29/08/2012

Etiqueta para quem tem SUV

Fonte da imagem: http://www.internetautoguide.com/

Quando se questionava a conveniência de um carro "grande" como o Opala no trânsito, carregando somente o motorista e nada mais, apareceram os utilitários esportivos, que além de bojudos, são altos e distantes do solo, algo apropriado para uso em terrenos acidentados e alagados, mas agravantes potenciais de acidentes. Deixo então dicas de cuidados que os donos desses carros devem tomar, para não transformarem seus sonhos off-road em pesadelos de asfalto.

  • Em primeiro lugar, Crossfox não é suv, é apenas market. Não basta ser alto, ter pneus mais recortados e penduricalhos de plástico pela carroceria, é preciso ter a suspensão realmente mais reforçada, para assegurar a durabilidade em terrenos ruins, mas ele consegue atrapalhar quase tanto quanto um utilitário esportivo de verdade;
  • Cuidado com o estepe externo, que muitos utiltários esportivos têm na traseira. Se fosse apenas funcionalidade, ele e os pneus de uso seriam bem mais finos, como os dos veículos militares ou um pouco mais largos, próprios para vencer terrenos alagados e elameados. Mas é só market. Naquela posição, eles danificam facilmente o carro de trás, impedindo que a capa plástica do pára-choque absorva o impacto, então não se iluda com as dimensões da carroceria, há um anexo acrescentando comprimento;
  • Como se o mundo já não estivesse agressivo demais, o desenho desses carros é pensado para passar mais agressividade, ainda que sacrificando o bom senso da visibilidade. Não se iluda com câmeras de ré, elas não cobrem tudo e não substituem o olho humano. Uma criança pode ser facilmente oculta pelas colunas largas, se enfiar nas altas e espaçosas caixas de rodas ou simplesmente ficar na frente do carro sem que o motorista veja. Certifique-se pessoalmente de que pode mesmo sair;
  • Altura e volume de um utilitário esportivo tomam muita visibilidade dos outros. Ao contrário dos carrões, como o Opala, eles tiram visibilidade até dos pedestres, por sua altura. Aqui a regra de estacionar a cinco ou mais metros da esquina deve ser reforçada e ampliada, sob o risco de os veículos da transversal, mesmo outros utilitários, não conseguirem ver o outro carro, um cidadão que começa a travessia ou mesmo uma criança estabanada;
  • Estacionar em frente à garagem alheia já é uma infração de trânsito e uma demonstração de estupidez terceiromundista, em um carro comum. Com um utilitário esportivo, a obstrução torna-se claustrophobica. Lembre-se, é a casa alheia, não a sua. Ou gostas de ter um carro grande e pesado obstruindo tua garagem? Quer que estacionem um FNM D11000 aí, para saber como é?
  • Seja humilde. Teu utilitário não é o único no mundo e com certeza há mais gente com excesso de auto confiança, ao volante de um. Mesmo um Mercedes-Benz GLK não é páreo para um veículo grande de carga, embora a sensação de poder que a propaganda reforça, faça parecer que sim;
  • Por contraditório que pareça, seja delicado ao volante. Tudo em um utilitário esportivo agrava uma colisão, ou atropelamento. As regras de segurança para pedestres recomendam uma frente baixa, macia e arredondada, de preferência sem componentes rígidos por baixo, tudo o que teu carro não é. Ele pode facilmente transformar o que seria uma lesão corporal leve em um carro de passeio, em homicídio culposo;
  • Um utilitário esportivo de luxo está para o asfalto, assim como um Puma GT com suspensão elevada está para a trilha. Por mais adaptações e tecnologia auxiliar que leve, ele não se sente à vontade e não é devidamente aproveitado no trânsito urbano. Comporte-se então, como se estivesse na casa de um estranho, e verá como até os outros motoristas te tratam com menos rispidez;
  • As ruas da cidade podem até parecer, mas não são trilhas de fora de estrada, então poupe o testosterona para as aventuras de fim de semana, onde não cause riscos supérfulos a terceiros;
  • À exceção do Rio de Janeiro, onde um lunático irresponsável tornou crime um hábito civilizador, dê carona. Os utilitários esportivos têm a capacidade de carga como maior argumento prático, na cidade, então faça o teu valer cada centavo gasto na compra e na manutenção, que é cara;
  • Lembre-se de que nem todos têm trinta anos e corpos perfeitos. Convivo com pessoas na família e tenho muitos amigos com gente em casa, que tem idade avançada ou dificuldades de locomoção, ou ambos. Se vais comprar um utilitário esportivo, tenha consciência de que essas pessoas terão problemas de acesso, e podem simplesmente não conseguir embarcar, ou não se equilibrar no desembarque. Então sejas solícito, incremente a fidalgia comportamental que se espera de quem consegue poder, no caso, um carro que só não sobe paredes por falta de aderência. É de bom tom aceitar aquele estribo rebaixado, que o vendedor está oferecendo. Tu também ficarás velho e terás dificuldades de acesso, pense nisso com carinho;

Não é tudo, mas é o essencial. Com estas poucas regras, o uso de um utilitário esportivo torna-se menos beligerante, e mais próximo à utilidade que os alemães pensaram para o automóvel, quando o inventaram.

24/08/2012

Um roteiro de programa eleitoral


Sorria para o vazio, como se estivesse recebendo alguém, mas sob hipótese alguma olhe para as câmeras, tente se fazer parecer um líder, não o pateta que és. As perguntas serão feitas apenas na gravação, de acordo com o modo como recitar suas falas. Limite-se a aguardar o sinal do director para cada uma delas.

