27/06/2012

Tem um jornalista lendo o teu blog



Vejam que ironia! A imprensa formal, a mesma que já fez campanhas descaradas contra os blogueiros, afirmando entre outros que nossos artigos não têm confiabilidade, alimenta suas pautas de notícias com pesquisas... Nos blogs. 44% admitiram recorrer aos blogueiros, os outros não deram o braço a torcer ou têm medo de perder seus empregos. Ver matéria clicando aqui.

Não que a rede não esteja cheia de blogs ridículos, tendenciosos, fúteis e altamente achistas, assim como todos os adjetivos citados caem como luvas na imprensa brasileira. O problema maior foi a generalização que os jornais on line fizeram, como se TODOS os blogs e blogueiros fossem repórteres de pasquins provincianos, que simplesmente copiam e colam ou inventam notícias, sem filtrar, adequar, revisar tradução, ou simplesmente escrever em português decente. O que tem de jornalista diplomado e bajulado por aí, escrevendo “esseção” e “ao nível de”, não está no gibi, está nos jornais que deveriam respeitar minimamente a língua materna.

Outra cousa que esses jornais não citaram, em seus ataques, é serem eles uma das maiores fontes de informações dos blogueiros sérios, como eu, Nanael Presunçoso Soubaim. Ou seja, nos atacando, eles atacavam a si mesmos, confiando na preguiça das massas em averiguar uma informação. E não é em um ou outro jornal que os blogueiros sérios se baseiam, ou seria realmente a cômoda tarefa de copiar e colar até mesmo os erros crassos de ortographia, já tão comuns. Nós, blogueiros que merecem manter suas páginas no ar, nos esgoelamos para ver vários pontos de vista, lendo o que dizem oposição, situação, mercenários, indiferentes e os tico-ticos-no-fubá. Não é uma tarefa muito difícil, na maior parte das vezes, já que os motores de busca nos dão muita agilidade nas pesquisas, mas quando é difícil, beira o impossível, como quando todos os veículos parecem ter copiado e colado o mesmíssimo texto sem sequer revisar, deixando a cargo de um software a tradução literal de muitos termos.

O que muitos usam para fins espúrios, é justo o que garante em boa parte, a confiabilidade e independência de um blogueiro. Somos independentes. Poucos blogueiros ganham mais do que alguns centavos por mês com os anúncios, raros ganham algo pelo que valha à pena escrever, uns gatos pingados conseguem viver da blogagem, quase ninguém consegue uma vida confortável vendendo espaços em suas páginas. Eu mesmo só tenho prejuízos com os meus.

Esta liberdade nos dá uma capacidade de discernimento e reflexão que não cabe em grandes editoriais, simplesmente porque há um editor a decidir o que vai ou não ser publicado, até que ponto será publicado e como será publicado, não raro definindo quem assinará a publicação.

Por não precisarmos seguir um roteiro rígido e cheio de interesses camuflados, também, temos agilidade que os meios de grande porte não têm. Não foi uma nem duas, foram muitas as vezes em que eu esbarrei em uma notícia ou uma informação, pesquisando outros assuntos, e publiquei nos outros blogs antes da grande imprensa, não raro com vários dias de antecedência. Como no caso dos carros eléctricos, dos quais li hoje o que eu publiquei no ano passado. Eles não sabiam disso? Com certeza sabiam, mas não havia o oba-oba do engodo pseudo ambiental que aconteceu no Rio de Janeiro, então não se interessaram em publicar o que não estava em voga. Tudo o que eu escrevi, por exemplo, sobre o Tesla Model S está hoje nos jornais, sem nem metade das informações relevantes que, sem falsa modéstia, eu coloquei nos vários artigos que escrevi sobre este sedan fantástico... E caro pra dedéu.

Por ter compromisso unicamente com o meu leitor (ainda criarei uma neologia sem gênero) eu posso escrever o que minhas consciência permitir, com todo o empenho de quem sabe que não ganhará um real por isso. Não, eu não sou contra o blogueiro ganhar para escrever, pelo contrário, isso o deixa livre de ter que procurar bicos para complementar o orçamento, e já foram muitas idéias perdidas por não poder anotar no momento em que as tive. Quero dizer que a blogosphera ainda é uma fonte honesta e razoavelmente isenta, bastando ao leitor a devida filtragem. Quem não filtra, não se importa com a veracidade de uma notícia.

