31/12/2010

O gatoro de Curitiba


Ele jura que este não é seu alter ego

Findo os trabalhos de blogagem do ano falando de um amigo curitibano.

Este amigo nasceu em uma casa tão pobre, mas tão pobre, que eles precisavam escolher entre ter paredes ou ter teto, não podiam pagar pelos dois ao mesmo tempo. Na seca tinham paredes, na época da chuva tinham um telhado suspenso miraculosamente no ar, mas quando o tempo enlouquecia eles se lascavam bonitinho.

Contudo e porém, o garoto de Curitiba não desanimava. Perseverança? Que nada! Pura teimosia mesmo. Ainda cedo começou a fazer seus primeiros rabiscos. No começo eram rabiscos toscos, borrados e sem nenhum profissionalismo, todos diziam que até uma lesma com diarréia desenharia melhor. Hoje ele sabe que profissionalismo é fundamental, profissionalizou-se, mas o resto continua a mesma cousa.

O garoto de Curitiba tinha um sonho, que realizou parcialmente; sonhava ser um cartunista famoso, rico, cheio de mulheres e reconhecimento internacional. Uma mulher ele conseguiu, o resto ficamos devendo, sorry.

Quando entrou para a escola, o garoto demonstrou um talento maior do que o de cartunista, o de arranjar encrenca. Seu lema: perco os dentes, não a piada. Seu dentista chegou a oferecer-lhe sociedade no auge do nonsense.

Chegou a época de se alistar. Os oficiais do exército lamentaram assaz não terem onde aplicar tamanho talento, pela primeira vez lamentaram por não termos inimigos, pois o garoto de Curitiba sozinho conseguiria arruinar com o andamento de uma divisão inteira, tamanha incompetência. Tiveram que dar-lhe a dispensa.

Desempregado, rejeitado e devendo até os bagos, o garoto de Curitiba se viu na vidinha de sempre, chegava a ser confortável de tão acostumado. Montou uma banca em uma praça com um singelo cartaz: "Desenho por comida", mas os negócios iam mal, ninguém aceitava ser comida em troca de um desenho.

O garoto de Curitiba pensou em desistir e dar cabo da vida, até que um dia tentou cumprimentar um concidadão e sua vida mudou, a resposta daquele curitibano típico mudou sua vida, deu-lhe um chute que ele foi parar andares acima, sobre a mesa do director de um jornal, que acabava de dizer "Temos que encontrar um idiota que aceite este emprego ultrajante, ou perderemos a verba do Coitados Anônimos!". Ele viu aquela figura esdrúxula sobre sua mesa, aquela cara de perdedor pro-master e disse "Está contractado, queira ou não".

O que eles não sabiam, porém, é que Alberto Bennet é uma pessoa normal, com seus níveis de psicose controlados e suas angústias virando material para seu trabalho. Seus desenhos toscos e politicamente incorrectos chamavam atenção ainda nos anos 1980.

Desapegado, não se importa em ceder desenhos para os leitores ilustrarem seus blogs. Exprime suas frustrações com um humor corrosivo e desenhos toscos, deliciosamente toscos, capazes de arrancar risos só pela cara de mongo de seu personagem principal, o garoto de boné, que ele jura não ser seu alter ego, embora o próprio Benett seja famoso pelos seus bonés e pelo discurso pessimista, até soltar a primeira piada.

Consumidor voraz de blogs, que acabam rapidamente pelo grande volume de trabalhos publicados (aqui, aqui, aqui e aqui), tem uma vida estável de homem de bem, trabalhador honesto e talentoso. É uma prova de que não se precisa saber desenhar muito bem para ser um profissional dos traços. Desenho é técnica, técnica até um chimpanzé aprende, é preciso ter talento e um pouco de disciplina para transformar os traços em um bom trabalho, os elementos em uma boa composição e palavras banais em uma piada hilária.

Meu amigo Benett é uma pessoa de fino trato, já reconhecendo que a maturidade bate à porta, mas ele se recusa a abrir enquanto ela não disser a senha: Quantos mililitros há nos seios de Scarlett Johansson?

O talento do verdadeiro garoto de Curitiba, se baseia na capacidade de ilustrar o curitibano como o próprio não se imagina. A partir deste, ele consegue lançar tentáculos para todas as áreas, especialmente a política, que lhe consome litros de álcool para desinfectar as mãos, após cada trabalho. 



