05/2009

Meninas crescem primeiro e mais.

Antes de começar com o assunto, vamos às origens.
Até a bélle èpoque, não havia contestação, o "homem" era o senhor absoluto do planeta, juiz e algoz de tudo o que não tivesse maioridade e os cromossomos "Y". Ninguém discutia, a não ser alguns subversivos que se metiam a ser justos, fraternos e realmente cristãos com todos, não somente com os homens ricos e maiores de idade.

Mas veio a Primeira Guerra e as mulheres tiveram que sustentar casas, não nos rincões mais afastados da Baviera, ou no fiofó da Sibéria, mas também nos grandes centros europeus. Então todo mundo viu que as mulheres também sabiam trabalhar muito bem, sem perder la ternura jamás. Mesmo sem querer, elas contestaram a hegemonia masculina que, convenhamos, o rolo de macarrão fazia miar fino. Salvo, claro, quando se casavam com um machão psicótico e frustrado que descontava nos mais fracos o que sofria no emprego. Elas raramente tinham escolha.


Aqui nascia formalmente o machismo, com ele o feminismo. Nas décadas seguintes, tentando se reafirmar, o cromossomo Y usou a mídia contra o cromossomo X, só porque o coitado tem as pernas abertas. Mas veio a Segunda Grande e mais terrível Guerra, e elas voltaram à labuta fora de casa. Quando a guerra bélica findou, começou a guerra dos sexos, que dura até hoje.


A questão a ser ponderada, é que os longos séculos de incontestação impediram que o homem amadurecesse. Ele não tinha porque mudar. Pelo menos foi no que o levaram a crer.


Uma das maiores fraquezas masculinas é o apego ao prazer, seja ele qual for, o que o torna mais susceptível aos vícios químicos e psicológicos. Fica fácil perceber que a viagem de se acreditar superior a alguma cousa (principalmente aos membros de sua família) viciou fácil, fácil. O homem moderno (só na casca, meus filhos) passa hoje por uma síndrome de abstinência.


O homem é biologicamente (e mentalmente) retardado, em relação à mulher. Uma menina de treze anos, se bem educada e formada, já estaria apta ao casamento; um menino de treze anos ainda é um fedelho insuportável que faz campeonato de cuspe a distância.


Essa imaturidade crônica se reflete no menosprezo para com as cousas delicadas. Mulheres são delicadas, mulheres são (na cabeça do cuspidor olímpico) inferiores. Então o que for delicado não merece consideração. É este o raciocínio, por mais infeliz que seja. Com isto o gosto do homem da antiguidade, que era macho e gostava de flores, se perdeu na idade das trevas. Tudo patrocinado pelo Império Romano, com certeza o pai e mãe da misoginia ainda vigente, e o verdadeiro fundador do papado que nada tem a ver com o Cristo.


Agora peguem todo esse arcabouço milenar, misture à imaturidade biológica e à onda de conservadorismo estúpido que tem assolado a humanidade, et voilà, temos o comportamento do homem contemporâneo.


Raros são os homens que foram educados por suas mães, portanto raros são os que têm alguma maturidade emocional, conseqüentemente os que conseguem estabelecer vínculos espontâneamente. Daí eles gostarem tanto da moda de "ficar". É tudo o que os antigos romanos queriam, pegam uma garota, fazem o que querem com o consentimento dela e depois desaparecem. Compromisso demanda maturidade, segurança para com a própria sexualidade, capacidade para absorver e dissipar pequenas contrariações que as últimas gerações não têm. Elas querem tudo agora e de graça. Até as meninas estão sendo imbecilizadas, imaginem os meninos! Não demora e veremos grupinhos alisando um photossensor de trânsito, gritando e pulando ao redor dele, para depois jogarem um osso para cima.


É, meus queridos, o homem dos anos 1960, que estavam lidando com a aparente insurgência feminina, era mais avançado e maduro do que o homem de hoje. Ele pelo menos trabalhava com a possibilidade da justiça, o actual nem pensa em descer do pedestal de areia. Para piorar, existe uma indústria que divulga uma estética duvidosa que estimula almejar a qualquer preço. A agressividade faz parte deste preço. Pit boys fazem parte deste preço.


