31/08/2011

Tadinha da Jaquinha!

http://www.band.com.br/noticias/brasil 

Gente, aquela filmagem (clique e veja) foi uma armadilha, uma afronta aos direitos mais elementais de privacidade do cidadão de bem, uma armação contra a minha honra! Uma acusação descabida que nem leva em conta minha ausência na vida política!

Vocês não perceberam? A câmera foi posicionada direitinho (dê outra olhada) para me pegar no flagra, ninguém me avisou de nada, nem me pediram pra colocar a bolsa em local estratégico para impedir o constrangimento.

É tudo culpa da imprensa! Ela manipula tudo! Há anos que estão me perseguindo, a mim e minha família. Vocês não se lembram de todos os ataques que já dirigiram ao meu pai? Justo ele, o homem mais íntegro (ai!), honesto (ui!), honrado (arg!), digno (uff!) e cristão (gasp!) que eu conheci em toda a minha vida! Vocês, digníssimos e honrados deputados, que várias vezes contactaram sua plena inocência, calando os repórteres levianos que o perseguem, sabem como eu que a mídia, a internet e os blogueiros estão em conluio para desestabilizar as instituições democráticas! E ainda tramam contra a regulamentação externa!

Eu estou constrangida! Exibiram aquelas cenas aviltantes (veja só mais uma vez) com minha figura sem a minha autorização, e espalharam pela maldita internet livre, antes que eu tivesse tempo para cobrar favores e barrar judicialmente sua divulgação! Snif! Snif!

Em que mundo nós estamos, meu deus, onde um cidadão não pode ter privacidade em seus assuntos particulares... Buáááááááááááááá...

Meus filhinhos, hoje, à mesa do desjejum, enquanto mastigavam geléia de tâmaras albinas com pão de trigo nobre com a boca aberta, queixaram-se à sua querida mamãezinha do assédio dessa maldita imprensa livre! Eles não podem mais nem tirar racha em via pública e atropelar cidadãos inocentes, sem que um abutre de câmera em punho os incomode!

Vocês não imaginam, meus amigos, correligionários, parceiros de lutas, o inferno que minha vida se tornou! Eu, uma mãe de família, cristã, temente a... a... a Deus! Uma cidadã de bem que respeita as leis de seu país!
Estou sendo vítima de tramas ardilosas de meus inimigos! Tudo isso é para me tirar do pleito do ano que vem, porque sabem que o povo de ama! O povo clama pela minha liderança! Que não teme mais uma mulher no primeiro escalão do poder! Porque sabem que há rumores de que sou uma virtual pré-candidata à presidência da república!

Eles não querem as mudanças progressistas que eu faria, se fosse presidenta! Por isso estão me atacando, caluniando a minha honra! Sabem que eu barraria atentados á honra dos representantes do povo, que cassaria concessões sem pestanejar, que manteria controle firme na internet, tudo para acabar de uma vez por todas com os abusos contra nossa classe. E eu nem tinha mandato na época, como posso ser processada por isso?

Ah, meu Deus, vou chorar de novo! Câmeras em mim, please! Buáááááááááá...

Por isso eu peço! Eu imploro! Eu me arrasto aos vossos pés, meus amigos de honra ilibada, fiéis defensores dos interesses de nosso povo! Tenham piedade de uma pobre mulher! Uma cidadã indefesa perante os ataques covardes de uma imprensa sem controle! De blogueiros subversivos! Eu clamo por piedade! Clamo por justiça! Eu clamo, clamo e clamo-o-o-o-o! Buá-á-á-á-á-áááááá!

Eu sei, honrados parlamentares, que seu senso de justiça e sua indignação para com os abusos que sofri, não deixarão o bastião da correção e da moral cair no pó vermelho deste chão. Eu sei que nenhum de vocês se esqueceu de tudo o que já convivemos longe de câmeras indiscretas. Por isso, para provar que não tenho medo da justiça, coloquei-me junto ao enquanto perante no nível de seu julgo cristalino, para que decidam em sua augusta sapiência o meu destino político!

Por essas e outras tanto apoiamos, correligionários, a sinalização para que os motoristas não sejam vítimas da indústria da multa nas estradas, quem dera também pudéssemos avisar á população onde a polícia estará fazendo suas operações, para ninguém ser pêgo! Reforma constitucional já!

Porque eu sei que posso contar com seu bom senso! Com sua compreensão. Sei que vocês não vão me decepcionar, jogando-me aos leões ferozes da mídia infame. Meus amigos, estamos quase em fim de ano, seria horrível passar o natal lamentando ter sido vítima de uma injustiça desse porte. Vocês, em suas casas, sei que também lamentariam muito o meu estado de ânimo, se a pressão poderosa dos jornais triunfar. Mas sei que isto não vai acontecer, NÃO É?

Aqui termino, meus adorados amigos. Em prantos, sim, mas altiva, com a cabeça leve a repousar no travesseiro macio da consciência límpida e imaculada. Deixo com vocês a decisão de meu destino político. Vocês sabem o que melhor representa os anseios da nação. Vocês que sabem! Viu!

Para quem não viu, leia aqui, aqui, aqui e aqui.

26/08/2011

Vamos regulamentar!

http://chargesbenett.wordpress.com/

É para se regulamentar tudo o que não presta, mas que é praticado? Então vamos!

Regulamentemos o lobby!

Não importa se populações inteiras morreão de fome (ou assassinadas) com isso. Os lobistas existem e agem, por isso devem ter sua ação regulamentada. comecemos por fixar um limite e uma taxa pelos danos causados. Um limite porque se matarem todos os desassistidos de uma vez, não sobra ninguém para enganar e fazer os políticos parecerem bonzinhos a cada dois anos; uma taxa porque... porque... Ah, tudo neste país é taxado e retaxado! Por que com os assuntos regulamentados seria diferente? Assina a petição em três vias e três dagens, todas reconhecidas em cartório, seladas e acompanhadas de uma figuginha rara da Copa de 1970.

Para organizar melhor, e arrecadar melhor com taxas abusivas, serão categorizados em três grupos, com subgrupos a serem regulamentados por leis complementares:

Lobistas ideológicos: que defendem interesses de grupos que querem que o mundo seja do seu jeito, a despeito de a constituição preconizar a liberdade de expressão;

Lobistas econômicos: que defendem interesses empresariais que querem arrancar o seu couro a qualquer custo, desde que o custo também seja seu, e ainda serem tratados como heróis geradores de empregos, mesmo que paguem uma miséria aos empregados;

Logistas aleatórios: esta classe tende a ser discriminada pelas demais, uma espécie de lobbulling, mas eles terão a liberdade de contractar lobistas ideológicos para defenderem seus interesses e sustentar sua futilidade.