Nos últimos oito anos ele fez o melhor (até a meia-noite de hoje) presidente Lula que eu já vi, agora vai se esmerar em retratar a nova moradora do Palácio do Planalto, que se verá às voltas com o temível fantasma de nove dedos, este sempre a repetir "Minha faaaaixaaaaa...".

O que mais posso dizer do garoto de Curitiba, é que o Brasil perde muito em não reconhecer seu talento. Uma alegria para quem o conhece, perdem também os paranaenses em não começar pelos seus cartunistas (como também Solda e Pryscila) uma marca registrada que agraciaria o Estado por todo o país.

Faço então este texto como humilde contribuição para que, pelo menos os meus leitores, conheçam e reconheçam o talento lunático de um homem são e bem quisto por seus amigos, mas que realmente prefere perder um dente a uma piada.

Curitibanos, meus filhos, deixem de ser ranzinzas, isto é cousa para goianiense. Quando o rapaz desengonçado de boné aparecer na sua frente, não fujam para a outra calçada, ele representa o que sua cidade tem de melhor.

24/12/2010

Reencontro

Pensei em um conto de natal diferente do que se faz normalmente. Contarei por minhas palavras o que li em um relato espírita, cedido pelo meu alfaiate, que narra o reencontro de mãe e filho, que estavam separados por décadas.


 
Ela já estava velha e cansada, com sua beleza consumida pela idade, pelos lutos e pela vida dura que precisou levar. Não era a mulher submissa que a época exigia, mas ainda assim impunha respeito e admiração da comunidade. Ser viúva e sem posses lhe cobrava um preço alto, pois mesmo na comunidade a misoginia reinante alimentava o despeito dos homens.


Entretanto uma cousa as vicissitudes não lhe tomaram: o coração angélico. Como desde sempre, continuava a receber em sua cabana qualquer um que viesse lhe pedir amparo, fosse por fome, fosse por aflição, fosse hebreu, samaritano, mesmo um soldado romano, fosse quem fosse e pelo que fosse. Seus esforços nunca ficavam aquém de suas possibilidades, todas as suas possibilidades. Seu limite para o trabalho era o limite de suas forças.


Mas estas possibilidades se tornavam cada vez mais escassas, era só uma lavadeira idosa e já acometida pelos males típicos da idade.


Certa feita, já se preparando para dormir, ouviu baterem à sua porta. Com o peso do dia duro a limitar sua agilidade, foi ver o que poderia fazer para o visitante tardio, já se preparando para dar suas palavras de consolo e talvez um pedaço de pão. Deparou-se com um velho encapuzado e convidou-o a entrar. E que surpresa, ele é que começou a falar da vida celeste, das recompensas que a aguardavam, de tudo mais o que sua vida absolutamente santa lhe reservava. Seus olhos marejavam e a voz embargava, era a primeira vez que lhe consolavam em vez de pedir consolo.


No decorrer da conversa, certos padrões se deixaram reconhecer. A voz firme e cristalina do visitante destoava de sua aparência decadente, assim como seus gestos suaves e o repertório de seu vocabulário, muito além do de qualquer homem de conhecera, exceto por... E uma boa mãe não reconheceria seu filho? Ele notara que sim. Então deixou o capuz cair e se revelou para sua sofrida mãe, que se ajoelhou chorosa aos seus pés, e ele se ajoelhou para abraçá-la. Embora fosse figura de sua veneração, ele deixou claro que eram iguais, estavam precisamente no mesmo nível. Em breve, avisou, virei buscá-la. Já está a caminho quem te auxiliará no teu desenlace.


Ele se despediu e ela foi dormir feliz como nunca. Na manhã seguinte chegou o auxílio prometido e, pela primeira vez, a senhora se deixou tomar pela enfermidade da velhice, pois já era hora de se livrar das amarras. Enquanto se fez necessário Simão Pedro ficou ao lado de Maria, fiel como ela sempre fora à sua missão.


Certa noite, Pedro percebeu que o corpo começava a se esvaziar, sua Senhora estava indo embora. Mas lhe foi permitido ver tudo acontecer como estava acontecendo. Daquele corpo decrépito saia, mais intensa do que na juventude, Maria em sua indescritível beleza, seu olhar esplendoroso e pleno de um amor capaz de cegar a nós, pobres pecadores, sua voz doce e suave que nos faria chorar antes que concluísse uma frase. À sua frente se abriu um portal de uma luz que queimaria Simão Pedro, não fosse o que já conseguira ser. Deste portal, para o abraço da união eterna, desceu Jesus à Sua Mãe. À Sua frente uma comitiva de seres celestes guarnecia Sua nova ascensão, desde os anjos mais novatos aos mais elevados serafins, todos estavam de joelhos, sinalizando que estavam ao seu irrestrito serviço, de então em diante.