Em parte a culpa é das mães. Perdoem a sinceridade contundente, mas são as mães que educam a maioria das crianças. Elas não as estão preocupadas com que tipo de pessoas deixarão no mundo, querem que essas pessoas simplesmente tomem posse dele. Não é assim que o universo funciona. Ganhar com o outro é mais demorado, mas não depreda. Mas ganhar em cima do outro dá mais notoriedade e o ganho vem mais rápido, ainda que às custas de um rastro de miséria e rancores.


As crianças estão sendo estimuladas a subjugar o outro de qualquer jeito, desde que não sejam pegas. Isto não acaba com crises. Concorrência nunca acabou com crises, ela as cria. Concorrência é para animais irracionais, que não compreendem outro meio de sobreviver. Seres racionais cooperam. Mas para isto é preciso descer do pedestal de areia, é pedir demais. Cobrar o justo é impensável para quem engenha meios de justificar cada centavo a mais que cobra pelo que não vale metade. Enganar faz parte da agressividade, homens mal criados gostam de agressividade e a camuflam muito bem sob a infâmia do "São só negócios, nada pessoal". Mas não gostam quando são eles as vítimas dessa infâmia.


Mas pior do que o homem agressivo, é a mulher que pensa que precisa ser igual a ele. Nada mais medíocre e ridículo do que uma mulher descer de sua magnânima condição para se igualar aos homens. É usar um Porsche para tracionar verduras murchas de uma feirinha vagabunda.


A sociedade (eu, tu, ele, nós, vós, eles) estimula a emasculação feminina. Porque o que interessa é vencer o outro, é socialmente aceito que sempre existam desempregados e excluídos, mesmo se sabendo que eles poderiam formar uma sociedade à parte e sobreviver sem nós, só que eles não precisam saber, senão a guerra de egos vai para as cucuias.


A sabedoria feminina (ofuscada sob a poeira grossa da massificação da ignorância) prova que uma pessoa pode subir na vida sem vencer o outro. Que não se pode manter o modelo de expansão comercial, que a crise vigente freou graças à Deus. Que o outro não é necessáriamente inimigo, quase nunca é. Meu alfaiate é prova de que se pode melhorar a própria condição econômica sem almejar a clientela alheia, e o sujeito que fechou as portas hoje, quase em frente à dele, é prova de que ninguém tira clientes cativados, não importa quanto marketing se derrame.


Mães, ensinem seus filhos a serem homens o bastante para que usem camisa cor de rosa, para que saibam comprar cristais e consigam digerir decepções. Isto os tornará HOMENS, não simplesmente machos. O cavalo é macho, é forte, tem um pênis enorme, mas vive de quatro. Aliás, sabem como machão se abaixa para pegar o que caiu? Abre as pernas, arrebita o bundão e fica de quatro. Dobrar as pernas, nem pensar. Homem de verdade não é efeminado pelos bons modos, só os inseguros que morrem de medo de o de baixo cair, estes são sérios candidatos a soltar a franga na primeira oportunidade.


É certo que este texto me renderá muitos xingamentos, como na vida real eu sou xingado. mas aqui eu posso deletar comentários impróprios. Meus leitores não merecem ler demonstrações de cretinice, e peço-lhes que não as repliquem, deixem comigo.


Sabem quem está segurando as pontas da crise na Europa? A Alemanha de Angela Dorothea Merkel. Ela é mulher, sabe digerir decepções e não se deixa deter por elas. Uma Valquíria no comando do velho mundo está segurando a crise.


