23/11/2017

A Maldição dos Templos - resenha

   



    Demorei, mas li o quarto livro da saga OS DRAGÕES DE TITÂNIA, do meu amigo Renato "Matthew" Rodrigues. Não é por ser meu amigo, mas o sem-vergonha sabe escrever!


    Aos desavisados, este livro pode parecer mais do mesmo, mas devo lembrar que não se trata de uma série de histórias sobre a ordem paramilitar, cada livro é uma parte da longa história; se ele fosse colocar tudo em um livro só, seria um catatau imenso e pesadíssimo, que ninguém conseguiria ler. E sim, "A Maldição dos Templos" é o arroz com feijão que ele sempre serve, mas cada livro tem seus temperos e seus acompanhamentos. Não só isso! Este livro faz jus e dá seqüência com trema prefeita aos anteriores. Um leitor novato poderia devorá-lo sem medo de não entender a trama, mas conhecendo os outros, o sabor é mais refinado.

    E por falar nisso, o refinamento da história merece um comentário à parte! A necessidade de administrar a quantidade crescente de personagens, sem que um se pareça com os outros, sem trocar nomes e sem atropelar o modo de vida de cada um, demonstra o profissionalismo e a organização que se escondem no jeito debochado de ser do autor. E nenhum personagem é supérfluo! Todos eles, mesmo os figurantes, têm suas funções, por mais efêmera que seja a participação. Entre os principais, o leitor pode ser pego de surpresa, ao se defrontar com um sujeito que não dá as caras há livros!

    Diga-se de passagem, este livro tem surpresas agradáveis para os que sentiram os lutos dos amigos. Certamente não da maneira como gostaria, mas o sabor desse acepipe de acompanhamento é igualmente aprazível, e dá sinais de que será servido novamente em outra oportunidade; só não me perguntem quando; mesmo que eu soubesse, não diria ainda que um cinísio halterofilista me ameaçasse.

    O que temos de particular neste quarto livro, é o modo lépido e consistente com que o autor aborda a corrupção, e se embrenha nas suas causas expondo a sordidez como algo arraigado no cotidiano de um corrupto, pois mais do que a ganância, é necessário haver o completo desdém para com a vida alheia para alguém se corromper. Boas intenções não resistem à primeira vantagem ganha de modo torpe. Isso inclui a forma didática e eficaz como ele mostra a formação de um monopólio, baseado em um problema que o próprio corrupto ajudou a formar. Qualquer semelhança com a política brasileira NÃO É mera coincidência! Renato tem se indignado de modo contundente, nos últimos dois anos, em uma seriedade em que ele quase não se faz reconhecer.

    O mais interessante, é que esses quatro livros compreendem o tempo de pouco mais de um ano. Daí não é de o leitor se espantar com o tamanho e a quantidade de arestas ainda por aparar, que todos os personagens têm uns com os outros. A coisa é muito recente, compreendem? Eles não conhecem todos os defeitos dos parceiros de ordem, ainda há muitas esquisitices para cada um revelar aos outros e, diga-se de passagem, vocês não devem cair na armadilha de acreditar que já conhecem o senhor Augustos Máximus Khosta. Saber que ele é um baita nó cego e um grandicíssimo safo, é tudo a que vocês podem se apegar.

    Outro tempero próprio deste livro, é que o amor está no ar. Não só a paixão complicada entre uma freira nórdica e um príncipe misterioso, mas a coisa pega fogo... ou quase... bem, em dados momentos, pega fogo mesmo, mas podem tirar seus pégasos da chuva, não é nada impróprio para menores. Seus mentes poluídas!

    Em alguns momentos, parece que um caso vai se resolver, que um ou dois vão se entender com os pares, mas a coisa fica na promessa. Não de graça, é claro, afinal os figurantes querem seus cachês! O costumeiro gancho que Renato sempre dá para o próximo livro, neste foi replicado várias vezes. Há personagens antigos que não davam as caras há tempos, há personagens novos que deixaram marcas cordiais em suas curtas aparições, em ambos os casos eles ainda têm o que fazer nesta saga, e podem reservar seus exemplares do quinto livro, porque eles serão importantes.

