24/03/2011

Estou com Solda e não abro

O macaco da discórdia
Eu nunca pensei que ansiaria tanto por um cataclisma! O ano de 2012 está demorando demais! As criaturas das trevas estão fomentando a imbecilidade como jamais o fizeram em toda a história e pré-história, cientes de que em breve serão mandadas para um inferno de onde não terão mais oportunidades para tanto. Estão se empanturrando antes que o banquete acabe.

Paulo Henrique Amorim, antes um jornalista que eu respeitava, fez um comentário abestalhado sobre a charge do amigo Solda, comentário que teve repercussões péssimas. O amigo Solda foi demitido do jornal O Estado do Paraná, este que eu também respeitava. Parou de publicar em papél e se enfiou na era digital, mas a mentalidade regrediu para os tempos da prensa manual. Em vez de investigar, com medinho do que o politicamente patético diria, preferiu punir um colaborador antigo sem dar (aqui) chances reais de defesa.

Acontece que por causa de uma charge, na qual Solda desenhou um macaco dando banana para os americanos, o acusaram de ter chamado Obama de macaco. Um grupo histérico, em vez de investigar e constactar os factos, simplesmente mandou e-mails para todo mundo, inclusive para os amigos do Soruda San, entre os quais eu, acusando-o de racismo, usando de uma longa e enfadonha retórica para embasar suas fundações rasas. O próprio Obama teria tomado uma atitude se fosse verdade, pois ele teve uma educação austera, severa e disciplinante o bastante para formar seu senso crítico.
Ou vocês pensam que os verdadeiramente racistas reacionários da oposição (eles sim, têm uma) engolem a leveza com a qual ele ganhou as eleições? Noutra oportunidade falo da sabotagem, que as festas do chá de erva maldita promovem contra ele.

Este é o Obama de Solda

Eu conheço o Solda. Acompanho há quase uma década o seu trabalho e o seu escracho. Ele é trabalhólatra assumido, se recusa a ser workaholic em prol da língua portuguesa. E ele trabalha vinte e quatro horas por dia, aos olhos dos leigos, pois até sonhando modela idéias para suas charges. Ele faz, na realidade, o que disse o sábio chinês, quando sábios eram profícuos na China: Escolha algo que goste de fazer e jamais terá que trabalhar. Dom Suelda gosta de alfinetar o que há de errado através do humor, que para quem conhece fere mais do que um tapa. Ele se diverte trabalhando como um entusiasta do automobilismo, em um laboratório de mecânica. Se ele for racista, nenê, então eles também são.

Não sei e não quero saber quem foi o burro, o completo analphabeto que impôs o termo "raça" à constituição, termo que os cientistas e os magos negam existir na humanidade. Mas a anta em questão acabou oficializando e estruturando algo que era informal, não assumida como deve ser todo e qualquer desvio de caráter. Hoje os grupos realmente racistas têm em que se apegar. Muito obrigado, cretino, por arruinar o trabalho pela tolerância e derrubada de barreiras, que minha geração tanto trabalhou para construir e terá que refazer a duras penas. Ninguém aceita ou rejeita algo na marra, na base do decreto. Mas vá dizer isto aos burólatras ineptos de Brasília! Raça, no conceito original, se refere a uma nação, não a um biotipo. Na época as nações pouco se misturavam e acabavam acentuando fenótipos, mas isto era conseqüência da desconfiança com os estrangeiros, que mesmo assim, vez ou outra, conseguiam entrar para a família.

Algo que os idiotas não sabem: Solda vestiu a camiseta do Obama, quando ele era candidato. Só não votou nele porque não é cidadão americano. Fez campanha como o grande fanfarrão que é, para desespero de certos grupos de Curitiba; estes sim mereciam ser vigiados, mas os histéricos só olham para quem aparentemente pode ser facilmente punido.

Fiz há quase um ano o texto (aqui) "Ditadura dos Coitados", onde descrevo uma ficção inspirada em factos reais, quando um blogueiro foi processado por dizer gosta "desse pretinho", referindo-se ao sabonete Phebo Patchouly, que eu também adoro. Clique no nome e visite a mítica marca, que não me deu nem dará um centavo sequer para dizer isto. Se ele dissesse que lambe o copo de uma loura gelada, poderia ter sido processado pelos caucasianos? Doeu ver a ficção se realizar com gente tão próxima.

Só se eu fosse muito ingênuo, para acreditar que não existe racismo. Só se eu fosse muito ingênuo, para acreditar que terror combate racismo. A verdade, caros leitores, é que muita gente ganha com essas histerias, ganha em termos políticos, ludibriando gente indignada e revoltada para alçar vôos mais altos e perenes. Conheço a política por dentro, conheço a imprensa por dentro, conheço a publicidade por dentro. Aos palhaços que vez ou outra aparecem, me mandando estudar seus manuaizinhos comunofascistas, respondo preventivamente que não sentei a buzanfa em uma sala com ar condicionado, em vez de trabalhar, para decorar baboseiras de um monte de pseudo-intelectuais cujas teorias a minha vida desmente na prática. Da mesma forma como gente assim me chama de "pelego" e "reacionário", panacas da mesma estirpe, mas de gangues rivais, me chamam de "comunista".
Não, eu não tenho ideologia. Tenho raciocínio lógico, senso do ridículo, noção de limites e outras tranqueiras que já são difíceis de se encontrar. Quem aceita rótulo é refrigerante, cousa que não bebo. Ideologia, ao contrário do que fazia há uns vinte anos, escraviza, é um dogma para ateus e teístas radicais.