Também poderíamos regulamentar os crimes de assalto e afins, criando cotas de assaltos para os meliantes saberem e terem certeza de que terão o que levar para casa, no fim da jornada. O modo de abordagem e a contribuição mínima do cidadão seriam os pontos mais polêmicos, mas para isso os assaltantes poderiam contractar lobistas. A ação da polícia precisaria de freios, um manual para aprender a diferenciar o assalto legal do crime, mas claro que os meliantes precisariam se manter identificáveis, para não serem confundidos com bandidos não legalizados.

Furtos e roubos a estabelecimentos seriam beneficiados com a entrada exclusiva, o que impediria que o assaltante precisasse ferir um cidadão não-assaltante, já que gestos bruscos de temor podem ser confundidos com tentativa de agressão.

E o arrastão, esta modalidade reconhecidamente brasileira, passaria a ser uma atração turística, sendo praticada por profissionais gabaritados, que formariam uma onda de meliantes a tirar tudo do cidadão, que não saberia o que teria acontecido até ver-se nu em público. Com o tempo e o aperfeiçoamento, ganharia requintes de espetáculo, com iluminação especial, sonographia, telões gigantes, narração de comentaristas famosos, enfim... Estão vendo como a regulamentação de uma prática comum só traria benefícios?

Só seria proibido assaltar bancos e políticos, seria anti ético e os cem anos de perdão negados.

Outra cousa a ser regulamentada, já que acontece todos os dias e todo mundo sabe que acontece, é o bulling. O problema é que hoje essa humilhação se realiza pelas mãos de cidadãos despreparados, causando mais traumas do que o necessário e levando a vítima ao suicídio, acabando com uma promissora carreira de achincalhamentos e ausência completa de auto estima.
O bulliner (chique no úrtimo!) seria treinado e capacitado para deixar suas vítimas sempre no limiar da auto destruição, mas só até aí, para que pudesse se recuperar e ser novamente humilhada em outra oportunidade. Um prazo a ser definido por médicos seria fixado como mínimo entre cada prática, com isso a vítima teria até tempo de aproveitar melhor a companhia dos amigos, aos quais daria mais valor com o passar dos anos de bulling. Estão vendo? É só regulamentar que todo mundo sai ganhando, inclusive os laços sociais!

E a corrupção? Esta, meus amigos, é a coisa mais comum e antiga neste país. Então tem que ser regulamentada! Chega de políticos inescrupulosos nos enganando, tendo que mentir em campanha. Será criada a "Apropriação Regulamentar do Erário".

Políticos, funcionários públicos e afins não terão mais que agir na calada da noite, debaixo do pano, alimentando o crime organizado com lavagem de dinheiro. Agora haverá uma cota para cada um, proporcional aos seus ganhos, para livre acesso aos cofres públicos. As caixinhas pedidas para facilitações serão de valor livre, mas terão que constar nos autos a serem preenchidos diáriamente, com matrícula funcional, para que abusos sejam coibidos. O funcionário terá direito a pedir a contribuição, mas não deverá negar o serviço em caso de recusa, apenas deixará o contribuinte mofando na fila como todo mundo.

Ao fim de cinco anos consecutivos de "ARE", a média aritmética dos ganhos mensais extras seria incorporada automática e irrevogavelmente aos vencimentos do funcionário de carreira; cargos eletivos seriam, assim, também considerados de funcionalismo público especial.

O bom desta regulamentação é que o dinheiro retirado não seria perdido, pois haverá registro e será cobrado no imposto de renda, gerando mais receita, mais investimentos e mais cidadania aos que, hoje, precisam trabalhar na penumbra do preconceito social.

A erotização infantil. Claro! Afinal é correlato a sexo, sexo é natural, se é natural não faz mal e não deve ser reprimido.
Com a autorização prévia dos pais e/ou responsáveis, o agente erotizador poderia dar á criança mais inocente e novinha, um aspecto de verdadeira meretriz, colocando roupas curtas, apertadas e desconfortáveis, mas anestesiando tudo com música ruim em volume insuoportável, para facilitar coreografias próprias para maiores de vinte e um anos.

Com  isso a criança pode ter seu ganha-pão desde a mais tenra idade, evitando que engrosse as filas de desempregados recém-formados. Aliás, para quê estudar se o povo sustenta irracionalmente essas modas de mundo-bunda? Deixem os estudos para os feitos, que assim ficam livres da concorrência das pessoas bonitas e ganham o que merecem, por competência.

As regras seriam bem claras, feitas por pedabobos e filosofinhos que nunca saem de suas salas com ar condicionado, não sabem por onde seus filhos (se os tiverem) andam e não fazem as devidas adaptações de soluções que deram certo em países completamente diferentes do nosso.

Também poderemos regulamentar a música ruim, os programas-cão, o neonazismo, enfim, é uma lista longa que precisa da análise minunciosa da sociedade organizada.

Que foi, minha gente? Por que essas caras?
Deixem de hipocrisia! Tudo isso já existe, acontece, todo mundo sabe e geralmente finge que não vê. Já que é para regulamentar tudo o que não presta, a pretexto de dar liberdade e enfraquecer a criminalidade, vamos regulamentar tudo!
Já que as conseqüências de tudo isso é sumariamente ofuscada por análises primaríssimas e tendenciosas, e muita gente "intelectual" apóia, então vamos regulamentar tudo, até a completa devastação da Amazônia, ainda que isto gere um colapso climático e dizime populações inteiras.

Regulamentar não é a solução para tudo? Ou será que só há interesse pessoal, proselitismo disfarçado nessa bagunça toda?

23/08/2011

Hip-hop pró Pará


http://qualquercoisasobrebelem.blogspot.com/
 
Se liga, meu irmão, querem te ludibriar

Eles não estão nem aí se o Pará, como Atlântida, afundar
Só querem um pretexto para proliferar as ratazanas de planalto
Dividindo o povo honesto para poder melhor nos enganar



Querem roubar dois pedaços do Estado
Querem roubar as riquezas do Pará!
Querem roubar dois pedaços do Estado
Querem roubar as riquezas do Pará!



Esse papo furado de que tamanho atrapalha
É desculpa esfarrapada de quem não trabalha
Bastaria terem feito a infra-estrutura
Para a qual recebe grana toda prefeitura


Pois dinheiro em Brasília é o que não falta
Eles só querem ter mais vagas para sua malta

Querem roubar dois pedaços do Estado
Querem roubar as riquezas do Pará!
Querem roubar dois pedaços do Estado
Querem roubar as riquezas do Pará!

Se liga, vacilão só tem retórica nas falas
Eles se vestem engomados, mas são um bando de malas
Se tamanho fosse tão importante vírus não daria gripe
Me digam o que fizeram até hoje pelo Estado do Sergipe?

