12/08/2021

Sem surdina e sem vergonha!

 


Não foi uma, duas, três… foram inúmeras vezes ao longo de muitos anos que ouvi falar de controle da poluição sonora em Goiânia, no fim da década passada chegaram a fazer barulho e parecia que daria em algo, mas foi só mais barulho mesmo… como se não tivéssemos o bastante! Antes que comecem a queimar motocicletas e expulsar seus fabricantes do país, um esclarecimento: Quando uma motocicleta sai da fábrica, o nível de ruído é relativamente baixo a ponto de permitir até ouvir o funcionamento da corrente, especialmente em média velocidade. Há casos em que uma moto original nem é percebida pelo pedestre e o condutor precisa acionar aquela buzininha estridente. Apesar de atrasadas em relação aos carros, motocicletas são submetidas a restrições cada vez mais severas de emissões de gases e ruídos, a ponto de até nelas o carburador estar com os dias contados, ainda assim todas já saem de fábrica com catalisador, que em si já restringe a passagem dos gases e reduz o nível de ruído. Em resumo, todas elas saem de fábrica já adequadas ao sacro direito de repouso de estudantes e trabalhadores. Sem exceção, desde a espartana Honda Pop até a luxuosa Gold Wing, até mesmo as genéricas chinesas que usam peças de motos nacionais fora de linha, o fabricante faz a sua parte; quando a moto sai da concessionária é que complica.

 

Para tornar uma motocicleta mais ruidosa, basta remover catalisador e o silencioso, mas isso não pode ser feito apenas cortando o escapamento, ficaria visível a grandes distâncias e os fiscais perceberiam mesmo com o veículo parado, então é preciso levar a uma oficina, quase sempre boca-de-porco, remover os miolos e remontar as carcaças. Pronto, o imbecil tem um veículo com aparência original de moto moderna, mas nível de ruído de fazer inveja às Yamahas envenenadas dos anos 1980. Existem escapamentos esportivos que prometem algum ganho real de potência, quase sempre irrisório para peças que não são baratas, as mais caras chegam a custar o mesmo que uma motocicleta de entrada e mesmo assim não fazem nada de relevante quando sozinhas, mas o aumento do nível de ruído é bem perceptível, especialmente em altas rotações. Aborrece a maioria, mas mesmo com essa artimanha cara ainda pode ser tolerável. Preparar um motor não é para amadores e não é barato; e filtro “esportivo” não é veneno! Basicamente é preciso preparar o motor para trabalhar com os novos limites, e nos modernos isso inclui retrabalhar o módulo da injeção, geralmente sem garantias de que a máquina vai suportar a nova carga de trabalho… e sem garantias de que vai passar na vistoria do Detran.

 

O que os malas fazem é algo bem mais simples e danoso, simplesmente retiram os miolos do escapamento, para combinar com o vazio de seus crânios, e trocam a injeção por um carburador para eliminar o limite de rotações. Eles sabem que a moto será levada para o pátio assim que caírem em uma blitz, mas os vidas-loucas só pensam no prejuízo quando vem a cobrança, e tentam passá-la para terceiros. A receita é simples: um carburador, que simplesmente fornece ar e combustível sem medir nem controlar nada, uma admissão mais aberta e escapamento sem restrições. Assim uma motocicleta que saiu de fábrica mais silenciosa do que as Kombis carburadas, fica mais ruidosa do que um Boeing 737 em procedimento de decolagem. A intenção não é se divertir com o som metálico e puro de um motor a 10000RPM, a diversão é justamente arruinar o necessário descanso do máximo possível de pessoas, porque esses lixos acelerados são ouvidos literalmente a mais de um quilômetro. Piora o facto de eles usarem marchas mais baixas para precisarem manter aceleração máxima a fim de desenvolver alguma velocidade, demorando mais tempo em cada trecho da cidade e atormentando mais pessoas com mais intensidade por períodos maiores. Poderiam estar a mais de 150km/h, mas estão a um terço disso e a população útil paga o preço.

 

Justamente por nada disso ser barato eles costumam usar essas mesmas motos como ferramentas de trabalho, nem sempre é TRABALHO, mas vamos só a este. Uma artimanha para admissão em empresas mais exigentes é pegar o escapamento de uma moto legal na hora da vistoria ou entrevista, troca desfeita assim que consegue a vaga. Por isso nem sempre ser possível e por haver demanda crescente e descriteriosa, a maioria trabalha por conta própria não como motociclistas, mas como cachorros loucos, costurando o trânsito em marcha baixa e alta rotação, dando de ombros para a segurança e o patrimônio de terceiros, destruindo retrovisores (cada dia mais complexos e caros) sem cerimônia e sem o menor remorso, ainda que aquele seja um carro de aplicativo, de que seu motorista depende para levar comida para casa, mas sem retrovisor ele não pode circular. Importando-se unicamente com o próprio prazer, destrói a motocicleta por uso abusivo por quase sempre saber como conseguir outra fácil por meios tortos. Em muitos casos porque o “papaaaaai” passa o cartão e ele tira uma nova da loja no mesmo dia, mas esse estrume de classe alta é assunto para frente. Por causa do estrume pobre os trabalhadores de verdade ganham má fama. Sim, é comum o cidadão precisar comprar uma motocicleta surrada para trabalhar, mas NEM DE LONGE uma moto mal conservada faz o ruído de uma deliberadamente modificada.