A atitude típica de um homem seria fazer arrochos a torto e a direito, sem se aprofundar nos meandros da situação, buscando apenas resultados imediatos (como no sexo) e contundentes. Roosevelt não governou os Estados Unidos sozinho, foi sábio o bastante para dividir o peso da responsabilidade com sua esposa, que o ajudou a dar as costas aos apelos dos burocratas e tecnocratas, fazendo o exacto oposto do que exigiam. Resultado, o país saiu ainda mais forte da crise de 1929. Obama, alegremo-nos, foi criado por duas mulheres de ferro e tem outra igual ao seu lado. Sabem por que Dilma Rousseff é tão bem cotada no governo Lula? As mulheres que agora lêem sabem.


Por que não entregamos de vez os governos à elas? Seria bom, mas ainda é cedo para os bebês chorões aceitarem isso. Temos antes que ensiná-las a resistir à baixeza, mediocridade e à mesquinharia que são o registro mais patente da política masculina. Imaginem Israel e Palestina se dando as mãos, fixando um prazo razoável para a unificação dos povos. Mas a imaturidade emocional dos líderes de ambos os lados (não só dos que aparecem na mídia) não admite isso, querem subjugar o outro a despeito do razoável relacionamento que o povão tem em ambos os lados. Guerra é uma mania masculina, para não levar desaforo para casa e se passar por superior, eliminar uma ameaça e logo eleger outra para ser destruída. Marte não é guerra, os homens esqueceram. Marte é ação, evolução rápida, as guerras, pelo contrário, paralisam a humanidade. A alegação de que guerras aceleram a evolução tecnológica é falsa e superficial. A tecnologia, como tudo mais, evolui quando se elege a evolução como prioridade. Foi a guerra fria acabar e os automóveis tiveram um salto tecnológico jamais sonhado pelos vulgos, porque foram tomados como prioridade. Isto é Marte com Vênus.


Lembremos, por falar nisto, que foi justamente o machismo que acabou com o carro eléctrico por duas vezes, e agora estamos correndo contra o tempo para viabilizá-lo. Andar sem fazer ruído não é cousa de "macho", tem que ser barulhento para marcar o território, não importa a que custo. Erasmo Carlos é que está certo. Não chegamos aos seus pés.


Meninas crescem primeiro e mais, justamente para educar os meninos. Moças, ao trabalho.

16/05/2009

Cheerleader

É comum, em filmes ianques, vermos aquelas moças com pouca roupa dançando e fazendo estripulias no campo, para animar a torcida e ocupar os intervalos. São as cheerleaders. Animadoras de torcida bem treinadas e profissionalizadas, em muitos casos, que dão o tom de espetáculo à competição, lembrando que aquilo é entretenimento, que não há razão para linchar o torcedor dos adversários... Fazem falta por aqui.
Surgiram quando as primeiras moças conseguiram furar o bloqueio das universidades, nos Estados Unidos. Elas passaram a assistir treinos e encorajar os atletas. Que marmanjo resiste a um belo rostinho gritando "Levanta e corre, palerma"? Essa delicadeza ajudou em muito a atenuar o machismo da época, no ambiente acadêmico. A criação é atribuída à melhor universidade dos Estados unidos, que viu logo os resultados tanto em campo quanto em sala de aula.
É desnecessário dizer o quanto o incentivo feminino aumenta o desempenho masculino. A maioria dos jogadores americanos se empenha ao máximo para merecer os carinhos de uma líder de torcida. Por aqui a cousa anda meio estranha, os homens não gostam de ver mulheres nas arquibancadas, que dirá no campo... Sinceramente, eu prefiro ver beldades dançando e dando shows de ginástica a ver marmanjos se esfregando, correndo e caindo. Minha preferência.

Há um verdadeiro e vasto mercado para as líderes de torcida e productos relacionados a elas, como para as pin-up girls. Os uniformes das líderes mais famosas são copiados e rendem bons royalties, assim como pôsteres, calendários, figuras de pvc, poses em revistas masculinas, aparições na televisão, escândalos para os paparazzi, enfim, são estrelas que suam para terem a fama que conquistam.