Para os que ainda não foram capazes de deduzir e não se deram ao trabalho de perguntar, o macaco que Solda desenhou é o brasileiro, que finalmente deixou de imitar tudo o que se faz no exterior e passou a dar banana para os abusados, que aqui chegam como se o Brasil fosse seu quintal. Como sei? Ao contrário da maioria de vocês, eu conheço o ilustre cartunista. Um dos destinos preferidos dele é o Piauí, onde é recebido por uma comitiva bastante colorida de amigos nativos.

Mas engana-se quem acha que um profissional desta estirpe ficará na penúria. Engana-se esphericamente. Já tem gente indo para fila do osso que o cachorro bobo largou. E vejam que "ironia", um advogado negro, que os amigos chamam de "negão" na intimidade, abraçou a causa. Coloquei entre aspas, explico aos que se esqueceram do que é a ironia, para mostrar que se trata de uma ironia. Ah, sim, tem gente novinha e de boa vontade que não teve acesso... Pois cliquem aquiaqui, aqui, aqui, aqui e aqui, et voilá, um mundo novo, mais colorido e divertido se abre diante de vocês. Vão lá e se ponham a praticar, mas com moderação, que o mundo de hoje é perigoso para gente bem-humorada.

Uma lição de bom senso que tive na vida é: Pessoas não são fenômenos! Dois indivíduos não fazem a mesma cousa pelos mesmíssimos motivos. Se quer conhecer a obra, conheça seu autor.
Para quem ainda não se deu conta, querem implantar no Brasil a mesma amaldiçoada indústria de indenizações que há nos Estados Unidos. Criar inimizades gratuitas e dividir concidadãos de um país faz parte. Não há escrúpulos em quem vive disso. A desgraça do justo é o regozijo do perverso.
Recado para quem procura chifre em testa de cavalo

18/03/2011

Dói no Japão, dói em Amanda, dói em Nanael

Assim era, assim tornará a ser.
Amanda (aqui) é como uma sobrinha postiça. O que lhe dói, me dói também. Pois hoje ela está muito condoída pelo ocorrido no Japão. Peço que cliquem nos links, pois foram selecionados e colocados aqui para que meus leitores conheçam o Japão, para assim deixarem os preconceitos sucumbirem à força do conhecimento. Conheçam a verdade e ela vos libertará.


Menina Amanda tem pelo nascedouro do sol o mesmo amor que tenho pela Alemanha (aqui e aqui). Não nos negamos a brasilidade que trazemos na genética, mas quem me acompanha sabe que meu ateísmo ficou lá atrás. Temos ligações fortes com estes países que, em comum, compensam o grande número de feriados com o amor descomunal pelo trabalho árduo e pela eficiência no ofício. Eu já tinha em mente algo sobre Nipon, mas lamento que precise antecipar o assunto por algo tão triste.


Aproveito para dizer aos abutres de plantão, não é a primeira e não será a última vez que os japoneses se erguem de uma terra arrasada. Não pensem que por terem se acostumado a aplicar tão intensivamente a tecnologia de ponta, eles amoleceram ou se esqueceram de quem realmente são, ao contrário de nós. Ninjas e Samurais ainda existem, ainda há escolas que ensinam com amor e rigor a arte dos agentes secretos e dos guerreiros de outrora. Hoje eles lutam contra um inimigo que vai matá-los. Estão todos empenhados em conter e reverter as mazelas dos vazamentos radioativos. Eles sabem que vão morrer por isso, que será tão menos doloroso quanto mais rápida for a morte, que certamente a maioria demorará muito a morrer. Mas morrerão felizes pelo dever cumprido, por terem defendido seu povo e sua terra, por terem redomado o monstro que deve ser servil e não senhor. O Japão é dramático por natureza, mas é um drama de bom gosto.


O Japão é um arquipélago de pouco mais de 377.000km², pouco mais que o tamanho de Goiás (aqui e aqui). Se não lhes parece ser tão pouco, leve em consideração que se trata de um arquipélago, que o território é extremamente recortado e motanhoso. Agrava o facto de que muitas ilhas são bastante distantes entre si. Em resumo, o território realmente aproveitável é muito pequeno para mais de cento e quarenta milhões de habitantes. É por isto que eles optaram pela energia nuclear. Eles sabem dos riscos, sabem da vulnerabilidade, mas não têm território para hidrelétricas, estações eólicas e muito menos as vastas áreas de que necessitam as células photovoltaicas.
O único país que, hoje, poderia fornecer energia abundante é a China, que é uma ditadura monopartidária, que ainda tem rancores históricos e de vez em quando ainda chantageia os japoneses com boicote de matéria-prima.
Todo japonês que se preze gostaria de ter electricidade fornecida por rios, mas nem termoeléctricas eles têm onde instalar, mesmo as mais eficientes. Optaram pelo risco da alta eficiência, até que surja o que substitua à altura as usinas nucleares, ou até que a Rússia acorde, tome seu lugar no primeiro mundo e possa vender as grandes quantidades de energia de que eles precisam.


