29/04/2011

I.A - Incompetentes Anônimos


A sessão tem início com as boas-vindas da equipe, formada por ex-incompetentes, aos dependentes dessa droga nefasta. Após alguns socorros por cortes com papel-toalha e gente que se esqueceu de respirar, os depoimentos começam...

- Tudo começou na escola. Fui da primeira geração de alunos que foi empurrada, que não precisou estudar pra passar de ano. Fiquei viciado nas facilidade e acomodei. Com o tempo o guverno passô a dar ajuda, cesta básica, moradia, tudo sem exigir nada em troca, nem mesmo umas hora de serviço comunitário por semana. O pobrema é que eu fiquei despreparado, passei a não conseguir nada de esforço próprio. Quer dizer, eu conseguia fazer filho, foi seis em cinco anos e meio. O que era pra ser ajuda virou esmola. Mais eu tava nisso desde moleque, não conhecia outra vida!
- E quando mudou, (vamos chamar de) Patric?
- Mudou quando eu vi um carinha que tinha estudado na minha sala, no primário, de Mercedes-Benz. A gente malhava ele, chamava ele de otário porque ele ia pra biblioteca enquanto a gente transava com as mina no banheiro. Fiquei com uma raiva, mas com tanta raiva, que pulei na frente do carro dele. Acordei dois dias depois, no hospital. Ele tinha pagado o hospital pra mim. Mas meu pesadelo só tinha começado, porque minha família reconheceu um indigente, que dizer, outro indigente morto como sendo eu. Foi quase um ano trabalhando duro tudo o que eu não tinha trabalhado a vida inteira pra provar que tava vivo!
- Você não carregava um documento?
- Não. Achava que se caísse o Samu ia me levar. Hoje eu tô tentando me livrar da incompetência, e se Deus quiser eu vou conseguir. Já tenho um emprego de lavador de carro, pago eu mesmo o que eu como e tô quase aprendendo a escrever... é que eu tinha esquecido.

Aplausos ao esforçado, que apesar de recaídas tem se mantido firme na estrada para a competência.

Um idoso apelidado de Rogério toma a palavra, com a voz embargada pelo remorso...

- Eu fui chefe de uma repartição pública durante trinta anos. Minha situação financeira é boa, mas é só a financeira. Na época eu tinha prazer em humilhar meus subordinados, dificultar a vida do contribuinte e perseguir desafetos. É normal no serviço público. Até para desencorajar tentativas de tomar o meu lugar, eu obrigava o sujeito a refazer um ofício duas, três ou mais vezes, mandando encher de lingüiça e colocar trechos absolutamente contraditórios na redação, como escrever "Após cordiais cumprimentos..." sem tê-los feito em uma linha anterior. Se voltasse, eu colocava a culpa no funcionário, se agradasse eu assumia a autoria intelectual. Termos inúteis na língua portuguesa como "junto ao", "enquanto tal", "perante ao" eram como doce para um diabético. E o foram para mim, me intoxicaram de tal modo, que não consegui mais viver sem atrapalhar quem queria trabalhar. Parecia que só eu trabalhava direito naquela repartição, afinal eu era o chefe e só eu podia autorizar e desautorizar uma manifestação, nenhuma poderia ser feita sem passar por mim.
- Para quem não tem punição, parece mais fácil mesmo.
- E era! Era muito fácil! Mas quando eu me aposentei, adivinha quem foi à minha festa de despedida... Ninguém. Nem a minha família. Mas lá fora havia um monte de gente com câmeras, para registrar minha saída. Dois anos depois, quando precisei de serviços da minha ex-repartição, tive em meia hora o que eu fazia esperar uma semana para sair. Eu ouvia as pessoas comentando o quanto eu era incompetente e safado. Oras, eu reconheço que era incompetente, como quase todo funcionário indicado pela base aliada, mas nunca embolsei um centavo do que não fosse meu. Infelizmente eu percebi que a má fama estava instalada, que o boato tinha ganho status de verdade e ninguém contestava. Naquele ambiente eu não tive coragem pra me revelar, até porque eu não sei explicar como a documentação me foi entregue tão depressa! Eu não sei como aquilo funciona! Um ano mais e o meu orgulho de ex-chefe desabou, com ele o mundo que eu tinha construído. De tão empenhado em me dar bem, ganhando gratificações e extras, que descobri que fui um pai de família tão incompetente quanto era como director de autarquia. Pensei em me matar, até que descobri o I.A.

Embora alguns queiram torcer-lhe o pescoço, pois agora sabem quem atrapalhou suas vidas, aplaudem o tardio arrependimento do homem.

Chega um incompetente crônico, apresentado como Paulo, que respira fundo e pensa bem antes de começar a falar...