 

Já conversei com empresários que usam serviços de entregas e eles me descreveram seu pesadelo com esses tipos. Eles fazem questão de estragar a motocicleta e, quando indagados, soltam gargalhadas abobalhadas, que se convertem em prantos de arrependimentos crocodilianos assim que recebem o cartão azul. A descrição que me fizeram, e que soam grego aos leigos, vão desde garfos zero quilômetro completamente tortos ou trincados a rodas zero quilômetro empenadas como se fossem acidentadas. Quando vão investigar as numerosas multas que chegam, dão graças a Deus por a Polícia Federal não ter batido à porta. Até sugeri que lhes dessem motos eléctricas de baixa potência e aspecto mais feminino, mas eles reiteraram que esses cachorros loucos não dão a mínima, demonstram ter prazer em destruir patrimônio alheio, e seria também por isso que eles não fornecem mais motocicletas, contractam já exigindo veículo próprio para que o prejuízo vá para o bolso de seu causador; à parte os patifes que realmente esfolam o trabalhador, a maioria não fornece a motocicleta porque não quer riscos desnecessários. Bons tempos em que frotas de Fusquinhas com a propaganda da empresa faziam as entregas… mas um Fusca de firma não costura o trânsito com tanta facilidade e não encantaria adolescentes descerebradas sem limites, elas são parte das motivações, o sexo fácil e sem regras fomenta muito esse comportamento nocivo.

 

Claro que a indolência crescente e o padrão de exigência típico de novos-ricos se alastrando por toda a sociedade, tanto quanto o mau gosto generalizado inerente, faz com que o consumidor contemporâneo não se importe com os meios usados para a entrega ser feita, quer tudo na hora e com preço promocional! É o pretexto perfeito para o cachorro louco, e o pesadelo perfeito para quem realmente quer trabalhar direito. É facto que quem trabalha direito preferiria comprar um Mille 1998 para fazer suas entregas, com mais segurança e conforto do que qualquer motocicleta é capaz de oferecer, mas com esse trânsito moribundo simplesmente não dá. Antes de virem falar em custos, façam as contas. O baixo consumo de uma motocicleta se dá em razão da relativa baixa carga de trabalho do motor, que foi pensado para girar rápido e entregar boas porções de força em uma gama ampla de velocidades, se um imbecil decidir abusar dela, principalmente com modificações absurdas, essa vantagem desaparece e a balança pende paulatinamente para o Mille, que com seu motor muito maior pode pegar muitas entregas de uma só vez e cobrir uma área muito grande em uma única viagem, sem expor o entregador a intempéries e abordagens escusas… ou poderia, se prefeitos e vereadores ainda morassem nas cidades de que deveriam cuidar, mas moram em condomínios fechados e muitas vezes nem andam de carro. A película de asfalto aspergida em algumas ruas de Goiânia, por falar nisso, já está cheio de buracos.

 

Antes de algum idiota útil vir com discursos acerca de situações que não conhece, e seus filósofos de estimação menos ainda, eu lidei e de vez em quando ainda lido com esses tipos. Desde meados dos anos 1980 que o declínio das relações familiares (sim, se não quiser ouvir a outra metade da história, dê licença) vem causando ou incrementando esses estragos. Com garotos se casando ou simplesmente “ficando” cedo demais, às vezes antes da maioridade, sem ter aprendido praticamente nada com seus pais, que talvez pouco tivessem aprendido com os deles, tendo que aprender de modo torto as noções de limite que o mundo exterior dá com rudeza; por não ter recebido limites em casa, em vez de meditar a respeito das lições, muitas vezes se revolta por tê-las recebido e acha que por isso ninguém o ama, ninguém o quer, ninguém o chama de Alô Doçura. Nesses mais de trinta anos que eu acompanhei com atenção, cerca de quatro gerações nasceram e cresceram achando que o mundo inteiro lhes deve satisfações e proventos, com a mídia dando suporte a essa mentalidade umbilical. Não, nem todos se corromperam e nem todos os que se sentiram lesados pagaram a terceiros na mesma moeda, mas os que o fizeram eram numerosos e barulhentos o suficiente para causar o estrago, e choraram alto o bastante para atrair as lentes piedosas das câmeras de televisão, comportamento repassado à posteridade putrefata que temos hoje. O assassino passou a ser visto como vítima e sua vítima como apenas um número a servir de palanque eleitoral para direita e esquerda, dando-se ombros à família desamparada, retroalimentando o ciclo maldito.