Jesus ainda consolou Simão Pedro, avisando que iria buscá-lo em breve, então Mãe e Filho retornaram pela estrada de luz para retomar o governo da terra, que se hoje seus habitantes precisam de toda a assistência que receberem, na época de sua infância muito mais.

20/12/2010

ABPU-0001


E as regras de trânsito, como unificar?
 O Mercosul, que ao Brasil tem dado mais problemas do que alegrias, eu mesmo não tenho notícia de uma sequer, poderá ter uma placa unificada. (ver aqui e aqui)

A idéia é fazer como na União Européia, unificar a identificação e (quando necessário) a punição devida aos motoristas dos quatro países.
Se tu andares na contramão só para tirar sarro da torcida do Boca Juniors, ainda que consigas fugir, eles terão a alegria de poder ver a multa devidamente aplicada, pelo site do Detran do teu Estado. Ao menos pretendem que assim seja.
O grande problema é que, ao contrário da União Européia, O Mercosul jamais foi um bloco coeso, jamais teve interesses relevantes em comum, jamais se comportou como um bloco, ou seja, jamais saiu do papél.
Não me venham com essas caras, pois ao menor sinal de crise, nossos vizinhos se fecham feito ostras assustadas, querem nos verder tudo com os bônus do acordo sem arcar com seus ônus.

A primeira placa, provavelmente AAAA-0001, seria usada por um ônibus à etanol para transportar os presidentes dos quatro países em eventos pertinentes.
Para a maioria que já se esqueceu, tamanha a "integração" do "bloco", fazem parte peermanente do Mercosul: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Este, alíás, é o que menos nos dá problema, na verdade seriamos um bloco se todos tivessem a estabilidade política uruguaia.
Nossos dirigentes querem começar em 2016, começando por veículos comerciais, depois caminhões, ônibus públicos e então os carros particulares. Agora dê uma ligada para o Detran da tua cidade e faça perguntas a respeito. É tudo feito de cima para baixo e só revelado quando já há pouco ou nada a ser discutido, as autarquias locais recebem tudo de pára-quedas, no dia em que tudo entra em vigor, quando não com atrasos.

Um dos problemas que emperram esta idéia é a discrepância legislativa. Por exemplo, o divórcio na Argentina é bem mais recente do que por aqui, mas lá já se celebram uniões homossexuais. O Paraguai permite a importação de veículos usados, mesmo sem fins de coleção, por aqui as montadoras ficam de cabelo em pé só de pensar no caso.

O projecto já foi aprovado na última cúpula do Mercosul, mas pormenores permanecem brumosos. Nossa legislação de trânsito e homologação veicular é bem rigorosa. As leis de trânsito são em praticamente tudo diferentes, desde as regras até os encargos impostos ao contribuinte de cada país. Como unificarão isto?Aqueles carros chineses que desmanchavam ao menor impacto, há algum tempo já eram vendidos no Uruguai, os que vêm para cá são reforçados, ainda que a custa de desempenho e capacidade de carga menores. Provavelmente eles esperam que haja uma mínima concordância legislativa para futuro breve, pela viabilidade desta e de outras integrações que já tardar muito. Meu optimismo está aquém disto.

Mas falando por nós mesmos, vocês acreditam que o congresso e demais casas legislativas estão realmente se importando com isso? Que alguém de delonga imensas negociações para fazer o que são bem pagos para resolver rapidamente, mas votam em poucas horas o que lhes convém, vai se esforçar minimamente para dar início de facto ao Mercosul?
Não sei vocês, mas eu não tenho a mínima esperança de que isto ocorra sem incentivos financeiros ou políticos. Incentivos vultuosos, diga-se de passagem.
Nossa legislação continua sendo feita por achistas que sabem menos do que falam do que eu sobre celebridades. Com raras e felizes exceções, os parlamentares votam pela cabeça alheia, ou do líder da bancada. Este também não costuma colocar o país acima de seus caprichos. Se houvesse uma constituição para os quatro países, talvez fosse diferente, mas não há.