Mas se engana quem pensa que os japoneses estão choramingando e pedindo esmolas, por causa da tragédia. Eles estão procurando e contando os mortos para sua última homenagem, para então arregaçarem as mangas e reconstruírem o país.
Os artistas (aqui) estão cancelando turnês, principalmente no exterior, para empenhar esforços na reconstrução e no apoio às vítimas.
Ajuda a presteza de Fräu Merkel em ajudar a desvalorizar o iene e facilitar as exportações japonesas, mesmo com a Europa também imersa em uma crise financeira grave. Mas não é o amparo mútuo o meio mais rápido de superar uma crise? Bem, minha gente, vamos comprar bonecas Momoko (aqui) e outros artigos japoneses de primeira qualidade. Simples, sim, mas de primeira qualidade, como os kei cars (here e aqui) os famosos microcarros japoneses, que contam com uma série de isenções para compensar suas dimensões minúsculas, e que seriam a alegria da garotada no Brasil, se fossem importados. Robôs, que ainda metem medo em muitos ocidentais, também são produzidos para uso doméstico no Japão, onde são como bichos de estimação (aqui e aqui) ou companhias de pessoas solitárias. O que os japoneses usam hoje, nós só vemos em filmes de ficção científica.


Outra crítica típica de revoltadinhos leigos, que se enchem de informações rasas, é a ocupação de "áreas de risco" pelos japoneses. O motivo que os leva a optar pelas usinas nucleares é o mesmo que os leva a ocupar cada pedacinho de terra disponível. Qualquer pedaço de solo fértil é utilizado para plantar algo, não há desperdícios. Só que eles não fazem simplesmente chegar ao lugar e construir um barraco, contando com uma futura regularização. Os engenheiros sempre chegam antes, depois dos engenheiros a adequação (se aprovado) do terreno, depois a infraestrutura, depois os arquitetos e só então os prédios são construídos. Não é como aqui, onde o Estado faz vistas grossas para qualquer absurdo de olho nas próximas eleições, e em novos problemas graves sobre os quais possam fazer promessas e discursos retóricos absolutamente vazios de conteúdo. Por falar em infraestrutura...
Enquanto o nosso trem-bala se tornou uma novela ruim, um pastelão sem graça, cheio de furos e pleno de incompetentes (aqui, aqui, aqui e aqui) atrapalhando e ganhando com a demora, o trem-bala japonês (aqui, aqui e vídeos aquiaqui) está em sua terceira geração e não causa nenhum espanto, de tão comum que já é na paisagem. A passagem é um pouco mais cara, mas o japonês tem pressa e sabe dos benefícios de usufruir e financiar um avanço tecnológico desta monta. Lá o burocrata se limita a analisar e encaminhar documentos, não dar pitacos leigos em assuntos de alto grau técnico.
Não foi por culpa deles que a tragédia se deu, foi uma calamidade natural. Então os manoéis coloquiais tratem que ler além do que seus grupecos dogmáticos mandam, para não derramarem mais leviandades e torpezas na internet.


Mesmo com a crise, o padrão de vida do cidadão japonês é muito alto, bom para qualquer padrão mundial, impensável para os nossos. A alta carga tributária é paga sem maiores queixumes, pois os serviços prestados pelo estado estão à altura. As ferrovias são a base bem tratada do transporte nacional, as estradas são consertadas quando necessário e não se nota nenhum desnível ao volante, os aeroportos são modernos e não têm apagões aéreos, os metrôs são praticamente bicicletas sobre trilhos para os japoneses. Aliás, o de Tóquio, inaugurado em 1927, (aqui e aqui) é de babar! Deixa qualquer forasteiro abobalhado, e os nativos se esmeram em ser simpáticos e dar informações precisas. Principalmente se o forasteiro for um brasileiro. Para quem não sabe, Lisa Ono (esta) é a maior cantora de bossa nova viva do mundo, e a cultura brasileira é muito mais e melhor preservada por eles do que por nós.


Vocês, leitores mais habituais, devem estar se perguntando como um povo tão acostumado a tantos confortos, está se virando com a tragédia. É que eles estão simplesmente acostumados, não se apegaram a eles. Eles usufruem porque os deuses (sob ordens do Criador) lhes deram condições genéticas e ambientais para construir tudo isso, é para eles um gesto de agradecimento aceitar e usufruir de um presente. Por isso os empresários japoneses têm o hábito da troca de presentes, quando vão negociar. Isto não só humaniza a negociação (horror para os hedonistas que causaram a última crise) como transforma o trabalho em uma extensão da vida pessoal e do lazer. Eles têm o que ganhar convivendo conosco, mas o aprendizado de nossa parte também seria imenso.