 

Some-se a isso a fiscalização porcamente feita e meramente punitiva, quase unicamente para arrecadar com multas e taxas de liberação, penalizando quase sempre só o veículo, deixando o meliante livre para arranjar outro e voltar a fazer caca sonora pela cidade. O resultado são os pátios cheios de veículos aproveitáveis amarrados numa burocracia aleatória, obesa e burra, feita por quem não diferencia um disco de freio de um volante, apodrecendo às intempéries, enquanto o cretino está livre para barbarizar. Nem adianta tentar reter a habilitação, eles dirigem mesmo sem ela, às vezes sem jamais terem entrado em um CFC; outra coisa burra que inventaram, porque não atenuou em absolutamente nada a periculosidade do trânsito. Isso vale tanto para os imbecis que pensam que não têm nada a perder quanto para os cretinos que pensam que não têm nada a temer, as leis da física cobram caro para ensinar que estão errados. Quanto ao segundo grupo de amebas com nomes em colunas sociais, cito o caso de um filho de um certo ministro do Fernando Chilique Maldoso, que atropelou e matou por dirigir como louco em Brasília. Por ser menor de idade à época, não tinha habilitação. O que aconteceu bem pouco tempo depois? A porcaria da ECA foi posta em prática! Não defende as crianças de gente realmente ruim e nenhum dos ladradores que a defendem encara um traficante que abusar delas, mas as deixa completamente imunes às responsabilidades com que teriam que arcar, ainda que dentro de sua capacidade cognitiva e de resposta, mesmo que matem a sangue frio, para livrar o mandante do crime de uma acusação… isso quando o ilícito não se dá por vingança pessoal, o que para uma criança pode ser ABSOLUTAMENTE qualquer coisa, mesmo uma contrariedade rotineira.

 

Não foi para defender crianças e adolescentes que essa porcaria foi inventada, foi para dar imunidade aos filhos deles, os que a formularam e aprovaram! O alastramento e agravamento das tensões sociais e de segurança pública não são importantes para eles, não até fazerem discursos para angariar votos do eleitorado desesperado. O resultado é que qualquer besta de classe média que faz consórcio de Hilux passou a se achar parte da casta de intocáveis de Brasília, se vendo no direito de usufruir de uma imunidade que não tem e se achando à prova de balas. Chamar essa trolha precariamente alphabetizada de “elite” é ofender a própria língua portuguesa! Mesmo os que têm recursos para tanto, dificilmente merecem o termo, quando muito estudam para passar e esquecem tudo no dia seguinte. Infelizmente, porém, é nela que a juventude se espelha, gente com muita titularidade ou cobertura midiática e nenhum conteúdo.

 

Esquecendo-se de que as balas são supersônicas, ou talvez não sabendo pois o diploma foi comprado, os biltres mimados aceleram brutalmente no meio do trânsito e não raro desafiam a polícia em suas ruidosas, disformes, cafonas e horrorosas motocicletas, chorando na delegacia e fazendo ameaças quando são submetidos à lei da ação e reação. Então vem advogado que inventa argumento para transformar vítima de pedofilia em réu, papai endinheirado e corrompido ameaçando expulsar todo mundo da corporação, depois o imbecil faz vídeos mostrando o quanto foi injustiçado e prometendo sair do país (quem dera) para sempre, enfim! Fazem tudo o que JAMAIS fariam contra um traficante, cuja lei é a do velho oeste. Então vem um pé rapado encantado com a glamorização do crime e a criminalização da polícia, decide que se o descerebrado com dinheiro pode, um descerebrado ferrado também pode, arranja uma motocicleta mais torta do que sua própria fama e pronto! O descerebrado com dinheiro vê o descerebrado pobre obrando pela cidade e decide que pode mais do que ele, então em vez de simplesmente pôr a vida alheia em risco, a ceifa em um vídeo ao vivo. Aí sim, cumpre a promessa de ir embora do país antes que um flagrante possa acontecer. O descerebrado ferrado então tenta sentir o mesmo nível de adrenalina e se lasca, porque não tem dinheiro nem para a passagem de ônibus, que dirá sair do país! Mas vira herói de debilóides.

 

E com esses paradigmas o comportamento de símios no cio se intensifica, com o Estado se limitando a arrecadar com multas e taxas, sem a mais remota intenção de resolver o problema e perder essa fonte de renda, que não sei para onde vai, mas não é para as ruas da cidade. Solução? Infelizmente não vejo sinal de uma pacífica, embora não queira conflito armado, posto que quem fez o estrago são justo quem faz a lei e quem deveria executá-la, este aliás dá os piores exemplos possíveis. Filho de desembargador, por exemplo, tornou-se imune à lei, quem tentar prendê-lo recebe voz de prisão. Não precisa pensar muito para se dar conta de que além da arrecadação com multas e taxas aleatórias, o facto de os filhos mimados deles fazerem isso inibe qualquer ação efetiva para resolver o problema. É também pela sensação de impunidade que a saúde pública é corroída pela poluição sonora que, por lei, jamais deveria acontecer, mas no Brasil leis são feitas para anularem outras leis que continuam em vigor. Infelizmente foi-se o tempo em que crianças mimadas eram coisas de rico, agora temos desde os anos 1990 pobres mimados também, cuja indumentária grotesca dá subliminarmente o tom de ameaça a quem tentar limitar seus prazeres, combinando com o que fazem com as motocicletas e nelas com a sanidade pública. Em ambos os casos os parasitas sociais correm para suas famílias ou suas turmas, quando a força policial, que é o que impõe respeito à lei e não o nariz empinado de um magistrado arrogante, está em seu encalço.