Particularmente eu gostaria que este bloco já fosse uma realidade. Gostaria realmente que toda a documentação de que um cidadão precisa já estivesse unificada, que não precisássemos sequer sacar a identidade para atravessar uma fronteira, que as tributações fossem pelo menos homogêneas, que tudo tivesse saído do papel. Mas não saiu. Temos um acordo com o México, que nossos vizinhos não têm. De lá compramos carros, muitos apenas montados no México, com peças das matrizes americanas, sem o excesso de taxas que os outros países amargam. A Argentina reclamou com razão de sobra, tem mais ligação com a Europa do que com a América do Norte. Nós não agimos como um bloco quando fizemos o tal acordo. Raramente os quatro agem como um bloco. Na photographia, de vez em quando, mas de resto é cada um com seus interesses. Não necessidades, que isto não interessa aos políticos, mas meramente interesses.

Me perdoem, caros leitores, o pessimismo que exponho, mas sou gato escaldado. O povo não está sequer ciente do que está acontecendo, nem das implicações de uma decisão deste naipe. Com o povo desinteressado, eles aprovam o que bem entendem.

17/12/2010

Ministério da Saúde adverte, natal enlouquece


- Tô te falando, Nikolau! Até gravei alguns pra você ver...
- Não, as pessoas não podem ser tão estúpidas!
- Ha! Até hoje tem gente que acha que a Coca-Cola te vestiu de vermelho, mesmo havendo propagandas bem mais antigas fazendo isso!
Ela liga o DVD e o espetáculo começa...

Nossos gerentes estão ficando loucos, completamente biruuuuutas!!! Eles vão levar a loja à falência, mas antes você tem que aproveitar estas ofertas: Bonequinho feioso e mal acabado, com cada peça do corpo vendida separadamente, somente 5x55,55 sem juros! E a primeira prestação só no carnaval; Jogo de panelas montadas por presos políticos autênticos, sete peças, com cabos e puxadores na cor vermelho-sangue, somente... AHHHHHH!!! Você não vai acreditar!!! Venha correndo, antes que eles voltem a si.

- Biruta é quem compra uma porcaria dessas pro moleque! E desde quando panela é presente de natal? Mandar a mãe pra cozinha enquanto todo mundo se diverte deveria ser crime!
- Calma que tem pior. Aliás, ainda bem que você pensa assim, encomendei um buffet para a nossa ceia.

Papai Noel esperto não fica de bobeira. Venha tirar vantagem, que o Ronaldo Elerdo bebeu todas e não sabe onde colocar a vírgula dos preços. Veja só: Jogo de sofá Sokka Phona, de dois rins e um pâncreas por apenas dois rins e uma vesícula. Como é que é? Repete... De novo... De novo... De novo... Gente, deixa de ser trouxa, venha tirar vantagem antes que o Ronaldo tome banho, seja esperto, que dinheiro é tudo! E o monopólio logo será nosso, te cuida!

- Eu ouvi direito?
- Direito e esquerdo.
- Estão usando a época do natal para estimular a corrupção?
- Cê não viu nada. Espera o próximo.

Essas dançarinas com as buzanfas na frente da câmera não têm nada a ver com o natal, mas chamaram a sua atenção, então olha só: Tijolo furado, similar à Norma da ABNT, em doze vezes sem juros, sem promessas e sem vergonha! Telha colonial, pra cobrir o seu natal de alegria, diversas cores, só os olhos da cara! E estas com os peitos quase saltando dos sutiãs, também nada, mas a lata de tinta cocôletax de dezoito litros está com preço de ponta de estoque... Porque é ponta de estoque e está com a validade quase vencendo, então venha antes que ela seque!

- Por um minuto eu pensei que casa de tolerância já podia fazer propaganda antes das vinte e duas horas.
- E borracharia também. O povo fica de olho no meio da bunda e não vê os pneus balançando.
- Eu vou comprar um milheiro desse tijolo... pra jogar na cabeça desses sacanas! Eles estão acabando com a minha tradição! Rudolph, o que foi?
- Eu que pergunto, qual é a urgência?
- Eu chamei ele. Você que é uma rena forte, segura o Papai enquanto passo o próximo...
- Me segurar pra quê?