Páginas dedicadas ao Japão, em potuguês, há muitas. J-Station (aqui) e Festival do Japão (aqui) são os de competência cultural mais acessíveis que encontrei, são muito completos e rotineiramente actualizados. O J-Station cuida  mais de novidades musicais e afins. Existe inclusive um blog (entre e desfrute aqui) cujo titular tem dez anos de vídeos feitos no Japão, quando morou lá.
Sites oficiais, também acessíveis, são os da Embaixada e do Japan on Line (aqui e aqui), que dão notícias sérias e consistentes, sem o dramalhão feito para vender notícias a que nos acostumamos.


O Japão precisa de ajuda. Não precisa ser carregado, precisa de um ombro onde se apóie até conseguir andar sozinho de novo. Apesar das diferenças, especialmente ambientais que merecem reprimendas, os japoneses fazem juz ao meu respeito. Eles tiveram a humildade de reconhecer a derrota e transformá-la em vitória, utilizando a força de seu oponente de então, os Estados Unidos, para alavancarem sua economia e passarem de terra devastada para oásis tecnológico. Como no judô, a força que o derrubou serviu para devolver-lhe a dignidade.
Não são um povo rancoroso, tanto que se tornaram os maiores aliados dos americanos. Mais do que tudo, são gente. São pessoas. Seu gentílico, uma identidade para saberem quem são, não altera os quarenta e seis cromossomos que os torna tão gente quanto nós. São tão bons e maus quanto nós. Interesses, como os empresários bem sabem, podem muito bem ser compatibilizados com uma boa negociação e um bom senso do razoável. Assim feito, todos ganham. E a recuperação japonesa é boa para todo o planeta; à excessão de uma ditadura, claro.


Enquanto as bugigangas bonitas deles ficam quase tão baratas quando as bugigangas bonitas, mas mal feitas e descartáveis que invadiram nossas lojas, e as importadoras se encarregam de nos trazer algo bem feito por gente bem paga sem artifícios cambiais unilaterais, vamos poupando nosso dinheirinho para ajudar quem certamente não se furtará o dever de retribuir o amparo.


Para terminar, uma artista bem recomendada pelo J-Station, a jovem Mai Kuraki (vídeo aqui, site aqui e blog aqui), que também cancelou turnês para arregaçar as mangas e ajudar seu povo. Menina linda, não?

14/03/2011

Minha amiga Lilly

Lilly é uma fada, mas nasceu e foi criada em um corpo humano. Como minha irmã de caminho Aredhel, ela não se adaptou ao corpo frágil nem à moral humana, ainda mais frágil do que o corpo costuma ser. Como toda fada, tem sua beleza refinada, mas que não revela a quem não merece.
Plantando uma sementinha, como Paralda ordenou, precisou recorrer aos meios mundanos para criá-la com dignidade e disciplina necessários.
Lilly é uma fada de grande talento, como o são todas as fadas. Mas ela desenvolveu um talento ainda maior para a percepção visual, dedicou-se como pôde à photographia.

Tudo ia bem, na melhor medida do razoável na vida humana de Lilly (Lilly, a Rosa, como a conhecem no astral) até que começou a incomodar. Não de propósito, não com o intuito de incomodar, apenas trabalhou direito onde trabalhar torto é a regra. Especialmente entre os íntimos da polticalha.

Acontece que a frágil moral humana inclui altas doses de vaidade e inveja. O modo que encontrou para viver como humana foi trabalhar no serviço público. Acreditou que teria garantias, apesar de ganhar menos. Ahá! Neste mundo não há garantias para gente honesta!
Sendo honesta como toda fada não corrompida, Lilly trabalhava bem demais, resolvia problemas demais, acabava mandando trabalho demais para os outros, os fazia parecer quase tão incompetentes quanto realmente são. Passaram a perseguí-la.

Já ouviram falar em petralha e tucanalha? Pois adicionem pevetralha, demonalha, petebralha e tudo quanto é "alha" que puderem imaginar. Mexeu com seus protegidos, o discurso de serviço ao povo cai por terra.
Lilly pasou a ser perseguida do modo mais covarde e cruél, com excessos de trabalho e denegrimento de seus serviços. Passou a ser desprezada pelos "defensores dos trabalhadores" e "defensores da livre iniciativa". A iniciativa é livre desde que não lhes tolham a ganância. O trabalho bem feito da fada tolheu.
Um elemental ama o que faz. Para ele não existe diferença entre diversão e trabalho. Dá tudo de si o tempo todo àquilo que faz. Não desperdiça, não usa mais do que precisa, reutiliza sempre que pode tudo o que pode até o quanto aquilo puder ser utilizado. Sem desperdício não há reposição descriteriosa, não há licitações descriteriosas e, por conseqüência, não há cafezinhos.