 

Eu bem poderia aqui incentivar à desobediência civil, incitar a população a fazer justiça com as próprias mãos, dizer que uma parede de caminhões que apareça repentinamente na contramão não daria tempo para essas zoonoses falantes desviarem e evitar serem colhidas pelos para-choques e pneus dos brutos, que jogar balões de água com acetona repentinamente os desnortearia e os meteria em acidentes que poderiam ser fatais, não, eu não vou fazer isso… e nem precisaria. A confiança nas instituições já está no solo, é pouca coisa para se dar um abalo sísmico e nem a “força nacional” inventada pelo pior deles dar conta da revolta, então não haverá desembargador satânico arrogante que gosta de dar voz de prisão a policiais, todos vão simplesmente se esconder como os covardes que realmente são e apenas assistir à lei de Talião ser posta em prática por quem foi posto de lado pelos que interpretam a lei ao seu bel prazer… na verdade isso já acontece aqui e acolá, pontualmente, em rincões onde a pessoalidade ainda permeia relações comerciais e burocráticas. Porque o CPF não chora, o RG não se ofende e o CNPJ não sofre, quem chora, se ofende e sofre é a pessoa que os porta, então para um cidadão indignado e abandonado pelo sistema é sim tudo pessoal. Mais pessoal do que o apego doentio daqueles idiotas de motocicletas pelos seus prazeres baixos.

 

Os que poderiam evitar isso, assim como eles, estão muito acomodados em sua zona de conforto dentro da bolha burocrática em que entraram, como uma casta superior. Aquilo que não lhes doer na pele não será resolvido, já que dentro das bolhas habitacionais em que vivem essas coisas não acontecem, violariam as regras do condomínio.

02/08/2021

Os carrinhos de bolso japoneses

 

Subarus 360 and Ascent

Para quem já conhece, os keijidosha são famosos e tradicionais kei cars japoneses, mas para quem não os conhece vou dar uma explicação didática. Imaginem nosso antigo e pequeno Uno Mille com seus cerca de 3,6m de comprimento e não mais do que 1,57m de largura. Agora tirem 30cm do comprimento e 9cm da largura. É mais ou menos isso um kei car. Mas em vez do motor de 1000cm³, são permitidos no máximo 660cm³, que precisam de muita tecnologia e refinamento para conseguir potências aceitáveis, algo como um meio termo entre o motor de carro e o de motocicleta. E eles conseguem! Para um país com pouco espaço disponível, posto que seu território é extremamente recortado e montanhoso, onde muitas ruas medievais, feitas para dois pedestres em sentidos contrários trafegarem ainda existem, até mesmo o estreito 1,54cm de largura do Fusca passaria apertado; até Tóquio tem várias dessas ruas mesmo na região mais central. Assim como a escassez e alto custo do espaço horizontal, foi justo da necessidade de economia que nasceram os keijidoshas logo após o tratado de paz pós-guerra, na época as restrições de dimensões externas e tamanho dos motores eram ainda maiores! No máximo 150cm³ para motores quatro tempos e 100cm³ para dois tempos, a cilindrada de uma motocicleta pequena! Mas para as necessidades da época, em que japoneses carregavam esposa e filhos em motocicletas, estava óptimo! Essa restrição durou de 1949 até 1955, porque os gênios estatais se deram conta de que isso simplesmente NÃO FUNCIONAVA! Ainda mais com 2,8m de comprimento e 1m de largura máximos… simplesmente não funciona, assim como os carros bolha europeus como a nossa Romi Isetta simplesmente não vingaram quando perderam os incentivos fiscais. Se descontar a espessura das paredes do carro, por menores que sejam, sobravam uns 80 ou 85cm para os ocupantes se espremerem. Até as placas pra kei cars são específicas, amarelas para os de passeio e pretas para os utilitários.

 

Mazda R360 coupé 1960

Aqui tem um adendo: quando falo de “economia”, é sério! O Japão tinha contraído um empréstimo com os americanos para a reconstrução do país e queria se livrar da dívida o quanto antes! Evitar evasão de divisas fazia compensar o custo dos subsídios naquele momento, esses fatores tornaram o protecionismo japonês uma necessidade maior do que uma mera questão econômica, era questão de sobrevivência! Só se importava o que era essencial e de modo algum poderia ser produzido por uma empresa nacional, naquele momento. Eles trabalhavam basicamente em função de exportar, para isso o padrão de qualidade dos artigos industrializados foi para a estratosfera, um nível que ainda hoje é raro de se encontrar no Brasil. No final das contas, o vencedor da guerra foi o único a realmente dar a mão a quem se rendeu, os japoneses não se esqueceram disso.

 




                Embora esses motorzinhos de motocicleta bastassem para os 40km/h de limite das áreas urbanas, a coisa complicava muito quando o carro estava carregado e precisava enfrentar os íngremes aclives que recheiam a paisagem japonesa, então as motocicletas com a mesmíssima potência e umas centenas de quilos a menos os ultrapassavam com facilidade. De 1956 até 1975 os limites cresceram para realistas 360cm³, que tiveram seu ápice nos 40cv do Daihatsu Fellow Max SS de 1970. Para eles era um muscle car da categoria! E hoje é disputado pelos colecionadores do gênero. As dimensões máximas subiam para 3m e 1,3m, o que já deixava dois adultos viajarem sem se espremerem e se esfregarem a cada manobra. Não se enganem, havia sim carros bem maiores, inclusive alguns imensos carros americanos, para que para os padrões japoneses pecavam na qualidade da montagem; eram robustos, confiáveis, podia-se guardar Tóquio inteira no porta-malas e ainda ter reserva de potência, mas a necessidade de ajustes e pequenos consertos simplesmente irritava o perfeccionismo nipônico. Aliás, fora isso, eles amam os gigantes americanos, mas a pressão sindical para não sobrecarregar os empregados americanos tira deles esse mercado precioso. O problema dos carros maiores era e ainda é a falta de incentivos que os kei cars têm, e são também o calcanhar de Aquiles dos pequeninos, falarei disso mais adiante.