Aproveito então, caríssimi leitori (neologismo ítalo-brasileiro) para reiterar meu compromisso com a sua sanidade mental, moral, humorística e sentimental. O Palavra de Nanael é e continuará a ser um canal de resistência da ética, da língua portuguesa e de todas as cousas boas que o mundo tem desprezado. Estou aberto a críticas constructivas, sugestões de pauta e convites para conhecer as suas páginas. Ainda que demore um pouco, eu vou lá.


E dá licença, que vou falar de um assunto que, no entender das campanhas feitas em um passado recente, e fez um baita estragão em São Paulo, eu só poderia abordar se fosse milionário.

Por falar nisso:
Flickr
Talicoisa
À Bateria
Demônios Internos 
Vintage Way of Life

22/06/2012

Ecologia simples


Não é preciso arruinar seu bem estar para ser mais útil do que nocivo ao planeta. Dou algumas dicas práticas, que não requerem sequer conhecimento acadêmico. Não precisamos ser extintos para salvar o planeta, como verão:
  • Plante. Se for necessário cortar uma árvore, não se torture ou aja como se fosse um criminoso, o simples hábito de plantar mudas em lugares descampados, sem precisar de holofotes em cima, é uma medida eficaz, bastando ser uma espécie nativa. Aliás, quando comer uma fruta, não jogue as sementes no lixo, jogue na terra. Dê a chance que os passarinhos lhes dão;
  • Faça um jardim. Além de ser uma terapia poderosa, é um pequeno ecossistema que atrai muitos dos predadores das pragas que nos incomodam, além de ajudar a regular a temperatura de sua casa. Não precisa ser um jardim botânico, alguns vasos na sacada de um apartamento, com boa diversidade de plantas, fazem milagres. Mas se a verba e o espaço derem, fique à vontade;
  • Consuma melhor. Não dá para simplesmente para abrir os braços ao sol e tentar viver de photossíntese. Quando for comprar algo, prefira poucas unidades do que foi melhor elaborado. Além de durar mais, um producto mais elaborado empregou mais mão de obra. Tua casa fica mais elegante e o desemprego enfraquece;
  • Recicle. Não precisa montar uma usina em casa. A simples separação dos resíduos transforma o lixo em material para reciclagem. Os catadores, e algumas prefeituras, se encarregam de dar a destinação certa a cada tipo, bastando que estejam na calçada, à disposição deles;
  • Dê carona. A diferença de consumo de qualquer carro com um ou dois ocupantes, é mínima, quase imperceptível. Um Landau devidamente bem tratado e usado com parcimônia, pode ser mais ecológico do que um carrinho de mil cilindradas, já que leva seis ocupantes e o peso deles quase não afeta o rendimento do V8. Então, não tenha vergonha de pedir para rachar o combustível, é melhor para todos. Se puder ter um carro eléctrico, que ainda é caro, excelente; se não, não se culpe, faça o que puder;
  • Seja civilizado. Jogar seus papéis de bala na lixeira, evita que eles sejam levados pelo vento ou pela chuva, evitando que entupam bueiros e façam o esgoto transbordar, atingindo os cursos d'água cedo ou tarde. Não custa nadinha e ainda dá bom exemplo aos garotos, que têm precisado muito;
  • Evite descartáveis. A praticidade a qualquer preço é mais cara do que parece. Lembre-se, é material de baixa qualidade, que exige reposição rápida, paga mal e demanda pouca mão de obra.  O que não significa que devam ser abandonados. Quando realmente precisar deles, use-os e dê a destinação certa, a reciclagem;
  • Use pré-moldados. Na hora de construir, evite aqueles pedreiros que só fazem o que aprenderam de qualquer jeito, quando eram serventes. Usar peças de montar, evita desperdícios, pois elas já foram feitas da maneira mais racional possível. Menos desperdícios, menos resíduos, menos energia gasta, nenhum entulho na porta da casa e menos tempo para obter o Habite-se;
  • Por falar nisso, use telha transparente. Não no telhado todo, em nosso clima isso transformaria a casa em uma estufa. Use nos cantos, nas bordas, especialmente na cozinha. Dez por cento da área em material transparente, já retardam o uso das lâmpadas, no cair da tarde, e antecipam seu desligamento de manhã;
  • Ainda no telhado. Para quem não puder forrar com painéis photovoltaicos, que ainda são muito caros, pinte de branco ou ponha tapete de grama. A temperatura dentro de casa ficará mais amena com as três opções, reduzindo o uso de aquecedores ou resfriadores de ar. No caso dos painéis solares, ainda dá a tranqüilidade de não se ficar sem iluminação, quando a energia cair, facto freqüente em nosso país;