Querem roubar dois pedaços do Estado
Querem roubar as riquezas do Pará!
Querem roubar dois pedaços do Estado
Querem roubar as riquezas do Pará!


A solução para um Estado de tamanha dimensão
É aplicar nossos impostos na sua estruturação
Mas à corja não interessa abrir mão da mordomia
Nem acabar com a mentalidade de que ser macho é praticar pedofilia


Querem roubar dois pedaços do Estado
Querem roubar as riquezas do Pará!
Querem roubar dois pedaços do Estado
Querem roubar as riquezas do Pará!


Mas com o que eles não podiam contar
É haver uma leoa feroz, lá em Belém a atacar
Sem dó nem sutileza o discurso imbecil
Para cada bobo que quer partir, há quem não quer mil!

Querem roubar dois pedaços do Estado
Querem roubar as riquezas do Pará!
Querem roubar dois pedaços do Estado
Querem roubar as riquezas do Pará!


Os Estados da Califórnia e Texas são os maiores americanos
Nunca enfrentaram problemas para serem divididos
Porque eles, mesmo políticos, sabem que assim estariam falidos
Não vamos deixar o gigante Pará ser mutilado por esses carcamanos

Querem roubar dois pedaços do Estado
Querem roubar as riquezas do Pará!
Querem roubar dois pedaços do Estado
Querem roubar as riquezas do Pará!


Querem roubar dois pedaços do Estado
Querem roubar as riquezas do Pará!
Querem roubar dois pedaços do Estado
Querem roubar as riquezas do Pará!

19/08/2011

Para sanear o Brasil; 3 de 3; mostre quem paga e manda.


Mostrem quem paga e manda em quem!
Peço novamente aos leitores que não pulem etapas. Se estão chegando agora a esta trilogia, cliquem aqui e aqui e leiam os textos  anteriores, que são o alicerce e o contra piso deste.


Caras concidadãs e caros concidadãos, Tudo o que existe no Brasil, derivado directo ou indirecto do poder público, está formatado para corromper vocês. 


Não, caros leitores, o inchaço da máquina administrativa por proliferação de cabides de empregos inúteis, não se presta apenas para distribuir favores aos aliados, se presta principalmente para que vocês precisem de favores. Não há acasos no serviço público. As regras torpes, feitas por analfabetos funcionais, que exigem documentação para comprovar a validação de documentação, coloca-nos em posição de dependência política para que nossas necessidades mínimas sejam atendidas. Assim temos dois caminhos, esperar pela lentidão por escassez de mão-de-obra do judiciário, ou ir ao “dotô” e garantir um voto em troca de nos colocar na frente de alguém.


Ir à televisão para mentir na cara dura, dizendo que o transporte público está bem dimensionado e só precisa remanejar ônibus, como é rotina em Goiânia, chamando por tabela de mentiroso o contribuinte que liga para dizer o contrário, é a maior bondade que essas pessoas fazem. Ameaçar estuprar e matar as mulheres da família de jornalistas que tenham indícios sólidos, e se ponham a falar em público a respeito, é parte da profissão de político.


Não quero assustar os leitores com o que já escrevi, embora em alguns caso devesse. Só mostrar que “O Poderoso Chefão” é uma ficção, mas não tem absolutamente nada de fantasioso. E para quem acha que é impossível fazer política sem ser canalha, leia esta matéria do Esturdio’s Blog New e pense direito. O deputado distrital, em pleno ninho de cobras, admite que não é perfeito e erra, mas não faz farra com o dinheiro público. Ele prova de próprio exemplo que é sim possível e viável resistir às tentações da corrupção. Então, caro leitorado, ele prova de moto inconteste que nós temos como escolher gente diferente. Então, vamos falar a respeito?


Vamos lá.


Um gari aqui de Goiânia, que Deus o tenha desde poucos meses, conhecido por Negro Jobs, ganhou as últimas eleições para vereador, cargo que cumpriu com muito mais lisura do que podemos esperar de um político. A estratégia dele foi simples, pediu licença para interesses particulares, após pegar cinco mil reais de empréstimo consignado, comprou uma Brasília “no estado”, fez um lote de panfletos e saiu a pedir votos aos colegas e populares, cara a cara. Funcionou e provou que ninguém precisa ter rabo preso, por financiamento de campanha, para se eleger com boa margem de votação.


Muita gente afirma que quem vota é o dependente de cestas do governo e que por isso absolutamente nada adianta fazer contra. Essas pessoas dão poderes demais aos pústulas, e fazem parecer que o universo é uma entidade estática e que tudo sempre foi do jeito que está e jamais mudará. Os dois exemplos que citei provam justamente o oposto. Não vai acontecer em treze meses, tempo que temos até o próximo pleito, mas é possível sim mudar para melhor a mentalidade do eleitorado.


Sim, é verdade que muita gente ainda pensa que o governo inventa dinheiro e que os políticos são sacerdotes desta cornucópia.  Na realidade é uma triste e esmagadora maioria. Por isso este artigo é uma trilogia e pedi que lessem primeiro os textos anteriores, para se prepararem e terem condições íntimas necessárias à mudança que urge. E asseguro que não precisam isolar-se em uma montanha longínqua para essa preparação, seis meses insistindo e seus entes mais próximos já notarão a diferença, talvez menos.


Quando souberem de alguma notícia política importante, não se deixem levar por um meio de comunicação. Eu consulto no mínimo três e ainda fico atento à reação popular, que quase sempre é nula. Ser político é quase sinônimo de ter amizades e inimizades inescrupulosas, por isso é extremamente difícil que uma reportagem consiga isenção suficiente para ser confiável, isso quando o repórter quer ser isento. Leia o que as publicações das mais diferentes ideologias dizem e observe onde elas convergem, é de lá que deverá partir a tua análise. Sempre há um ponto de convergência, por mínimo que seja, ou uma das matérias é completamente inventada, aí é outro assunto e outro escândalo.


Fica mais difícil analisar os candidatos à medida que os partidos arreganham as pernas para qualquer um se candidatar, por critérios quase sempre espúrios. É uma tática simples e eficiente, encher a propaganda eleitoral com candidatos insignificantes para que as atenções do eleitor se voltem para os menos ridículos. O circo de horrores que temos a cada biênio, leitorado, é proposital. Apesar de vez em quando o tiro sair pela culatra e uma zebra se eleger. Fica menos difícil selecionar os candidatos se vocês já tiverem em mente as suas prioridades, se souberem o que querem que o eleito faça. Com isso os discursos cheios de retórica enfeitada e prolixidade fútil perdem força, porque vocês já sabem o que precisam ouvir e não darão importância àquilo que não for de seu interesse. Os que não tiverem planejamento de trabalho nenhum, estes não passarão pela peneira. Foque, por exemplo, no tripé educação-saúde-segurança. Nenhum parlamentar, nenhum executivo consegue trabalhar com tudo ao mesmo tempo, mas pode dar manutenção do que não for o seu foco. Podem, por exemplo, cobrar a preservação da malha viária enquanto concentram seus esforços na restauração do ensino público. Outro pode pedir boletins diários da segurança enquanto fomenta a geração de empregos.