Faça cara de sério, mas não a ponto de parecer que estás com diarreia, então fale pausadamente e com firmeza:
Eu nasci nesta cidade, conheço seus moradores, sua gente mais simples. Desde muito cedo comecei a trabalhar para ajudar no sustento da família, estudando de manhã e indo para o batente à tarde. Mas chegou um momento em que me vi em uma encruzilhada, então precisei passar a estudar à noite e trabalhar de dia. Foi uma época difícil, em que eu me acostumei à dureza da vida, comecei a me reconhecer no cidadão desfavorecido. Eu sei o que é passar por dificuldades, só quem sabe pode dizer, e tem capacidade para liderar um povo rumo a uma vida melhor.

Faça uma pausa, junte as mãos discretamente, como se estivesse digerindo uma pergunta séria sobre a cidade, encoste na cadeira, faça cara de gente séria e decidida, solte em tom de desafio:
Eu não tenho medo de desagradar, não estou aqui para ser o cara legal na frente das câmeras, mas que trai seu povo nos bastidores. Vou fazer as reformas necessárias, doa a quem doer, empenho minha palavra nisso. Malandro que entrar no meu gabinete, tentando obter vantagens às custas do bem comum, sairá de lá algemado, e eu ainda o processarei por danos morais à minha pessoa, por me abordar como se eu fosse um corrupto. Cortarei cabeças até mesmo de meus assessores mais próximos, para dar o exemplo de lisura e lealdade ao povo, que tanto faz falta nos dias de hoje.

Agora faça cara de bravo, mas sem ranger os dentes, olhe fixamente para o vazio, feche os punhos e respire fundo. Solte com força e diga:
É um absurdo o estudante ter que levantar de madrugada, para caminhar no escuro por muitas quadras, por calçadas quebradas e ruas esburacadas, com um meliante de tocaia a cada esquina, até chegar ao ponto de ônibus, que sabe-se lá se vai atrasar ou não. Precisamos urgente reformular o transporte público, dando prioridade a microônibus, mais ágeis e adequados às ruas estreitas da peripheria, deixando os veículos de maior porte para as horas de maior demanda. Chegando à escola, ele terá que encontrar um prédio limpo e bem conservado, com professores e administrativos dispostos a guiar seus passos para um futuro digno. Disso eu não abro mão!

Em seguida, faça cara de escárnio, pose de intelectual, meneie a cabeça como se tivesse ouvido algo mais absurdo do que sua candidatura, e então fale o seguinte:
Você acha que eu acredito nisso? Eu estou na política há muitos anos, conheço de perto as artimanhas do poder público, para fingir que está trabalhando e enrolar o pobre cidadão. Vou valorizar o servidor público como ele merece, mas também vou cobrar resultados à altura, quero ver o contribuinte feliz, satisfeito com os serviços prestados, saindo da auterquia com seu problema resolvido. Eu vou fazer parcerias com a iniciativa privada, resguardando as atribuições do poder público, para evitar abusos como os dos pedágios de São Paulo, que não demora e farão o cidadão andar sempre em primeira marcha, de tantos postos de cobrança pelo caminho. Eu sou político há muitos anos, conheço os labirintos do poder público e sei como resolver isso.

Agora relaxe, concorde com o que um entrevistador hipotético tiver dito e sorria. Volte as palmas das mãos para cima, certificando-se de que foram depiladas, olhe para elas e comece a falar isto:
Eu gosto de trabalhar! Se parar de trabalhar um dia só, que seja, acho que eu adoeço. Por isso o eleitor pode ter certeza, meu secretariado será escolhido com base técnica, escolherei os aliados com maior competência para entregar a condução das secretarias, exigirei equipes enxutas e constituídas de gente capaz, com vontade de fazer desta cidade um lugar melhor para se viver. Para isso é preciso não só bons serviços, mas também lazer e cultura. Fomentarei as manifestações artísticas por toda a cidade, reformando e construindo praças, mas não como se faz hoje, serão feitas com material de primeira qualidade, com planejamento, para ninguém tropeçar em fileiras idiotas de tijolos mal cozidos, para que o cidadão leve sua família para se entreter com arte e cultura, sem medo de se machucar.

Faça cara de ligeira surpresa, sorria com desdém, meneie a cabeça e solte:
Então disseram isso? Oras vejam só! Pois eu desafio! Cancelo minha candidatura se alguém provar que tenho rabo preso com alguém. Denúncias foram feitas, mas saí ileso de todas elas, porque sou um homem honesto, honrado, de caráter ilibado, pai de família e cidadão exemplar. Vamos, mostre! Cadê as provas? Não tem provas, porque essas besteiras são falsas. Só isso.

Esqueça que suas intenções são a de esquecer a cidade e se candidatar a governador, e depois largar o Estado no meio do mandato para tentar ser presidente. Respire fundo e diga isso:
Tenho documento registrado em cartório, garantindo, assegurando ao cidadão que eu cumprirei o meu mandato na íntegra, me dedicando em tempo integral à condução desta cidade que eu amo. O partido me ofereceu muitas oportunidades para ser executivo em cidades mais ricas, onde eu teria mais prestígio e comodidades. Tenho muito apreço pelos meus correligionários e seus concidadãos, mas eu amo esta cidade, eu amo meu povo como amo minha esposa, por isso vocês podem ficar tranqüilos, que minha dedicação não será apenas em tempo integral, mas em mandato integral.

Agora faça carinha de contente, sorrisinho de gente honesta e tímida, agradeça ao entrevistador invisível e arremate assim:
Eu é que agradeço pela oportunidade de poder servir ao meu povo, minha cidade, minha gente.

Aqui se encerram as gravações dos primeiros programas. Caso interesse, e sabendo que seu diploma foi comprado em suaves prestações, seu fugitivo do Mobral, haverá um dicionário e uma gramática ilustrada, caso queira saber o que significam as palavras que disseste durante a gravação. É até bom, porque assim não passas muiito vexame no corpo-a-corpo com o eleitor.