  • Vá para fora. Fazer suas actividades ao ar livre ou na sacada, ainda que esporadicamente, ajuda a reduzir o consumo de energia, além de a luz natural ser mais difusa e própria para tudo o que demanda alguma concentração, pois descansa as vistas e não produz sombras fortes. Ler e costurar à luz do sol é muito melhor;
  • Poupe detergente. O brasileiro usa muito mais productos de limpeza do que necessita. Na maioria dos casos a salmoura é suficiente, além de ser mais bactericida do que quase todos eles, sem ter seu potencial alergênico. Não se deixe iludir pelos comerciais, eles são tão fracos em argumentos de venda, que precisam apelar;
  • Escolha de quem comprar. Boas campanhas publicitárias e preços muito baixos, podem esconder práticas condenáveis, não só de cunho ecológico. Procure saber onde os resíduos da empresa são lançados e o que acontece com ele, a internet está cheia de páginas que denunciam o que os jornais não noticiam, por erem patrocinados por essa gente;
  • Coma mais frutas. Não só pelo sabor e pela saúde, mas uma fruta in natura já é um alimento pronto para o consumo, dispensando embalagens, aromas, corantes, conservantes e toda sorte de químicos, que fazem um alimento intragável parecer saboroso. Além do mais, ainda não conheci um médico em sã consciência que tenha feito campanha para se comer menos frutas;
  • Coma mel. Depois do primeiro ano de vida da criança, o mel pode ser consumido à vontade. Além de ser rico como nenhum outro alimento, pode durar décadas em um recipiente bem fechado. Também é um antibiótico que poupa e nutre as células do corpo, não causando os efeitos colaterais nocivos. Quem toma mais mel, usa menos drogas de laboratório;
  • Use metano. Conhecido por gás natural veicular, é um dos combustíveis mais antigos do mundo. Solto na atmosphera, ele agrava o aquecimento global; sendo queimado, ajuda a reverter. As fontes são mais numerosas do que o eleitor leigo imagina, os depósitos de lixo e o esgoto da cidade estão entre os maiores geradores. Aproveite e exija que sua prefeitura aproveite essa riqueza que é jogada fora, a frota oficial pode se beneficiar dela;
  • Use também combustíveis vegetais. Eles não soltam nenhuma molécula de carbono que a planta não tenha retirado do ar, durante seu crescimento, pelo contrário, boa parte dele fica no bagaço. Resultado, usar etanol ou biodiesel reduz a concentração de gás carbônico da atmosphera;
  • Use teleconferência. Quando for fazer um evento global de qualquer natureza, especialmente sobre a natureza, evite concentrar dispêndio de energia e recursos em um só local, bem como a queima de querosene em viagens aéreas e diesel pelo mar. Quase tudo o que se faria em reuniões fartamente iluminadas, quando há sol abundante lá fora, e rigidamente climatizada, quando o ar livre é suficientemente arejado, pode ser feito por técnicos e estadistas competentes usando a internet em conferências em tempo real.
Decerto que há outros procedimentos eficazes, me limitei aos que qualquer um pode fazer no seu cotidiano. Se todo mundo fizer um pouco do que listei, não precisa ser tudo, as coisas já começam a melhorar, não só no campo ambiental.

17/06/2012

Vida moderna - o carro deu pau

Sai da frente, Fiesta! (http://irmaododecio.blogspot.com.br/)

Interessante ver como a invasão dos computadores em absolutamente tudo o que consome electricidade, mudou os hábitos. Algo como o televisor ter que ser desligado, desplugado da tomada, aguardar uns dez minutos e só então ser religado, porque ele é na verdade um computador que recebe sinais de tevê. E o manual de instruções do porqueira? Parece ter sido feito para os técnicos que projetaram o aparelho, não só pelos termos, mas pela ausência de procedimentos simples para um mero trocar de canais. E não é demais lembrar que um computador digital, seja qual for, é vulnerável a vírus. Daí não se espante se aquele tão desejado televisor de leds plasmáticos, com tela de 101", derrepente passar a receber só programação de emissoras insignificantes, que doutra forma não teriam audiência nem de seus proprietários. Muita gente começa a ter saudades dos velhos televisores de dial.

