24/02/2012

Maria Cristina 5

Chevy Caprice http://blogs.automotive.com

Maria Cristina, linda menina, na flor da idade em plena maturidade.

Jovial que se ouve pela voz em toques de seda perolada, sincera que se vê nos olhos em timbre piano de suave balada.

Procuro no Google, às vezes, novidades com seu nome. Nada a desabona, absolutamente nada. Para quem não tem o hábito, digite o próprio nome entre aspas, no buscador, sabe-se lá o que estão aprontando com ele! O de Maria Cristina continua como sempre esteve, desde a época do escândalo dos cartões corporativos; limpo e cristalino.

O sorriso cansado desta laboradora abnegada em seu nobre labor, ainda que denuncie as máculas enfrentadas pelo caminho íngreme, sempre derrama um jorro de luz divina em quem se dispõe a aceitar sua ajuda. Aceitar sua ajuda é dar-lhe um presente, ela fica feliz em ajudar, só com a felicidade alheia, seja quem for. Mas a orgulhosa nem sempre aceita a nossa, hm!

Apesar da turba despótica que ora transforma em um pardieiro acadêmico, aquela que noutrora foi a escola mais respeitada e disputada de um Estado da Federação, que também não anda muito malhor das pernas, sua dedicação aos seus filhos adoptivos temporários é digna de uma verdadeira mãe. Marmanjos se encabulam, pedindo licença e demonstrando o respeito que os outros não conseguem, porque não abrem a via de retorno.

A vida nestas décadas, tem sido madrasta. O uso de recursos próprios para o que deveria ser provido pelo Estado, só acelera o desgaste a que se submete. Ela tentou, há alguns meses, fazer seu mestrado, mas para isso teria que abandonar o trabalho que ama; perdeu a chance e o dinheiro já investido. Por que teria que abandonar? Porque a política da estatística acima de tudo, permite que os outros não façam a contento o seu trabalho, sem serem importunados. Quem tem amigo ou parente no funcionalismo público, sabe do que estou falando. Ela poderia estar rica, se cedesse um milímetro naquilo em que os outros se atiram por inteiro.

Apesar do cansaço visível, ela trabalha. Ama trabalhar. Quando pode faz uma boa refeição, às vezes dia sim, dia não. Ama trabalhar em um ambiente onde isto é quase um crime. Resolve problemas em um ambiente onde empurrar com a barriga é a regra. Ela incomoda muitos acomodados pela simpatia partidária, porque faz suas falhas aparecerem, mas adivinhem se alguém tem culhões para encarar! Ela é frágil, delicada, mas tem autoridade inata, que salta mesmo quando fala manso. É delicadinha, mas durona, tem o sangue quente da avó espanhola correndo nas veias.

Quem pensa que Maria Cristina gosta de hatches pequenininhos e fáceis de estacionar, mesmo perdendo um pouco de espaço, está esphericamente enganado. A mulher é poderosa. Ela gosta de sedans imponentes, tem uma simpatia indisfarçada pelo Opala Diplomata, de preferência preto. Um carro que não só mostre que a chefe chegou, mas também permita à chefe levar e trazer seus pupilos com conforto e segurança... Creio que teria gostado do Caprice e seu corpo full size. Se bem que ela precisa é de um ônibus de piso alto.

Quem pensa, porém, que ela é uma mulher amarga, frustrada e de mal com a vida, por tudo de que abre mão... Chora, porque ela se sente realizada no que faz. Ela é realizada, apesar de todas as abdicações que tem feito ao longo de uma vida inteira. Enquanto os pseudo defensores do povo festejam cada corrupto que sai impune, e os pseudo defensores da moralidade fazem barulho pelo mesmo motivo, ela não deixa o trabalho parar. Os alunos, como na época do director Ludwig Von Waldoo, são a prioridade desta ítalo-hispânica encrenqueira e mandona. Ela não é como gente dissimulada, que manda fingindo pedir um favor, ela manda deixando claro que está mandando.

Sabem aquela mania que ela tinha, de reconferir duas vezes o trabalho feito? Bem, ela não tinha, ela tem. O perfeccionismo de quem faz bem feito ou não faz, assusta muitos "colegas" e acaba por afstá-los, o que não deixa de ser uma benece. Essas gente já está desistindo de ocupar seus ouvidos com o discurso retórico e ululante em que se resumem as reuniões que marcam, com única intenção de marcar a reunião seguinte. Assim tem mais tempo para dedicar-se àquilo que ama, que é a assistência social em sua mais pura acepção. Claro que sua beleza doce e refinada ajuda a angariar a simpatia, mas não duraria se não tivesse tanto conteúdo, muito mais e mais intenso do que se espera para sua pouca idade.