- Eu terminei a faculdade, mas devo confessar que foi por meios desonestos. Cursei direito pra tentar prestar um concurso e ter vida mansa. Sim, meus amigos, eu estava com más intenções desde o começo, por isso não reclamo dos apuros pelos quais passei. Mas confesso que está muito difícil largar o vício. Eu era muito carismático na faculdade, prolixo e cheio de retóricas, tinha prazer em estar certo mesmo estando errado. Eu seduzia os colegas com isso e ficou fácil, muito fácil tirar boas notas; memorizava para os exames, me encostava nos colegas que estudavam e eu considerava trouxas, decorava macetes para ganhar pontos extras, enfim, estava treinando com afinco para me tornar o canalha de colarinho branco que pretendia ser. Até o registro na OAB eu consegui com minha artimanhas. Só que a vida real não aceita trapaças. Sofri um acidente de avião, ninguém além de mim teve danos sérios. Fiquei quase dez anos na cadeira de rodas, cinco dos quais sem conseguir me expressar, assim eu perdi minha ferramenta de ascensão social.
- Como foi a sua recuperação?
- Eu ainda tenho problemas de cognição, então ainda estou me recuperando. Os amigos que tinha conseguido para meus planos se afastaram de mim, precisei me virar pra não ficar na pior. Tentei emprego de vendedor, mas sempre aparecia um cliente com conhecimento técnico pra me fazer passar vergonha; tentei ser balconista de drogaria, mas quase matei um paciente que eu tinha convencido a levar mais coisas do que ele precisava. Aos poucos eu percebi que era um completo incompetente, que tinha passado a vida inteira tentando passar os outros pra trás e não me aprimorava de verdade. Eu lia, me informava, mas só conseguia falar palavras bonitas e fazer discursos prolixos. Caí na real, eu devia era ter seguido a carreira de cantor, que minha mãe dizia que eu levava jeito pra ser. Hoje eu estudo música, pra tentar recomeçar a vida, apesar de a tentação do caminho fácil me atormentar todos os dias.
- Você tem boa voz mesmo! Pode nos dar uma palha?
- Vou tentar, mas ainda estou cru...





Alguns segundos separam a estupefação da ovação, ele é aplaudido de pé pelos colegas de entidade. No decorrer das explanações fica claro que o caminho mais fácil, o abandonar o sonho em troca do dinheiro rápido, a malandragem e a insistência em se fazer o contrário do que o coração manda, caracterizam o incompetente.

O último a falar nesta noite, encorajado pelos depoimentos, segue altivo e confiante ao palco. Se apresenta sozinho...

- Boa noite. Sou o ex-deputado Paulo Mezzo Ginia. Eu não conheci outra coisa além da política, nem outra moral (ou falta dela) que não fosse a dos políticos profissionais. Neste ramo aprendi a contestar e atacar ainda que o outro estivesse certo e que desta certeza dependesse a vida de alguém. O importante era eu estar certo, pois assim conseguia prestígio junto ao partido enquanto correligionário, ao nível de candidatável. Posto que assim era, assim eu o fazia, porque era esta a normalidade e eu estava inserido nela. Não pensem que há até um ano eu me importava, mas depois que minha mãe faleceu por minha culpa, eu percebi o mal que fizera à sociedade, enquanto raça humana.
- Sua culpa? Como assim? Ela não morreu de câncer no esôfago?
- Sim, mas a culpa é indirectamente minha. Eu, por motivos pseudorreligiosos das lideranças partidárias, barrei sem dó as pesquisas que poderiam tê-la salvo. Eu também, junto ao Contran, enquanto pressão política, ajudei a proibir que caminhões e ônibus construídos por pessoas físicas , ainda que passem com louvor nas inspeções de regularização, circulem ao nível de vias públicas. Também, para que nossos indicados a cargos comissionados e chefias não parecessem tão incompetentes quanto realmente são, ajudei a tornar mais ridícula a reforma ortographia. Alguns deles são incapazes de interpretar uma carta comercial, precisávamos poupá-los do vexame. O ideal seria investir em educação e até retomar o latim nas escolas públicas, digo isso porque já abandonei a vida política e não tenho mais o que perder, mas se isto acontecer, em quinze anos nenhum deles terá mais voto nem de si mesmo!
- Bom saber!
- Valeu pela dica.
- Diga como veio parar no Incompetentes Anônimos, Paulo Mezzo.
- Sim, claro. Esta instituição que ora me acolhe, que ironia, foi uma das vítimas de minha falta de caráter e completa incompetência para a lida com a administração pública. À época o nome me causava gargalhadas, até que minha santa mãezinha pereceu sob a sombra mórbida de minha amoralidade. Como o amigo ali, também pensei em dar cabo de mim, pois acreditava que nem para viver junto ao mundo enquanto ser humano eu servia, no nível de minhas amarguras. Eu não tinha competência para viver, até que este pensamento me fez lembrar desta casa e eu me empenhei na busca.
Amigos, é uma tarefa árdua viver como empresário honesto, sem maracutais nem costas quentes, mas juntos chegaremos à vitória!

Após os aplausos, o presidente da entidade dá a bronca da noite, e é justo ao ex-deputado...

- Paulo Mezza, seu incompetente, as reuniões são anônimas e você se apresentou! Todo mundo aceitando apelidos e você só faltou dar o código do seu cartão de crédito!

Findam a reunião e vão à mesa, fazer o lanche de despedida.