Se vocês souberem o que mais lhes incomoda, saberão exatamente o que cobrar deles. Em um comício ficará extremamente difícil o candidato safar-se de uma pergunta impertinente aos seus planos. Em uma época em que até canetas podem gravar horas de vídeo de boa qualidade, fica extremamente fácil colher provas de tudo o que aconteceu durante o debate. Sim, agora vocês estão tendo um clique! A tecnologia avançou e miniaturizou tanto, que é praticamente impossível não ser registrado com fiabilidade e qualidade em eventos públicos. Os celulares com câmeras de seus filhos irritam de vez em quando! Mas na ocasião deixem-nos à vontade. Combinem com vizinhos, amigos, parentes e o Zé Pereira para fazerem perguntas indiscretas e denunciantes, como de onde saiu tanto dinheiro para tamanha campanha, ou quem são seus suplentes e qual o seu histórico.


Usem a abusem da internet. Arquivos de texto, áudio, vídeo, imagens comprometedoras, documentos, enfim, tudo o que pode servir de prova contra ou pró está a um clique. Digitem o nome do indivíduo, sempre entre aspas para que só aquela combinação seja buscada, em qualquer motor de buscas e “Abra-te Sésamo!” a vida pregressa do cidadão estará diante de seus olhos, todinha, sem nada a esconder. Sabem aqueles vídeos que um juiz amigão tirou do youtube? Tenha certeza de que alguém baixou e salvou, é só procurar... Isso se já não estiver circulando por e-mails na época da campanha.


Aliás, não se furtem o direito de cobrar provas concretas de que:


1.   -  O candidato tem condições de cumprir com o que está prometendo, isso inclui provas de que o partido não vai boicotá-lo por tentar agir direito. Há muitas cousas que eles podem fazer sem depender do partido, mas outras não;


2.  -   O candidato vai cumprir com o que está prometendo. Vale registro em cartório de que a falta com a palavra equivalerá à renúncia automática, e que o suplente vai fazer o que ele não fez. Vale ele provar que sua filiação partidária tem prazo de validade e pode ser cancelada;


3.   -   O candidato vai levar o projecto até o fim, ou seja, não deixará o mandato na metade para se aventurar a outro cargo eletivo. Este é um ponto eliminatório, pois diferencia o político profissional de um embrião de estadista;


4.   -    O candidato, se eleito, empregará seu suplente e funcionários públicos de carreira em seu gabinete, e só os que forem realmente necessários. Mais, esses assessores deverão ter funções e horários a cumprir. De preferência, uma das funções deve ser a de manter o eleito informado sobre tudo o que for relevante. O suplente, caso precise assumir, estando a par de tudo não terá dificuldades em dar andamento ao trabalho;


5.   -  O candidato, quando eleito, seguirá o conselho de técnicos e pesquisadores de cada área, não de correligionários, de pastores, de familiares, enfim, ele deve provar que dará ouvidos e acatará o laudo de quem realmente entende do assunto que estiver em pauta. Isto seria garantia, também, de que ele leria o que está sendo votado, em vez de assinar somente porque seus simpatizantes pediram que assinasse;


6.    -  Se o candidato preencher todos os requisitos, que são o mínimo indispensável, então vocês podem estudar se votam ou não nele.


Reportagens completas das mais diversas fontes estão nos sites de jornais e revistas, podem procurar que o acesso quase sempre é livre. Dêem especial atenção às charges políticas (como estas) que são retratos estereotipados da realidade. O humor pode dizer muito mais e de forma mais eficaz quem é aquele candidato, do que uma rodada sisuda de debates, onde cada um coloca o que lhe convém, e no fim tudo termina em palavra contra palavra.


O velho ditado “Muito ajuda quem não atrapalha” é de grande valia. Porque não podemos esperar que milhares de Negros Jobs  e Reguffes apareçam de uma vez em um só pleito. Na dúvida, quando não souberem em que idiota votar... Valham-se da pesquisa que tiverem feito e votem no que perceberem que não vai tentar atrapalhar, aquele que não vai meter a mão descaradamente, que não vai chantagear e ameaçar o executivo, por demissão sob provas de ilícito de correligionários, enfim, que não vai tentar jogar o país no caos para se vingar do executivo eleito. Coisa de partidos reacionários.


Dos males o menor, leitorado. Não podemos esperar que tudo se conserte de uma hora par a outra, mas tirar do caminho a praga que coloca o orgulho do partido acima da estabilidade nacional, já é um avanço significativo.


Sei que vai doer muito, mas deixem de lado ideologias, simpatias, inimizades e outras pessoalidades na hora de escolher o candidato. Aquele que mais lhe parece antipático, pode ser justo o que tem mais condições de fazer o que queres ver feito. Eu tinha receios com a eleição de Merkel para premier da Alemanha, mas é quem está segurando tudo nas costas... parece até sina dos alemães carregar a Europa durante crises. Eu estava errado em relação à ela, talvez até tivesse votado contra, se eu fosse alemão; teria votado errado.
 A ideologia, que outrora servia de farol para guiar os passos de uma pessoa politizada, hoje é apenas pretexto para colocar a segurança pública em risco. Devemos deixar de votar contra um inimigo, para votar em prol do país que queremos ter, com isso qualquer inimigo potencial fica instantaneamente neutralizado, como um vírus medíocre que se depara com um organismo forte e pleno de saúde. Levem em conta as necessidades do país. Esqueça interesses, que o momento não é de reivindicações sectárias, muito menos individuais. O país precisa ser reconstruído do zero, e disputas de lobistas só fazem atrasar essa reconstrução. Quem tem aspirações legítimas não precisa de lobista, que age sempre por debaixo do pano se lixando para quem vai morrer por causa do que está pleiteando. Quem tem aspirações legítimas, se organiza e põe a boca no trombone, faz pressão até que as fezes políticas sejam expelidas do organismo público.


Nós não temos o que escolher para fazer primeiro, porque tudo está por ser feito. Os últimos vinte e cinco anos de governo dilapidaram a infraestrutura que foi construída até então, fazendo muita gente boba ter saudades da ditadura. O que os eleitos precisam fazer é reprojetar o Brasil inteiro. É para isso que temos um governo, para cuidar da coisa pública enquanto cuidamos de nossa parte na vida cotidiana. Eles são muito bem pagos para isso.

16/08/2011

Para sanear o Brasil; 2 de 3: o poder é seu!