16/08/2012

Lingerie Bege - parte 2


Burburinhos se inflamam no escritório. O casamento dos colegas foi em uma sinagoga, quando esperavam ser em uma paróquia ou mesmo na igreja batista, a poucas quadras do escritório. Quem imaginaria que ela fosse judia e, mais do que isso, que iria levar um dos maiores fanfarrões da firma para o judaísmo?
Uma crente demente doente insolente passou a fazer pregações diárias, infernizando a vida dos colegas, afirmando que "A pecadora de satanás se finge de pura, mas veio trazer a maldição do anticristo para o nosso ambiente de trabalho e bla-bla-bla, bla-bla-bla". Justo uma das que tanto criticavam o puritanismo daquela lingerie bege. Pelo menos os outros evangélicos perceberam o ridículo em que cairiam, se tentassem discutir religião por ali.

A moça, por sua vez, está feliz em sua lua-de-mel. Fez exactametne o que recomendou a rabina honorária. Não fez tipo, foi ela mesma o tempo todo e não tentou demover ninguém de seu caminho. Sim, ela sabe que muita gente considerou ridículas as suas lingeries beges, ainda mais no tamanho calçola de vovó, mas sejamos francos, ninguém vai ver... Messsmo!!! Ela não sai por aí de lingerie, pelas ruas. Rabina Esther a aconselhou vestir-se com capricho, mas usar o que lhe conviesse por baixo.

Levou-o para conhecer Israel, onde nasceu dois meses antes do tempo, em um parto de emergência, debaixo das gargalhadas dos religiosos, judeus e muçulmanos, que disseram "Já vai morar no Brasil, deixem ela nascer aqui, oras!".

Fim da lua-de-mel, voltam ao trabalho renovados. Quando ele iria pensar em se casar? Quando ele iria pensar em se casar e ser fiél? Quando ele iria pensar que seria feliz com uma mulher só? Pois ele hoje percebe que não era feliz cousíssima nenhuma, com os montes de mulheres que arranjava toda semana. Que cousa, heim, seu Miguel! Agnela te colocou nos eixos!

Logo na segunda-feira estão lá, mas ela ainda faz questão de dirigir os seiscentos cavalos de seu Maverick. São recebidos com festa pelos amigos, mas com desconfiança pelos "evangélicos" mais dogmopatizados. Sim, ela responde que continua usando aquelas lingeries discretas, como prefere chamar, embora vez ou outra faça o gosto do marido e use algo mais cavado e noutra cor. No cotidiano, porém, é calçola bege sem choro. As virilhas agradecem.

A tal crente, pressionando o chefe, consegue que um pastor de sua igreja faça um culto na quinta-feira. Sendo católico, ele não admitiu que um "bispo" fosse, mas aceitou o pastor. O indivíduo não consegue esconder seu ódio pelo judaísmo, não consgue, aliás, esconder sua desafeição por tudo o que não for ele mesmo. Se ele sabe que o cristianismo nasceu em berço hebreu? Não, ele nem sabe que a Bíblia foi escrita em línguas mortas. Se soubesse, não estaria maldizendo os idiomas do oriente médio. E ele retoriza, retoriza, retoriza, retoriza... E a fiél que o levou berra "Aleluia!" a cada cinco minutos. Os outros evangélicos ficam corados de vergonha.

Na sexta-feira, por sugestão do próprio chefe, Agnela tem o direito de levar um rabino. Escolhe a rabina. Discreta, com seu visual retrô de happy housewife, Esther entra cumprimentando todo mundo. Trouxe quitutes feitos em seu próprio forno. Encontra a amiga...

- Shalon!
- Shalon, rabina! Seja bem-vinda.

Agora a crente dogmopata fica indignada, pois "shalon" é uma palavra de propriedade exclusiva da bíblia... Certo, vamos para a parte que interessa. Esther demonstra conhecer a bíblia de cabo a rabo, de ré e saltitado, dando explicações que só mesmo uma grande conhecedora do original pode dar. Cativa os evangélicos mentalmente sãos, pois ainda dá traduções e mostra onde encontrar explicações para trechos, et cétera. Nada de cerimônias, pompa, circusntância, somente a naturalidade que aconselhou à amiga.
É convidada pelo chefe a falar ao grupo, de modo generalizado...

- Amigos, que a paz do grande mestre Jesus esteja entre vocês. Agradeço por terem acolhido minha amiga Agnela, por terem aceitado tão bem o modo singelo de ser que ela traz de berço, também agradeço pelo convite e oportunidade de falar aos seus corações. Moisés teria tido muito menos trabalho, se o êxodo tivesse sico com um grupo de pessoas como vocês.

Os dois judeus ouvem com atenção, ele com mais curiosidade do que a esposa. Os ex-colegas de esbórnia ficaram chocados ao saberem que ele sequer assobiou para outra mulher durante toda a lua-de-mel. Tinham-no como um dos machos-alpha do bando, um dos maiores conquistadores de R$ 1,99 da empresa, um colecionador de orgasmos... Agora está feliz com uma relação monogâmica. Começam a ter medo dos judeus. A rabina termina a curta oração com uma prece em aramaico, que afirma ser o original do pai-nosso. Findado o que tinha a fazer, convida o grupo para a refeição que trouxe, embaralhando algumas cabeças por falar em hebraico à outra judia...