    Como sempre, claramente auxiliado pela primeira dama da magia brasileira, Renato nos dá algumas lições que, façam o favor, não me digam que vocês não notarão! Eis algumas:
  • Às vezes as aparências não enganam! O que (ou quem) parece ser ruim é realmente ruim, mas quase sempre esconde o seu pior para quando for dar o golpe, então não meça prudência se precisar lidar com gente assim;
  • A diferença básica entre um parlamento e uma arena de luta, é que o lutador se apresenta quando vai dar o golpe, o parlamentar se apresenta quando o golpe já foi dado;
  • Não superestime sua capacidade, não importa o quão grande seja, de reconhecer o perigo. Sempre haverá alguém mais perigoso e experiente do que você, e vai te enganar direitinho! Tenha sempre um pé atrás e um punhal oculto para se defender;
  • Nunca tente completar, por falar nisso, o que o outro está tentando dizer. Em vez de ajudar, pode deixar o outro mais nervoso e atrapalhar ainda mais o seu julgamento. Ajude, se for necessário, mas não tente fazer por ele o que só ele deve fazer;
  • Os motivos do outro, especialmente se for um pai de família desesperado para não perder sua casa! Por mais baixo que ele PAREÇA estar descendo, o facto consumado pode ser o exacto oposto do que você está pensando;
  • O fanatismo não desaparece se seus fundamentos forem proibidos, pelo contrário! Uma população desprevenida e crente de seu desaparecimento, é incapaz de evitar que ele se ramifique; então não reclame dos idiotas se mostrarem como são, nas redes sociais, incógnitos eles são mais perigosos;
  • SEMPRE, mas SEMPRE MESMO, desligue o corrector automático do Office! Ele não sabe que não precisa colocar todas as palavras de uma oração na mesma concordância em que uma das trezentas foi colocada! Ele é burro!
    Sem mais, meus queridos, é mais uma obra literária de entretenimento com boas lições morais enxertadas, digna do nosso bom amigo! Eu recomendo!

    Agora só mais uma coisa... De onde surgiu em minha cabeça, a musiquinha irritante e TOTALMENTE SEM NOÇÃO "Shokozug! Shokozug! Shokozug! A fada do amor!"?

14/11/2017

O que o operário faz?

Disneyland 1950-60s
    Se alguém consegue um emprego em uma linha de montagem na Ford, o que diria às pessoas que ajuda a fabricar?
  1. Bolo de mandioca;
  2. Garrafa térmica;
  3. Automóveis;
  4. Não faz idéia do que sai na ponta da linha de montagem;

    Tens certeza? Ok, então vamos à próxima questão. Se alguém consegue um emprego em uma linha de montagem na Embraer, o que diria às pessoas que ajuda a fabricar?
  1. Televisores;
  2. Roupa de inverno;
  3. Aeronaves;
  4. Operário não sabe o que está fabricando;

    Tens certeza? Ok, então vamos à próxima questão. Se alguém consegue um emprego em uma linha de montagem na Estrela, o que diria às pessoas que ajuda a fabricar?
  1.  Tijolos furados;
  2. Cerveja;
  3. Brinquedos;
  4. Quando me aposentar vou até o fim da linha e vejo o que é;

    Tens certeza? Ok, então vamos à próxima questão. Se alguém consegue um emprego em uma linha de montagem na Erlan, o que diria às pessoas que ajuda a fabricar?
  1. Microprocessadores;
  2. Chapa de aço cromo-níquel de alta liga;
  3. Doces;
  4. Empregado não precisa saber o que está fabricando;

    Tens certeza? Ok, então vamos à próxima questão. Se alguém consegue um emprego em uma linha de montagem na Toshiba, o que diria às pessoas que ajuda a fabricar?
  1. Dentadura;
  2. Revistas pornô;
  3. Aparelhos electrônicos;
  4. Só quem sabe é o patrão;

    Tens certeza? Ok, então vamos à próxima questão. Se alguém consegue um emprego em uma linha de montagem na Malwee, o que diria às pessoas que ajuda a fabricar?
  1. Vidraria;
  2. Discos de vinil;
  3. Roupas;
  4. Se eu soubesse eu seria burguês;

     Tens certeza? Ok, então vamos à próxima questão. Se alguém consegue um emprego em uma cozinha do Habib's, o que diria às pessoas que ajuda a preparar?
  1. Barcos;
  2. Baterias de íons de lítio; 
  3. Comida;
  4. Operário simplesmente vende sua força de trabalho;

    Tens certeza? Ok, então vamos à próxima questão. Se alguém consegue um emprego nos estúdios Disney, o que diria às pessoas que ajuda a fazer?
  1. Seringas de injeção;
  2. Alho poro;
  3. Filmes e programas de televisão;
  4. Desde quando operário sabe até mesmo onde trabalha?