18/04/2011

Como comprar medicamentos

Fiscal é duro porque também tem família!
É triste eu ter que vir à rede para esclarecer meus leitores, a fim de que estes esclareçam à maioria completamente ignorante da população. Parece forte, o que eu disse, mas infelizmente é o que o brasileiro é em relação ao que deveria ser de seu interesse, especialmente porque este interesse em particular pode mutilar ou matar o paciente.
  • Medicamento não é doce, é uma droga e pode matar. Muitos recebem artificialmente sabor desagradável justamente para mostrar isso. Não que o fabricante não queira lançar testosterona sabor chocolate, para que os meninos fiquem bombados e malvados, tal qual ao super vilão da moda, que não se sabe como bateu em um herói invulnerável apenas para vender revistinhas estúpidas. Isto só não é posto em prática porque a Anvisa ainda consegue não deixar, pois político ignorante querendo permitir existe. Então só compre o que realmente precisar, e quem vai dizer isto não é o balconista, é o médico. Se dependesse do balconista, analgésico seria vendido em forma de jujuba, com açúcar, sabor, corante e tudo mais.

  • Só vá comprar aonde o fiscal puder entrar. Particularmente eu não compro de drogarias e phamacias on line, simplesmente porque eu não vejo as condições ambientais, a limpeza, a integridade predial nem o nível de porqueira em que está o funcionalismo. Há muitos sites vendendo drogas e cosméticos, praticamente todos utilizam serviços totalmente terceirizados, ou seja, é um bando de sujeitos trabalhando para alguém que quase ninguém sabe quem é. Tu não tens como saber se a temperatura ambiente está adequada, recomendada a 25°C, se há mofo ou infiltrações nas paredes, se o empilhamento máximo permitido é respeitado, se há controle de pragas no local, se as caixas são acomodadas sobre paletes, se há um responsável técnico, enfim. Nada do que descrevi é frescura, tudo é obrigatório e nossa Vigilância Sanitária autua cotidianamente gente que não respeita um só destes preceitos, pois um só pode estragar o medicamento, que é um composto delicado, sensível até mesmo a choques.

  • Aliás, indo ao estabelecimento, verifique tudo o que eu disse. Se a temperatura ambiente não estiver fresca, dê meia-volta e não olhe para trás. Quando eu digo "fresca", é clima europeu mesmo, porque ainda hoje apreendemos medicamentos à base de sódio que já devem ter cálculos, tamanho o calor em que estavam armazenados, sabe-se lá desde quando. Veja a limpeza, pois o cuidado que o estabelecimento tiver com o prédio, não terá muito mais com o estoque. O alvará sanitário deve estar visível ao cliente, se até fim de Março não tiver sido renovado, desconfie. Há a obrigatoriedade de um responsável técnico, que deve ser necessariamente um pharmacêutico formado e regularizado no Conselho Regional de Farmácia. O cheiro deve ser o enjoativo e típico cheiro de hospital, qualquer aroma pode causar reações (físicas ou psicológicas) e induzir à compra de um remédio desnecessário. Se uma barata te disser "Hello, hello" diga "Good bye, my love, good bye" e chame um fiscal sanitário. Baratas e ratos roem, abrindo caminho parta todo tipo de contaminação, além das suas próprias. Ei, o dinheiro é teu, a saúde é tua e escrúpulos nem sempre fazem parte dos procedimentos operacionais de uma drogaria, principalmente as que não têm sede física.

  • Desconfie de promoções. Um medicamento que está a um mês do vencimento, ainda que armazenado com todo o zelo do mundo, pode não ser consumido até o fim da validade. Certo, talvez alguns dias depois do vencimento não façam mal. Concordo, mas pelo que quer que te aconteça à meia-noite e um minuto, drogaria e laboratórios estão isentos de qualquer responsabilidade, eles podem vestir a túnica de anjinho e sair tocando harpa por aí. Então veja se há pelo menos três meses de prazo até a expiração da validade, pois é o que dura a maioria dos tratamentos. Para não dizerem que estou urubuzando o pessoal, é comum as empresas oferecerem descontos para evitar prejuízos, pois medicamento vencido deve ser incinerado por uma empresa autorizada, isso custa caro; pode sair mais barato para eles te darem o remédio do que mandar para o forno.

  • Não querendo desprestigiar o artista, tu conheces algum deles? Sim, porque o que tem de artista veterano, e muito novato, sendo recrutado para fazer propaganda de medicamento, não está no gibi. Especialmente daquelas drogarias que não podem ser fiscalizadas a contento, simplesmente porque não passam de uma página na internet com atendimento por telemarketing, ligado directamente a um depósito invisível ao cliente, sem alvará à vista, sem responsável técnico que te olhe nos olhos, sem chances de reclamações, pois não sabes quem te vendeu aquela porcaria que veio estragada. Sem quem se responsabilize pessoalmente, e criminalmente, pelo que te acontecer pelo uso da droga vendida, prefira pagar mais caro para quem inclui uma sede física na planilha de custos. Essa conversa de que preço é tudo não passa de papo furado de vendedor, as despesas de um enterro oneram muito mais do que um antibiótico de primeira linha, vendido com todas as garantias. Se não puder comprar direito, é mais garantia ficar sem.

  • Barrinha de cereais, suplementos alimentares e afins não são medicamentos. Infelizmente o abuso, e a inoperância da maioria das vigilâncias sanitárias do país, torna proibido incluir indicação terapêutica em alimentos. Há uma turminha cabeça-quente na Anvisa pela qual até chocolate precisaria de receita médica, de tanta propriedade medicinal que descobrem todos os dias. Também há uma turminha que não tem o que fazer e inventa normas para revogar logo depois. Então ajude a manter esses dois grupos sob controle, deixando os técnicos trabalharem em paz; chás e alimentos fazem bem, mas não podem ser vendidos como substitutos ou mesmo complementos para um tratamento. Isto, se for necessário, deve ficar entre tu, teu médico e um nutricionista, caso realmente precise. Não tenha pudores em denunciar, pois eles não teriam pudores em te mandar para a cova.