- Por que ela não está aqui?
- Ela é fiél de uma dessas igrejas pentecostais que surgiram nos últimos anos.
- Eles proíbem seus fiéis de ouvirem outros sacerdotes? Não que eu me considere uma...
- Mas é. Infelizmente é, como direi... Uma dessas igrejas caça-niqueis que lançam candidatos para terem influência política. Dizem que o fundador da igreja é ateu.
- Como Constantino. Isso explica tudo, mas não vai livrá-lo de seu castigo. Fique tranqüila, a siganoga mandará um representante sempre que precisar.

Sem querer, sempre demonstra sua influência e prestígio na comunidade. Voltam a falar em português, porque até Miguel ainda engatinha no hebraico. A rabina convida os que ficaram a fazerem uma visita à sinagoga, dando dias e horários em que serão recebidos com o calor e a hospitalidade judaicos.

Agnela está grávida. Não que seja obrigatório uma judia procriar, ainda mais com o mundo superlotado por sete bilhões de bocas para alimentar, mas eles simplesmente deixaram acontecer. Sem alarde, com todos os cuidados que uma gestante merece. Miguel cerca a esposa de cuidados desde que ela tornou, sem querer, o ambiente profissional da empresa em uma ante-sala do paraíso. Todo paraíso tem sua serpente, fazer o quê? As colegas passam a notar o maior cuidado com que ela entra e sai do sanitário, como se estivesse carregando ovos...

- Será?
- Mas já??
- Cacilda!!!
- Agnela, cê tá grávida?
- Sim, estou, de dois meses.

A família em que a empresa se tornou entre em parafuso. Não demora e os clientes passam a conviver com cartazes, panfletos e vídeos sobre maternidade e pediatria. As crias dos funcionários passam a freqüentar o ganha-pão de seus pais, o que é até bom, mostra aos petizes que o dinheiro não fica a esperar no banco, ele tem que ser ganho e depositado para estar disponível. Sabendo de antemão que é um menino, rabina assegurou, já conversam os pais com o, literalmente e realmente, pequeno Joshua. Os dois cantam salmos e canções de ninar todas as noites, já se preparando para o massacre que é educar uma criança no mundo egoico e superficial de hoje.

Agnela tem que passar a direção do Maverick para Miguel, a barriga já torna a condução incômoda. ela fica no banco carona, comendo, enquanto ele dirige. Mas não come porcarias, come pães e assados preparados pela sua comunidade, para que não fique tão redonda quanto a barriga. Refrigerante? Nem pensar! O sangue ficaria muito ácido, propício para a proliferação de agentes patogênicos. Para assegurar a saúde da fiél, um rabino chega à empresa e distribui livretos de receitas para todo mundo, de graça... Sei que pode parecer estranho falar isso de um judeu, mas não sejam preconceituosos. Ele só quer preservar a saúde da moça e do pequeno Joshua. São receitas práticas que logo são aconselhadas aos restaurantes onde eles almoçam. Para preservar a clientela, eles incluem os quitutes no cardápio.

Dois meses antes do tempo, como a mãe, e como os rabinos imaginavam, o menino pede para sair. Quer começar a trabalhar logo. E os seiscentos cavalos do Maverick se mostram úteis, eles chegam à maternidade com o abre-alas se anunciando. Mal entram na sala de parto, com Esther esperando lá dentro, e Joshua começa a nascer. A rabina anota tudo, incluindo hora, minuto, segundo e coordenadas cartesianas do local do nascimento. Faz isso com todos desde que começou a agir na comunidade, apascentando as ovelhas que estavam se dispersando e até se esquecendo de como se fala hebraico. O brado retumba na sala de parto, invade toda a maternidade e o pai desmaia. Mas logo acorda e vai acolher sua família... Agora única família, porque a ascendente o rejeitou quando se converteu ao judaísmo.

Lá fora chove, as nuvens pesadas anteciparam a noite em quase três horas. Miguel ligou para os pais, para anunciar a vinda do neto, esperando que ele amolecesse seus corações, mas recebeu o phone na cara. Acolhe a esposa e acaricia o pequerrucho, delicadamente, jurando para si mesmo que acatará as orientações da rabina honorária, se esmerando em deixar a melhor pessoa possível para o mundo. Ao contrário do que tentaram fazer por ele.

A manhã fresca se anuncia clara, com a relva orvalhada reluzindo e as poças d'água se aquecendo aos poucos, ao sol matinal. Vão levar o menino para os colegas conhecerem. Engata a quarta, que o monstro consegue arrancar até de quinta, e os leva para o escritório, com calma. Tem a recepção que gostaria de receber dos pais, com todos os colegas paparicando a esposa e o rebento, ele em seu sorriso banguela e ainda lactente. O chefe garante que o menino terá vaga na empresa, como se soubesse que viverá até lá...

- O moleque vai começar a trabalhar cedo. Agradeço e aceito a vaga.

A mãe do menino endoça. Vão acostumá-lo a ver gente feliz trabalhando, para que também pegue gosto pelo trabalho. Recebem a notícia de que a radical morreu atropelada, quando tentou chamar alguns fiéis de sua igreja para "Impedir o nascimento do filho da besta". Estava disposta a matar, com a promessa de um lote em prestações suaves, a poucas quadras do palácio de Deus. Miguel se enfurece, mas não deixa transparecer aos outros, apenas ajuda a bajular e paparicar sua família.

06/08/2012

Pelo amor de Deus, chorem!


Não adianta virem com essas caras de espanto, vocês sabem do que eu estou falando. Foi-se o tempo em que ser honesto era correr o risco de ser preterido, hoje é motivo para ser punido, vocês sabem disso. O que isso significa? Significa que estamos no cume da degradação, as pessoas estão vivendo no limite de suas sanidades mentais, sendo atacadas de todos os lados por ações e factos escabrosos. Gente que conseguia controlar sua índole agressiva, está simplesmente surtando, dando de ombros para a própria vida e dando cabo dela, mas só depois de alvejar outras pessoas que encontra pela frente. Não, isso não justifica, eu sei, mas isso explica os surtos de franco atiradores que pensávamos serem endêmicos no oriente médio.