Fada Lilly está doente. Se recuperando do desgaste e das enfermidades decorrentes desta perseguição, sem contar o descaso que sempre sofria quando ia fazer as perícias. Mesmo diante de seu quadro, os médicos dos Alhas a consideravam apta ao trabalho e aconselhavam punição por falta injustificada. Foram muitos laudos, até o Gnomo Soubaim a aconselhar o recurso judicial.
Sob a iminência de uma punição severa, os laudos estão sendo refeitos e todos favoráveis à Lilly. Por mal que se fale do judiciário nacional, há os magistrados que ainda não se venderam à vaidade e às amizades, recusando-se a "olhar com carinho" àquilo que merece mais rigor do que a lei é capaz de fazer. Os covardes materialistas, assim como os cegos pelo fanatismo, não enxergam que o gonomo não está sozinho. O parceiro elfo de Lilly, a Rosa, agüenta a parte material da família para que ela possa se dedicar a si, enquanto as hostes pertinentes fazem seu trabalho e impõe à magistratura a severidade que cabe ao assunto.
Arrependimento ela sabe que os falsos amigos não têm, eles têm é medo de que uma piora em seu quadro, que não virá, motive investigações mais profundas e quem os indicou se sinta ameaçado, deixando-os sozinhos. Covardes só se associam a covardes. Quando o perigo é real, cada um se enfia em seu buraco e deixa até os filhos para trás.

É assim no mundo inteiro. Ainda mais em um país onde a população foi convencida de que honestidade é pecado capital. Onde competência é uma ameaça e cultura motivo para escárnio. Há secretários de "Educação(?)" de Estado que não sabem que há uma África branca. Mas sabem de cór e salteado cada episódio dos boçais balançando bundas. Votar em coligações dá nisso.

Mas todo e qualquer karma que Lilly, a Rosa, tinha a queimar já foi mais cobrado do que o necessário. Ela está com bônus. Se há funcionários honestos como ela, também há juristas querendo, a todo custo, mudar a má fama de que padece o fucnionalismo público. Também há uma legião branca de elementais, reis, bruxas brancas, heróis, deuses, heloins e o próprio Mestre a agir em seu favor.

Lilly, a Rosa, não vai desistir. Tem seu pequeno elfo a quem dar o exemplo. O que insisti que fizesse insisto aos leitores. LUTEM! NÃO DEIXEM QUE LEVEM DE GRAÇA O QUE LHES É DE DIREITO. Não se detenham até que todas as vias tenham sido percorridas. Ninguém vence quem jamais deixa de lutar. Os perversos que jogam o nome de nosso país na lama são covardes. Assim que se vêem sozinhos, sem saída, choram ajoelhados e se sujeitam a tudo o que vocês quiserem. Lutando com afinco e justiça, eles se cansam, pois são fracos. Usam de violência porque sabem que em uma contenda prolongada a fadiga lhes toma de assanto e ficam à mercê de tua espada justa.

LUTEM! Mesmo fadigada e enfraquecida, Lilly, a Rosa, está lutando. Porque luta toda a esphera do bem que a acompanha. Ela não desistiu e não desistirá. Não desistam vocês também. Não deixem que os canalhas torpes sejam exemplo para teus filhos. O sejam vocês. LUTEM! O que lhes é de direito não deve ir para quem não merece e a ninguém sem a tua permissão. Paralda a enviou e a ampara agora

Os perversos jamais encararam os justos em formação de combate. Sabem que seriam massacrados, pois só lutam por seus egos inflados, que murcham rapidamente à lâmina afiada da Justiça. LUTEM a luta justa! Ainda que se vejam sozinhos, suas memórias em meditação lhes darão o caminho àqueles que se porão ao teu lado. Não dêem ouvidos aos medrosos que se acovardam e se escondem ao menos sinal de sombras, delas uma vela débil sozinha dá conta.

Lilly, a Rosa, não é ficção. Para quem estudou magia à sério, ela é sim uma fada. Para quem estudou a bíblia à sério, mas A Bíblia e não os dogmas desta ou daquela seita, a certeza de que ela não está sozinha impera. Ela tem seu elfo consorte para ampará-la em corpo, bem como este gnomo enfezado para limpar a sujeira de deixaram em seu caminho. Atrás de mim tem muito mais gente trabalhando. Faremos tudo por vias legais, respeitando o livre arbítrio, não deixando precedentes para outros perversos se aproveitarem.
Se ainda assim teimarem em tomar o que não lhes pertence, o Corvo de Batalhas está com sangue nos olhos.

12/03/2011

Diversidade sem politicagem

Pois é, minha gente, os anos sessenta e setenta provaram que é perfeita e facilmente possível incentivar a tolerância, a diversidade e a igualdade na raça única, e cheia de biotipos, que é a humanidade terrestre. Não existem raças nesta espécie, ao contrário do que malandros de colarinho branco apregoam.