Tenham a fineza de não pular etapas e começar pelo primeiro texto (este) da trilogia. Grato.

Serei menos rascível agora. Parem de acreditar que todos fariam o que vocês fariam na mesma situação. Ninguém serve de parâmetro para o comportamento alheio. Eu, por esta mentalidade besta, seria corrupto, machista, racista, xenophobico, homophobico, altamente proselitista e o escambáu de “istas” que vocês tiverem em mente. Eu tive a chance para contrair e alimentar cada uma dessas chagas. Tive e paguei o preço de não tê-lo feito. Olhem direito ao seu redor, analisem com frieza e verão bem perto pessoas fazendo exactamente o que vocês não fariam na situação em questão, por mais prazeroso que seja para vocês; talvez seja só para vocês. Então não tem sentido chamar alguém de otário por não ter aproveitado uma chance que vocês gostariam de ter.


Por exemplo. Quem compra um carro eléctrico gasta pelo menos cinqüenta por cento mais por um desempenho mais modesto e uma autonomia (quase sempre) pequena. É otário? Está querendo ser diferente? Ir na onda da moda? Quem te disse? Tu conheces a pessoa em questão para dar o veredicto? Isto é o que poderias pensar de alguém com a tua mentalidade, mas ninguém tem exactamente a mesma mentalidade de outra pessoa. Então parem de ver o mundo como uma extensão de seus anseios, porque cada um tem o seu particular, por mais que os de vários se pareçam não são os mesmos. Duas pessoas não fazem a mesma cousa exactamente pelos mesmos motivos.

Entendidos? Certo, então comecemos com o segundo texto propriamente dito. Comecem repetindo para si mesmos que vocês podem viver sem quase tudo o que se vende ou oferece “de graça”. Vocês não precisam do último tablet 3D que projecta seu monitor em paredes de até três metros. Seria interessante ter um, claro, mas ninguém precisa disso para viver. Quase tudo o que vende é supérfulo, então não faz sentido depositar seus sonhos e esperanças nessa quinquilharia toda. Convencendo-se disso, fica fácil fazer boicote, arma letal que todo cidadão tem no coldre, cheio de munição.

Deixemos as paixões e ideologias de lado para analisarmos o que faz bem e o que corrompe a sociedade.
HÁBITOS


O teu comportamento no trânsito. Vamos, fale. Quem te disse que parar em fila tripla só por cinco minutos não atrapalha ninguém? Faça um esforço e ponha-se no lugar do estressado que está buzinando alucinadamente, olhando o relógio com um desespero difícil de se encontrar. Pode ser só estresse, claro, mas também pode ser uma ambulância. Se ficar difícil imaginar a dor alheia, bata com a cabeça em algo duro e se imagine dentro daquela ambulância. Ficou fácil, né. É assim que a corrupção cotidiana de cada cidadão ajuda a manter o país sujo e atolado.


A rua não te pertence, nem ela, nem a calçada. Não podes fazer delas o que bem entendes. Aliás, calçada não é lixão e não pode-se confiar que os garis vão catar aquele papel de bala. Já viram alguém escorregar em papel de bala? Aquele troço é tremendamente liso em pelo menos uma face, para evitar adesão e proliferação de bactérias. Seria mais barato usar papel comum, poroso, mas este só serviria como embalagem secundária, em contacto com o doce continuaria a ser aquela armadilha fatal para idosos e pessoas de muletas.


Corrupção é desviar-se deliberadamente de suas obrigações em proveito próprio, às custas de recursos alheios. Quem atrapalha o trânsito de veículos e pedestres está fazendo mo quê? Quem atira lixo em via pública em vez de guardar até encontrar uma lixeira (muitas vezes o fazendo com a lixeira ao lado) está fazendo o quê? Quem fuma em ambiente público fechado está fazendo o quê? Quem usa qualquer droga, inclusive álcool, e sai às ruas como se ninguém tivesse nada com isso, gerando transtornos e danos, está fazendo o quê? Quem liga o som no último volume, obrigando os outros a ouvirem o que não precisam, está fazendo o quê?


Em todos esses exemplos, o indivíduo está se apoderando da liberdade, saúde e até vida alheia em função de seu prazer. Priva-se do direito à mobilidade (e à respiração) quem nada lhe deve a respeito.


Aos que espernearem e tentarem me enfiar goela abaixo a ladainha de “no primeiro mundo isso”, “na Holanda aquilo”, “Nos países avançados ninguém tem nada com isso”, eu digo de modo terminal: Nesses países ninguém dá a mínima para ninguém. Se a pessoa morre em via pública, o corpo é removido três dias depois por causa do mau cheiro. Não é respeito, é indiferença. Nesses países onde há liberdade de autodestruição, a vida é insuportável, tanto que suicídio de crianças é banal. Repito o que disse lá atrás: Consumo e prazeres não tornam ninguém feliz, às vezes nem mesmo os animais se contentam com satisfação biológica, então me poupem dessa egoísta conversa pseudo-libertária. Há uma diferença gigantesca entre o indivíduo e a causa, eles só se importam com a causa, o indivíduo que se lasque.

CONSUMO

Sabe aquele I-pod com MP537 baratinho? Por que será que ele é baratinho se tem tantas funções? Ainda que seja uma porcaria e só dure uns meses, tamanha versatilidade tem um custo, dá muito trabalho para ser produzido. Só escala de produção não explica tudo. A explicação é muito simples, leitores: Trabalho análogo à escravidão, ausência total de qualquer direito trabalhista, manipulação cambial descarada, desdém para com o meio ambiente, propinas para permitir práticas condenadas por qualquer organização séria. Há muitas empresas que conseguem assim reduzir seus preços sem mexer na margem de lucro, como a Apple. Essas empresas não querem saber, se abstém de tomar conhecimento dos meios utilizados para a fabricação do que leva sua marca. Demitem seus próprios compatriotas para fomentar o trabalho semi-escravo, quando não o escravo. Boicotem. O que eles permitem que façam com os trabalhadores, não hesitarão em fazer com vocês. Aliás, boa parte desta vigente crise econômica mundial é fruto podre da ação de biltres assim, que usam o bordão “só negócios, nada pessoal” para justificar qualquer atrocidade com que estejam envolvidos; como a máfia faz para tentar atenuar uma condenação.

Não sejam mesquinhos. Algo que fica barato demais sem ter havido um grande salto nas técnicas de produção, tem algo de muito errado embutido no preço. Infelizmente já demos corda demais para essa gente, é difícil encontrar algo portátil que não tenha sido feito por terceirizados de países tolerantes com a crueldade. É difícil, não impossível. E se começarmos a boicotar, concordando em incluir salários decentes e boas condições de trabalho no preço, passará a ser fácil. Não se iludam, os preços não caíram na mesma proporção dos custos aos especuladores. Eles estão lucrando mais e não vão abrir mão desse dinheiro fácil passivamente.