Outro caso interessante é o dos automóveis. Não sei se vocês perceberam, mas a injeção eletrônica é um computador. Ela não faz só gerenciar e corrigir erros de parâmetros, ela comanda o carro, tanto mais quanto mais ítens micro processados digitais integrados o modelo tiver.

Sim, eu sei, tenho quase trinta anos de ramo nesta praia, sei muito bem das vantagens da injeção, da integração, da economia de combustível, redução de poluentes e tudo mais. O problema é que os contras não recebem a devida atenção das montadoras. Já tem muito carro por aí simplesmente dando pau. Imagine teu carro cheio de gente, na ladeira, e o motor simplesmente pára de funcionar, mesmo com todos os ítens eléctricos e mecânicos em ordem. Pensou no desespero? Pois acabas de se colocar na pele dos que já passaram por isso. Seria cômico, não fosse o risco de acidentes, e se tratar de um producto caro, porque um automóvel consome muita economia de um trabalhador em qualquer parte do mundo.

Recentemente uma amiga passou por isso, e provavelmente o problema ainda persiste. Um Fiesta 2007, que em tese passa dos 180km/h, se recusa a exeder os 45km/h. Ele tem força para puxar o carro ladeira acima, mas jamais ultrapassando os 45km/h, não raro atrapalhando o trânsito. A aceleração não deve em nada aos Fenemês pré-Fiat, de onde vocês podem ter uma idéia da irritação de minha amiga pé-de-chumbo.

Já foram trocadas peças importantes, como velas, filtros e até a bomba de combustível, que na desmontagem mostrou alguns problemas. O problema persistiu. Fui obrigado a entristecê-la, avisando que teria que levar o carro à concessionária para os técnicos enfiarem um cabo de um lap-top no módulo da injeção, e então eliminar o problema. Normalmente é cousa rápida, mas eles arrancam o couro assim mesmo.

O agravante é que essa amiga não tem tempo nem carro reserva, para deixar seu sedan na manutenção. E quando eu digo "não tem tempo", é ela freqüentemente ficar das sete às vinte e uma horas enfornada naquela maldita sala, desperdiçando sua juventude para atenuar o descaso de um governo que gasta com propaganda, em vez de dar jeito nas instituições... como dar pé na bunda de incompetentes. Mas esta é outra história, já contada aqui várias vezes. Ela detesta receber ordens de gente incapaz, imaginem de uma máquina!

Com falhas tão freqüentes e estúpidas de aparelhos que custam tão caro, dos quais alguns podem matar quem os utiliza, me assustam. Não sei vocês, mas para um vírus contaminar todo o automóvel, a partir de um pen-drive colocado para tocar música, me parece muito mais plausível do que as montadoras fazem parecer. As concessionárias abafam, até porque os sintomas gerados dão margem para troca de peças caras, com uso de mão-de-obra muito especializada, que inflacionam bastante a conta que o dono do carro terá que pagar. Como se já não bastasse a maioria dos motores de hoje ser descartável, não permitindo retíficas em muitos dos casos, além de nem sempre compensarem ser trocados, por causa do preço. Por falar nisso, tu sabes em que país o o motor do teu carro foi fabricado? Não que ser importado seja sinônimo de problemas, afinal o motor do Landau e do Maverick era canadense, e confiabilidade à toda prova é sinônimo do Ford 302". O problema aqui é que, além de não terem nem sombra dessa confiabilidade, os motores que equipam nossos carros são feitos, muitas vezes, noutros continentes, com peças oriundas de vários países diferentes. Dependendo do problema, vale mais à pena jogar o motor no ferro-velho e instalar um antigo e robusto AP ou Fiat-Fiasa, seja qual for a marca do teu carro.