Há um blog americano sobre quadrinhos antigos... É, para a maioria de vocês eles são antigos. Bem, descobri este blog há poucos meses e esperava uma oportunidade para falar a respeito. A falta de tempo, que me obriga a fazer este um texto compartilhado entre Palavra de Nanael e Talicoisa, agora com cunho mais pop cultural, me deu a chance. Semana que vem trato de assuntos mais espinhosos, mas só no Palavra.
O blog (este) é Out Of This World, do simpático cidadão conhecido como KB. Sujeito maduro que decidiu partilhar seu acervo com quem gostar dele.

O movimento começou nos anos cinqüenta, quando ainda se corria o risco de represálias da KKK, a Ku-Kux-Klan, ou cocô-cocô-cocô para quem sabe o que eles têm na cabeça. Na época o apartheid ainda vigorava nos Estados Unidos e a união conjugal entre negros e brancos era crime. A turma do Bush queria perpetuar isto.

O marco mais significativo foi um quadrinho sobre Martin Luther King, este aqui, de um título que costumava tratar de história social de modo leve, mas inclemente e sem poupar ninguém. Isto encorajou as editoras a meterem a cabeça no assunto e mergulhar na piscina dos quadrinhos de igualdade inteligente. O interessante desses quadrinhos é eles não abordarem o assunto. Sim, eles não consideram em suas páginas, quase sempre, a relação branco-e-negro como um assunto. Fazem sabiamente entender que seria como abordar a relação gente-e-gente. Simplesmente mostram negros e brancos, héteros e homens visivelmente efeminados em situações cotidianas, hora se abraçando, ora querendo torcer o pescoço, como acontece com pessoas normais... Ou quase. Lembremos que foi a época da psicodelia, algumas estorinhas parecem ter saído de um retiro espiritual demasiadamente profundo, ou de uma dose maciça de LSD. Uma boa dose de absurdo faz parte da ficção.

O quadrinho que ilustra o texto saiu de Bunny (aqui), com a personagem título trabalhando como modelo com sua amiga Marcy, que é negra e costuma invadir o gibi da amiga sem pedir licença, mas deixando ela fazer o mesmo. Pela indumentaria vocês podem imaginar o que foram os anos sessenta. Mó barato, aí! O broto papo firme está numa boa com seus camaradinhas, tendo um lero musical com a patota do bar.
O facto de não abordar, de modo politiqueiro, o que deve ser natural e incentivado como tal, permitiu aos roteiristas escreverem tramas leves, fáceis de entender e ricas em entrelinhas, que os mais intelectualizados e os mais sensíveis percebem facilmente, ao passo que os menos intelectualizados e os mais superficiais simplesmente se divertem com o ridículo alheio. Faz parte do espetáculo.

Uma característica da linguagem é a ausência de discursos. Não há diálogos idiotas como "Nós, os afrodescendentes como se não houvesse pardos e brancos na África, estamos conquistando nosso espaço dia a dia na sociedade racista que ainda oprime e reprime, negando a igualdade racial potoca-potoca-potoca..." que hoje são inseridos em qualquer situação, mesmo em cenas de batizados. Não há a subliminar prática racista anti-ariana e negros não são tratados como coitadinhos. Ninguém é coitadinho nestes quadrinhos, que levam a assinatura da longeva Archie Comics (site oficial), que começou a se mostrar estranha ainda nos anos quarenta e está na activa até hoje. Por falar nele, o site tem uma página de download gratuito e seguro, que já doou mais de dois milhões de arquivos, entre aqui e se divirta. Eu disse que esses quadrinhos antigos dão de cem a zero nas bobagens politicamente patéticas de hoje.

Desde que o abolicionista Monteiro Lobato (conheça-o) foi barrado de muitas escolas públicas, acusado de racismo, me desiludi completamente com os órgãos que deveriam ser culturais. Percebi o que há por detrás da decadência veloz que assola a cultura de massas: politicagem. Pessoas com reivindicações legítimas são iludidas por malandros que almejam vôos políticos, incentivadas a extremarem seus discursos e transformadas em massas de manobras. Como resultado a comunicação está cada vez mais artificial e sectarizada, pois é mais um aviso de punição iminente do que entretenimento.

Um exemplo que o Brasil conheceu foi Josie e as Gatinhas (here), que trabalha muito bem o estilo visto em Bunny and Marcy. Chegou a ter um desenho meio tosco, mas muito divertido, nos anos setenta, reprisado até início dos oitenta. Uma integrante da banda é negra com os devidos cabelos densamente encaracolados, e é um dos cérebros da equipe. Por ser negra? Não, simplesmente porque é um gênio mesmo. O único aparente estereótipo é a baterista loura, avoadinha, coitada! Mas não é burra, simplesmente com um enorme défcite de atenção.