Dói vê-la desiludida com seu emprego, com sua chefia, desde o mais baixo escalão até a presidenta. Ela poderia ter um emprego melhor, com remuneração decente e tempo para a vida pessoal, se abdicasse do sacerdócio em que transformou sua dedicação aos alunos. Ela pensa nisso, então a desilusão encolhe, sai com o rabinho ente as pernas e a deixa trabalhar. É para isso que ela está lá, às vezes varando a noite e a madrugada com horas extras que já sabe, jamais receberá.

Muita gente me pergunta "Essa mulher existe mesmo?". Eu respondo que faz mais de vinte anos que a conheço, que ainda costumo obedecê-la, então ela existe. É muita virtude exposta, em um meio acostumado a louvar os vícios e os factóides, é luz demais cegando as criaturas das trevas. É Maria Cristina.

21/02/2012

A mãe EU!


Como você é inútil! Depois de tudo o que investi em você, o que me dá? NADA!

Dei tudo o que você precisava, tudo! Dediquei minha vida ao seu sucesso, à sua glória e à sua supremacia! O que tenho em troca, hem, seu inútul? NADA! VOCÊ NÃO ME DEU ABSOLUTAMENTE NADA EM TROCA!!!

Você estudou nas melhores escolas, teve os melhores professores, tinha à disposição os melhores livros dos melhores autores! E as aulas de música? Não poupei recursos na sua educação, não poupei tempo na sua educação, eu gastei uma fortuna para te dar a melhor das oportunidades!

Mas não. Você não deu valor. Eu me anulei em seu favor, mas você não deu o mínimo valor. Desgraçado! Como se atreveu a frustrar minhas expectativas?

Você não faz ideia do que eu agüentei por sua causa, verme! Suportei toda uma sociedade contrária aos meus métodos, por sua única e exclusiva causa. Tudo para quê? Para redundar nisto! INÚTIL! Você é um INÚTIL!!!

E agora? O que você tem a me dizer? Nada, é claro. Exactamente o que recebo em troca. Exactamente o que você vale. Você vale NADA!!! E eu te dei TUDO!!! Não há em toda a história uma mãe melhor do que eu, ironicamente nunca houve, e provavelmente não haverá um filho pior do que você, seu estorvo.
Desde que você nasceu, eu te encaminhei para o melhor dos caminhos. Te deixei chorar muito, antes de te dar o peito, para que aprendesse o valor da sobrevivência. É claro que essas mães frouxas do ocidente me criticaram, usando até Bill Gates como exemplo, mas isto não me convém e portanto não será tratado aqui.

O que importa é que eu te fiz andar pelo único caminho certo que existe, o meu. Eu quis te fazer um homem desde cedo. Você não teve nenhum brinquedo, simplesmente porque são bobagens que te distrairiam do seu dever! Não é porque não entendia o significado das palavras, que estava dispensado de ignorar minhas ordens expressas.

Te fiz correr e se exercitar no auge do inverno, lá fora, pelado, em um país onde isso é crime - apesar de eu não tolerar que um ocidental alegue desconhecer as leis do meu país - para te tornar um homem forte. Dane-se que ainda estivesse na primeira infância, era seu dever ser forte e resistir!

Surras gratuitas todos os dias, para te lembrar quem é que manda, mas nem assim você aprendeu, seu palerma. Te fiz sangrar tantas vezes para quê? O que você me deu em troca, maldito? Eu deveria ter te matado de uma vez, para me poupar deste desgosto.

Te obriguei a estudar dezesseis horas por dia tudo o que eu quis que você estudasse, te obriguei a praticar piano para não te deixar desocupado, te neguei um só dia de folga em toda a sua inútil vida para que não perdesse tempo com distrações. Por que? Me diga, por quê? Por que você me decepcionou desta maneira tão vergonhosa?

Eu moldei a sua personalidade com todo o cuidado do mundo, a plasmei de acordo com a minha vontade para tudo sair perfeito, fiz tudo como se faz para lapidar um diamante bruto. Mas descobri que não passava de vidro vagabundo. É o que você sempre foi, na realidade, um vagabundo! No seu íntimo, você sempre quis brincar, sempre quis comer um doce, sempre quis ter um aniversário, VOCÊ ME TRAIU, DESGRAÇADO! MALDITO!

