22/09/2014

Desabafo palmeirense

Motivo a mais para o Kanangô surtar e trocar de esporte

Este time é o Palmeiras
Que vergonha faz passar
Os times que a outros goleiam
Não goleiam como lá

É cheio de estrelas
Todas sentindo dores
Ou a pipoca é vendida
Ou só dão dissabores

Vão baladar sozinhos à noite
Para ao  treino se atrasar
Jogadores do Palmeiras
Que vergonha faz passar

Seu passado tem primores
Que já não encontra por cá
Me revoltar, sozinho, à noite
Pelos frangos a entrar
Este time é o Palmeiras
Que vergonha faz passar

Hoje digo adeus, que morra
Não vou mais me envergonhar
Superbowl tem mais primores
Que já não há por cá
Já desisti desse Palmeiras
Que vergonha faz passar

03/09/2014

Psicologia da tristeza por três belas

Choquei vocês? Oh, que coisa... Maravilhosa!

  Fui involuntariamente inserido na conversa entre duas amigas e a filha de uma delas, as três são
psicólogas experimentadas, bem preparadas e as três já viram cair por terra todas a teorias que transformam em coitadinho, qualquer um com um problema sério. Assevero que eu seria um coitadinho de elite, se tivesse me deixado seduzir por isso.

  A conversa girava no tema "desagregação familiar e suas conseqüências". Para quem espera um discurso de fariseus fiscais de bunda, pode esquecer, a coisa foi séria. De lá eu conclui que teremos uma década tenebrosa pela frente, antes de 2025 a humanidade não começa a dar sinais de civilização. O ponto de entroncamento foi a completa falta de criação das crianças de hoje. E não é papo de gente alienada ou saudosista, eu já disse que se trata de um trio de psicólogas muito competentes.

  A mais menina, filha de uma das moças, tocou no assunto de crianças que se tornaram o depósito de desesperos da família. Gente que se apega a um problema ou característica "diferente" de um filho e nesta característica, colocando na criança todo o peso do mundo, ancora todos os problemas que todos os outros enfrentam. O problema é sempre culpa dele, nunca nosso. O caso de um pai que queria que a mais menina das três corrigisse a fala demasiadamente caipira do filho. O problema apareceu quando ela foi falar com esse pai: Chapelão de coronel do interior, olhar soberbo, jeitão de caipira, um gosto arrebatado pelo erre gutural, gestos e tiques de quem se acha o macho alpha da humanidade, enfim... O menino só fazia reproduzir em escala minúscula o que via em casa.

  Noutro "parágrafo verbal" foi o caso de uma adolescente de quinze anos que falava à psicóloga, com jeito de quem exibe um troféu, que fumava maconha, dava para todo mundo e até já tinha abortado, como se dissesse que isso a tornava uma mulher antenada e independente. Essa amiga deu a entender que quase disse "Pena que sua mãe não fez o mesmo". Quando foi falar com os genitores da criatura, foi fácil perceber que a revista Caras sabia mais da fedelha do que a própria mãe, muito mais preocupada em tirar selfies na academia e fiscalizar bunda alheia.

  Os pais estão cada dia mais despreparados, geando filhos ainda mais despreparados do que eles. Ninguém mais repassa aos rebentos suas experiências de vida e seus aprendizados, geralmente porque a maioria passa pela juventude focando apenas o próprio prazer a despeito do que possa custar a terceiros, e assim não aprende absolutamente nada. Quando criam, esperam que o bebê seja um bonequinho com botão de liga e desliga, especialmente para o choro. Quando o petiz aprende a andar, enfiam logo e o mais cedo possível em uma escola para esta cuidar de toda a sua formação. Quando há uma reunião de família ou algo parecido, tratam de se livrar da prole ao menor sinal de problemas, quase sempre com dinheiro ou bens.

