Também tem que agüentar xingamento. O aluno precisa se expressar livre irrestritamente, ainda que que o professor saia da sala de aula com hematomas. E se o pivete te chamar para transar, a culpa é sua. Quem mandou usar saias acima da unha do pé e decote abaixo do queixo?
O trombadinha trouxe uma arma para dentro da sala? É tudo uma questão sócio cultural antropológica de um sistema injusto e segregador, que aliena as massas e desprotege o indivíduo, obrigando cada um a se virar como pode, então cala a boca senão leva chumbo.
Que foi, bem? Não gostou? Então vá trabalhar noutra profissão. Os demagogos que aprovaram as barbáries supra citadas precisam dos votos da juventude.
O que eu escrevi acima não é piada. A pretexto de gerar inclusão e poupar os alunos de frustrações, as escolas públicas (e muitas particulares) se transformaram em circos. Trabalhei em escolas, tenho parentes que trabalharam em escolas, sou amigos de professores e conheço a tragédia de perto.
Eu sou plenamente a favor de estimular e recompensar os alunos. Estímulo e recompensa é um factor básico para o aprendizado. Mas não é, ao contrário do que as propagandas oficiais tentam passar, o que está acontecendo.
Os alunos não estão recebendo estímulos, estão sendo carregados nas costas. Gente que mal sabe desenhar o próprio nome vai para a quinta série. Alguns deles mal abriram os livros ao longo de toda a vida escolar, certos de que serão recompensados assim mesmo. O professor lá na frente, tentando expor um mínimo de conteúdo, derrepente alguém lá atrás liga o som no último volume e faz ameaças a quem tentar interferir. Pronto, a sala de aula virou um baile funk, com toda a permissividade inerente.
Ei, isto não é uma situação hipotética. Isto está acontecendo nas escolas. Não hoje, sábado, mas está acontecendo de segunda à sexta.
Eu trabalhei por dois anos em um colégio estadual. Quando entrei, era o que descrevi acima, contando inclusive com tráfico de drogas; cocaína, maconha, cigarros, cedê de funk, de axé, revistas de fofoca e outras barras pesadas. Certa feita, a directora conseguiu alguma proteção policial e me autorizou a firmar o pulso. Nunca mais deixei ninguém entrar atrasado sem justificativa, ninguém ficava à entrada durante as aulas, eu dava bronca por mau comportamento sem dó, mas com critério. Resultado: a média que suava para se manter nos 4,5 passou para 6,5 sem empurrismos. Os alunos que ficaram tinham tranqüilidade para chegar no fim da tarde e começar a jornada de estudos, sair ao intervalo sem medo de briga de facas ou mesmo uma bala na testa.
Mas não foi um mar de rosas. Foi quando recebi minha primeira ameaça de morte, de um ex-aluno traficante. Ah, a primeira ameaça a gente nunca esquece, depois vai perdendo a graça e fica muito banal. Alunos que farreavam ao portão e não deixei entrar, chegaram a jogar pedras na escola. Algumas vezes se aproveitavam da vulnerabilidade da rede eléctrica pública, jogando barras de ferro nos fios e causando curtos, deixando o bairro inteiro (cheio de clínicas e hospitais) às escuras, obrigando ao encerramento precoce das aulas da noite. Foram dois anos de luta, de descaso dos pais, de pressão da secretaria sem educação para emburrecer os garotos. Mas enquanto a nossa equipe lá estava, aquilo era uma escola de verdade, com alunos, professores e funcionários já se respeitando na medida do razoável.
Não, eu nunca bati em alunos, não usei palmatória e não tranquei ninguém na solitária. Mas a experiência confirmou o que eu já acreditava, crianças precisam de limites, de pulso firme, de reconhecer a autoridade e a hierarquia, pois elas existem no mundo real e são implacáveis. Se um sujeito tratar o chefe como trata o professor, na primeira frase já leva o pé na bunda, é rua com justa causa. Pergunte aos teus avós se eles foram infelizes por não terem esfaqueado um professor, quem conhece e reconhece os próprios limites sabe aproveitá-los.
Não sou a favor de castigos, punições, vexamentos nem qualquer gerador de traumas desnecessários. Me indigna ver gerações inteiras sendo enganadas por pedabobos biônicos, que só visam o lucro dos chefes ou seus vôos políticos. Gente com muita capacidade sendo legada ao ócio das conquistas fáceis e sem méritos, que assim passa a usar essa capacidade ociosa na busca de sensações cada vez mais intensas, mas totalmente sem significado, gerando o círculo vicioso da delinqüência mesmo em jovens abastados. Estes pensam que não têm o que temer, os mais carentes pensam que não têm o que perder. Mas têm. Não entrarei nos méritos da espiritualidade, me aterei ao mundo material. Eles só vêem que tinham o que perder ou temer, quando sentem a vida esvaindo e se desesperam à foice da morte iminente. Então papai e mamãe não podem mais ajudar.