    Tens certeza? Ok, então vamos à próxima questão. Se alguém consegue ingressar no exército, o que diria às pessoas que ajuda a fazer?
  1. Cerimonial de debute;
  2. Música ruim para cantores "cool";
  3. A defesa do território nacional;
  4. Empregado só bate ponto e nada mais;

    Tens certeza? Ok, então vamos à próxima questão. Se alguém consegue um emprego em uma linha de montagem na Rolex, o que diria às pessoas que ajuda a fabricar?
  1.  Preservativos;
  2.  Biquínis;
  3.  Relógios
  4. Vou pedir ajuda aos universitários, que sabem menos do que eu;
     Tens certeza? Ok, então vamos à última questão. Se alguém consegue um emprego na NASA, o que diria às pessoas que ajuda a fazer?
  1. Gravações infames para carros de mensagens ao vivo;
  2. Mapa astral;
  3. Exploração espacial;
  4. Ah, cansei, você não é intelectual como eu. Adeus!
    Salvo em ditaduras extremamente fechadas, que escravizam seu povo, um operário sabe sim o que está fabricando e o que sairá  na ponta da linha de montagem. Em alguns casos, sabe até mais do que o CEO da companhia. Em última instância, é só ler o contracto de trabalho, ele diz exactamente o que a empresa faz. Essa discussão foi inventada por quem não sabia do que estava falando, ou queria confundir quem jamais pôs seus pés em uma fábrica.

06/11/2017

Uma coisa sobre o amor

1940s

    Vamos deixar logo de cara a verdade, tu não levas absolutamente nada de quem amas. Mas nada mesmo! Essa coisa aí, entre as suas pernas, meus amigos, não é amor, na melhor das hipóteses é expectativa. Não, eu não quero saber de definições dadas por intelectuais, philosophos famosos e artistas cultuados; a maioria deles também não sabe o que é o amor. Não sabem e, em não sabendo, sofreram e os vivos ainda sofrem pelo que pensam que sentem.

    Digo sem medo de ferir, porque melhor para a alma é um ferimento pontual do que uma chaga cultivada em campos florais: amor é aquilo que tu dá pelo outro, não necessariamente ao outro. Explico, dois pontos:

    Essa coisa egoísta e possessiva que faz o corpo tremer, tender a correr e agarrar, agredir quem se puser no caminho e tudo mais, é conseqüência de reações hormonais que trazemos desde a origem de nossa espécie, e serve tão somente para garantir a perpetuação de sua linhagem genética. Os cuidados que a maioria e nós sente que tem obrigação de dispensar aos rebentos, é subseqüência disso. Na natureza, assim que o filhote consegue caçar sozinho, o risco de ele se tornar persona non grata no bando é muito grande, até porque ele provavelmente não vai mais enxergar seus genitores como "pai e mãe", um será o potencial parceiro de cópula e o outro o concorrente; ou talvez ambos sejam concorrentes, acontece.

    É assim, onde o impulso hormonal impera. Os adultos não se importam com o que vai acontecer ao descendente, assim que ele tomar seu rumo, e é bom para ele que nunca mais se cruzem, alimento na natureza é escasso. Fora do universo dos mamíferos, quase todas as espécies são assim, inclusive as plantas.

    O comportamento altruísta para com a prole, às vezes até com conhecidos não consangüíneos, pode ser aprendido, para que a pessoa tenha aceitação social e aumente suas chances de sobreviver até a morte natural. Neste caso, é uma construção social. Mas no caso das pessoas que realmente se importam com os outros, mais numerosas do que a imprensa faz parecer, às vezes se contraria a posição da família ou do grupo, para ajudar a outra pessoa. Claro, também há os que fazem questão de contrariar e provar que não cederam à "construção social", mas esse é outro caso para outro texto, caso de bobos que foram placidamente montados por quem berra a todo pulmão que a sociedade é uma montagem. Vamos ao que interessa aqui...

    O que basicamente diferencia a atitude de amar do mero impulso passional, é querer o bem do outro, ou do grupo, mesmo que lhe doa muito; e às vezes mesmo que doa ao outro. Pelo bem do outro, infelizmente muito mais freqüente do que gostaríamos, é necessário deixar que ele padeça até certo ponto, para ele compreender o erro que cometeu.