Não basta ter um rosto bonito e um corpo escultural para ser cheerleader. Na verdade, não precisa ter um rosto muito bonito, a distância dos torcedores e os trajes sumários atenuam isto. É preciso ter muito preparo físico, um estilo de vida menos pernicioso do que o cidadão urbano comum, uma disciplina acima da média e carisma. Trata-se não só de uma estrela, a cheerleader é uma atleta. Paralela à competição principal, há outra entre os grupos de líderes de torcida. Quase tudo o que há em uma, há na outra. Os bônus e os onus. Como não sou urubu, e os podres todo mundo conhece sem que os jornais precisem exibir em neon, falarei dos bônus.

Há pessoas que assistem aos jogos só esperando pelo show das cheerleaders, não somente marmanjos, mas moças querendo ver suas "ídalas", lojistas querendo copiar os uniformes para fazer fantasias, estudantes querendo usar os passos nas aulas de educação física, fanáticos querendo ver a actuação do time inteiro e não só dos jogadores, marmanjos por motivos óbvios, olheiros buscando por ninfetas, estrangeiros se perguntando porque aquilo não existe no seu país, e assim por diante.

O mais importante, porém, é que elas transformam em festa o que seria uma competição fria e sem sentido, para exibicionismo de testosterona. Cores, coreographias, pernas de fora e gritos de guerra são parte dessa festa, que permite não haver separação de torcedores, os dois lados se misturam amistosamente nas cadeiras, sabendo que aquilo é entretenimento, nada além de entretenimento, como o futebol.

Imaginem uma família corinthiana se sentar ao lado de outra palmeirense, uma assistindo aos gritos da outra sem haver o risco de agressões. Provocações sim, nunca agressões. Impensável? Não em um lugar onde entretenimento e guerra não são sinônimos. Onde um jogo de futebol americano ou de basebol é apenas um espetáculo, um espetáculo extremamente lucrativo, é certo, mas um espetáculo. E em um espetáculo é imprescindível haver beleza, graça, diversão e civilidade. Uma cheerleader é responsável por ajudar na manutenção desse clima, clima que não interessa aos marginais inúteis que invadem estádios ou bairros inteiros em busca de torcedores adversários. Vejam bem: "Adversários". Não são inimigos. Times podem desaparecer que eles inventarão outra desculpa para excluir e agredir, tal qual os nazistas faziam.

Tomem vergonha nessas caras frescas, sejam homens! Cresçam! Admitam uma derrota de vez em quando. Deixem de ser moleques chorões e aceitem que o outro time mereceu a vitória. Isso, muito bem. A vida não pára por causa de um juiz ladrão, infeliz, vai apanhar até borrar as calças, seu safado.

A consciência de certo e errado diferencia o homem dos outros animais. É certo admirar uma animadora de torcida em seus trajes sumários, até porque ela é estudante, ela tem conteúdo. Quando dá uma entrevista, não causa dores de cabeça em quem ouve, ela tem um bom exemplo para dar às nossas filhas, ainda que seja só o de estudarem.

Eu gostaria de ver uma indústria de cheerleaders por aqui, como "USP Leaders", ou "UFG leaders". Teríamos muito a ganhar, não só nos esportes, mas também na cultura. Cheerleaders são estudantes, es-tu-dan-tes. O simples facto de gente bonita e de pouca roupa precisar ter um bom desempenho escolar, já muda a visão de um povo em relação à educação pública, conseqüentemente a dos políticos também. Todos saem ganhando, exceto os corruptos e os marginais de torcida, claro.

Em vez de mostrar à sua filhota uma leguminosa esfregando a buzanfa na câmera, mostre as acrobacias de uma cheerleader e diga que ela está assim porque estuda muito, não será mentira, o resto da verdade a criança descobre por si mesma, por meios mais salutares.

10/05/2009

Revistas


Dá para imaginar uma revista que circula desde 1728? Pois existe. Claro que não é no Brasil, onde o cidadão comum comenta, preocupadamente, sobre a gravidez do homem que foi ao programa do Leptospirose. Num país onde o destino de um inútil (chamado de herói na televisão por conseguir ficar trancafiado em um cenário cheio de amenidades e permissividades) é mais importante do que o desperdício de dinheiro público, onde um quarto da população não tinha conhecimento da crise financeira mundial, é um feito impensável.