De tanto terceirizar tudo, a maioria das grandes corporações deixou de existir, não passa de um monte de escritórios, cuja única função é burocrática e especulativa. Vejam quantos productos têm made in china em suas etiquetas. O facto de serem todos muito semelhantes não é coincidência, uma terceirizada fabrica para muitas empresas, um dos modos de reduzir custos é fazendo tudo igual, nas mesmas matrizes, às vezes só mudando o logotipo do cliente.

O mesmo fazem aquelas lojas populares, que vendem baratinho e em troca tratam o comprador como se estivessem fazendo um favor em vender. Em vez de arcarem com todas as responsabilidades, como um verdadeiro adulto faria, terceirizam todos os serviços que podem sem se importar com as condições de trabalho dos terceirizados, mesmo que isto signifique matar uma criança de colo para pressionar a mãe a se demitir. Eles não dão a mínima. Antigamente fazia-se por dinheiro o que se gostava de fazer, os indivíduos agora fazem o que der dinheiro e não lhes mandar para a cadeia. Não importa o quê.


Eu pago mais caro com prazer. Se não posso pagar por servidores bem tratados, fico sem. Tenho muitos conhecidos com pilhas de traquitanas tecnológicas penduradas no corpo, eu não tenho mais do que meu velho celular que já tem três anos. Triste? Não por isso. Nenhuma função biológica foi afetada pela falta de uma tela sensível ao toque. Só tenho saudades do meu walkman, montado em Manaus com peças do Japão.

O mesmo vale para comida, meus filhos. Ninguém precisa de carne para sobreviver, com poucas exceções. E os que precisam, precisam de pouca, bem pouca. Então, antes de reclamar dos desmatamentos, conflitos agrários, ET Cetera, aceite pagar um pouco mais por um bife que deu mais trabalho para ser produzido. Para quem acha que comida orgânica (juro que nunca vi comida metálica) não dá lucro, o príncipe Charles Spencer da Inglaterra é o maior produtor de comida orgânica do mundo, e está rolando na bufunfa com isso.


Pensem bem, comam um pouco menos por algo mais saboroso, tanto ao paladar quanto à consciência. O consumo crescente estimula a mudança de meios modos de produção.
O mesmo vale para residências. Não aceitem pagar a indecência que cobram por cubículos. Isto é especulação. Se te obrigam a comprar móveis cada vez menores e mais frágeis, e carros cada vez menores, eles não terão a mínima vergonha na cara em reduzir ainda mais os espaços. Não existe motivo técnico para que um apartamento custe muito mais do que uma casa do mesmo tamanho. Quando eu digo “muito mais”, não aceito mais do que vinte por cento, para um apartamento muitíssimo bem equipado. Porque já vais pagar condomínio pelo resto da vida, além do IPTU, o imóvel não será realmente teu. Quem alimenta a especulação imobiliária é o comprador. São Paulo precisou limitar essa miniaturização porque começaram a apresentar plantas de apertamentos com 36m². Nenhuma família, por menor que seja, se suporta com menos de 120m² para circular. Com 36m² é melhor morar numa Kombi adaptada com banheiro químico, é mais barata e tu se livra dos vizinhos chatos num segundo.

ENTRETENIMENTO

Por falar em consumo e drogas, boicotem os artistas que usam indiscriminadamente alucinógenos, são um péssimo exemplo de que seus filhos não precisam.


Acham que fui duro e directo demais? Talvez, mas se eu delongasse vocês não prestariam atenção à mensagem principal.

Sim, esses que usam e falam besteiras são mais carismáticos, têm “atitude” (simiesca) e fazem mais macaquices no palco. Mas vá a um quartel e veja gente fazendo muito mais macaquices, pulando mais, correndo mais, se pendurando mais e por aí vai, sem recorrem a porcaria nenhuma além de seu próprio preparo físico, e um pouco de disciplina. Para quem não entendeu a mensagem: É perfeitamente possível fazer tudo e muito mais sem recorrer a muletas químicas.

A vida do artista não é da minha conta enquanto não trouxer prejuízos, mas aqui não se trata apenas de um hábito destrutivo, ou uma excentricidade, é questão de saúde pública e muitos outros factores. Muitos deles não só usam como divulgam e incentivam os fãs a usarem também. A diferença entre a vida pública e a privada, é a que o artista deixa ser veiculada. O que ele fizer em sua casa e não infringir a lei, não é da minha conta. A partir do momento em que ele começar a estimular a imitação de sua vida privada, então a coisa muda de figura, porque os hábitos incentivados podem me acertar na rua.


Boicotem. Se o artista se porta publicamente mal, deliberadamente mal, sem jamais fazer o mínimo esforço para mudar, boicotem. Ninguém pode ser reprimido por ter péssimo gosto musical, mas gostos pela autodrestuição não devem entrar em suas casas. Aceitem a pecha de caretas, autoritários, antiquados, se for necessário. Autodestruição sim, é a cousa mais careta e antiquada do mundo, e precisa ser extirpada do cerne da civilização.


Antes que alguém comece a tacar pedras nos pôsteres de Elvis Presley e Emy Winehouse, investiguem suas histórias para se livrarem de mitos. Eles morreram tentando se livrar do mal.
Deixem, porém, claro que não é contra a pessoa, mas contra suas atitudes. Isto qualquer adulto formado consegue diferenciar. Se o artista em questão estiver se esforçando para melhorar, prestigiem-no e deixem claro que rugas nada têm a ver com impopularidade. O maracujá enrugado é o mais gostoso.

É tudo muito difícil? Sim, eu sei que é muito difícil, afinal NÓS MESMOS alimentamos essa bandalheira toda por um século inteiro! Não vamos mudar um século de péssimos hábitos em poucos anos, mas se não começarmos, jamais conseguiremos mudança nenhuma.

Lembrem-se da premissa mais sagrada do capitalismo, que tem sido subvertida pelos especuladores e maus agentes: Quem paga, manda.

10/08/2011

Para sanear o Brasil; 1 de 3: vida pessoal.


http://www.wallcoo.net/cartoon/Mother_day_Lovely_Children_illustraion/html/wallpaper19.html

Tenho asco de retórica e uma repulsa incontrolável contra prolixidade, então serei didático e directo. Tudo começa em casa. Tudo mesmo!

Para começar, deve-se atentar para os próprios hábitos, para que seus filhos e/ou tutelados vejam credibilidade no que lhes disser. Pode parecer inócuo, mas é nos hábitos do indivíduo que a cultura social é gestada. Mudança de hábito perseverada muda os paradigmas de uma pessoa. É muito difícil, mas só assim para obter os resultados necessários.