Mas personagens mais antigos também entraram na dança, até antes, como Little Audrey, em um episódio bastante (este) instrutivo. O personagem negro é o pequenino Tiny, quase um Denis Mitchel careca, que sem querer põe a família com os nervos à flor da pele, e quando quer enlouquece de vez. Não há discursos de "O pequeno afrodescendente está fazendo o mesmo que os brancos fazem, então não deve ser punido". Simplesmente mostra uma criança hiper activa com uma criatividade acima da média pondo até mesmo a terível Audrey em apuros. Imagine mostrar isto a crianças americanas da época. Imaginem os gibis fazerem isto hoje. Alguém seria processado porque personificou Tiny como o pestinha da turma,  e não o garoto branco de chapéu, portanto é racista e vamos quebrar tudo! O mundo está ficando burro. Em vez de reverter, estão invertendo as discriminações e dando combustível para os cocô-cocô-cocôs que proliferam por aí.

Títulos com quase todos os personagens (e todos os principais) negros proliferaram na época, como Fatalbert e Fast Willie Jackson, que poderão ver no blog indicado. O que me faz lembrar inclusive de uma propaganda na Cruzeiro, sobre uma cadeira de rodas, onde o sujeito diz, "com licença, tenho pressa", como qualquer homem de begócios a caminho de uma reunião. Não havia espaço para coitados, os políticos ainda não tinham se dado conta disso e não estragavam os enredos. O que vão pensar de mim por este texto não me interessa, até porque já pensam desde que comecei a blogar. Deturpariam tudo o que eu dissesse não importando o que fosse, então que vão os que não gostam porcurar algo útil para fazer.

Quando não metem políticos no meio, as pessoas se entendem.

04/03/2011

C.A-Cabos Anônimos

Este texto foi escrito com base  no direito inalienável do leitor, que pode sugerir, pedir, suspirar, dar indirectas ou mesmo avisar que um tema é importante e merece ser tratado aqui. Embora me dê o direito de apagar comentários de panacas que se acham engraçados, ou de revoltados sem causa, também me permito fazer este mimo aos leitores normais... Se é que tenho algum assim. Advirto que a ficção aqui descrita é fiél à realidade. Não existe um "Cabos Anônimos", mas relatos que ouço desde criança (faz teeeempo) coincidem com o texto abaixo. Que sirva de alerta aos leitores; Eleições são a lã com que os lobos políticos se vestem para chegar às suas presas.

Este tópico foi abordado a pedido da leitora Bagda, que não se esqueceu daqueles chatos de galocha que somem depois de Outubro, mas só da cena pública. Continuam sentindo fome e sono como todo mundo. Algumas passagens são reais e os nomes foram alterados para proteger as pessoas.

A sala estava cheia. Todos, à excessão da equipe de apoio, estavam chorosos, alguns salvos por um fio do suicídio, um deles por vias cruéis; overdose de reality show. A sessão do Cabos Anônimos começava com a chuva a tamborilar no telhado daquele casebre sem forro...

- Amigos, boa noite. É com grande alegria que trago notícias de que seis de nossos membros estão curados. Nas últimas eleições eles não acreditaram em ninguém, não deixaram seus empregos, não assumiram dívidas e não saíram de casa para trabalhar de graça para nenhum político. Hoje estão todos bem colocados em bons empregos, dois deles reabriram seus negócios e estão prosperando.
Entretanto, temos alguns companheiros que não conseguem se desvencilhar das promessas reincidentes e vazias dos salafrários, que se aproveitam da boa fé e do desespero alheio para se darem bem, e depois virarem as costas como se nunca os tivessem visto em suas vidas podres. Peço ao membro recém-chegado que preste bem atenção, para que nunca mais volte a depositar esperanças em falsos estadistas. Deposite-as em você e ninguém mais. Pode falar, Margareth.

- Eu tinha um bom negócio. Era uma lan house e locadora, na José Hermano, aqui mesmo em Campinas. Eu não pensava em ser cabo eleitoral de ninguém, já que ninguém nunca tinha aparecido pra me ajudar a começar e tocar meu negócio. O vereador Breno Padilha já foi meu vizinho, quando era pobre. Depois que se envolveu com política, virou outra pessoa, passou a só aparecer em época de eleições. Eu achava que, conhecendo a peça, estava imune e não precisava me preocupar.
Pra não delongar vou à parte que interessa. Ele descobriu que eu tinha carisma e algum prestígio no bairro, e que minha casa ficava em um lugar estratégico, de fácil acesso para Goiânia inteira. Como vantagens pessoais não me interessam, a lábia dele foi a de virar deputado pra poder pressionar a prefeitura e dar à Campinas o "tratamento que o berço da capital merece", nas palavras dele. Meus parentes gostam dele, então não podia simplesmente expulsar ele de casa, ele ajeitou para sempre aparecer quando eu estava em casa. com a insistência eu acabei cedendo.
Ele foi me envolvendo com aquela conversa bairrista, quando me dei conta tinha virado uma militante da causa campineira. Sonhava com a volta da vida tranqüila e segura que este bairro já teve, antes da invasão do comércio e dos congestionamentos.
Negligenciei meu negócio, vendi um carro, ele prometeu me ressarcir assim que fosse eleito e todo mundo ao meu redor incentivando... Meu negócio faliu. Tive que vender o outro carro e quase perco minha casa. O vagabundo foi eleito deputado estadual e me virou a cara. Quando fui cobrar, ele colocou os capangas pra cima de mim e ameaçou mandar me prender.
Hoje estou desempregada, vivendo de biscates. Desliguei a maior parte da instalação eléctrica da minha casa, isolei os banheiros das suítes e cancelei um monte de serviços que eu podia pagar antes, tirei meus filhos da escola particular e nunca mais comemos uma pizza sequer. E todo mundo põe a culpa em mim, fala que eu é que fui incompetente, que ele não me prometeu nada. Em parte eles têm razão, eu deveria ter comprado essa inimizade quando podia bancar a briga, ter dado uma surra em todo mundo em casa e proibido o cachorro... O desgraçado de chegar perto da minha família...