A solução para isso seria o carro ter um comando manual de regulagem, ou comando analógico ainda que micro processado, em caso de pane no software da injeção. Mas isso, além de acrescentar custos às linhas de montagem burramente secas, em vez de enxutas, daria ao proprietário com um pouco de conhecimento uma certa independência dos concessionários. Da mesma forma como num televisor em que o software apenas gerencia o aparelho, em vez de ser tudo o que o faz funcionar. E a minha amiga já é tão avessa a computadores, quando descobriu que o carro dela é um, e que por causa disso pode ser facilmente ultrapassado por um Gordinni...

14/06/2012

Lingerie bege


Indiferente ao burburinho das colegas, ela entra em um dos sanitários e fecha a porta. Elas não deixam isso passar-lhes despercebido, estão acostumadas a tagarelar mesmo mandando o barroso para fora, com a porta aberta. A conversa alta e estridente passa a se dar aos cochichos e gestos, para que ela não perceba que falam de si.

Calam-se por um instante, para tentar ouvir o choro baixinho de quem não quer ser ouvida em sua intimidade. Nada. Nem choro, nem soluços, nem mesmo um gemido. Especulam que acontecimento terrível teria feito a moça se trancar em silêncio, na baia do sanitário. Logo alguém cogita ter sido por causa de homem. Ah, mas é claro, só pode ser. Começam a discutir a respeito sem citar nomes e sem dar pistas de quem é a coitada, a traída, a infeliz vítima de um cafajeste.

Toda a discrição cabe perfeitamente na hipótese de drama passional. Se estivesse feliz, estaria espalhando para todo mundo, para causar inveja, contar vantagem, essas cousas de gente moderna e antenada com as baladas. Mas deixem que hoje mesmo, após o expediente, a arrastam para uma boate e a enchem de garotões gostosos, tarados e avessos a compromissos. Ela vai dar até arder e amanhã estará feliz da vida.

Uma delas tem a curiosidade de olhar, com todo o cuidado e silêncio possíveis, pelo vão inferior da porta. Fica trêmula, estática, pasma e abismada. Pisca e se belisca para ter certeza do que está vendo. É enorme! Não imagina por que uma mulher usaria aquilo de livre espontânea vontade. Vai imediatamente contar para as outras, a descrever com riqueza de detalhes aquela coisa sem detalhe algum, que explica o motivo de ela usar cós alto até a cintura. Aliás, para elas é a coisa mais senil que uma mulher pode usar.

Voltam a cochichar especulações sobre aquela calcinha bege, que pelo tamanho cobre totalmente os quadris, talvez sendo tão alta quanto as calças. Levantam saias e baixam os cós de suas calças para mostrar lingeries de mulheres saudáveis, modernas, com vida sexual activa e bem resolvida. Algumas são meros fios com uma telinha na frente, embora várias sejam consideradas grandes, cobrindo o derriére quase totalmente. Mas nenhuma é grande como aquela calçola de vovó.

Calam-se quando ouvem a descarga. Ela abre e é alvejada por olhares disfarçados. Lava bem as mãos, cumprimenta-as e sai em passos delicados para seu posto de trabalho. Pernas juntinhas e andar firme. Assim que sai, elas voltam a falar com vontade. Nunca tinham notado tanto aquele cós alto. Não o cós baixo com um remendo em cima, para parecer alto, mas alto até a cintura, como nos anos oitenta. Olham para o relógio de parede e decidem ir também, mas de butuca ligada nela.

Se revesam em idas que seriam desnecessárias no cotidiano comum, para verem se descobrem algo mais. A cada uma que volta, enquanto cumprem com os prazos, discutem veladamente as conclusões a que cada espiã de toilete chegou. Desde o tablete de chocolate até a ordem matemática da mesa, tudo serve de combustível. Até a chave do carro, presa a um chaveiro em forma de casa, é discutido entre gestos e abreviaturas verbais. Uma colega de fora da roda a aborda, tratando-a com carinho. Pronto! Agora descobriram seu segredo! É lésbica! Talbez bissexual, mas ela gosta de mulher. É por isso que não quer chamar atenção dos homens, que não quer ser sexy para eles e nunca ouviram falar de casos seus com colegas. Deve ser comprometida.
A hipótese é levada em consideração, mas elas conhecem outras lésbicas e elas não usam calçolas beges. Aproveitam que ela sai para a sala do chefe e aumentam o volume da conversa. O estagiário ouve e mete o bedelho, diz que a ouviu falando "Sou de virgem" ao celular. Elas se olham, arregalam os olhos, abrem as bocas de espanto e em poucos segundos o escritório descobre que tem uma funcionária virgem. Todos se calam quando ela volta. As conversas tornam  ser em gestos e meias-palavras. Os homens passam a fantasiar com quem e como seria o desvirginamento daquela mulher, comentam que o episódio deveria ser filmado para servir de prova. Vão um a um ao sanitário, dar vazão à fantasia.