  Apesar das poucas e pontuais discordâncias, as três concordavam que falta limites aos adolescentes. Mesmo sem saudosismos nem idealizações, eu as conheço e posso afirmar que elas não têm, afirmaram que essa geração não tem uma figura decente de referência para se espelhar. Para quem nunca lidou de verdade com adolescentes violentos, vou contar uma coisa rapidinho, eles gostam de agredir. Não tem absolutamente nada a ver com  classe social ou revolta seja pelo que for, eles gostam de intimidar e bancar os reis do pedaço. Especialmente quando estão em grupo, eles não dão a mínima para argumentos, só entendem a linguagem da demonstração consistente de poder, como é comum nos povos do oriente médio. Depois de intimidados, então sim eles aceitam raciocinar, antes disso vão te testar até saírem rindo do teu desespero. Falo por experiência própria, precisei ser o cara malvado para impor respeito.
  Adolescentes são naturalmente territorialistas, e se não tiverem limites podem acreditar que qualquer lugar em que estejam é seu território, inclusive a sua casa, caro leitor.

  Voltando à noite de ontem... Não são só os adolescentes que agem assim. Eles ficaram assim porque assim lhes foi permitido ser durante toda a infância, e na fase adulta eles tendem a permanecer assim. Eles vão brincar de ser homens sérios, brincar de trabalhar duro, brincar de ser cidadãos repeitáveis, mas na primeira oportunidade a brincadeira vai descambar para a agressão a algo ou alguém, seja uma coisa, um grupo, uma entidade ou uma pessoa; tanto melhor quanto mais indefesa parecer. Se houver um canalha se aproveitando da fé alheia para tacar lenha da fogueira, então eles se sentem no dever de fazer isso, mas como é uma brincadeira eles não sentirão o menor remorso pela dor e pela perda causadas.

  O ponto vicinal desse jorro de energias travosas, pela conclusão informal, é a vontade de se poupar de todo e qualquer desconforto a qualquer preço. Sentiu uma dorzinha mínima de cabeça? Larga tudo, atravessa a cidade se for necessário para tomar um analgésico, e compra logo uma caixa para beliscar ao longo do dia, porque vai que a dor só está escondida, é preciso prevenir e se isolar da mais remota possibilidade de contacto.

  Acontece, cari leitori, que a dor e a frustração, em doses moderadas, são pedras do alicerce da personalidade de um adulto MINIMAMENTE saudável. As pessoas estão aprendendo desde a mais tenra infância a boicotar desconfortos que lhes seriam úteis na vida adulta, apelando para todo tipo de fuga; drogas lícitas e ilícitas incluindo medicamentos tarjados, sexo sem critério, fanatismo religioso, violência gratuita, humilhação de terceiros e muitas outras. As pessoas estão fugindo de si mesmas para não terem que ver seus reflexos de mortais no espelho, quando esperam ver um integrante de elite do Olimpo. Basicamente é isso.

  Não foi só um, foram vários casos relatados de homens barbados que foram mimados por suas mães e esperavam que as esposas fizessem o mesmo. Eles sonhavam com famílias perfeitas e pediram divórcio porque a criança nasceu com autismo. Alguns só faltavam pedir que as esposas os amamentassem. É daí que nasce a figura da sogra megera, que estraga o rebento e acha que a nora o está deixando passar fome, frio e se esquecendo de trocar suas fraldas.

  Houve casos de adolescentes que pensavam ser homossexuais, simplesmente porque nasceram com algum problema na genital, seus pais JAMAIS aceitaram tocar no assunto e quando entraram na adolescência, acreditavam que aquele problema as tornava homossexuais. Umas sessões de psicologia, uma cirurgia e o equívoco era resolvido. Não, não se trata do adestramento que realmente é a tal "cura gay", se trata de gente que realmente sentiu falta da orientação familiar e precisou pagar por uma terapia para recebê-la. Só que os pais nunca assumem sua cota de responsabilidade.