Há revistas quase tão longevas quanto, certamente há as mais longevas que, mas minha parca cultura não me permite citar senão as mais conhecidas... Não, vocês não vão encontrá-las na banca mais próxima, mas dá para fazer assinaturas internacionais.

Uma boa revista não é imparcial, de modo algum. Imparcialidade é cousa para pesquisas científicas e teses de graduação. Uma boa revista não é tendenciosa, como as nossas se tornaram. Há uma diferença entre influenciar e manipular a opinião, uma boa revista influencia.

Uma boa revista traz para o mundo leigo aquilo que acontece no mundo especializado, nesse processo o jornalista precisa explicar e contar a história, no que a imparcialidade vai para as cucuias. Explicar porque um caminhão com um motor de 650cv não alcança um carro de 125cv é um exemplo, por mais que o repórter emita suas opiniões, o bom leitor terá a informação que interessa e lhe pode até garantir o sustento no futuro; concordar que é melhor dirigir um carro com um motor bom de giro (opinião da maioria dos repórteres) é outra história. Eu discordo em parte.

Mas para se ter boas revistas (como já tivemos um dia) é necessário ter um público para elas (como já tivemos um dia) e gente disposta a bancar a idéia. Faço parte de um público já muito pequeno, insuficiente para despertar a sanha dos patrocinadores, estes gostam de vender porcaria de baixo custo para gente que se impressiona com nomes pomposos, ou compram sem critério pensando na actriz canastrona e photoshopada que fez o anúncio.

Deixei de comprar algumas revistas que passaram a apelar para o popularesco ou escancararam ser (mais) tendenciosas e manipulativas (do que já eram). Ser um só não me dá peso de opinião para mudar o quadro, mas evito passar raiva sem necessidade. Além do quê, tenho péssimas experiências com assinaturas... Mas talvez precise fazer algumas.

Revistas fúteis, torpes e manipulativas existem em todos os cantos do mundo, mas em países subdesenvolvidos elas proliferam com uma voracidade imensa. O que um povo lê denuncia o grau de desenvolvimento de sua sociedade. O nosso raramente lê, e quando lê é quase sempre asneira. Não sabe desvencilhar uma torcida de uma agressão ao torcedor do time contrário, bem como os comentaristas não abrem mão do baixo calão verbal. Não que uma sociedade de bons leitores seja necessáriamente rica, mas sempre será próspera e justa como a nossa nem imagina poder ser, saberá separar o público do privado e respeitar a ambos.

Nós temos algumas boas revistas, mas são poucas e a grande maioria não as conhece. Dos que as conhecem, a maioria não entende e/ou não gosta. Já tivemos outras muito boas, mas ficaram na saudade, como a Cruzeiro.

Em um país onde abrir (e manter) escolas e bibliotecas é uma prioridade, boas revistas são longevas e numerosas. Aos que abrirem o link, não pensem que sou americanóide, sou profundamente patriota, às vezes chego a ser um pouco lobatesco, o que tenho é pés no chão e capacidade para reconhecer nossas faltas e nossas virtudes. Aquele país tem muito a nos ensinar (e a aprender conosco, óbvio) inclusive na área editorial. Saturday Evening Post, Ladies Home Journal e Esquire são três dos exemplos mais contundentes que encontrei. A primeira, a propósito, é a tal revista que circula desde 1728, fundada por ninguém menos que Benjamin Franklin, daí vocês vejam o naipe da publicação. Vocês têm idéia do que é circular por duzentos e oitenta e um anos? Imaginem então que a maioria de nós estará viva para vê-la assoprar trezentas velinhas, mas com um corpinho de duzentas.