Ela atende ao celular, falando em tom moderado, voz calma e risos discretos. Diz que busca as três e que há dois quartos esperando por elas. A palavra "irmãs" tem muitos significados, mas os outros só imaginam a acepção religiosa. Pensam que ela faz parte de uma seita que tolera o homossexualismo. O facto de elas sonharem com Brad Pitt, não significa que sejam suas amantes, então imaginam que tenha feito também voto de castidade. Ah, agora quela calçola faz todo sentido, é uma espécie de freira de uma religião qualquer. Como deve ser infeliz a vida sem sexo! Começam a ter pena dela. Não imaginam um motivo são para alguém tornar-se celibatária, ainda mais sendo bonita e ainda jovem.

A hora do almoço também serve para espionagem. O restaurante fica inexplicavelmente cheio naquele início de tade. Não que garçons e gerente reclamem. Ela faz um gesto é atendida por uma garçonete, com a qual demonstra certa intimidade. Será? Chega o prato, ela faz uma pausa e começa a comer. Os curiosos comem quase sem ver o quê, acabando por comer mais do que o normal. Notam seu recato, sua moderação, sua classe, sua boquinha vermelho-cereja provocando reações íntimas. Prestam atenção de modo que seriam capazes de desenhá-la a mão livre, se soubessem desenhar. Nisso acaba despertando sentimentos mais afetuosos em alguns colegas. Eles passam a imaginá-la em seu quarto, imaginando como será seu quarto, usando só aquela lingerie bege.
Uma das vigilantes usa o tablet para falar na rede social, combinando com uma conhecida e depois com o chefe, que adora a idéia.

Como tudo está dentro do prazo, a chefia avisa que um proctologista e uma ginecologista estão na empresa para exames surpresa. Um gay gaiato fica indeciso e pergunta qual o critério para definir o gênero, o proctologista diz que é pelos cromossomos e ele entra na fila dos homens. As causadoras da polêmica aguardam pelos relatos da amiga de uma delas. O relato surpreende, a moça não é virgem, mas também não é chuchu na serra. Afirma que as duas peças da lingerie combinam. Passam a cogitar um trauma sexual. Até o fim do dia alguém conclui e espalha que ela foi violentada na adolescência, embora a médica não tenha encontrado qualquer sinal de violência, mesmo remota.

Na manhã seguinte há alguém designada para espionar sua chegada. Ela chega em um Maverick preto, cheio de adereços e rodas esportivas. O ronco até assusta. Ela sai em uma sai preta plissada longa, e uma camisete xadrez marfim e chumbo. O grupo recebe a notícia  especula sua orientação política, passando a considerá-la uma "reacionária moderada". No toilete, novamente uma calçola bege sem enfeite nenhum. Deve ter ficado frígida depois de adulta e se convertido à ordem das Abstinentes de Jesus. Elas nunca estiveram tão alegres e motivadas, até a productividade no trabalho cresceu, como se seus problemas pessoais não tivessem mais importância. Elas não se dão conta, mas seus dramas e frustrações passam a ficar pequenos diante daquela colega misteriosa. E ela é tão bonita, tão educada, tão prestativa, tão dedicada ao trabalho! Espalham suas boas virtudes pela empresa e cada um que ouve acrescenta mais uma.

Todos ficam felizes em ter uma pessoas tão amável e honesta como colega. O clima no seio da equipe fica mais leve, o bom humor aflora, o ar condicionado é trocado por janelas abertas e tudo fica mais bonito. Imaginem só, dar tanta importância a problemas cotidianos! Problemas são parte inegociável da vida! Eles chegam e vão embora, passam, acabam assim que são resolvidos. Tudo graças àquela colega tão bonita e recatada! Que reacionária que nada! É uma boa samaritana, isso sim! Deve abrir mão de alguns prazeres pessoais em prol de quem precisa. De perigo iminente a musa do escritório, ela passa em um segundo, e todo mundo vasculha a internet para saber mais sobre o Maverick.