  As pessoas estão se envergonhando de ver seus filhos, mesmo que ainda estejam na primeira infância, se comportarem como crianças. Se esquecem de que um corpo precoce não significa uma mentalidade precoce. Dar roupinhas de crianças, brinquedos fofos de crianças, lanches de crianças e um ambiente próprio para crianças, ajuda a evitar a erotização precoce, que é tão inútil quanto nociva à formação do indivíduo. A menina está com cinturinha, peitinho e bumbum bem marcados? Que lindo! Aproveite enquanto ela é uma criança e ensine a controlar essa máquina linda que ela veste, porque em breve ela vai precisar controlar os efeitos dos hormônios mais cedo do que vocês imaginam.

  Isso pode ser chocante, mas também falaram dos índices altíssimos de suicídio infanto juvenil que a imprensa simplesmente se recusa a divulgar. Seria um escândalo, jogaria nas caras das famílias o completo fracasso de suas formações. Jogaria na cara do poder público uma despesa que ele prefere que o público não conheça para não cobrar. Jogaria na cara de ideologistas a fraude que são suas teorias de deixar todo mundo fazer o que quiser do jeito que quiser. Jogaria na cara dos fiscais de moral alheia a inutilidade de querer limpar manchas que não sejam de sua própria personalidade. A realidade, meus caros, é mais baranga do que a photo no perfil sugere, ao vivo não tem photoshop.

  A desagregação familiar, explicaram, tem uma das bases a reprodução utilitária. A criança será gerada para um fim e poderá até ser descartada se esse fim não for atingido. Pode ser prender o homem, prender a mulher em casa, chantagear alguém, fazer o filho realizar os sonhos que os pais não conseguiram, enfim... Gente que ama o que gostaria que o filho fosse, a pessoa desse filho é apenas uma ferramenta para conseguir o objectivo. Parece até um curso intensivo de política brasileira!

  Da mesma forma, a criança cresce acreditando que as pessoas ao seu redor também são apenas meios para seus fins, e fazer-se de vítima é a forma mais eficaz se manipular alguém sem que esse alguém perceba a manipulação. é um círculo vicioso que poucas famílias conseguem evitar, menos ainda as que conseguem quebrar, mas elas existem, embora sejam estatisticamente insignificantes. A regra é as pessoas usarem de qualquer expediente para maquiar ou resolver pela metade o que lhes incomoda, o que inclui usar discursos politizados inflamados como aquela menina que abortou para não arcar com a conseqüência de ter se descuidado; incomodou, elimine-se! Sem essa de enfrentar as regras da realidade, que ela não convém.

  Eu poderia ficar aqui durante a noite inteira, discorrendo sobre o que foi conversado, mas preciso dormir e acordar cedo para trabalhar, então vou concluir este catatau...

  Um ponto interessante foi a narrativa de uma mãe e um pai indignados. Ela quase foi vítima de uma sucessão de mentiras da filha, na escola. Em um acto de desespero, na sala da psicologia, tirou seu chinelo do pé e encheu a menina com as marcas da estampa do solado. A fedelha não chorou, para fingir que não doeu, mas nunca mais fez aquilo. Foi uma cena desagradável para as três, mas quem tiver idéia melhor que a ponha em prática e depois me conte.

  O pai em questão foi denunciado pelo filho por ter lhe dado UMA cintada. O conselho tutelar foi tirar satisfações e o moleque já exibia um sorriso de triunfo, quando o homem o mandou pegar suas coisas e ir embora com eles. Os conselheiros tentaram passar a conversa mas foram calados, pois naquela casa era ele quem mandava, sustentava e dava as regras. Ele sabia o que o garoto tinha feito, se envolvido com marginais, então se não pudesse corrigí-lo que ficassem com a responsabilidade. Preciso dizer que o fedelho nunca mais repetiu a façanha e os bocós nunca mais entraram naquela casa?

  Disciplina, limites e hierarquia, meus queridos, existem até entre os animais. Onde há mais de um, as três precisam coexistir. Quem não quiser saber delas que se isole em uma caverna inacessível, porque vai sofrer muitas frustrações.