Quando chegar em casa, especialmente do trabalho, NÃO XINGUE! Pode reclamar do cansaço, do transporte, das condições de trabalho, do que mais for, mas não reclame de precisar trabalhar. As crianças aprendem com os adultos, mas não têm memória e noção de tempo bem desenvolvida. Se te virem reclamando de ter precisado trabalhar, inconscientemente acreditarão que trabalho é ruim. Claro, que mais tarde isso pode ser remediado, mas nunca fica bom como deveria, a imagem do pai chegando bravo e reclamando de ter precisado trabalhar sempre emergirá à menor dificuldade no emprego. Por pouco que pareça, isso facilita a vida de corruptores, pois mesmo que eles não se corrompam, não terão argumentação para coibir a corrupção, porque no fundo concordarão com ela.

Se estiver realmente farto de teu emprego, diga que não ganha o que merece por causa de gente desonesta e teça teus comentários a partir disso. Mas nunca reclame de precisar trabalhar. Depois do desabafo, que ninguém é de ferro, comente que graças a Deus nem toda essa corrupção te privou de poder sustentar a casa.

Em suma, não precisa (nem deve) se fingir de feliz por más condições de trabalho e salário aquém de tua competência, mas deve demonstrar que o trabalho em si é bom. Faça um esforço, tu consegues.

Seja civilizado. Imite tudo o que já sabes que um cidadão faz em sua conduta social, no primeiro mundo, e faça questão de que a criança imite. Estimule que o faça.

Ajude nos afazeres domésticos. Mesmo que o cansaço lhe corroa as forças, pelo menos levar o próprio prato à pia tu podes. Deixe claro às crianças que o conjugue não é um empregado da casa, muito menos tua propriedade. Isto é muito importante para as crianças crescerem acostumadas a dar a todos a mesma importância social. Ser mulher, ou negro, ou homossexual, de outra religião, migrante ou imigrante, deficiente, nada deve ser motivo para destratar uma pessoa. É em casa, com os TEUS exemplos, que as crianças aprendem isso. Se aprenderem que todos merecem respeito, ficará mais difícil serem convencidas de que merecem se dar bem às custas dos outros. Também previne contra homophobia, machismo, xenophobia e outras pragas do gênero.

Por falar em ambiente doméstico, vamos aos mais abastados: Seja justo com teus empregados. Se não podes pagar mais do que um salário mínimo, que pelo menos complemente com productos. É muito comum a empregada doméstica ser proibida de comer da comida que prepara, ser revistada na saída do trabalho, ter que entrar pelo elevador de segregação e por aí vai. NÃO FAÇA ISSO! Por mais que pareça normal, que todo mundo faça, é um dos comportamentos que alimentam a vaidade de bacharéis que insistem em serem chamados de “doutor”, e fazem misérias com o dinheiro público em proveito próprio. É o mesmo argumento que eles usam para dificultar o acesso do cidadão àqueles que elegem, chamando-os de “pessoas comuns”.

A empregada não vai cuspir no próprio almoço. A criança que vê um subalterno ser tratado com dignidade, não vai alimentar a idéia estúpida de que pobre merece pouco e tem que se dar por satisfeito, mentalidade usada para colocar paus-de-arara no lugar dos ônibus, latas de sardinha no lugar do metrô, negligenciar o saneamento básico, desfalcar postos de saúde e toda essa bandalheira. Se o condomínio for dessa “elitezinha” falida que pensa ser do primeiro mundo, mude de endereço.

Aliás, criança não tem que dar ordens aos adultos, sejam quais forem, mesmo os empregados.  Eles têm que obedecer às instruções dos adultos da casa, criança não tem discernimento para interferir nelas. Há quem se estufe de orgulho quando ouve o filho dizer “Tá despedido!” mesmo que a demissão não se concretize. Não, leitores, o petiz não estará aprendendo a ter autoridade, estará aprendendo a ser arrogante, a acreditar que existem pessoas melhores e piores, a ver em gente mais pobre ou “diferente” um objecto a ser usado ao seu bel prazer. Quem manda em adulto é adulto e ponto final. Deve haver regras claras para todos, os pimpolhos devem ser preservados do que não podem se defender e respeitados em sua condição de criança, mas eles precisam respeitar os adultos. Não pensem que hierarquia é cousa de militar, o mundo real é hierárquico, a natureza é inflexivelmente hierárquica.  Em casa não tem que ser diferente. Os pais mandam, os filhos obedecem. Acostumem-nos a isto desde a mais tenra idade. Claro que não espero que isso seja seguido à risca, nem precisa, mas deve ser a regra e não exceção. Não precisa ser rígido, mas deve haver rigor.

Quem aprende a reconhecer autoridade em casa, não vai desacatar ninguém na rua. Com isso não vai precisar de favores de “gente influente” e um elo da corrupção estará quebrado.
Há muito filosofo por aí defendendo os mimos e redoma de cristal em que as crianças têm sido colocadas. Gente que não faz mais do que enfeitar seus discursos prolixos com retóricas cheias de citações de philósophos de verdade. Bem, esse tipo não vai criar o teu filho, não vai corrigi-lo e tampouco visita-lo na cadeia. A vida real, a que funciona, a prática que testa todas as teorias me provou o contrário, a mim e aos professores, profissionais de saúde mental e assistência social com os quais lido. Crianças precisam de carinho, muito carinho, muito colo, muito chamego e brincar de montão, de preferência com os pais e parentes juntos, isso estreita os laços e reduz a sedução dos brinquedos. Mas crianças também precisam de limites, de aprender a assumir actos e responsabilidades, de se preparar para a vida adulta; é esta a função de uma brincadeira.

Quando teu filho tiver discernimento para escolher a roupa que quer, ele escolherá; quando puder pagar por ela, poderá ter a palavra final em todas. Até lá a decisão é dos pais. Pode parecer contramão, mas a liberdade sem critérios que as crianças recebem para escolher o que ganhar, não é verdadeiramente decidida por sua família, é mais imposição de consumo e comodidade ao abrir mão da responsabilidade familiar. Notaram que as propagandas de productos infantis há muitos anos não dão mais a mínima pelota para os pais? Senhora leitora e senhor leitor, quem paga as contas no fim do mês? Quem cuida de agendar escola, médico, compras e tudo mais? Mais uma vez eu digo: Criança precisa aprender a valorizar o trabalho dos pais, a hierarquia interna da casa, as regras internas da casa, porque o mundo lá fora não vai perguntar se eles aprenderam, vai coloca-los directo na linha de produção e punir ao menor deslize. Sofri bullying durante a vida inteira e sei que agressão é sempre reprovável, mas os pais devem ter sangue frio para punir o filho quando se fizer necessário, de preferência no acto da transgressão. Evite-se que seja em público e se dêem o direito de chorarem pelo feito depois, longe dos olhos deles. Se vocês não sabem a diferença entre corrigir e agredir, desculpem-me, mas não estão devidamente preparados para criar um cidadão, contentem-se em ser tios, porque a polícia, meus amigos, bate muito mais forte e com muito mais vontade do que qualquer pai; excetuando-se os trogloditas que deveriam ser esterilizados ainda na puberdade.