  • Feira livre e camelô não têm autorização para vender medicamentos e cosméticos. A maioria não tem sequer autorização para montar uma banquinha na rua! Eles não têm climatização, quase sempre não têm higiene, quase nunca têm conhecimento médico e muito menos competência para fornecer um antídoto. Quer milagre? Procure uma igreja, se for de teu mérito ele pode até acontecer, mas nunca confie no que o homem faz. Igrejas sérias não dão pitacos à revelia do teu médico, só para adiantar.

  • Ervanarias são legais, no sentido jurídico da palavra. Em Goiânia nós tivemos uma grata surpresa, elas aderiram em massa à legalização e poucas preferem se manter nas trevas da ilegalidade. Valem todos os conselhos supracitados, salvo o responsável técnico, que o bom senso ainda tem lugar na nossa Visa, eles podem ser assistidos pelo pharmacêutico de uma cooperativa. Em resumo, quem quer trabalhar legalmente não desperdiça a chance, então abra o olho e saia de fininho se o "raizeiro" vier com conversa de isenção fiscal e outros. Raizeiros de verdade, hoje, quase não existem mais.

  • Há algo que vocês precisam saber sobre medicamentos... Bem... Eles são uma excessão no Código de Defesa do Consumidor. Medicamentos só podem ser vendidos com garantia de manejo, assistência técnica e armazenamento adequados, se ele sair do estabelecimento varejista não não haverá mais como garantir que foi correctamento armazenado. Quase sempre o comprador sai com a sacolinha debaixo do sol escaldante ou qualquer intempérie, sem dar importância para o resto; só para dar um único exemplo. O estabelecimento até pode aceitar o medicamento de volta, mas não poderá sob hipótese alguma recolocá-lo para vender, arcará com o prejuízo. Ou seja, se não houver uma certa camaradagem entre vocês e aquela drogaria, o que comprar e não usar será dinheiro jogado fora. Por isto eu repito: Não compre o que não for estritamente necessário.
Infelizmente as reclamações que recebemos de outros Estados (pasmem!) são muitas. Desde matrizes alegando que em seus domicílios nada do que exigimos é citado, até contribuintes querendo que nossos fiscais se desloquem até lá, pois dizem que suas vigilâncias não operam. Já recebemos ligações até de Caxias do Sul!

Tudo isto, contribuinte, é fruto de tua incapacidade em selecionar e escolher teus candidatos. Tu não observa se ele tem um mínimo de conhecimentos gerais, quem são seus colegas de coligação, nem mesmo se ele sabe como fazer para cumprir uma promessa, pois não é só chegar lá e dar uma ordem para todo mundo obedecer, existe toda sorte de torpeza e baixaria para garantir que tudo permaneça como está. Tu, contribuinte, vota por simpatia ou protesto. Nem se preocupas em ter conhecimento e cultura para poder exigir direito! Qualquer malandro de terno e gravata te passa a conversa. Quer uma saúde pública decente, o que inclui uma Vigilância Sanitária independente de vereadores? Aprenda a votar e cobrar de quem elegeste. Quem tem dinheiro costuma financiar campanhas, por debaixo do pano. Laboratórios e distribuidoras de medicamentos, graças à tua negligência, têm muito dinheiro.

13/04/2011

Sendo do contra

Quererr trabalharrr conosco? Ja, mein herr!
O Blog da Mary (aqui), amiga da amiga New (aqui) lembrou da florada das cerejeiras. Isto me fez lembrar de um tema que eu queria abordar. Na época já parecia ser remar contra a maré, hoje é remar contra a corredeira. Para quem estudou um pouquinho só, é fácil saber o motivo, no fim da corredeira há uma queda d'água, tanto mais alta quando mais violenta é a corrente.

Bem, eu vejo com receio essa aproximação com a China. Hoje li um artigo (aqui) que fez lembrar do blog de Fräu Schroeder (aqui) e reavivou minha memória. Fräu é professora de história e conta no História da Ásia e África, com competência e leveza, as raízes da actual e tenebrosa conjuntura política no mundo. Pois sendo leitor regular e tendo muitas outras fontes, contra e pro, vejo como um grande erro essa aproximação, no modo como é feita.

O facto de ser uma ditadura que tem aumentado a repressão e a censura, nos últimos anos, é chover no molhado. Radicais de direita e esquerda não dão a mínima para isso, um só vê a "ameaça comunista, porém lucrativa" e o outro só "o governo popular revolucionário". Os chineses estão ressentidos pelos cento e nove anos de humilhação que sofreram. Isto é real e legítimo, especialmente para quem já foi a nação mais avançada do mundo. O problema é que agora estão revidando, o próprio partido comunista se tornou refém do nacionalismo crescente da população, que está assustando até os setores mentalmente equilibrados das forças armadas. Criaram um monstro que agora vigia seus passos e está pronto para morder a qualquer vacilo.