Houve uma decadência cultural, principalmente nos últimos vinte anos, mas isso se deu no mundo inteiro, sem exceção. Veremos aquela nação ressurgir na liderança mundial, estejam certos, e eles contam com uma imprensa periódica capaz de alicerçar isto. Nós, infelizmente, nem imprensa de verdade temos. Temos arremedos que babam por celebridades burras e tratam traficantes como estrelas de tevê, ou pontos isolados que cordializam seus intestinos para sobreviverem, e ainda pedem desculpas ao público quando precisam aumentar o preço da revista. Por cá são raridades. Fora que as distribuidoras funcionam como um cabaré de cego, mandando para as bancas as revistas que vendem pouco, deixando órfãos quem compra as boas. Faz seis meses que a Classic Show não aparece na banca do Valteir, deixo aqui meu protesto.

Já pensei em lançar uma revista mensal de variedades, sério. Eu tenho experiência no ramo, mas essa mesma experiência me mostrou a canoa furada em que eu entraria se o fizesse, já que não sei nem aceito fazer porcaria. Publicidade para publicações boas, no Brasil, precisam ter garantias de vendas do periódico e alguma segurança de retorno. Quase ninguém quer arriscar fazer artigos de primeira qualidade, para um público exigente e bem informado, se pode vender lixo bem apresentado para um público inculto e completamente alienado, que nem pensará em reclamar se o "Master-Mixer-For-All-Very-Well" não corresponder a metade do que foi anunciado. Preferirá achar que foi alguém que estragou, ou que ele é chique demais e não sabe mexer naquilo.

Um dia o cenário vai mudar, mas com essa gente jogando contra, a mudança vai demorar muito, principalmente com um povo de não-leitores que acha mesmo que todos os israelenses são alérgicos a palestinos, e vice-versa.

03/05/2009

Fuscassauro

Tomarei o Fusca como exemplo, porque é o que conheço melhor.

Por volta de 1964, o nosso Fusca e o Fusca alemão eram praticamente idênticos. Poucas diferenças de caráter legal ou mesmo mercadológico os separavam. A partir de então, o Fusca lá de fora começou a evoluir rapidamente, e o nosso estacionou.


Em 1968, mais ou menos, o deles sofreu transformações profundas. Algumas delas (não todas) chegaram por aqui em fins de 1972. Suspensão mais estável e vidros maiores, por exemplo, ficaram de fora. Mas foi justamente no biênio 1972/1973 que o deles sofreu sua maior transformação, que podemos ver na ilustração acima; pára-brisas panorâmico, maior largura, porta-malas amplo, estabilidade impensável para o nosso, painel envolvente, enfim. O nosso Fusca, que já estava defasado, ficou pré histórico. Tivemos a vantagem do motor á álcool, que atingiu potências muito maiores do que o deles, mas isto se deveu mais ao empurrão governamental do que à vontade da marca em nos respeitar, isto ela nunca fez de verdade.


Quando o Itamar, falando francamente com os executivos, aventou a possibilidade de um Fusca moderno para motorizar as massas, o tonto aqui e muito mais gente sonhou com o 1303, ou no mínimo o 1302, pelo menos uma quinta marcha que já existe no mercado paralelo e da qual jamais soube ter dado problemas. Lhufas! O mesmo modelo 1964, maquiado e adequado à legislação de emissões da época. Eu gostei dos pneus maiores, próprios para a proposta do gordão, embora a maioria prefira pneus estradeiros mais baixos. O catalisador reduziu sensivelmente o nível de ruído... Que mais? Quinta marcha, mesmo que opcional? Não! Uma capinha plástica curva para um painel novo? Não! Rodas de alumínio opcionais? Não! O motor 1300 retrabalhado? Não! Freios decentes, em vez de os de motocicleta? Não! Nem mesmo a incorporação das setas dianteiras nos aros dos faróis, sequer uma capa aerodinâmica para o pára-choques dianteiro. Fomos enganados. falta completa de respeito para conosco e para com o genitor da marca, que nasceu dez anos antes dela.