A sua obrigação era me levar ao topo da hierarquia da sociedade mundial, e lá me manter até a minha morte. A sua obrigação era fazer todas as mães do mundo terem inveja de mim, e pagarem o que eu exigisse por uma simples consulta em grupo. A sua obrigação era fazer as pessoas se prostrarem à minha presença, beijarem o chão em que eu piso e vasculhar meu lixo como um saco de tesouros.

Já com esta idade, o que você conseguiu? NADA! Você teve tudo e me devolveu nada! Agora não serei mais uma nobre entre as mulheres. POR CULPA SUA! EXCLUSIVAMENTE SUA!

Depois de tudo, o que você tem a me apresentar? Você não tem um império mantido com pulso de ferro, para me render glórias pela sua educação. Você não tem escravos em minas de diamantes, para me cobrir de jóias, que eu descartaria depois do primeiro uso. Você não é venerado em nenhum país do mundo!

Eu te eduquei para que dominasse o mundo! Você deveria ter feito o que Hitler falhou em tentar! Você foi preparado para conquistar o mundo! Para tornar o nosso gentílico, um título de nobreza por si mesmo! Para humilhar os americanos e todos os que não compartilham de nossa mentalidade! Para me tornar uma rainha em nosso país!

Mas não! Você tinha que me decepcionar! Eu deveria ter te abortado! Ter encomendado nanorrobôs para te picotar e depois te expelir, como uma menstruação. Eu te odeio! TE ODEIO! ODEIO! ODEIO! ODEIO!

Você não podia ter feito isso. Justo agora, você não podia ter feito isso! Só por que te impus o rigor disciplinar mais perfeito do mundo, você tinha que morrer??? Com oito anos de idade, você morreu sem me dar uma alegria sequer! E agora nem posso sair do país, porque serei presa se pisar em qualquer solo estrangeiro! MALDITO! Você acabou com os meus sonhos, as minhas aspirações, os meus desejos, os meus caprichos, as minhas taras, você acabou com tudo! Nem caixão você merecia! Eu cuspo em você! Eu! Eu!

Eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu! eu!

Este texto é uma homenagem aos beócios, que acham lindo, plural e democrático, uma sociedade estar polarizada entre a completa permissividade, e a completa perversidade dos pais. Àqueles que adoram e esgotam edições de livros nasifascistas com títulos do tipo "Tenha prazer em espancar seus filhos todos os dias" ou "Tire a roupa e fique de quatro para seus filhos todos os dias". Graças a vocês, grupos extremistas têm onde se apoiar pelo mundo inteiro, porque encontram eco em parcelas consideráveis da população.

17/02/2012

Soube de uns despreparados...



Texto baseado em factos reais, ocorridos nesta semana. Por mais absurda que seja a situação, era aconteceu de verdade, embora meu mau humor crônico tenha preferido trocar as falas mais infantilescas por sons de animais mais evoluídos. Nomes foram trocados e/ou omitidos não para proteger as cavalgaduras, mas para não contrariar o IBAMA e o amigo Ricardo Baitelo, que é do Green Peace e protege todos os animais, mesmo aqueles fadados à extinção por inviabilidade pura, como os do episódio. Vamos ao caso...

Rosana vai pelo corredor à aula de português, cujo professor tem a autoridade de quem viu o idioma nascer. No meio do caminho não havia uma pedra, havia um zoológico.  A moça é interceptada por desocupados que, no ensino médio, com a pedabobagia empurroterápica pseudoinclusora já em vigor, se habituaram a trocar professores que teimavam em ser professores, apenas reclamando à secretaria...

- Ocê vai ver a aula dele??
- Uai, vô! Por que?
- Porque nóis tá boicotando!
- Esse professor é muito chato, nadaver!
- Fica cobrando coisa demais. Os outro não é assim, não enche o saco da gente!
- A gente vai trocar ele por um professor jovem, que não embaça pro nosso lado por causa de celular e conversa na hora da prova.
- Ou uma gostosinha pra gente pegar...
- Vocês não querem estudar, não?
- Pra quê? Nóis passa do mermo jeito!
- Passa no quê, anta? Na prova da OAB é que não é.
- Ôtra cansera eu tem que acabá...