Aí, mano, a gente sequestremo o Papai Noel, tá ligado! E por isso a gente agora temo os melhores preços da cidade, tá ligado! A nossa lan house é a mais bombada desse natal, tá ligado! Fala aí, Papai Noel, nóis é ou não é os dominante da net? É, nóis é. As oferta de natal é essas: Uma hora on line por dois reau, cada hora extra é mais um reau, a cada cinco hora tu leva o chaverim da mulher-jaca, tá ligado! É a promoção de natal da Lan-Terna do Terror. Gatinha de shortinho e minissaia tem desconto, aí! É, discontão e axexoria persolalizada. Se nóis não fô os melhor, Papai Noel vai pro microondas.

- Rudolph, segura forte!
- Eu vou mostrar quem vai pro microondas! Fazendo promoção pornographica e apologia ao crime pra crianças usando o meu nome!!! Eu poderia transformar esses caras em baratas, mas não tenho certeza se alguém notaria a diferença!
- Tome o chá, Nikolau, tome... Isso... Isso...
- Isso não vai ficar assim!
- A próxima é só idiota... Mas fica por perto, Rudolph, só pra garantir.

Queridos eleitores, eu faço bem feito, ninguém me pega. Não deixo documento vivo pra policial desocupado interrogar. Você me conhece, sempre vota em mim. Pode ter certeza de que eu vou tomar posse, graças ao seu voto. Nesta legislatura, trabalharei como sempre trabalhei pelos interesses que vocês me confiaram, os meus próprios. A campanha já passou, mas prometo comparecer a todas as sessões relevantes, compromisso firmado em cartório pelo meu laranja. Meu eleitor leva tudo pelo que paga, e é a você, eleitor sem memória, que eu e minha família desejamos um feliz natal, porque o meu já ta garantido!

- Mamãe, eu nunca vi o Papai Noel com essa cara!
- Eu só vi uma vez, quando queimaram Joana D'Arc. Nikolau...
- Rudolph, traga a lista de pedidos. Tenho uns nomes para riscar.
- Pode ir, eu cuido dele. Não vá dar uma leucemia de natal outra vez!
- Não, desta vez darei cordas para eles se enforcarem sozinhos. Tem mais?
- Tem...

 IPI Zero! IPI Zero!  IPI Zero! IPI Zero!  IPI Zero! IPI Zero!  IPI Zero! IPI Zero!  IPI Zero! IPI Zero!  IPI Zero! IPI Zero!  IPI Zero! IPI Zero!  IPI Zero! IPI Zero!  IPI Zero! IPI Zero!  IPI Zero! IPI Zero!  IPI Zero! IPI Zero!  IPI Zero! IPI Zero!  IPI Zero! IPI Zero!  IPI Zero! IPI Zero!  IPI Zero! IPI Zero! Últimas unidades.

- Heim?!?
- É só isso.
- IPI zero para quem tem inteligência zero! O Brasil não tem habitantes, tem lavouras de trouxas!
- Com várias colheitas por ano, o natal só é a maior delas. Agora tem uma que é até bonitinha, sabe.
- Botitinha é feiosa arrumadinha.
- Acho que você vai gostar...

Boa noite, feliz natal pra você e sua família. Estamos convidando a todos para o bazar beneficente da nossa creche, em Trindade, para a festinha de fim de ano das nossas crianças. Para vocês que já nos ajudaram ao longo deste ano, muito obrigada mesmo. Para você que ainda não teve oportunidade, venha, a entrada é franca.

- Cortaram o vídeo!
- Eles só conseguiram um espacinho no fiofó da noite, com tempo contado.
- A lista, Papai.
Ele vai riscando alguns nomes e buscando o da moça que acabou de ver...
- Rudolph, vamos sair.
- O trenó já está pronto e esperando.
- Não desta vez. Se vista de homem e pegue o Rolls Royce, vamos fazer uma visita à Goiás. Depois distribuo os devidos castigos aos seus merecedores. Vem, Nicole, vamos ao bazar.

10/12/2010

Ovo quebrado no chão

Ponto de vista é o seguinte:

Reco-reco, Bolão e Azeitona foram ao parque. Ouviu-se um grito feminino e todos olharam para a mesma direção. Os três viram o desenrolar da trama. Um senhor nos seus sessenta e cinco anos levava tapinhas carinhosos de uma moça que ajeitava a saia, antes levantada.

Reco-reco viu o homem se abaixar, sorridente, e levantar a saia da moça com o cabo do guarda-chuva, ela deu um grito de indignação de início e logo em seguida se acalmou.