A Chamonix fabrica réplicas de Porsche usando inclusive o motor 1600 a ar do Fusca, e exporta o dito. Não tem os bilhões de Euros que as multinacionais torravam até antes da última crise mundial, mas fez o serviço e adequou a maquineta de 1932 às legislações mais severas do mundo. Como? Ela quis fazer, simples assim. Não consultou uma empresa de marketing, institutos de pesquisas de opinião, não fez uma carta retórica de cem páginas para perguntar se poderiam fazer. Simplesmente contactaram um centro automotivo perto de Janiru mesmo, foram acertando a regulagem et, voilá, um motor de cem quilos gerando o mesmo que os de duzentos e poluindo ainda menos do que eles. Quem quer, faz.


Pois a situação, em menor escala, continua com todas as montadoras estabelecidas no país. À excessão, talvez, da Mercedes-Benz, mas que ainda nos deve algo.


Colocaram olhos de sapo e uma bocarra sob o pára-choque do Peugeot 206 e o chamaram de 207. Juro que fiquei boquiaberto com a cara de pau.


Alegam que os carros estão mais seguros, mais modernos, falham menos, dão menos manutenção, potoca e peteca. Tá. Tirem a electrônica e vejam se eles agüentam um ano de uso contínuo. Graças à electrônica é que estão dando menos problemas, graças à robótica na linha de montagem é que duram. Agora, faça um Opala com a mesma tecnologia. Fora a evidente facilidade em enfiar a mão e trocar qualquer peça sem descer e desmontar totalmente o motor, o que reduz dramaticamente a conta na oficina, se um dia precisar dela, a humilhação seria inevitável. Carros ditos modernos, quando quebram, podem ser jogados fora. sai mais barato comprar um novo do que retificar o motor antigo. Minha concepção de modernidade, lamento, é sinônimo de aperfeiçoamento e solução. vale para tudo, carros, calculadoras, televisores... tudo. Um Opala tem quatro metros e setenta de comprimento, mas é mais leve e robusto do que a maioria dos carros actuais de quatro e trinta. A electrônica e a robótica na linha de montagem estão servindo apenas para compensar a baixa qualidade estrutural. Não me venham com retóricas contrárias, a prática nas ruas me provou isto. Molhou? Joga fora.


Não pensem que é só com os carros. Estamos defasados em relação ao mundo e não é só culpa da gula burocrática e fiscal do governo. Temos muito mercado para productos de ponta e de primeira qualidade, ou não haveria tanto contrabando. Enquanto era fácil importar, apesar dos pesares, os artigos daqui acompanhavam os de lá, tinham que acompanhar se quisessem sobreviver. As restrições e a frouxidão estatal acabaram com a nossa festa. Hoje há um engessamento das linhas de montagem de tal modo, sob o eufemismo de racionalização, que uma simples pintura diferente obriga o comprador a abrir mão da garantia. A Kombi, por exemplo, que já teve saia e blusa, hoje só sai branca que nem pijama de hospital. Desculpem, mas burrice eu não confundo com modernidade, sem contar que a nossa Kombi deixou de ser moderna há bem uns trinta e cinco anos ou mais.


Não sei vocês, mas eu evito o quanto posso comprar qualquer coisa e cousa que não seja essencial, enquanto não se torne essencial. Não só por economia, mas para evitar dar minha contribuição para que continuem rindo de nossas caras. Carro? Só usado. Já tateei esses sacos de lata pelos quais a maioria baba, apertei com os dedos e vi chapas estruturais cedendo, sem contar que entrar e sair do banco traseiro é um tormento, por causa das soleiras muito altas; estas para compensar a fragilidade. Rigidez não é resistência, basta ver o vidro.


Não, meus queridos, da minha cara de batata não vão rir tão cedo. Tenho mais de duas décadas de praia com os automóveis, o que me levou a ter algum conhecimento técnico também nos outros ramos industriais. O que eu puder comprar usado no Brasil, comprarei usado. Usado não perde garantia, pois já a perdeu, e posso pintar e customizar como eu quero, como a fábrica não oferece não importa o quanto eu esteja disposto a pagar.