Forma-se um fórum de debates que mais parece briga de jardim de infância, onde só quem realmente se debate é a gramática, agonizando a cada asneira neológica proferida. A justificativa apara o motim não excede a esphera dos caprichos, que inclui querer acordar tarde todos os dias, ir para botequins em vez da faculdade, emendar o fim de semana já na segunda-feira, et cetera. A idade mental média os torna aptos a concorrer às vagas de uma creche-berçário, não a um cargo jurídico. Já Rosana, acha que pagar a mensalidade que paga, lhe dá direito e dever de ver até as aulas de história em quadrinhos, que porventura forem oferecidas...

- Pois é, foi justamente por causa do último professor de português que vocês conseguiram demitir, no médio, que agora estão pagando mais de mil reais de mensalidade. Não têm competência pra passar numa federal!
- Ah, professô cansera tem que desinfetar mesmo!
- Inziji decorá coisa nadavê, que nóis nunca viu.
- E ainda humilha nóis, mostrando pra todo mundo que errou na prova.
- Ah, tá. Estão assim porque ele pegou uma prova e disse que “pronome não é antônimo de contranome”. E ele nem disse quem foi a anta que escreveu aqueles garranchos!
- Ah, fui eu, uai! Quo-quóóóóó... Num tenho que sabê de coisa que não uso... Já tenho nome!
- Issaí... Riinnch-ooon! Esse véio ta muito folgado ca gente! Eu sô fi de doto deputado e não tenho que obedecê ninguém nunca na vida e vô sê jovem pra sempre nunca vô tê que trabaiá Rinch-on!
- Alf! Nóis ta aqui pra curti, nóis num teim que sabê disso! Trabaiá é pra otário! Au-au grrrrrrr...
- Pra isso que serve ser assessor de deputado, uai! Au! Au!
- Quer dizer que eu vou ser a única da turma a conseguir a carteirinha da OAB? Bom, menos fila na hora dos trâmites.

A argumentação rasa, digna de bebês que ainda não aprenderam a falar, irrita a moça e a faz dar as costas, desencadeando uma manifestação de indignação por vontades não satisfeitas. Estão acostumados a sempre darem um jeito, empurrar com a barriga, recorrer ao cartão de crédito como complemento de renda, enfim, atolados até o pescoço no jeitinho em sua pior forma...

- Vai, traíra au! Au! Au! Auf! Grrrrrr!
- Nóis não vai convida ocê pra nossas balada! Quo-co-co quo-cóóóóóóóó!
- É aluno como você que desarticula nossas reivindicações! Muuuuuuuuuu!
- Nóis vai falá mau docê n'orkut riinch-óóóón!
- Quo-co-co-co quo-co-cóóóóóóó!
- Au! Au! Au! Au! Au! Au!
- Qüe qüéééé!
- Quo-coróóóóóóóóóóóóó!!!

Eles cansam de fazer barulho e vão para o pátio, ouvir canções de apologia ao crime e ao baixo ventre, exibir as chaves da caminhonete dada de presente, sem merecer, pelo “pa-pááááiiii” e planejar a próxima balada. Saem logo em seguida, quebrando todas as leis de trânsito que conseguem, embora não conheçam nenhuma.

Enquanto isso, em sala de aula, a única aluna se senta e o professor chega, mas aliviado do que triste com a sala vazia. Mas não alimenta esperanças sem um bom lastro e pergunta...

- Só você?
- É, só eu. Fazer o quê?
- Perfeito! A parcela da turma que vale à pena está toda em sala, poderei ministrar com tranqüilidade e, quem sabe, até abordar conteúdos mais avançados. Posso apresentar-lhe minha amiga Prosopopéia?

Ela consente, fica encantada com a fina dama da construção cultural e lingüística.

13/02/2012

Saia para a vida, querido


Feliz dia de São Valentim

(1) Quando crianças a gente era amigo, tudo podia acontecer. Qualquer coisa era um brinquedo, vida que valia viver!
Para aquela idade estava tudo bom, era o que nos cabia ser. Até onze anos, coisas sérias, deixávamos papai resolver!

(2) Mas a nossa infância passou, ser princesinha já não me basta querido.
Bem cedo me tornei independente, querido disso eu já não abro mão!
Você não sabe como cresci, quebrando a cara sem mamãe acudir!