Bolão estava do outro lado do banco e viu a saia ser realmente levantada bem alto, de modo que quem estivesse por trás, visse a roupa de baixo da moça. Viu o sorriso do homem, que logo se transformou em um ligeiro constrangimento.

Azeitona, no meio, viu o homem se abaixar, sorridente, mas também o viu meneando a cabeça, pegando o guarda-chuva no chão e o levantando rapidamente, a ponto de causar o susto na moça, que se indignou no começo e depois perdoou o senhor.

Opinião é o seguinte:

Reco-reco viu várias maneiras de o guarda-chuva ser levantado sem ter que levantar a saia da moça, não que não tenha gostado da visão. Também não imagina o motivo plausível de o objecto ter caído justo em uma posição tão conveniente, do que deduz que ele estava próximo demais à moça.

Bolão viu a moça perceber a presença do homem sem se incomodar, por um período razoável para decidir se queria ou não sua proximidade, ela o viu se abaixar sem demonstrar estranheza, para depois soltar o grito. Não vê motivos para que ela não se afastasse quando o viu se abaixando e muito menos para perdoá-lo pelo constrangimento.

Azeitona viu o homem procurar rapidamente seu guarda-chuva e o localizar, sem manter uma distância civilizada da moça. O viu se abaixar rapidamente, neneando a cabeça, e se levantando rapidamente, levando junto a barra da saia. Só que ele também viu o homem olhando para a mesma direção que a moça olhava, não para debaixo da saia, bem como seu constrangimento pelo ocorrido. Não imagina os motivos de ambos não terem se prevenido e mantido uma distância civilizada.

Palpite é o seguinte:

Reco-reco acredita, inicialmente, que o homem está acostumado a fazer dessas artes, pois foi ágil e bastante preciso no que fez, e que a moça deve conhecê-lo com alguma intimidade, pois relevou e ainda lhe deu o carinho após o ocorrido.

Bolão acredita, inicialmente, que a moça está acostumada a ser exposta, embora tenha claramente sido pêga de surpresa. O que não justifica assanhamentos alheios, ainda mais em público, com o parque lotado. Acredita que os dois sejam muito íntimos para ela ter relevado e que ele é acostumado a constranger moças em público.

Azeitona acredita, inicialmente, que o homem o fez sem querer, pois o viu com feição de constrangimento não menos do que o da moça. Não vê, porém, motivos para ele não ter se prevenido e mantido distância, enxergou vários modos de ele pegar o guarda-chuva sem constranger a moça. Estranha que ela o tenha perdoado, em todo caso ambos demonstraram intimidade.

Despachados, desde o tempo em que tinham estorinhas em quadrinhos, os garotos vão ao par, perguntar se precisa de ajuda. A conversa civilizada esclarece tudo. Apesar de fisicamente diferentes, são pai e filha. o homem passou a juventude toda na lida rude da roça e depois da construção civil, mas sempre com os pais lhe cobrando comportamento decente e respeito às mulheres. Ele tem, em decorrência da exposição ao pó do cimento, alguma deficiência visual, facilmente corrigida pelos óculos que esqueceu em casa.

Tudo explicado. O homem tentou localizar o guarda-chuva, o encontrou e precisou focalizar para vê-lo direito, o que certamente o privou de enxergar a filha ao lado. Como a única mazela que leva é um pequeno problema de visão, já devidamente estabilizado, e teve uma vida rude no tocante ao sustento da família, não teve a menor dificuldade em se abaixar e se levantar, com uma desenvoltura de fazer inveja a muitos jovens. Pela criação que teve, se sentiu culpado pelo constrangimento que causou, facto notado por ainda estar rubro e meio cabisbaixo. Ainda ficam sabendo que, mesmo a vida rude e o não ter um diploma, não privaram o homem de absorver uma boa dose de cultura e conhecimento de várias causas, o que explica o andar elegante com um guarda-chuva, mesmo com o sol brilhando. A face externa é refletiva, então o usa também para se abrigar e à filha do sol.

Os garotos levam mais esta lição, a única verdade que existe, acessível ao homem, é o ovo quebrado no chão. O ovo pode ter caído ou subido, depende do ponto de vista brasileiro ou japonês, isto não muda o que aconteceu. Só o que podem afirmar é que o ovo viajou em direção ao centro da Terra e foi detido pelo piso, não resistindo ao impacto e tendo sua casca rompida. Sem a devida investigação, todo o resto é palpite, especulação que nada acrescenta senão aos doentes por retóricas vazias.