    O que faz o apaixonado? Tenta encher o outro de prazeres e facilidades a qualquer custo, mas qualquer custo mesmo! Se faz de servo, mas exige magistralmente reciprocidade dessa paixão, muitas vezes de forma asfixiante, mesmo que o pagamento seja noutra moeda; como um masoquista que se apaixona por um sádico, por exemplo... caso de muitos, mas muitos casais, quase todos inconscientemente. A paixão te cega para absolutamente tudo o que o outro fizer de errado, desde que não frustre as tuas expectativas, porque se o fizer, meus amigos, a paixão se volta contra o objecto de desejo e se torna o ódio mais estúpido. É assim que acontecem os "crimes passionais", que absolutamente nada têm de amor, mas tão somente desejo e sentimento de posse.

    Caso não consiga destruir o antigo "amor", aquele que por contracto hormonal deveria satisfazer a todas as suas expectativas, uma rixa que pode durar décadas, até séculos, pode colocar duas famílias em pé de guerra, como foi o caso até recente das famílias Alencar e Saraiva. E AI de quem estiver no meio do fogo, a paixão é cega e insaciável, para o mal e para o pior! Porque a simples recusa de um caso rápido, pode desencadear um ódio tão intenso, que matar se torna a única razão de viver do que foi frustrado.

    Isso não é amor! É preciso muita maturidade e, quase sempre, muita serenidade para deixar o amor crescer. Às vezes é preciso até mesmo se ferir, porque assim a ira hormonal se volta contra o ferimento e deixa o outro se revelar como é, para o indivíduo discernir se existem afinidades suficientes e sincronia para que esse amor tenha uma potencial relação a dois para cultivar. Isso vale tanto para uma pessoa, quanto para um grupo ou mesmo uma causa; só muda o foco, é amor do mesmo jeito. Bonito? Talvez não, quem ama o feio sabe que é feio, não o ofende e não romanceia a aparência, mas trata com amor do mesmo jeito.

    Acontece, meus amigos, que uma relação precisa ser renovada de tempos em tempos, algumas até continuamente. Não, nada a ver com aquelas demências televisivas de "loucuras por amor"! Eu já disse, o amor demanda muita serenidade e muita maturidade, características que não dão espaços parra arroubos exibicionistas. Eu tenho experiência no caso, mais do que quase todos os que me cercam imaginam, bem como base científica de décadas de convívio com psicoloucos, digo, psicólogos.

    Infelizmente, nem todas as relações são renováveis. Infelizmente em termos, porque nem todas foram feitas para a eternidade, a maioria se presta para nos dar lições, e é aqui que o amor se diferencia realmente da paixão. O sofrimento dos que amam não tem com o que se retroalimentar, dura enquanto a dor da separação durar e depois passa, sem com isso privar a pessoa de tocar sua vida. Talvez, se a separação for uma perda traumática, dure muito tempo, mas a pessoa não alimenta a dor, ela tenta atenuar até eliminá-la, para continuar vivendo e, principalmente, não tenta fazer os outros ao seu redor sofrerem também.

     Às vezes, bons amigos, a única coisa que se pode fazer por quem se ama, seja uma pessoa ou um grupo, é ir ou deixar ir embora. A tristeza se origina mais naquilo que ainda queríamos fazer pelo foco do amor do que pela separação em si, sejamos francos; todos fazem expectativas, por mínimas que sejam, inclusive eu. Esperar poder participar de algo com alguém, por banal que pareça, é uma expectativa. O que diferencia o apaixonado do que ama, é que este se recusa a vampirizar a vida do outro e o deixa partir. Às vezes o outro nem sabe, às vezes só desconfia, mas para o que ama a chance de esse outro (ou esse grupo) estar bem a longo prazo, é suficiente. Molham-se alguns lenços, talvez até um início de depressão, todos somos humanos, então se retoma a vida, ainda que aos poucos.

    Aqui, meus queridos, vem a diferença estrutural mais gritante: O amor liberta! tanto quem deixou ir quanto quem foi. E num dia qualquer, em um reencontro, ainda que um rubor denuncie, haverá sorrisos. Dependendo do que aconteceu, ou o que ficou por ser conversado, haverá risos. Porque sem os grilhões da obsessão, a tolherem seu desenvolvimento, ambos terão crescido. Apenas tente não fazer expectativas, não caia nessa armadilha, mas esse hipotético reencontro pode ter sucedido o hiato de que uma renovação perene necessitava para acontecer.

Só o amor vale à pena