(3) Querido você não é irresistível, querido você não é a morte!
Querido você não é infalível, querido você não é Deus!
Você pensa que ser um homem, é só ter corpo e idade?
Querido eu não nasci pra você!
Eu nasci pra viver!
Se não consegue ser um bom amigo, como você espera ser bom marido?

(1) Viajei o mundo e conheci a realeza de carne e osso. Vida de princesas de verdade, querido, jamais é um conto de fadas.
Fiz muitas besteiras e sempre paguei, mas nunca me arrependi de ter tentado.
Quando eu voltei, me entristeci, quando vi o que aconteceu. Mil adolescentes com rugas na cara, querendo a verdade pra si!
Tantos idolatrando futilidades, como se fossem essenciais. Outros se achando intelectuais, como os donos da razão!
Viver por minha conta, querido, foi a escolha certa; me ferrei, mas sou muito feliz.

(2) A humildade que adquiri não me permite essa ilusão.
Vocês desperdiçaram sua juventude apontando falhas alheias.
Querido, bem mais que conhecer reis e heróis de verdade, eu conheci a mim mesma.

(3) Querido você não é invencível, querido você não é Kal-El!
Querido você não é o máximo, querido você não é Jesus!
Você pensa que ter maturidade, é memorizar regras sociais?
Querido, Deus nunca prendeu você.
Querido, Deus te fez pra viver!
Se não consegue amar seu verdadeiro “EU”, como vai conseguir me amar?

(1) Não esperava encontrar aqui, a mesma cidade que deixei pra trás. Já sabia que mudaria e talvez não fosse reconhecer.
Depois de tantos anos fora, compreendo que poderia haver rejeição. A garota que saiu pelo mundo mudou mais do que pretendeu.
Mas o que encontrei foi a mim que assustou, querido; uma cidade de zumbis. Metade usando máscaras felizes e a outra, máscaras de halloween!
Você ainda tem um pouco de sanidade, não se rebaixou como eles. Deixe as promessas feitas aos mortos, eles não vão poder cobrar!

(2) Você teve medo de viver, pra não magoar a ninguém.
Mas essa gente que cobra, não está nem aí pra você.
Querido, se deixe viver, que a velhice não perdoa a quem quer ter razão!

(3) Querido você não é imprescindível, querido você não é o ar!
Querido você não é eremita, você não é Bruce Wayne!
Você realmente acredita que esta é a cidade, em que você sempre quis viver?
Me diga se você é feliz!
Me diga se parou de sonhar!
Se não consegue nem se olhar no espelho, querido, como espera olhar nos olhos de alguém?

(1) Não vou ficar aqui por muito tempo, só o de matar algumas saudades. Vou ao cemitério deixar flores, depois volto aqui pra te ver.
Se ainda quer ficar comigo, eu até aceito casar. Mas, querido, me desculpe, neste hospício não ficarei!

(2) Pense bem no que vou propor, pois nunca mais voltarei aqui.
Se estiver com suas malas prontas, a gente casa em qualquer lugar.

(3) Querido você não é um cemitério, não engula os podres de ninguém!
Querido você não é execrável, você não é vilão de ninguém!
Você acredita que para ser leal, precisa ser carpete de alguém?
Volto hoje pra te buscar.
Pense no que pode viver!
Se eles não conseguem nem mesmo te respeitar, por que pensa que eles amam você?

10/02/2012

Sobre o facebook


Sim, eu tenho um perfil naquele pardieiro. Mas é um pardieiro familiar, fique bem claro. Abri a conta no ano passado, após insistentes convites de uma amiga muito querida e muito maluca. Não me arrependi.

Nele eu reencontrei a maior parte de meus amigos do tempo do Fórum do Garotas que Dizem Ni, inclusive as próprias garotas. Nem todos aparecem, há um recurso para ocultar e só aparecer a quem interessa, mas não entrarei nos méritos de cada um, limito-me a respeitar.

Não esperava me entrosar, meus leitores sabem o quanto gosto de uma reclusão periódica, que a vida tem me negado sistematicamente. Mas entrosei, ainda que involuntariamente. Encontrei muito mais gente com a qual encontrava dificuldades de contacto, conheci as caras de blogueiros amigos e fui apresentado a pessoas afins, que costumam me pedir adição.