Os empresários brasileiros, mimados e mal acostumados pela ditadura, lá estão com a presidente Roussef, choramingando pitangas em vez de tentar aprender algo com eles. Tentando (literalmente) vender café e pão-de-queijo pra comprar Ipod, Youpod, Shepod e outras tranqueiras de altíssimo valor agregado. Se eles gostarem do pão-de-queijo, babau, copiam a receita e passam a, no máximo, importar o queijo minas para fazerem eles mesmo, sem dar sequer satisfações. Depois compram fazendas em Minas gerais e desgramou de vez. Estamos tal qual estávamos na República Velha, vendendo insumos baratos e comprando productos acabados. Mas antes tínhamos a desculpa do atraso e da falta de informações.

Existe um pequeno racha no partido comunista deles, mas até que isto se concretize como bipolarização política, é melhor eu continuar trabalhando para a aposentadoria. Antes não sai nada de concreto.

Em vez de ir barganhar migalhas com uma ditadura, deveriam é aprender a trabalhar direito e valorizar as pechinchas que a crise econômica mundial oferece. As marcas americanas ainda são as mais carismáticas e confiáveis no mercado. Alguém sabe de um grupo de brasileiros que comprou um lote gordo de ações preferenciais da Coca-cola? General Motors? General Electric? Caterpillar? Boeing? Não, querem é fabricar tranqueiras com mão-de-obra semi-escrava para vender por aqui, aos mesmos que perderam seus empregos por causa dessa mesquinharia. Os carros chineses, com problemas de acabamento e segurança resolvidos, estão desembarcando com fábrica e tudo, baratinhos, tomando dos idiotas o público que queriam manter cativo. Deram e ainda estão dando poder ao seu próprio algoz.

Eu me aproximaria dos Estados Unidos. Eles ainda mandam, não se iludam, no mundo, mas sofrem uma crise de confiabilidade que nasce dentro de seu próprio território. Estão abertos para bons negócios e recuperar mercados é um argumento que acelera e facilita muito as negociações. Existe sim uma massa crítica pensante por lá, que está ofuscada e sufocada pelo catastrofismo crônico que tomou conta do país. Uma oportunidade que se mostre e eles se prontificam na hora. Alguns já estão imigrando para cá, mas poder trabalhar conosco e permanecer em seu país seria um bônus sedutor. De quebra, teríamos acesso aos melhores, mais velozes e confiáveis carros eléctricos (artigos aqui e aqui) do mundo, máquinas capazes de fazer pequenas e médias viagens sem recarga, ou de fazer qualquer superesportivo comer poeira, com custos irrisórios de manutenção.

Também me aproximaria da Alemanha, que está carregando a União Européia nas costas. É um país que aprendeu com os erros do passado e chega a pecar pelo excesso de zelo. Ela sim, tem a tecnologia mais avançada do mundo, embora os japoneses apliquem mais em seu cotidiano. Mesmo com a crise aguda que eles seguram na marra, a infraestrutura alemã é de humilhar qualquer país do mundo. Um território de bom tamanho coberto por internet realmente rápida, trens de alta velocidade, rede eléctrica super dimensionada, estradas feitas para durar séculos e um povo que ama o trabalho. Talvez este último detalhe assuste nossos "empresários", já que quem ama o trabalho valoriza o próprio e não se mexe por menos do que vale. Os painéis photovoltaicos mais eficientes do mundo são alemães, custariam o triplo do que custa uma hidrelétrica com a mesma potência, mas começam a produzir á medida em que são instalados e dispensam grandes onerações para sua manutenção. Se bem que também reduzem as verbas a serem desviadas. Deve ser isso.

Me aproximaria ainda do Japão. Os japoneses transformaram um monte de remendos retorcidos de asfalto em uma estrada nova, em apenas seis dias! Imaginem uma empreiteira japonesa restaurando nossa malha viária. Imaginem uma constructora japonesa no programa de casas populares do governo. Imaginem o Japão se responsabilizando integralmente pelo nosso trem-bala; porque ele vai sair queiramos ou não, é melhor que seja por quem sabe o que faz e não cobra mais do que vale. A facilidade com que eles, que também aprenderam com as lições do passado, conciliam modernidade com tradição, seria a salvação para nosso capenga acervo cultural e histórico, nosso povo aprenderia com relativa rapidez a dar valor, o que certamente assustaria quem faz as licitações e isto explica a novela do trem-bala. Povo culto não interessa a este governo, como nunca interessou a nenhum dos que tivemos.

Me aproximaria com igual boa vontade de Mônaco. O que tem um país do tamanho de um bairro a oferecer? O que acham que tem a oferecer um país do tamanho de um bairro, que abriga sedes de indústrias e tem um dos padrões de vida mais altos do mundo? Eles sabem negociar, nossos empresários precisam aprender a negociar em vez de chorar para mamar, então seria uma parceria muitíssimo proveitosa.