 

Daihatsu Fellow Max Hardtop TL1972

De 1976 até 1990, com o crescente poder aquisitivo e nível de exigência do consumidor local, os encantos dos 360cm³ desvaneceram e foi necessário aumentar para 550cm³ o limite fiscal para incentivos, as dimensões cresceram para 3,2m de comprimento e 1,4 de largura, em 1990 aumentaram para 3,3m, possivelmente por questões de segurança passiva. Isso é pouco mais do que meio motor de um popular no Brasil, mas ainda assim eles tiraram leite de pedra para que as novas motocicletas e os compactos de categoria acima não parecessem mais atraentes, aquelas por questões de segurança e estes por questões políticas e espaciais. O problema não era tanto o desempenho, mas o acréscimo de itens de conforto, de segurança e os reforços estruturais necessários aos testes de colisão acrescentaram massa, exigindo mais do que 360 cilindradas poderiam oferecer com a tecnologia da época. Como podem imaginar, isso só piorou com o tempo. Com os novos limites aqueles 40cv podiam ser alcançados com motores mais mansos e dóceis, com mais torque (a grosso modo a força que o motor gera para produzir potência e poder mover o carro) em rotações mais lentas e mais facilidade para transpor os morros. Como não são burros, os fabricantes não limitaram os kei cars aos veículos de passeio, utilitários minúsculos fazem parte da paisagem japonesa, trafegando com relativa facilidade pelas ruas medievais que já citei. Com esses novos limites eles ficaram atraentes e economicamente viáveis para outros mercados, especialmente Europa e alguns países sul-americanos, destes se destacando o Chile. Fora o Brasil as normas automotivas na América do Sul são muito brandas, quando não inexistentes, e a necessidade de status do brasileiro pesa bastante contra. No caso dos americanos, um kei car precisaria ser extremamente barato para ser atraente, a ponto de concorrer com motocicletas grandes, mas fora do Japão fica muito difícil dar renúncias fiscais e, mesmo que as tivessem, precisariam crescer e ficar mais potentes para serem vistos como carros de verdade. Na Europa ainda se incentivam carros pequenos, mas a realidade do mundo está se distanciando cada vez mais do idealismo político e, como eu já disse, esses carrinhos estão sob ameaça iminente fora do Japão.

 

Honda N360 1966

Em 1990 o limite subiu para 660cm³, mas a potência líquida (medida descontando todos os acessórios movidos directamente pelo motor) foi limitada a 64cv. Os motivos de os burocratas estatais terem escolhido justo este número ainda são brumosos, mas os motivos de limitarem a potência líquida fiscal é que com a tecnologia da época, especialmente o refinamento dos turbos, esses 660cm³ podiam facilmente alcançar 100cv e equipar mini esportivos, que sendo tão leves e pequenos, desvirtuariam os princípios legais dos incentivos ao kei car. Basta ver as motocicletas esportivas, que com essa cilindrada vão fácil de 90cv a 120cv sem grandes artifício, até mais se forem topo de linha. Isso entretanto não impediu que o recheio tecnológico e as listas de opcionais transformassem esses carros em pequenas salas do trono, com muitos deles contando hoje com direção semiautônoma, algo que NENHUM carro topo feito no Brasil tem. Coisas que um burocrata, com sua visão turva e estreita não consegue enxergar. Mas manter uma potência máxima legal não é ruim assim, para esses carrinhos, a disponibilidade de torque pode ser trabalhada para torná-los mais ágeis e menos sensíveis à carga máxima, algo relativamente simples com a gigantesca electrônica que monitora seus motores. Em 1998 aumentaram os limites dos carros para 3,4m de comprimento e 1,48m de largura, mas os números dos motores permanecem inalterados.

 

Tentativa de entrar no mercado americano, justo no auge dos gigantes V8.

Vou falar rapidamente do lado B do kei car. O maior problema é que eles são reféns daquilo que os criou, se mantém interessantes ao consumidor porque têm não só vantagens fiscais como também permissão para pernoitar na rua, circular em vias com severa restrição de carga. No Japão a compra de um carro comum está vinculada legalmente à comprovação de que se tem uma garagem apropriada para as dimensões do veículo. Em um país onde o metro quadrado vale ouro, ter uma garagem pode ser um luxo na maioria das cidades. Já se cogitou a derrubada de incentivos porque as ruas de Tóquio estavam se transformando em estacionamentos de kei cars, quase que impossibilitando outros cidadãos de chegarem e estacionarem no local, ou mesmo o acesso de carros de resgate e polícia. Não bastasse isso, esses incentivos geram um rombo nos cofres públicos de um país que tem uma dívida de 2,3 vezes o seu PIB, o que torna o Japão o país mais endividado do mundo, agora imagine isso com uma população cada vez mais idosa e menos contribuinte, para quem o kei car já se tornou parte da cultura e simplesmente não abre mais mão dele; e “ai” do premier se cogitar tirar os subsídios! É uma armadilha que nasceu de uma idéia interessante, mas virou um atoleiro.