Aliás, engana-se quem pensa que o problema é de escolas públicas. Uma amiga era professora de uma dessas "unimoney" da vida, na faculdade de pharmácia. A pressão da directoria sobre os professores é desumana, para qualquer situação dão razão ao matriculado, já que aluno mesmo a maioria não é. Certa feita, ela ameaçou suspender um filhinho de papai (idiota, que não terá a quem deixar as empresas) e ele respondeu "Então me dá logo duas semanas que eu viajo pra Europa". Se lixando, assim como as Secretarias sem Educação, para o aprendizado, a universidade deu razão ao turista que pagava as mensalidades. O salário era bom, mas não compensou o desgaste e os prejuízos que ela, pharmacêutica, prognosticou com precisão. Não sei vocês, mas me preocupa saber que esses retardados vão atender pacientes e fazer cirurgias.
Então entram em cena as escolas militares. Lá a pedabobice empurrista não entra, lá aluno não ofende nem agride professor, lá quem quer estudar consegue estudar. Propaganda? Não, absolutamente. Apenas afirmo o que minha experiência comprovou: a criança que aprende de seus limites, de respeito ao próximo, de disciplina, de noções de autoridade e hierarquia se desenvolvem muito melhor. Disciplina, Autoridade e Hierarquia são basais para qualquer civilização. E pasmem, marxistazinhos de boutique, os alunos dessas escolas são felizes, os pais fazem fila para tentar uma vaga ao menos para um de seus pimpolhos, e eles respeitam sim a legislação vigente para menores de idade. Digo o mesmíssimo para as escolas católicas. Não me alinho muito com o catolicismo, mas não existem escolas melhores do que os caros colégios católicos, como o Santa Clara, que ilustra o texto. Maria Cristina, de quem tanto falo, estudou em um colégio católico, nem por isso virou uma carola fanática e irascível. Pelo contrário, é mais alegre e jovial do que a maioria das adolescentes.
E onde entram os pais nesta muvuca? Entram na base. De pouco adianta ter excelentes professores, uma estrutura de primeiro mundo, horário integral e tudo mais, se os panacas simplesmente dizem "Vê o que cêis faiz pra nóis aí", quando são chamados a responder pelos filhos. Se os genitores não dão a mínima, mesmo o colégio mais completo e rigoroso pouco pode fazer, além de lamentar e tentar preparar o aluno para a deficiência que fatalmente enfrentará.
Aliás, internautas que sabem ler em português, deficiência é um elogio para o que eu conheço do sistema de educação de hoje. Dão a entender que estão se lixando se o mundo desmoronar em quinze anos, por falta de animais raciocinantes para sustentá-lo. Eu vejo sim é o surgimento de uma sociedade de castas: os pensantes e os ruminantes, estes a imensa maioria. Não uma separação meramente protocolar, mas simplesmente porque os dois grupos não vão conseguir se comunicar a contento, tampouco um conseguirá viver no ambiente do outro por mais que umas horas por dia. Isto, queridos alunos, já está acontecendo. Não é uma projeção sombria e pessimista, eu já vejo isto, em menor escala, no meu cotidiano. Gente que olha para as letras dos jornais e não consegue ler mais que umas poucas palavras mais familiares, para depois se prender às imagens para compreender o que se passa. Tevê, claro. Mas só entretenimento, tanto melhor quanto mais baixo o calão, que tentar compreender os motivos não faz parte da alçada. Eu, me perdoem que gosta, descobri ontem que não consigo mais ficar além de dois minutos seguidos diante daquele aparelho, salvo raras exceções. Sim, isto pode parecer pedante, que estou me colocando deliberadamente na casta dos pensantes, mas se assim não fosse eu não estaria levantando a questão.
Quando D'us me conceder o direito à paternidade, que esperneiem os pedabobos alienados, mas educarei meus petizes em casa, com todo o rigor e todo o carinho de que necessita uma criança. Decerto que enfrentarão alguma impopularidade, mas não deixarei meus rebentos à mercê da estupidificação massificada em que se transformaram as escolas. Isto, lamento, provavelmente inclui a dos teus filhos.