Ah, claro, me aproximaria também da Índia. Um país que em poucos anos superou o nosso em desenvolvimento e já exporta tecnologia. À margem as questões sociais, muito mais complexas e delicadas do que as nossas, eles conseguem bons preços com boa qualidade usando mão-de-obra paga. Apesar de os abutres da imprensa terem urubuzado a Tata, quando incêndios suspeitos acometeram alguns Nanos, os problemas pertinentes foram resolvidos. Eu compraria um Nano, empenho meus quase trinta anos de praia no mundo dos automóveis nesta afirmação. A mente do indiano é muito aguda e inquieta, apesar da aparente passividade, o contacto humano seria ainda mais lucrativo do que a parceria comercial perene e séria.

Me aproximaria de Argentina, Paraguai e Uruguai, porque gostem ou não nós formamos um bloco e mesmo no peito e na raça temos que viabilizá-lo. A culpa de o Mercosul ser um fiasco não é só deles. Nossos dirigentes e sua fome por polêmicas inúteis, visando somente cargos eletivos e o Brasil que se dane.

Por fim, mas não menos importante, me aproximaria do Brasil. É um país que tem tudo por ser feito e seu povo está ansioso por aprender a ser do primeiro mundo. Quem investir sério neste país, quem quiser trabalhar com o brasileiro, em vez de carregar o que puder e sair correndo feito ladrão barato, terá uma poupança de longo prazo que se converterá em um seguro contra novas crises. Nativos de gênio, oprimidos por políticos tão burros quanto espertos, esperam por uma oportunidade de mostrar o que sabem fazer. Será preciso construir uma infraestrutura, já que não há nenhuma, mas isto também é uma oportunidade. Tendo alemães, americanos, indianos, japoneses e monegascos como aliados, não há como sair errado. Um povo, que hoje mal sabe falar correctamente o próprio idioma, em contacto activo e positivo com esses parceiros, logo seria naturalmente poliglota, se refinaria e aprenderia a apreciar o desabrochar das flores, como sakuras.

08/04/2011

Capitão São Paulo

Aviso de antemão que eu estou a par da tragédia do Rio de Janeiro, não sou insensível e não me esquivei de falar a respeito, mas tratei do assunto denso e sufocante em um blog próprio para isso, pode ver clicando aqui.

EM HONRA À GLÓRIA

Dentre as muitas tosqueiras que apareceram no Brasil, os super heróis estão entre as piores. O grande problema é que seus autores os levam à sério com um orçamento que não pode ser levado à sério. A maioria não aprendeu a diferença entre fazer uma expressão séria e ficar com cara de quem está apertado, sem um sanitário por perto. Já vi boas idéias naufragarem porque seus criadores insistem em agradar aborrescentes viciados em homens másculos e com cara de mau... Imitar o Wolverine, sem o carisma do Wolverine é a receita certa para o fracasso.

Gibis e mais gibis com nomes pomposos, chamativos, cheios de cores e mulheres muito mais artificiais do que o bom senso tolera nas poses. São artistas de talento, mas que esqueceram que mesmo o universo Marvel tem seus bons momentos de humor, e que seus heróis começaram de modo singelo, não foram mandando porrada logo na contracapa. E, me desculpem a sinceridade cortante, mas o roteiro costuma pecar muito. As explicações para a origem de um poder ou a motivação de se assumir a capa de herói, atravessam fácil a linha do ridículo... quando há explicações.

Sem capricho na arte, usando linhas muito espessas, sem uma boa argumentação, sem um bom roteiro, sem nem mesmo carisma e humor que deveriam ser a regra em um trabalho brasileiro, as revistas encalham. Não adianta culpar o público, o editor, o governo e a concorrência estrangeira. O público é cada vez mais medíocre, sim; o editor é uma sogra que dispensa matrimônio, sim; o governo quer mais que o povo vire zumbi, sim; a concorrência estrangeira tomou todos os espaços que conseguiu, sim. Vão esperar que o público melhore, em vez de focar aquele que compra porque aprecia bons quadrinhos? Vão esperar que o editor abra o cofre, em vez de começar com fanzines ou tiras em jornais pequenos? Vão esperar que o governo ponha a mão na consciência, em vez de se tocar que ele não a tem? Vão esperar que os gibis estrangeiros abram mão de um mercado que lhes custou caro, em vez de aprender com eles?

Eu já pensei em lançar um gibi, talvez um fanzine. Mas vi que não teria (ainda não tenho) o tempo necessário para me dedicar e fazer um trabalho que eu gostaria de comprar na banca. Mal tenho tempo para escrever nos blogs, quanto mais argumentar, desenhar e roteirizar.
Eu não gosto de imitações. Embora características possam ser comuns a vários personagens, como a criança terrível, o herói atormentado, o criminoso abandonado pela família, a personalidade de cada um deve ser respeitada. Não adianta fazer de uma moça de família uma ninfeta com poses inexplicavelmente provocantes, só para vender revista. No começo até funciona, mas logo a concorrência estrangeira mostra que faz melhor, com mais conteúdo e mais barato. Eles têm pessoal especializado para cada etapa, podem se dar ao luxo. Nós, pobres fanzineiros deste Brasil desigual, temos que fazer tudo, do rabisco à venda, sozinhos.