 

Honda Life 1973 também não vingou, nem com a crise do petróleo.

Como já escrevi aqui, as normas de emissões e segurança não permitem mais aquela doce diferença natural de preços entre um carrinho de vocação urbana e um sedã médio familiar. Reforços estruturais, centrais de monitoramento, atuadores, cinqüenta quilos ou mais de fiação, bolsas infláveis por todo o interior e mais a histeria ideológica patológica anticarros reinante, tudo isso praticamente nivela os custos. E não adianta sonhar com a simplicidade dos carros eléctricos, ela ainda é sobrepujada pelos altos custos e baixa densidade energética das baterias! Por hora, no mundo real, compra eléctrico que quer um eléctrico, e mesmo ele só vende tão bem porque tem facilidades e isenções fiscais. A única fabricante não japonesa de kei cars no Japão era a Smart, e sabemos que nunca foi muito bem das pernas por alguns motivos que fogem à racionalidade pura. E sim, dá para fugir um pouco dessas restrições, até certo ponto, obviamente abrindo mão de parte das renúncias fiscais e das facilidades de circulação. Mesmo aquele carrinho que a GMC faz em parceria com a SAIC e a Guangxi oferece pouco para o que os japoneses esperam, além de ser chinês, o que de cara angaria a antipatia japonesa. Fora da China as chances desse carrinho seriam tão mínimas quanto a confiabilidade do regime.

 

Honda N-One 2021

Por tudo isso os kei cars de passeio se tornaram tão atidos ao gosto japonês, que virtualmente não têm espaço relevante no resto do mundo. O mercado chinês é gigantesco, mas os veículos baratos obram e se locomovem para normas de emissões e segurança, então não conta. Os europeus até compram, mas facilidade com que se deslocam de um país para o outro, tornam os subcompactos locais mais atraentes e interessantes para os incentivos do politburo de Bruxelas. Até mesmo a ilha britânica oferece mais espaço útil do que o Japão, então as restrições consideravelmente menores tornam um kei car típico muito menos atraente. Decerto que os utilitários, e aqui temos um erro crasso de estratégia de marketing, obteriam mais êxito para entregas urbanas, ainda mais considerando que mesmo o Brasil ainda tem muitas ruas do tempo do império, especialmente nas cidades históricas. Seria a Suzuki trazer suas microvans e aquelas motocicletas transformadas em veículos de carga passarem por muito maus bocados. Aliás, a saudosa Aisa Towner, ainda bem valorizada no mercado de usados, é prova de que eles lograriam êxito, e quem sabe abrissem caminho para os de passeio. Até mesmo o Suzuki Spacia poderia vir em uma versão utilitária, antes de desembarcar como carro de passeio. Apesar de que eles sofreriam muito aqui, porque a economia de espaço inclui caixas de rodas pequenas, o que significa pouco espaço para a suspensão trabalhar, o que implica em pouco curso e por conseqüência com trema que é o certo a maior sensibilidade a pisos irregulares. Haveria poucos lugares em que eles poderiam rodar sem se desmanchar por ressonância. Os utilitários tudo bem, podem ter suspensões mais altas e com cursos maiores, mas os carros de passeio teriam problemas sérios. Outro obstáculo é que as normas de segurança são um pouco mais brandas e o comportamento do japonês ao volante ajuda muito, duas coisas que são impensáveis por aqui.

 

Daihatsu Move Canbus

O cidadão japonês é culturalmente protecionista, embora não tão irracional quanto os franceses, por isso mesmo eles preferem pagar mais por um carro japonês a se render aos encantos de um importado, e muitos deles consideram importado um modelo fabricado no Japão por montadora estrangeira. Apesar de gostarem dos carrões de luxo e dos clássicos americanos, os nacionais reinam absolutos e isso criou seres estranhos na fauna automotiva, inclusive porque a legislação permite absurdos 2 metros de altura para incentivo pleno a um kei car. Os desenhos feitos para maximizar o aproveitamento de espaço os faz parecerem minifurgões, isso é particularmente um pesadelo para o departamento de design. Eles precisam ser quadradões e terem pneus minúsculos mandados para os extremos dianteiro e traseiro do carro, para que as caixas de rodas não roubem o pouco espaço disponível para os quatro, e não mais do que quatro ocupantes. O pequenino e estreito pneu 145R80, que equipava o Fiat 147, é fácil de ser encontrado em um kei car. O alívio é que os japoneses são muito, mas muito mais abertos a novas formas de arte do que nós, por isso os designers podem delirar à vontade nos poucos pontos disponíveis. Assim como o mercado americano tem espaço para uma imensa gama de versões e um gosto arrebatado por carros grandes, o japonês dá margem para uma infinidade de versões de kei cars, alguns como o charmoso Honda N-One, inspirado no clássico dos anos 1960, até se parecem muito com hatches ocidentais miniaturizados. Curiosamente é o mesmo fabricante do caixote N-Box, cuja combinação de elementos estilísticos o tornou no mínimo exótico. Uma das obras primas do gênero foi o Nissan Fígaro, um roadster com estilo cinqüentista que angariou fãs no mundo inteiro.