Em um mês, um dos colegas toma coragem para falar com ela, com tato. Seis meses depois estão se casando, sem que assuntos pessoais tenham sido ventilados por sua conta. Já pela conta alheia...

07/06/2012

De nossas conclusões



Com poucas exceções, estão todas contaminadas por elementos que neutralizam qualquer boa intenção ou desejo de imparcialidade. É até possível ter uma conclusão madura, mas para tanto é necessário deixar o ego de lado, na hora de raciocinar a respeito.

O que mais atrapalha uma boa conclusão, é a convicção. Alguém convicto de uma idéia, terá muita resistência em aceitar uma conclusão que a contrário, sentindo-se fortemente tentado a acrescentar elementos que a adaptem ao que lhe for confortável. Adianto que o conforto a que me refiro, não é o de consciência ou mesmo o físico, embora possam coincidir, mas o de ego.

É verdadeira a máxima de que muitas pessoas preferem ter razão a serem felizes, ou não teríamos tantos machões assassinando suas esposas apenas por suspeitarem de adultério. Assim, fica menos difícil perceber o quanto é comum as pessoas se sabotarem apenas para não estarem erradas, sabotagem que contamina rápida e facilmente todos os seus raciocínios, estes dirigidos de acordo com o que, muitas vezes, o indivíduo quer concluir. Confirmar seus medos é um modo de saber que se está defendendo a frente certa. Seria horrível montar um abarreira enorme, e descobrir que os lobos estão logo atrás de você.

Estar errado uma só vez em suas convicções, significa poder errar outras, e assim ter que admitir que não se está no comando da situação. Para quase todos isso é normal, para muitos é um grande incômodo, para um certo contingente chega a ser insuportável. Este, em vez de aceitar que pode ter errado em suas conclusões, encrua mais e imagina uma miríade de motivos para as suas previsões terem dado errado, sem remorsos de mentir descaradamente para si mesmo, ainda que para tanto precise jogar culpas pesadas para os outros.

As experiências de vida também são um contaminante importante. Elas induzem menos ao erro, por conta do aprendizado, mas induzem. Pessoas que confiam demais em suas experiências, se dão o direito de ignorar que elas não servem para todas as ocasiões. Acreditam que são imunes a acidentes e deixam de usar o cinto de segurança, só porque jamais foram jogadas para fora do carro em uma colisão. Concluem que, se não aconteceu até certa idade, é porque nunca acontece de verdade, usando até mesmo a experiência alheia para justificar sua conduta, como evocar o avô-chaminé que morreu com mais de cem anos, para fumar e baforar nos outros.

Reforça a conclusão por experiência, o facto de ser comum encontrar mais gente que aprendeu pelos mesmos meios. Tomando aquela gente como sendo "todo mundo", o indivíduo acaba concluindo que aquilo é o mundo e que o que se diz em contrário não é verdade. Quando conhece relatos de pessoas que sofrem seguindo caminhos diferentes, o arraigamento se intensifica, não raro o cidadão torna-se um pregador chato e com tendências radicais, já que tudo parece confirmar suas conclusões. Relatos com indícios fortes de experiências bem-sucedias em contrário, são rechaçadas, ainda que as provas estejam à vista. Afinal, as conclusões a que chegou têm um embasamento sólido, talvez não confiável, mas sólido.

Conclusões conseguidas por informações de terceiros são as mais comuns, também as mais susceptíveis a erro. A confiabilidade dos noticiários é freqüentemente posta em xeque, em pouco tempo, muitas vezes pelos mesmos que deram a primeira notícia, ainda assim é comum a mentalidade do "Se apareceu, é porque é verdade". O grande problema aqui, é a quantidade de divergências entre dois focos de uma mesma notícia. A defesa de muita gente, é passar a acreditar em uma só fonte, para evitar ter contradições, infelizmente o credo na fonte única costuma beirar o absolutismo. O resultado é que o indivíduo passa a desacreditar nas outras fontes, ainda que digam a mesmíssima coisa que a sua escolhida, de onde todas as suas conclusões são tiradas. Conclusões derivadas das conclusões de quem escolheu a notícia e a forma como ela foi veiculada. Ainda que várias fontes dêem a mesma notícia, focando os mesmos aspectos, o que e como se fala a respeito, no decorrer da notícia, muda a conclusão do ouvinte.