Vocês não têm religião? Então acostumem as crianças a freqüentarem lugares calmos e propícios à reflexão com vocês, como o zoológico ou um parque. Eles precisam se acostumar a fazer concessões, como ir a lugares “chatos”, com a família. Quem aprende a fazer concessões desde cedo, aprende também a digerir frustrações e contrariedades que são comuns à rotina de um adulto. Mas depois leve a molecada para se divertir, tem dó! Se tiverem religião, então levem seus filhos consigo à igreja, sinagoga, mesquita, templo, o que for. O caminho que quiserem seguir depois será com eles, a base social já estará formada.

Finalmente: Não minta para as crianças. O que não puderem falar-lhes sem ajuda, peçam que esperem para procurar a resposta e busque quem possa socorrer. Se for algo que não possam compreender no momento, peça ajuda de gente profissional e experiente, mas não minta. A mentira é a filha mais promíscua da corrupção.

03/08/2011

Menina oitentinha

Hello! I'm be back!
Depois de tantos textos densos, sobre assuntos pesados e desagradáveis, hoje tenho algo mais leve e aprazível para falar.

Ontem, no início na noite, tive uma raríssima boa surpresa dentro de um ônibus. No caso, um caio Apache Vip cheio de remendos e com a transmissão roncando feito uma porca prenha.

A certa altura da viagem, ainda em Campinas, entrou uma menina que me chamou a atenção, até então polarizada em meus devaneios; me dou o direito de chamar de "menina" qualquer uma com idade para ser minha filha. Baixa estatura, bonita de rosto, corpo bem recheado e esculpido, sem qualquer excesso, o estilo que adoptou é que fez a diferença. Usava uma blusa sem mangas, em um azul-teal meio escuro, com cinto largo e mini saia de couro, as sandálias eram rasteiras. A beleza harmônica da idumentária que marcava a cintura não parecia merecer a atenção dos demais, com o cós alto e a gola "quase princesa", digamos, uma "gola baronesa". Tudo bem porporcionado, ela parecia ter a estatura que tem, nem mais baixa, nem mais alta, a roupa a deixou com proporções perfeitas. E sim, a saia era bem curta, mas com boa margem de segurança, afinal ela anda de ônibus, não em carro próprio. Era uma lição visual de elegância básica: barra sobe, salto desce. Embora curta, a saia não se movia, não subia, estava confortável, apesar de bem acomodada no corpo. O que vemos por aí, pelo contrário, é algo tão esvoaçante quanto curto, tornando perigosa qualquer brisa, ou tão justa quanto curta, obrigando a puxar a barra para baixo a cada dois passos.

A postura era nobre, discreta, com a coluna erecta e tentando se segurar naqueles canos de alumínio, até que surgiu uma vaga para se sentar. Eu tinha sacolas pesadas, mas havia uma vaga ao meu lado. Ela, porém, com a prudência que poucas de sua idade têm hoje, preferiu não ficar presa no assento interno com um estranho acompanhando.

O rosto da menina completava a cena com competência. Quadrado e bem corado, nem claro e nem escuro, com uma maquiagem similar ao pó-de-arroz roseando maçãs e um batom em vermelho bonito, mas discreto. Os cabelos em tom castanho estavam encaracolados em toda a sua extensão, cheios, densos, brilhantes, emolduranto aquele olhar tranqüilo de quem sabe ainda ter muito tempo para fazer seu pé de meia.
Tive o cuidado de ser discreto, olhei por poucos segundos, mas foi o suficiente para notar o quanto aquela figurinha delicada destoa da agressividade compulsória que reina neste triste início de século. Ela sentou-se logo atrás de mim.

Em pouco mais de um quilômetro apareceu um amigo para fazer-lhe companhia, então, pela voz, percebi que se trata realmente de uma menina. Mas pelo teor da conversa, seria uma mulher jovem. Eles falavam de estudos e trabalho, ela relatando as experiências que já teve em seus empregos, e que estava procurando um novo há dois meses. A fala era calma, mas animada, pois no meio do tema "trabalho" vinha também o "folga e lazer".

Não só isso, também me encantou a beleza de sua fala. O tempo, o número, o gênero e a pessoa eram conjugados com naturalidade e correção. Ela não relaxou o vocábulo, embora termos coloquiais estivessem presentes, por estar em um ônibus. Ao contrário da cartilha medonha do governo, defendida por teóricos de ar-condicionado, o plural saía com uma facilidade fascinante, sem aglutinações bizarras, nem neologismos estéreis que só o grupinho fechado conhece. Percebi tratar-se de uma menina com responsabilidades assumidas desde cedo, sem muito tempo para dedicar a facilidades de baixo ventre que fazem tanto sucesso.
Quase no ponto em frente à rodoviária, pela janela, vi um exemplo oposto. Com o namorado, outra menina de cabelos lisos usava um traje de saia não mais curta que o da outra, mas de tecido fino e esvoaçante, calçando saltos tão altos que parecia estar na ponta dos pés. Andar por aquelas bandas de salto alto já é uma incoerência, com aquela barra então... Deu a impresão de que ele estava desfilando com ela, porque o tempo que a menina parece ter tomado se arrumanto, ele tomou se desleixando.

Enfim, aquela menina era a personificação do que havia de melhor nos anos oitenta. O modo de falar deixou às claras que aquela atitude não era uma obrigação, porque já me doeram os ouvidos falas de moças bem uniformizadas que tinham bolor de sobra. Não foi o caso, a bela viola tocou acordes dignos de sua aparência jovial e aprazível.
A menina parecia uma boneca, mas não uma boneca de louça sintética, dessas mais artificiais do que o plástico que lhes origina. Uma boneca para o dia-a-dia, sem afetações e disposta a enfrentar o mundo, como parecia já fazer há bastante tempo.

Descemos no mesmo ponto, mas fomos para direções opostas. Me peguei perguntando quantas crianças mais tomam aquela postura, porque não se tratava apenas de um estilo vintage, como a roupa, mas toda ela era vintage na melhor acepção da palavra. Deve haver mais gente com esse grau de civilidade e maturidade por aí, não é possível que não haja.

Mais cousas agradáveis aconteceram nas poucas horas de que eu dispunha para aquela noite, mas elas não vêm ao caso. Vem o facto de um fio de esperança, que estava quase se rompendo pelo excesso de esforços, ter recebido a primeira camadinha de verniz em muitos anos, senão pela primeira vez.