 

Subaru 360 1958

Se externamente a maioria deles pode parecer repelente para o típico consumidor ocidental, por dentro o amor à primeira vista é altamente provável, eles têm mimos de fazer inveja ao muitos “premiuns” de araque do mercado brasileiro. Claro que o plástico predomina, mas os japoneses não se importam com isso assim como não gostam muito de bancos de couro, preferindo os de tecidos refinados e bem estampados, tanto que até o aristocrático e exclusivista Toyota Century sai de fábrica com bancos revestidos em tecido. Uma das soluções mais criativas é um lugar para guardar o guarda-chuva, algo que no ocidente só se vê em carros de extremo luxo como os Rolls Royce! Industrialmente o custo varia de irrisório a zero, mas vai procurar um carro ocidental médio que tenha essa praticidade! Direção nas quatro rodas também não chega a ser novidade nesse nicho de mercado. Também por isso, pelo foco na praticidade, os kei cars atraíram particular simpatia das mulheres, o que fez os charmosos tons pastéis e o bom gosto publicitário fazerem parte da estratégia dos fabricantes. Não, não estou dizendo “isso é coisinha de mulher e isso é coisona de homem”, seu pateta! Pelas diferenças BI-O-LÓ-GI-CAS inerentes aos gêneros, a mulher vem equipada com um kit genético de sobrevivência que falta ao homem, e por isso homens vivem menos! Esse kit genético inato, independente de aprendizado, dá ênfase à praticidade e à formação de estoque, por isso evitam comprar brigas que não valem a pena. Conseqüência: carros esportivos e agressivos, com seus altos custos operacionais e riscos de perdas, só entram na lista se todo o resto estiver bem, por mais sedutores que eles sejam. Embora as japonesas já estejam rejeitando productos muito estereotipados, elas ainda não pedem desculpas por serem mulheres. Mas não são só elas, os homens japoneses também gostam tanto de kei cars, que os utilizam em projectos, e a moda mais recente é fazê-los parecer com clássicos ocidentais, mesmo que só na dianteira e na traseira.

 

Suzuki Spacia

Daí muitos deles terem caras de menininho zangado ou bebê fofo, apesar de estruturalmente serem sólidos e capazes de muito mais do que aparentam. Pela própria arquitetura quase padronizada, não tem muito para onde fugir, um desenho muito agressivo na dianteira faria os para-lamas se destacarem no para-choques, com a pareidolia fazendo-os parecerem com bochechas gordas. Lamento pelos fãs do idiota “Velozes e Furiosos”, mas um Mazda Flair Wagon só vai figurar na franquia se for parafusado em cima de um chassi com motor que ficaria de fora do carro. Nem o esportivo Mazda AZ-1 tem agressividade para agradar ao público dessa… dessa… obra de cinema… mau gosto para tudo neste mundo! Enfim, o apelo familiar e a baixa potência em relação aos carros comuns, tornam um kei car o primeiro carro ideal para novatos e para quem precisa de um carro, mas não gosta muito de dirigir. A visibilidade é muito boa, as câmeras de ré e contra pontos cegos ajudam muito, fora que é perfeitamente viável obter um auxiliar de estacionamento que praticamente estaciona e sai da vaga sozinho. Para quem tem cadeirantes na família, as amplas portas traseiras são especialmente valiosas, é relativamente comum equipar um kei car com rampa de acesso. Para quem quer um negócio itinerante, a modularidade do interior acomoda facilmente um equipamento de cozinha, que pode ser retirado e devolver as funções de turismo do carro, quando não estiver em uso, e a tampa traseira levantada faz as vezes de extensão, bastante utilizada em piqueniques no Japão. Para quem odeia SVU, um kei car prático e econômico é o extremo oposto mais bem-vindo do mundo, e os homens japoneses provaram que o pinto não cai se tu dirigir um. Dependendo do caso, é o segundo carro ideal para a família, que seria utilizado no cotidiano, deixando o maior e mais potente para incursões de fins de semana ou férias. Ou seja, kei car é carro de homem de verdade.

 

Suzuki Hustler

Para não dizer que nunca os tivemos por aqui, a Mitsubishi tentou sem sucesso emplacar o I-Miev, no começo do século, mas o preço alto e a pouca autonomia espantaram os interessados pela minivan. A Subaru trouxe o Vívio, que foi mais bem-sucedido, mas os custos de importação e as tarifas mais tarde erguidas o mataram por aqui, ainda é possível vê-lo em muitas cidades pelo Brasil. Também tivemos algo parecido com kei cars na nossa indústria, o Gurgel BR800, sucedido pelo Supermini e teve uma minúscula versão biposta no Motomachine, tinha 3,2m de comprimento por 1,46 de largura, mas os anêmicos 32cv eram produzidos por um motor de 800cm³ porque o pretendido de 650cm³ mal dava para ele sair do lugar. Se o de 800 vendeu pouco, imagine com 650! Se colocassem um motor de kei car moderno, ele voaria! Também a saudosa e malograda Romi Isetta já citada, que por não atender aos quesitos da GEA ficou de fora dos incentivos fiscais, com isso se tornando mais caro do que o razoável para competir com o Fusca e até mesmo com a Vemaguete. Ela só levava três pessoas, se uma fosse criança pequena, se arrastava com o motor Iso de 9cv, que foi substituído pelo BMW de 13cv e ainda assim mal chegava a 85km/h, em uma época que não havia limites de velocidade nas estradas; com menos de 25cv ela não teria chances mesmo. E aqui, meus amigos, temos uma encruzilhada que ameaça os kei cars, porque a queda dos incentivos não é questão de “se”, mas de “quando”. Houve outros, mas não passarem de tentativas, como o minúsculo Mignone que tinha só 2,8m de comprimento, mas nunca saiu do protótipo de paradeiro hoje desconhecido, e o Economini, que teve até peça publicitária, mas sabemos que não foi um sucesso de vendas.