Por isso mesmo, é comum certos grupos políticos e pseudorreligiosos, desaconselharem seus membros do acesso a outras fontes de informação, que não a oficial da entidade. Para o bem ou para o mal.

A família também contamina as conclusões do indivíduo, seja para aceitar ou rejeitar o que lhe dizem. Quanto mais freqüente, intenso e íntimo for o convívio, seja no bom ou no mau sentido, mais intensas serão as conclusões que se tirará a partir daquela fonte. Nietzsche concluiu que Deus não existe, por causa do pai, que era um pastor radical e intolerante. Mas poderia ter concluído exactametne o oposto, se não tivesse tamanha necessidade de liberdade de expressão.

Conclusões tiradas do convívio familiar podem mudar, de forma radical, com as descobertas que os anos proporcionam, sobre a vida e sobre a própria família. Uma decepção forte pode matar tudo aquilo em que o indivíduo acreditava, e acabando por estender a conclusão para todo o restante da sociedade, como acreditar que homem nenhum presta, ao descobrir podres do próprio pai, ou mesmo que nenhuma mulher vale o que come, se descobrir que a mãe já fez algo condenável. O facto de aquela descoberta doer tanto, fecha as portas para uma vida adulta feliz. O mesmo vale para a escola e o trabalho, que podem fazer o indivíduo acreditar que ninguém consegue cousa alguma por mérito, concluindo assim que a honestidade não compensa. Eu teria motivos para tudo isso, se fechasse os olhos para todas as facetas do mundo ao meu redor.

Não é preciso andar muito para o indivíduo ver suas conclusões desmentidas, não raro dentro do convívio pessoal, ironicamente até mesmo quem compartilha das mesmas conclusões pode fazê-lo, ainda que sem querer. Observar o comportamento de seu grupo, mesmo sob o risco de grandes decepções, pode mostrar as contradições e fragilidades de uma conclusão muito importante. Aqui o indivíduo tem uma bifurcação, um lado leva para posições ainda mais radicais, a outra para um relativamente longo período de melancolia, tentando digerir a perda do chão.

Há meios de se proteger, com relativa eficácia, de conclusões contaminadas. Um deles, e talvez o mais eficiente, é aceitar que nós podemos errar e erramos com freqüência, muitas vezes e nos mesmos pontos, que acreditávamos já ter resolvido a contento. Temos o mau hábito de tropeçar nos mesmos buracos, muitas vezes, até que a dor no dedão se torne grande o bastante para nos deixar mais atentos, ou até que o sujeito compre um coturno para tropeçar e cair sem atingir a unha encravada.

Nesta semana, por exemplo, após uns dois anos de meditação a respeito, conclui que toda promessa é uma mentira prévia. Contaminado pelos noticiários e pelo cinismo dos políticos e muitos magistrados, o leitor pode querer adoptar minha conclusão para sua coleção de bordões preciosos. Não façam isso, a conclusão é falsa, foi contaminada por minha experiência de vida e pelo facto de que as pessoas realmente quebram muito as promessas que me fazem. Entretanto, afirmar o supracitado é duvidar da boa fé de alguém que pode simplesmente ter perdido as condições de cumprir com sua palavra, condições que tinha quando fez a promessa. A pessoa não mentiu para mim, ela realmente tinha a firme intenção de me beneficiar, mas como eu disse acima, nós não temos o controle da vida, só influenciamos os rumos que ela nos dá, só podendo escolher o caminho quando nos mostra entroncamentos.

Percebendo as infecções que tinha, descartei a conclusão e a tenho apenas como mais uma lição aprendida. Acham muito tempo, dois anos de meditação? Há assuntos que já me tomam quase trinta anos, pois encontro falhas crassas sempre que acredito ter chegado a uma conclusão. Claro, isso no tocante aos objetos da questão, no geral eu não fico lambendo assuntos que já se resolveram. Entretanto, nenhuma conclusão tem de mim o status de perpétua, pelos mesmos motivos que me levam a recusar o poder de decisões irrevogáveis a qualquer pessoa.