Reco-reco, Bolão e Azeitona conseguem novos amigos e ganham o lanche da tarde, por terem sido solícitos, em vez de prejulgadores.

03/12/2010

Livro do ódio para o natal

Eu não uso veados! Uso renas! Re-nas!
Lembrando da saudosa revista Mad, você não odeia...
O taxista que te esnoba durante o ano inteiro, mas se acha no direito de cobrar bandeira quatro por um sorrisinho de "feliz natal"?
O porteiro que já riu até molhar as calças, te vendo derrubar as compras, sob chuva, por falta de quem ajudasse, nesta época pedir caixinha por "fazer o favor" de abrir o portão?
Sua sogra avisar que passará o fim de ano inteiro com vocês?
Sua sogra ligar de novo, avisando que seu cunhado desempregado vai junto?
Aquelas traduções abrasileiradas na marra, que os supermercados tocam em repeat ad infinitum, já em Novembro (quando não antes) assassinando cruelmente um clássico de Lennon?
Aquele Papai Noel com cara de tarado que ignora os pedidos das crianças, enquanto lança olhares cobiçosos às mães mais bem apessoadas?
Aqueles bonequinhos que mais parecem bibas de academia, expostos em cenários tão grandes que não caberiam na sala, mas levam a mensagem em negrito, logo abaixo do preço extorsivo "Tudo é vendido separadamente"?
Aquelas bonecas mais empetecadas do que damas-da-noite em fim de carreira, expostas em cenários tão grandes que não caberiam na casa inteira, mas levam a mensagem em negrito, logo abaixo do preço extorsivo "O cabelo também é vendido separadamente"?
Aquelas apresentadoras cafonas de tevê, que enfiam na cabeça das crianças que só existe diversão de verdade com cenário e elenco completos?
Crianças que te jogam na cara que sabem o quento você ganha e que seu salário dá para comprar o que te pedem?
Pais que não sabem educar seus filhos e levam os monstrinhos para atazanarem todo mundo durante as compras?
Congestionamentos monstros de fim de ano?
Calçadas congestionadas, cheias de gente tonta que não sabe ocupar menos que três lugares, de fim de ano?
O pronunciamento do presidente?
O piso escorregadio do shopping, que deixa seus filhos muito mais tempo expostos à visão tentadora dos brinquedos mais caros?
Toda aquela quinquilharia, que vai entupir a despensa durante os onze meses seguintes, receber acréscimos a cada ano?
Levar choque nas luzinhas shing-ling que seu marido comprou, porque não viu vantagem nas made in germany, que custam o triplo do preço?
Os "religiosos" radicais fazendo barulho e campanha para queimar Papai Noel, afirmando que "O Natal é do Senhor Jesus"?
Jornalistas boçais, que todos os anos insistem em demonizar o bom velhinho, se lixando para a fantasia necessária à formação social das crianças?
Sujeitos boçais que aprontam todas sob a fantasia do bom velhinho, alimentando a sanha anti-natalina?
A fatura do mês passado, do cartão de crédito, acompanhando um calhamaço de promoções e ofertas "imperdíveis"?
Fazer as compras, passando horas sob cotoveladas e pisões na joanete, para só no caixa descobrir que esqueceu de pagar a fatura do cartão?
Os especiais de natal horrorosos da tevê de hoje, que nos fazem ter saudades dos melosos e repetitivos, mas bem feitos e sinceros especiais de outrora?
Te darem um DVD com todos os especiais de natal horrorosos da tevê de hoje, te fazendo chorar de saudades dos de outrora?
Os desenhos de fim de ano ridículos, com excesso de politicamente correcto, que privam as crianças de perceberem qualquer lição que antes era embutida em cenas que elas vêem todos os dias, em todos os lugares?
Os jingles medonhos das emissoras, que a cada ano conseguem ser piores do que todos os anteriores juntos?
Os convidados duvidosos para o especial de fim de ano do Rei?
Não haver mais revistas de humor como a boa e velha Mad?
Ver aqueles presentes que te custaram a hipoteca do fígado, serem ignorados permanentemente assim que vem o ano novo?
Descobrir, mais uma vez, que as pessoas não sabem equilibrar o consumo saudável com o espírito de natal?
A fatura do cartão de crédito em Janeiro?