 

Mignone por  Jorge A. Ferreira Jr. e oficina Mecânica via Lexicar 1986.jpg

Uma alternativa plausível seria criar uma categoria abaixo dos dezoito anos, com menos exigências burocráticas e menos custos para a condução de um kei car, o que até serviria como um degrau para carros mais potentes. Vender para uso interno em condomínios de luxo também seria viável, particularmente útil para o comércio interno e para corretores imobiliários, bem como para hotéis fazenda, este uso em particular mitigaria os custos de aquisição e manutenção. Táxis especiais para cidadelas com ruas muito estreitas, e as temos em profusão no Brasil, também ajudariam o kei car a se livrar paulatinamente da necessidade de subsídios. Nos três casos seriam serviços que um carro comum teria dificuldades para prestar, em alguns casos nem conseguiria entrar nas vielas sem perder os retrovisores. O problema aqui seria a revenda, tão cara para o brasileiro, porque embora fossem imbatíveis em funções específicas, no uso geral são fartamente subjugados pelos carros comuns, mas seriam a única alternativa para um adolescente que precisa de seu meio próprio de transporte, para trabalhar e/ou estudar sem depender dos horários nem sempre coincidentes do transporte público. E por falar nisso, os supermercados e prestadores de serviços também teriam vantagens técnicas. Se o poder público fosse convencido da conveniência desses minicarros em suas frotas, que atrairiam pouca cobiça e desencorajariam comportamentos predatórios, seguramente haveria um mercado lucrativo para os fabricantes. O certo é que sem uma evolução súbita e dramática na tecnologia automotiva, o kei car continuará refém do fio de navalha que é o orçamento estatal, que nem de longe pode ser confiável, quanto mais eterno. O mais certo é que se tornem minicarros de luxo ou esportivos de bolso, se nada devolver aquela diferença natural de preços entre pequenos e grandes.

 

Daihatsu Midget

Para quem pensa em fazer um kei car em casa, as facilidades básicas são as pequenas dimensões, que demandam instalações mais simples, e a arquitetura básica de uma minivan. O maior problema técnico é encontrar para-brisas e vidro traseiro que sirvam nas escassas medidas, mandar fazer sai caro! O painel pode se resumir a um tablet barato formatado e reprogramado, isso qualquer camelódromo e qualquer técnico de informática podem fornecer, de quebra pode acumular a função de multimídia. O restante pode ser encontrado com facilidade em leilões do Detran e da polícia federal, inclusive o motor de uma motocicleta grande acidentada, que pode ser amansado para servir ao pacato propósito predominantemente urbano do seu veículo. Nada que fuja ao que sugeri aqui no texto anterior. Por ser artesanal, a quantidade menor de matéria-prima se traduziria em custos e prazos significativamente menores. Por não ser atraente a certos tipos de damas, seu cunhado mala não iria pegá-lo emprestado sem tu saber, ainda mais se tua escolha de design for o de um monstrinho zangado e fofo, com alegres cores pastéis e interior pensado para o seu tipo de mulher gostar, não os dele.

 

Links úteis:

 

- Kei car – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

 

- The 10 best Kei cars (List) | GRR (goodwood.com)

 

- Os 10 carros mais vendidos no Japão, sede da Olimpíada | Revista Carro

 

- Japan's Best "Kei-cars" or "Light-weight" Automobiles (japaninsider.com)

 

- Kei cars: como são os carrinhos minúsculos que fazem sucesso no Japão (uol.com.br)

 

- 10 Kei Cars That Prove Japan Has it Right (topspeed.com)

 

- Kei-Cars for Europe! (carthrottle.com)

 

- Ten Japanese kei cars we need in the UK | Top Gear

 

- The U.S. Has Kei Cars, They Just Don't Know It - carwitter

 

- Mitsubishi Announces Large-Scale Investment In New EV Kei Cars (insideevs.com)

 

- Oficina recria vans e caminhões clássicos a partir de minicarros japoneses - Quatro Rodas (abril.com.br)

 

- Daihatsu foi transformado num mini Land Rover Defender | Auto Drive (auto-drive.pt)

 

Fabricantes:

 

Home | DAIHATSU

 

クルマ | Honda公式サイト

 

マツダ オフィシャルウェブサイト (mazda.co.jp)

 

三菱自動車 (mitsubishi-motors.co.jp)

 

SUBARU オフィシャルWebサイト

 

スズキ株式会社 (suzuki.co.jp)