Um dos motivos, certamente dos mais fortes, é a pessoa se ver obrigada a parecer forte o tempo todo, fria o tempo todo, competitiva o tempo todo, obrigada a amealhar uma fortuna que torrará em pouco tempo, em tratamentos psiquiátricos, se sobreviver até lá. Quando conseguem se segurar, oscilam entre o surto psicótico já descrito, e a frieza do desdém para com as pessoas e até nações inteiras, como os especuladores que agravam e prolongam a crise mundial. Nada pessoal, só falta de vergonha na cara que aflorou sob a máscara do empreendedorismo financeiro.

Em ambos os casos há o desvalor da própria paz pessoal e do bem estar do próximo, que passa então a ser um mero alvo ou peça a ser movida ou removida, de acordo com os danos psicológicos causados. Infelizmente, só o que surta tem o quadro clínico psiquiátrico reconhecido, o outro é apenas um homem de negócios.

Não chegando a tanto, temos pessoas cada vez mais doentes, com a imunidade atacada por um estresse que não pode ser demonstrado em hipótese alguma, não da forma como poderia ajudar. Pode ser externado com barbarismos no trânsito, com hostilidades a torcedores de outros times, com provocações a quem parecer estranho, investidas sobre mulheres acompanhadas, enfim, só se permite e se aceita externar o problema se ele gerar outros ainda piores. Parece tática de médico picareta, que receita drogas sintéticas desnecessárias, para depois ganhar comissão com outras que combatam seus efeitos colaterais, que gerarão mais efeitos colaterais e assim por diante.

O que poderia externar toda essa tensão sem gerar riscos a si e aos outros, incluindo a saúde financeira de países inteiros? Dançar, cantar, chorar. O que tem sido dado pela sociedade industrial como fraqueza, como algo fútil à sobrevivência, é justo o que evitaria a maior parte das, senão quase todas as, perdas de controle da própria personalidade. Não que seja inerente ao ser humano o auto controle propriamente dito, mas um controle mínimo e esporádico lhe é dado, o suficiente pra decidir como e quando desabafar, espernear, gritar ou o que sirva para manter a própria sanidade.

Bem, vou contar-lhes uma cousa, os combatentes também choram durante um ataque. Eles não páram de lutar, não páram de avançar sobre o inimigo, mas choram por diversos motivos. Seja pela iminência de ser despedaçado e nunca mais ver seus entes, seja por ver seu amigo ser despedaçado por uma bomba bem ao seu lado. Ainda que aos berros, o comando imediato faz o que pode para consolar o soldado, para que ele se sinta menos mal e amparado pelo grupo. Pedir que alguém se sinta bem no campo de batalhas, debaixo de uma chuva de bombas, pelamor da bicicreta véia zangada! Nenhum oficial que eu conheço sabe fazer milagres! Nenhum oficial que eu conheço quer um surto psicótico na tropa. O estresse é extremo, mas as formas de extravasar são imediatas e na mesma intensidade. Se mesmo assim, muitos voltam com traumas terríveis, às vezes incapazes de retornar ao convívio civil, imaginem se fossem obrigados a fingir-se felizes e contentes enquanto são cravejados de balas! Pois nós o somos.

Claro que na vida civil, a oportunidade de extravasar não é tão imediata, nem tão integral quanto na guerra, ainda bem! Na guerra, o soldado desabafa lutando, para não morrer perfurado, pulverizado, enfartado ou vítima de um derrame. Em tempos de paz aparente, porque ela jamais habitou de verdade o seio da humanidade, mostrar o que se sente, para pessoas que se importam, é a forma mais eficaz. Não, somente desabafar não resolve, mas ajuda. O amparo imediatamente posterior é o que vai de facto resolver o problema. É aqui que está o calcanhar de aquiles deste início de século. As pessoas trocaram o senso de humor pelo senso de cinismo, zombar  ou rechaçar o sofrimento alheio tornou-se socialmente aceito. É tido como piegas e digno de reprimenda dizer ou demonstrar o que se sente, a não ser que dê prazer ou dinheiro, como em quadrinhos, livros, músicas, entre outros. O que quer que dê retorno financeiro ou algum tipo de prazer ao grupo. Só que a maioria dos casos não dá margem para criatividade, não de forma imediata e nem sempre pelo sofredor.

Houve uma campanha no início dos anos oitenta, chamada "Chore se for homem". Foi a cousa mais sensata, e uma das poucas cousas sensatas, que os departamentos de propaganda do governo já fizeram. Como sensatez não é bem-vinda na política, durou pouco e não foi veiculada a contento. O machismo continuou falando mais alto do que o próprio bem estar. Se sexo fosse cura para depressão, prostitutas não cometeriam suicídio, já adianto aos manés detratores que costumam falar baboseiras na minha caixa de comentários. Essa mentalidade é a mesma que convence os garotos de miolos moles a comprarem felicidades químicas, que não resolverão porcaria nenhuma, mas darão a ilusão efêmera de que tudo é bom e que por causa daquilo sua vida vale à pena. Psicologicamente falando, apelar para o sexo pago é o mesmo que usar drogas, consegue-se um prazer efêmero e a aceitação do grupo, mas o problema continua lá, e vai te obrigar a recorrer com mais voracidade ao vício, sem perceber, a pessoa fica cada vez mais vulnerável àquilo que pretendia resolver, podendo se tornar agressiva quando interpelada a respeito. Sim, isto também faz parte do meu cabedal, da minha experiência de vida.