Não bastasse isso, a maioria desiste. Simplesmente desiste. Eu não sei quando voltarei a desenhar aquela monstrinha de carinha bonita, muito menos se um dia ela estará em público, mas não desisti. Desanimado? Sim, eu estou. Eu sou funcionário público honesto, meu filho, dôo uma hora por dia ao serviço público para melhorar o atendimento ao contribuinte, como muita gente que conheço. Chego a ficar uma hora à espera do ônibus, um pau-de-arara que recebe manutenção parca e porca, pelo qual eu pago caro. Eu tenho motivos para desistir? Não na minha moral. Talvez na tua, não na minha.
Uma excessão, que vem enfrentando problemas há anos, provavelmente também o de verba, é o CAPITÃO SÃO PAULO. EM HONRA À GLÓRIA!!!
Ele não voa como o Super Homem. Ele não é brutamontes como o Hulk. Ele não corre como o Flash. Ele não atravessa muros como o Visão. Ele não anda nas paredes como o Homem Aranha. Ele não é um deus como Thor. Ele não é sexy como a Mulher Maravilha. Em compensação ele também não tem a fortuna do Batman. Que diabos então esse cara é capaz de fazer? Ele se vira.

Ao volante de seu indefectível super carro, um Puminha conversível 1977 com motor envenenado, ele vara as ruas da Cidade-Estado de São Paulo para defender a paz e a ordem. Exceto nos dias em que o rodízio o obriga a pegar um ônibus. Então o vilão ganha uma vantagem, mas é provisória.

Dono de uma persistência de dar inveja ao Coringa, vence fácil pelo cansaço os vilões como o Homem-Barata e o Capivara-Man. Compensa seu corpo franzino com os saltos atléticos e a mente activa , que divide atenções entre a vilania, o trabalho, a família e a namorada ciumenta. E quando a diarista manda o uniforme de herói para lavar? Vai combater o crime de regata e bermuda, meu.

Os poderes do Capitão São Paulo são: mente activa e afiada, ou não conseguiria perseguir e atender ao celular ao mesmo tempo; persistência invejável, ou tu pensas que é fácil andar de ônibus em São Paulo?; não se leva à sério, senão enlouquece e desaparece; animação muito simples e bem feita, para concentrar os parcos recursos no que interessa; bom humor, ainda que seja ele a vítima deste humor; o criador nunca desiste, afinal é brasileiro.

A própria concepção do personagem facilita a argumentação, o roteiro e o desenho. O Almeida, identidade secreta do Capitão São Paulo, é um sujeito comum. Ele sai no meio do trabalho para fazer um resgate, sai no meio do filme para negociar por reféns, sai no meio da noite para dar cobertura à polícia. Ele sai de seu apartamento de classe média-baixa, usando dos meios que encontra para resolver os problemas. E a vida de herói é muito mais fácil do que a de cidadão, o que todos nós estamos carecas de saber. É tudo muito simples, sem perdas de qualidade, com boa sonorização e boa argumentação. Nada de extraordinário, de poses, de grandes tramas que não caberiam no contexto. É tudo uma brincadeira e as animações deixam claro que é só brincadeira.
Mais sobre ele aqui, aqui, e no vídeo abaixo.

01/04/2011

Sem copa e sem vexame

Para quem não está a par, Goiânia concorreu para sede de jogos da copa. Fui contra desde o começo não por não gostar de futebol, seria a favor se fosse bom para a cidade, mas por ter consciência do vexame pelo qual passaríamos.
As obras estão atrasadas no país inteiro e tudo acabará tendo que ser feito nas coxas e a toque de caixa, com problemas estruturais, brechas para desvios pela pressa entre outras mazelas. Em Goiânia não seria diferente, seria bem pior.

A estrutura hoteleira goianiense é pífia. Só temos um hotel cinco estrelas, na avenida República do Líbano, que já enfrenta uma via sobrecarregada, com tráfego de caminhões pesados e dificuldades para entrar e sair de carro do estabelecimento. Fora que é uma região repleta de clínicas e hospitais, com todos os agravantes e limitações inerentes. A maioria dos outros hotéis, o grosso da rede hoteleira da capital, prescinde de mão-de-obra qualificada, o que por si só já seria a ruína de um negócio onde há um mínimo de concorrência. Quando se lê o panfleto de um hotel desses, quem não conhece até se impressiona com a lista de conveniênias. Lá chegando a história muda; o auditório raramente tem metade do tamanho que a photographia fazia parecer, não tem ventilação adequada e só comporta o público prometido se todos ficarem de pé; a piscina é pouco mais do que uma banheira a céu aberto ou está em outro endereço, isso quando a tem, a maioria não tem nem área externa que não seja o estacionamento; a cozinha é bastante limitada, quando existe, não funciona até mais tarde e nem muito cedo; o estacionamento raramente excede o frugal, com vagas feitas para carros pequenos e estreitos, a serem balizados por experts.
A rede hoteleira goianiense está bem dimensionada para pernoites, para mais do que isso ela deixa a desejar. Receber equipes técnicas, imprensa, artistas e turistas de um evento tão grande seria desastroso.