Há uma pequena turma tentando transformar o Facebook em um orkut, encontrando resistência ferrenha. Há uns tentando passar vírus usando o perfil alheio, mas são rapidamente denunciados. Eu mesmo avisei a uma forista a esse respeito, mesmo não nos conhecendo ela foi receptiva ao meu aviso.

A maior reclamação de muitos usuários é a quantidade de mensagens indesejadas que recebem. A quantidade de publicações chocantes e/ou inadequadas também incomoda a maioria. Bem, para isso existe a opção de bloquear, a de excluir, a de ocultar, enfim, não precisa estragar uma amizade por uma momentânea falta de noção. Eu mantenho o devido respeito, exijo de volta e obtenho sem problemas.

Eu, particularmente, não tenho do que reclamar de meus contactos. Uso a rede social para não só estreitar laços, mas também para ajudar causas com as quais simpatizo e disseminar minhas ideias, inclusive por meio dos textos que escrevo.

Quando publico uma mensagem, normalmente aparece com rapidez alguém para aprovar. Não há aquela explosão de comentários e aprovações, como acontece com Eddie Van Feu e outros figurões da rede, mas no decorrer dos dias as pessoas mostram que estão lendo e simpatizando, muitas vezes compartilhando e passando para frente o que eu propus, disse ou denunciei.

Eu não sou um adicionador inveterado, mas não recuso um pedido sem um bom motivo, que ainda hoje não apareceu... Decerto que minha inépcia no mundo digital me faz deixar passar muita cousa e muita gente, mas vocês sabem como sou, um homo analogicus tentando se virar na era digital, mas ou menos como o Capitão Caverna sem as panterinhas.

Há pouco tempo, descobri que minha chefe imediata também tem perfil lá, ela e alguns colegas. Isto, para muita gente, seria o caos, o motivo perfeito para entrar em pânico e, em um acto de desespero, deletar a conta para abrir outra falsa. Bem, vamos aos factos. eu não sou hipócrita, não adulo chefes, não lhes faltando com o devido respeito, não falo asneiras pelas costas de ninguém e não publico intimidades minhas para todo mundo ver. Logo, eu posso falar com qualquer um, a qualquer momento, sem constrangimentos, porque mesmo as minhas críticas são fundamentadas e se limitam ao teor necessário. Tripudiar é ruim em qualquer área, virtual ou não.

O Facebook não me toma muito tempo, até porque não estou lá por causa do oba-oba de uma rede social, em que se "pode ver as actualizações de amigos, paquerar, saber das últimas tendências e bla-bla bla-bla bla-bla". Estou lá por causa das pessoas, não me interessam flertes e futilidades. Nem sempre é engraçado, porque pessoas nem sempre são engraçadas. Às vezes tenho que acolher gente com problemas sérios, que precisam de alguém com quem conversar e colocar seus bichos para fora. Faço-o com prazer, já disse isso aqui em outras ocasiões. As famosas, e por muitos odiadas, cutucadas do facebook, às vezes são só o que a pessoa consegue expressar, então respondo sempre.

Já conheci um usuário, que veio para Goiânia com o filho e aproveitou para me contactar. Foi um encontro agradável, extremamente familiar. Mas é o que eu disse no que já falei, depende totalmente do teu comportamento na rede.

Estou no Facebook porque ele está se mostrando útil. Não sei o uso que cada um faz do espaço que recebe da rede, eu uso o meu para trabalhar, fazer algo que preste e ser útil a quem me procura. Cada um tem suas prioridades, essa é a minha. Aos críticos, que afirmam que quem entra dá dinheiro ao seu criador, aviso que meu tributo está rendendo bons frutos, não tenho do que me queixar a respeito.

Há pessoas que aderem acreditando que suas vidas passarão a ter sentido, de então em diante; para elas a decepção é questão de tempo, quase sempre bem pouco tempo. Nada nem ninguém vai substituir uma carência interna, isso é função da própria pessoa. Um amigo de verdade pode ajudar muito, mas só ajudar.

Eu sou um homem antiquado, com ideias fora de moda e padrões que deixam muitos "progressistas" de cabelo eriçado. Por isso mesmo eu procuro usar dos bons modos, em minhas actividades, evitando falar tudo o que gostaria. Quem me conhece sabe o que eu quero dizer com cada vírgula, quem não conhece vai interpretar mal o texto mais completo e bem explicado. Um pouco de civilidade cai bem em qualquer lugar e situação, inclusive na guerra.