Vigorexia, literaxia, anorexia e bulimia são palavras relativamente recentes, que não teriam vindo à tona se seus efeitos sociais não estivessem muito evidentes. como todos os outros transtornos e vícios, eles só existem para compensar problemas que poderiam ser resolvidos, e até evitados antes de surtirem os primeiros efeitos, se a pessoa pudesse falar, reclamar e chorar, principalmente chorar a sua dor. O pior é saber que isto não vem de poucos anos, desde a década de setenta que se fazem alertas a respeito, mas até hoje o vulgo acredita ser uma bobagem, que um prazer ou uma tarja preta resolve tudo. Não resolve. Repito: NÃO RESOLVE. Essas bobagens mundanas são oferecidas por debaixo do pano há milênios, sob as vistas grossas da própria sociedade que as condena em praça pública. Se resolvessem, os problemas já não existiriam mais, estaríamos em um planeta pacífico, onde as armas seriam usadas apenas para caça e esporte, mas o mundo não é assim. Para ficar longe dessa semi utopia, ainda precisará melhorar muito.

O que fazer: chorar. Literalmente. Não se iluda com aquele sujeito de cara fechada que aprece ser uma muralha de resistência, o senho franzido pode ser de dor, ele pode já estar andando de joelhos sobre as pedras cortantes deste mundo, por conta do peso que carrega há sabe-se lá quanto tempo. Talvez ele já esteja operando acima do seu limite, prestes a enfartar ou perder o juízo. Então chore. Com certeza terás que passar por anti social, grosso, mal educado, mandar o cidadão ir ter com a meretriz que o trouxe à luz, mas é um preço razoável a se pagar pela manutenção de tua lucidez. É provável que demores muito a encontrar quem lhe dê o acolhimento necessário, até porque há muito mais gente precisando do que capacitada a dar essa ajuda, então recolha-se à tua intimidade e chore lá.

Um modo eficaz e eficiente de soltar o choro preso, é cantando. Aliás, o modo mais socialmente aceito de se chorar é cantando, une-se o útil ao agradável. Sua voz não é lá essas cousas? E quantos lançamentos recentes o são? A maioria das tristezas hoje em dia, é bem próxima à tristeza pura, aquela matriz da qual todas as outras derivam, então não faz diferença o que se vai cantar chorando, do hip-hop à ópera clássica, tudo funciona a contento. O que torna o choro mais eficaz do que qualquer porcaria viciosa que te forçam a usar, como se estivessem te fazendo um favor, é que ele ataca o mal na raiz, aliviando as tensões musculares que dão a sensação de asfixia e arritmia, dando vazão aos hormônios represados, aliviando o trabalho das artérias, enfim, te dando de graça o que custaria muito caro por outros meios.

Resolve o problema que te aflige? Não, resolve o teu problema e te dá cabeça fria para enfrentar o que te aflige. Te ajuda a ser um adulto bem resolvido e mais próximo da plenitude. Não entrarei nos méritos dos que dizem não existir gente confiável a quem entregar seus sentimentos, isto fica pra outro artigo. Enquanto não encontras, se em nenhum outro lugar puderes chorar, chore durante o banho, que é o melhor momento para expurgar seus males e soltar o gogó, chore ao se deitar, enquanto faz uma prece, ninguém que mereça os dentes no lugar, vai reprimir alguém que demonstra emoção intensa durante uma prece íntima. Ninguém precisa saber os motivos dos prantos, se o virem, aceite um lenço com gratidão, mas não aceite interferências dos donos da verdade. Se for preciso, mande todo mundo ao raio que os parta e vá choraterapiar em um lugar sossegado. MAS CHORE, CARAMBA!


05/08/2012

PLC - Partido Laerte Coutinho


Basta de candidatos que tentam maquiar a realidade, que exageram em uns pontos e atenuam outros em proveito próprio, que colocam ideologia e financiamento de campanha acima das promessas, e estas acima das necessidades da população. Os nossos candidatos têm traços firmes, cores bem  definidas, gêneros nem tanto, e tudo o que fazem é bem feito. E seu fundador tem tudo para tirar nosso país do atraso, ele é um é gênio! Não, vocês é que lêem pouco. Ahm? Gênio! Gênio! Gênio!

Candidato a prefeito n° 69: Laerte Coutinho. Vice: O tiozinho da Kombi da pamonha.
Laerte é um gênio, e fica tanto mais genial quanto mais recusa a pecha de gênio. Eficiente, o eleitor terá prefeito e primeira-dama em um só candidato, poupando assim os encargos e burocracia inerentes. Laerte assegura fazer documentos oficiais com linguagem acessível, mas sem torturar o português, economizar o gerúndio e aceitar tirinhas bem desenhadas em todos os memorandos, que poderão ser impressos em frente e verso. Seu vice, o tiozinho da Kombi da pamonha, promete regularizar e treinar todos os pamonheiros da cidade, e dar pamonhas para as crianças em todas as creches, ao menos uma vez por semana.

Candidato a vereador n° 69001: Capitão. Suplente: Jack.
O Capitão é um homem de princípios; ele principia invadindo, depois pilha, depois agride e depois foge. Nasceu no Tietê, de uma virgem dos lábios de mel com um almirante português, que voltou à Lisboa e nunca mais deu notícias. Preocupado com o meio ambiente, a proposta do Capitão é juntá-lo com o outro meio e fazer um par de meios, para poder usar no inverno e não ter os dedos congelados. Ei, Jack, acha que ficou bom? Perfeito, Capitão, agora é só imprimir em santinhos e começar a pedir votos. Legal, então pega a sua espada, que vamos começar "pedindo" o voto desse leitor aí...