É amparada enquanto chora convulsivamente, se lembrando dos planos que tinha e dos sonhos que viraram santinhos. Os depoimentos se sucedem e os participantes notam um padrão em quase todos eles, como a sedução pelo carisma ou pela proximidade pessoal...

- Agora vamos ouvir o caso da Francisca. Ele teve mais sorte, está de mudança para Ribeirão Preto, em São Paulo, onde conseguimos para ela uma oportunidade de recomeçar sua vida. Mas como tudo o que falamos aqui, este é um semi-segredo que não deve chegar a ouvidos de não-membros...

- Eu caí pela enésima - e última, se Deus quiser - vez na conversa de um primo. Saí de um emprego de técnica em informática porque a agenda da campanha não comportava duas actividades. Trabalhei feito uma escrava, fiscalizando os outros cabos, providenciando refeição, servindo de relações públicas, ouvindo piadinha machista de cafajeste durante a campanha. Tinha vez que eu nem ia dormir, de tão tarde que tudo terminava, porque no dia seguinte tinha que voltar pro batente. Transformei a casa da minha família em quase um comitê, pra apoiar a candidatura. O nosso candidato ganhou, mas pra minha desgraça teve segundo turno pro executivo. Aí não teve jeito, eu tive que deixar de vez o emprego, com a promessa de uma colocação.
Perdi mais de dez quilos, me matando, fazendo de tudo pra eleger o candidato dele. Tudo mesmo. Teve até gante do outro candidato vigiando a casa da minha mãe, e ela com medo de algum irmão meu ser agredido.
Ele ganhou. Eu perdi.
Acabando as eleições, esse primo pediu pra dar um tempo, mas falou que eu podia me matricular numa faculdade particular, garantiu que eu ia ter ajuda pra isso. O tempo passou e nada, nem um merréis nem pro ônibus. Aliás, ônibus não, pau-de-arara que é o que Goiânia tem. Quando era campanha todo mundo me bajulava, depois que acabou ninguém me conhece. Dei tudo de mim e ninguém acha que me deve nada.
Como não tenho telephone fixo em casa, a referência que dou é o da minha família. Hoje todo dia alguém liga pra lá, pra fazer cobrança. É o colégio que nunca mais pude pagar, prestação atrasada, é a faculdade cobrando mensalidade, o meu irmão já perdeu a paciência e começou a ser grosso pra ver se eles param de ligar. Eu não tenho como pagar, e a dívida está no meu nome, não no nome dos candidatos que eu ajudei a eleger. Só quem tá na minha pele sabe o que eu tô passando.
Mas tudo isso vai ficar pra trás. Minha mãe pensa que eu vou pra casa duma amiga, passar férias. Quando eu estiver lá, estabelecida e com o primeiro salário na mão, é que vou ligar e avisar que só volto de férias pra Goiânia. Minha vida aqui acabou. Mas eu deixei de ser otária e agora vou pra uma cidade onde ninguém me conhece, onde ninguém vai me pedir ajuda, onde vou poder jogar tomate podre em quem vier me pedir apoio político. Só quem me conhece lá é o presidente do C.A da cidade, onde vou dar meu testemunho e avisar pra quem quiser ouvir: Só trabalhe de cabo eleitoral com carteira assinada, senão você se fode todo e todo mundo põe a culpa em você.

- Boa colocação, Chica. Trabalhar em eleições, só com direitos trabalhistas assegurados. Nós te desejamos boa sorte. Sentiremos sua falta, mas tenho certeza de que você vai colaborar muito com o Cabos Anônimos de Ribeirão Preto. Você com certeza vai ajudar mais pessoas a nunca mais caírem na conversa eleitoral de quem só pensa no próprio umbigo.

Os depoimentos terminam e a presidente local da ong passa para a agenda, os convênios com psicólogos que conseguiram e eventos de confraternização. O novato enxergou alguns de seus erros, que a sensação de culpa não lhe permitia ver. Decide também mudar de endereço, mas se mantendo na cidade. Trocará o número de celular, e-mail, perfil no facebook, enfim, vai sumir das vistas de quem não quer mais ver, nem que o veja.