Nosso transporte público estava ruim há cinco anos, piorou quando o último prefeito eleito tomou posse e hoje está completamente arruinado. É muito comum um ou dois ônibus de uma linha quebrarem e não serem substituídos, permanecendo em via pública e ocupando as vagas de estacionamento já tão difíceis. O popular "frescão", microônibus que cobram muito mais caro por itineários incertos e algum conforto, não estão aptos a carregar milhares de torcedores, repórteres e turistas. Se por fora (e de longe) a frota não parece estar tão ruim, chegando perto os remendos e a idade ficam nítidos, por dentro a dificuldade começa na subida, alguns modelos antigos estão perfeitamente adaptados para trilhas e alagados, não para o transporte urbano de tão distantes do solo. Bancos vandalizados, parafusos com pontas à mostra, janelas emperradas e acabamento se acabando, são cousas que vemos no cotidiano. Imagine um repórter de San Francisco sair de seus excelentes serviços de transporte e dar de cara com um Busscar Urbanus, com quinze anos de uso e aspecto de que foi montado com peças de um ferro-velho.

Aliás, o vexame começaria pelo aeroporto. O Santa Genoveva é pouco mais do que um barracão com puxadinhos. Cindy Lauper teve o azar de (aqui e aqui) precisar desembarcar nele, já que não há outro. O prédio é acanhado, está literalmente caindo aos pedaços em cima dos passageiros. A pista não suporta aeronaves de grande porte, ou seja, as delegações teriam que descer em Brasília e de lá virem de ônibus para Goiânia, se sujeitando a tietagens, paparazzi, acidentes de trânsito, engarrafamentos e tudo mais. As obras de ampliação foram paralisadas há anos por indícios de fraude.

No caso da cantora, ela tem a sorte de que aqui ainda se come muito e muito bem por pouco dinheiro, mas porte e quantidade de estabelecimentos não suportariam a pressão de uma copa do mundo. Os serviços se deteriorariam rapidamente e logo faltariam alguns ítens de alimentação na cidade, especialmente porque todo mundo iria querer mostrar ao seu país o "exótico pequi", que ainda não é cultivado em escala comercial e desapareceria rapidamente. Além de algumas de suas propriedades terem sido patenteadas por estrangeiros... mas esta é outra vergonha, que fica para outro artigo.
A maioria dos estabelecimentos da cidade ainda é muito provinciana, não tem e não cogita ter serviço de entrega, obrigando a quem quer ir buscar. Estacionamento é para poucos, os investimentos são quase todos feitos no salão e na cozinha, o restante é tido como supérfulo.

Celg. Aliás, Hellg; aglutinação neológica do inglês "hell" (inferno). As estações e subestações estão sempre no limite, como a companhia não passa de um cabide de empregos, não tem verba para corrigir e muito menos modernizar a distribuição de energia. Os riscos de um apagão no meio de um jogo noturno seriam tão reais quanto iminentes, teriam que escolher entre alimentar a cidade e alimentar a partida... provavelmente ficaria todo mundo no escuro. Além de terem que rezar para não chover em parte alguma do Estado de Goiás durante um jogo, porque o fornecimento cai a qualquer ameaça de chuva. Fios caídos pelas ruas são comuns, eles permanecerem assim por dias é mais comum ainda.

A rede de internet goianiense é tão ruim que dá pena, pegando carona na precariedade da infraestrutura da distribuição de energia e telephonia. Quem tem internet móvel ainda se beneficia dos caros serviços das operadoras de celulares, mas quem acreditar que um estabelecimento com internet sem fio está livre dessa precariedade, se dará mal. Mandar novidades em tempo real para a imprensa de fora seria um grande problema, principalmente porque todo mundo iria fazê-lo ao mesmo tempo. Quem não tivesse uma estrutura própria e muito cara, teria prejuízo.

Não temos atração turística nenhuma. Salvo a Praça Cívica, a casa de Pedro Ludovico Teixeira e o teatro Goiânia, quase nada de art déco restou na cidade. Era o estilo arquitetônico original, ainda bastante comum há até dez anos. O antigo prefeito rasgou os gabaritos e deu de ombros para o plano director, quase tudo foi derrubado para a especulação imobiliária e o charme dos anos 1930 que Goiânia ainda tinha desapareceu. Ainda há parques, que são pouco mais do que pistas de corrida; fora isso só feiras que há muito não têm o caráter cultural e artesanal que as justificavam, só servem para quem não quer pagar icms. Não despertam interesse senão de sacoleiros que vêm e se vão no mesmo dia, não tendo tempo para apreciar nada e não se importando com o estado em que deixam, a cidade, as feiras onde fazem suas compras.

Nas mãos de prefeitos irresponsáveis e uma câmara municipal de aluguel, Goiânia se tornou uma cidade como outra qualquer, cujos pontos de destaque não passam de reles lembranças. Perdemos a tranqüilidade interiorana que tínhamos sem conseguir em troca os bônus da modernidade. Não há verba para adequar a cidade às exigências da fifa, não em tempo hábil. Precisaríamos praticamente reconstruir toda a capital, que nem rede pluvial e de esgoto tem que satisfaça seus moradores, quanto mais uma leva de estrangeiros acostumados a ter bons serviços públicos.

Brasília será sede de jogos e os brasilienses já estão preocupados. Estã construíndo hotéis para atender a todos, mas não sabem o que farão deles quando o evento terminar. Serão prováveis elefantes brancos obstruindo a paisagem, a não ser que os transformem em condomínios.

Goiânia, de concepção bem mais antiga e muito mais carente da mais elementar manutenção pública, mal dá conta de seus habitantes. Foi melhor para o Brasil inteiro, isto evita que certos jornalistas brasiphobos usem a cidade para denegrir o país.