Candidato a vereador n° 69011: Overman. Suplente: Ésquilo.
Defensor dos fracos e oprimidos, Sempre atento ao chamado da justiça, mas pode demorar um pouco a atender, se a fila do telephone estiver grande. Você sabe quem é Overman? Sabe?? Então conta pra ele, pelamor de Deus, que ele não sabe! Detrás daquela máscara amarela que inspira medo, respeito e alguns ataques de risos, existe um cidadão acima de qualquer suspeita, um cidadão com músculos de aço, nervos de titânio e cérebro de geléia. Roubar o erário? Ele nem sabe o que é erário! Sua proposta é fazer uniformes novos para a guarda municipal, com malhas colantes roxas e belíssimas capas amarelo-ouro, que enfunam e tremulam com qualquer tempo. Ésquilo, seu suplente e assessor, cuidará da burocracia e finanças do gabinete... Oh-oh!

Canditada a vereadora n° 69169: Muriel. Suplente: Socorro.
Corajosa, engajada, pronta para a briga e com uns modelitos de arrasar. Esta é Muriel, a cross-dresser com a melhor cabeça, as melhores propostas e o guarda-roupas mais chique da cidade. Animada por Hugo Baracchini, seu passado com a máfia prova que todos têm o direito de uma oportunidade para se regenerarem, de uma chance para tirar sarro da vida sem tirar a vida de quem tira sarro, e de se vestir com dignidade. Ah, sim, sua proposta: Acrescentar banheiros públicos unissex, entre os feminino e masculino já tradicionais, e os três em número suficiente para atender às bexigas oprimidas. Também ensinar às crianças a tolerância às diferenças individuais, e a diferença entre liberdade e promiscuidade, que muito lhes falta hoje em dia. Socorro, também sua assessora, promete deixar os corruptos muito ocupados em falar mal dela, para terem menos tempo para roubar o erário.

Candidato a vereador n° 69113: Gato. Suplente: Gatinha.
Que há? Não existe lei nenhuma que impeça um animal doméstico de ser candidato! Além do mais, ele tem emprego fixo como personagem de tirinhas, é pai do Messias e affair da Gatinha, sua suplente. Ele sustenta uma família, caramba, paga seus impostos e seus micos em dia! Deixem de ser preconceituosos! A vida secreta do Gato, que ninguém pode saber, porque é segredo, é a do herói voador Flying Cat, que nasceu após ele meditar duramente, o motivo de os pombos voarem e ele não. E já que voa, não vai onerar a prefeitura com carro e motorista. Já a Gatinha, ficará encarregada das festinhas que manterão os vereadores ocupados demais para roubarem o dinheiro público. Viu como não é má idéia votar em um gato, preconceituoso?

Candidato a vereador n°691000: Fagundes. Suplente: Ele mesmo.
Oh, magnânimo eleitor! Sapiente peça desta eclética máquina social, cuja pujança e brilhantismo tornam-no um diferencial pivô entre seus pares. Peço, oh, maravinhoso, conceda-me a honra sacra de contar com seu valioso voto, a fim de que possa honrar briosamente, o espetáculo de sua épica decisão. Minha gratidão será eterna, majestoso, tanto quanto minha dedicação sacerdotal no labor pela Sua pessoa. Prometo, excelso eleitor, tratá-lo como um imperador, um grande vulto mundial a ser venerado e adulado a todo custo, pelos servís trabalhadores de suas coisas públicas. A propósito, a sua coisa pública também é roxa?

Candidata a vereadora n° 69200: Querida. Suplente: Amor.
Querida é uma digna representante dos que foram desenhados uma ou duas vezes, não mais, e desapareceram das lembranças do público. Como tal, não tem história, nem contactos espúrios, nem rabo preso, nem antecedentes que a denigrem. Querida promete lutar com afinco pelos esquecidos, pelos desfavorecidos, pelos personagens que a sociedade simplesmente legou à margem, sem sequer dar chances de desenvolver e mostrar seu valor. Seu suplente e assessor, Amor, promete enchê-la de afagos, e carinhos sem fim, que é pra acabar co esse negócio de você viver sem mim.

Candidata a vereadora n° 69202: Lola. Suplente: Avó da Lola.
Lola é uma andorinha forte e philosóphica, que consegue fazer verão  com qualquer outro bando de passarinhos. Didática, pedagógica, lúdica e divertida, sua proposta é pela valorização da educação infantil e juvenil, mantendo crianças e jovens em suas respectivas fases até chegar a hora de serem adultos, sem apressar ou adiar o processo de crescimento, que tantos males tem feito aos mesmos. Com Lola no poder, ela não correrá, mas voará às escolas públicas, ensinando os alunos a pensarem e descobrirem por si mesmos as infinitas faces da verdade que formam o mundo e seus mundos. Sua avó, que hoje só trabalha do astral, promete sonhos tranqüilos e histórias de ninar, para dar um pouco de acalanto à garotada, tão expostas aos excessos dos adultos.

Candidata a vereadora n° 69222: Gueixa. Suplente: outra Gueixa.
Representando dos personagens livres mais recentes de Laerte, Gueixa tem uma mentalidade toda nova, embasada em sua tradição bem casada com a modernidade. Morena, alta, bonita e sensual, talvez seja a solução de seus problemas, carinhosa, bom nível social. Esperta e atenta a tudo ao seu redor, Gueixa não deixará passar um só detalhe do que possa ferir as necessidades do cidadão que a tiver eleito, contando com seus traços perfeitos e sensuais para colocar todos os corruptos em saias justas, curtas e berrabtes; e com a inteligência genial e privilegiada de seu criador, para colocá-los em sinucas-de-bico, em que a bola sempre será maior do que a caçapa. Votem em Gueixa, a japonesa made in Brasil que mandará os maus políticos às turma do funil.

Este foi o horário eleitoral do PLC - Partido Laerte Coutinho. Achou que foram poucos candidatos? É que o Laerte não aluga candidaturas em troca de apoio político.



Mais aqui.

Provas do crime, digo, onde encontrar nosso partido:
http://manualdominotauro.blogspot.com.br/
http://www2.uol.com.br/laerte/
http://murieltotal.zip.net/
http://verbeat.org/laerte/

03/08/2012

Os que se acham!

http://blog.goodlifefitness.com/2011/06/5-wacky-group-trends/
A moça entra em sua malha alegremente colorida, serelepe e de bem com a vida, na academia, e começa com a rotina. Cumprimenta os amigos, alguns funcionários e deles tem ajuda para se alongar. Alongamentos bem feitos sempre explicitam a forma física, para o bem e para o mal. Professores e amigos a elogiam sempre, pela disciplina, dedicação e bom senso no acto dos exercícios, mas nem todos os admiradores são bem intencionados...

- Olha só, veio toda gostosona!
- Ai, ela tá querendo. Tá querendo e eu tenho o que ela quer!
- Rá, rá, rá, rá, rá, rá, rá, rá, rá, rá...

A moça termina o alongamento e se aquece um pouco, dançando. Faz também balé clássico, que lhe rendeu a postura altiva, que inspira respeito, mas também empina glúteos e peitoral...

- Fala verdade! Uma mulher dessa faz isso é pra dar, né?
- Dar até doer! Muiezada gosta de provocar, depois reclama!
- É cu doce! Elas gostam de passar a mão na bunda delas! Ouvi um cara falar, que ouviu de um amigo, que falou com um primo, que ouviu no ônibus, que mulher finge não gostar pra aumentar o tesão do homem.

Aquecimento feito, a dama se coloca aos exercícios livres, para se preparar para a musculação, começando com cinqüenta flexões de braço, seguidas por tantas outras abdominais, ambas com muitas variantes seguidas. É uma mulher bonita, cuja postura e boa forma física acentua a impressão estética. Ela começa a suar às bicas, que era o que pretendia, o que significa que está pronta para a parte pesada sem estar cansada para tanto, mas tem idiota que pensa que ela está se exibindo por sua causa...

- Aposto que ela té se mostrando pra algum macho!
- Nem precisa apostar, mulher só sai de casa pra caçar homem mesmo!
- Ainda mais vestida desse jeito.
- Pra quem será que ela tá querendo dar?
- Pra quem tiver mais status. E eu acabei de tirar minha Dodge Ram 2500 da loja, enchi de som e neon...
- Rá, rá, rá, rá, rá, rá, rá, rá, rá, rá, rá...

Pé ante pé, em passos circulares e femininos, resultado de sua musculatura bem tonificada e disciplinada, que acentua o requebrado naturalmente, à sua revelia. O instrutor notou que ela está ficando mais forte, negocia um acréscimo de carga, mas ela não quer ficar musculosa. Adicionam apenas vinte quilos, e ela passa a empurrar duzendos e cinqüenta quilos no supino. Ao contrário da maioria, não se expõe demais ao sol, sua cor é natural e não desbota quando viaja à casa dos pais, Em Brusque. Como não economizou com a malha, ela copia suas formas sem enrugar, ficando quase como uma pintura de pele...

- Não tem jeito! Não tem jeito merrrrrmo! Ela tá querendo dar!
- Ah, eu no meio dessas pernas abertas, agora!
- Na saída eu mostro minha caminhonetona pra ela e quero ver!
- Se ela for boa de segurar que nem segura nessas barras...
- Quem será o corno com quem ela casou?
- Só corno mesmo pra deixar a mulher se exibir desse jeito!

Trinta quilos em cada braço. Impressiona o tônus muscular da jovem. Ela não parece ser tão forte, mas é! Gosta de subir as escadarias de seu ambiente de trabalho, quando não tem uma audiência marcada, indo e vindo várias vezes. A facilidade com que carrega as sacolas de compras e atravessa as ruas com elas, a convence a manter a rotina de exercícios. Para o deleite dos amigos, o que inclui os funcionários da academia, o instrutor decide voltar a medir a boa praça que ela é. Sabem aquela cinturinha de pilão da Mulher-Gato? Pois é...

- Certeza que ela tá se exibindo pra um homem! E pode ser um de nós!
- Mas é claro!
- A gente somos os macho-alfa da academia, tem que ser pra um de nós mesmo!
- Depois de mim, ela não vai querer saber de outro!

Um desaquecimento gradual para terminar a sessão de hoje, com a malha molhada de suor, atiçando mais a imaginação de quem se acha. Um alongamento e está pronta, como nova. Encontra uma advogada que só costuma ver em audiências, mas com quem já teve boas conversas. Prefere fazer jus ao seu apelido durande as sessões, mas fora delas, é uma jovem como outra qualquer, faz questão disso...

- Meritíssima, a senhora por aqui?
- Sem essa, Malena, aqui eu sou apenas a Marcela.
- Não sabia que malhava, Marcela.
- Pra desestressar das audiências. Soube da última?
- Soube, mas então foi você que...
- O policial estava muito longe, tive que quebrar o nariz do réu, pra me defender!

Eles brocham. Enquanto elas conversam, começam a engolir tudo o que conversaram, certos de que ela mesma efetuaria a prisão dada por sua voz. Aquele mulherão maravilhoso, aquele monumento à humanidade, aquele exemplar perfeito do gênero feminino, é juíza de direito. Seu apelido: General Marcela. Eles voltam a cogitar as menininhas burras e ávidas por passear em um carro apreciado por suas turmas, como sempre. As amigas saem alegres aos seus carros, Marcela à Caravan customizada, na qual mandou colocar mais duas portas e pintou de vermelho vivo em dois tons.