Se eu recomendo? Sim, recomendo, mas com ressalvas. Não vá entrar acreditando que seus problemas serão resolvidos, que todo mundo é amigo, que todo mundo é inimigo, que tudo o que circula é verdade ou que tudo o que circula é mentira. Com certeza vais encontrar gente disposta a te ajudar no que for possível, mas ninguém entra lá pensando em resolver os teus problemas, nem há cabimento pensar nisso. Lá, vocês vão encontrar gente, nada além de gente, com tudo de bom e ruim que se pode esperar. É como ir à praça e tentar fazer amigos, só que aqui o contacto é indirecto, e o que tu disseres fica registrado; pode servir de prova, contra ou a teu favor.

Se for entrar, tente produzir provas a teu favor, comporte-se como adulto civilizado, até amigos de verdade poderás conseguir.

07/02/2012

Laudos sob encomenda

 
 ATENÇÃO!! TEXTO IMPRÓPRIO PARA QUEM NÃO SABE CONTEXTUALIZAR E NÃO TEM NOÇÕES DE IRONIA. É SÓ! CÂMBIO E DESLIGO.

A secretária manda o cliente entrar. Ele reservou o dia inteiro, não só para ter atendimento exclusivo, mas também para evitar ser visto pelo público e, portanto, comprometido com o porvir.

- Bom dia. Em que posso servi-lo?

- Quero encomendar uma pesquisa.

- Claro, vamos conversar. Do que precisa?

- Quero comprovar que o cigarro não faz mal como dizem, que em certos casos faz até bem, que estamos sendo perseguidos pela poderosa indústria das indenizações, e que os ecologistas são, na realidade, paus-mandados dos advogados inescrupulosos, que não se importam com o desemprego que a falência da indústria tabagista geraria.

- Então vocês querem uma pesquisa global completa.

- Sim, completa. Dinheiro não é problema.

- É solução. Por um adicional, nossos pós-doutores podem assumir que cometeram pequenos equívocos nas pesquisas que condenaram o cigarro. Afinal, a ciência é feita por homens, homens falham.

- Nossas corporações aceitarão sem rancores as desculpas, afinal vocês só estavam defendendo os interesses de quem lhes pagou pelas pesquisas. São apenas negócios.
Acertam preços e prazos, para haver tempo de os pesquisadores embasarem científica e inequivocamente, para dificultar comprovações em contrário. A verba generosa dará direito inclusive ao uso das imagens dos cientistas em propagandas, que serão disfarçadas de congressos e simpósios financiados por laranjas.

Enquanto se fazem as pesquisas com um tendencismo sem precedentes, mas tudo sob a chancela da imparcialidade racional da ciência, detetives vasculham o lixo, participação em redes sociais e até grampeamento de e-mail e celular, para desacreditarem os opositores.

Nos bastidores, artistas canastrões em início de decadência, com alto apelo popular, são treinados para manipular a opinião pública, inclusive citando a perseguição aos fumantes por parte dos radicais do politicamente patético. Tudo para abrir caminho para a avalanche de ‘verdades’ do cliente que encomendou os productos e serviços. Sempre apelando para o relativismo compulsivo e patológico que tomou conta do mundo, e que justificaria até mesmo as atrocidades nazistas, afinal eles agiram segundo a sua “verdade’, acreditavam pia e cegamente nela. Não sei por que condenaram tantos soldados, se só cumpriam ordens e defendiam suas ‘verdades’! É o que eles sempre dizem.

Uma indústria pharmoquímica entra no bolo e injeta mais dinheiro, fazendo parceria com a outra, para que os cientistas provem cientificamente, de modo inconteste de que humilhe quem acreditar no contrário, que é impossível deixar de fumar totalmente, que mente quem diz que parou, mas que é possível melhorar e prolongar a vida do tabagista com drogas sintéticas patenteadas. Acertam verbalmente, para não haver provas, e dividem as custas de tudo, que só demandará algumas mudanças pontuais. A citação de um laboratório famoso sempre dá mais credibilidade a uma pesquisa, mesmo que seja falsa.

Começam com a operação orquestrada. O canastrão e mais três actores memorizam seus textos, aquele sai de uma boate com uma garota, esta inocente de tudo, e acende um cigarro, no que é abordado e agredido pelos outros três. Tudo gravado por uma câmera de segurança. Como conseqüência imediata, outra droga lícita explode em vendas, os discos e DVDs do canastrão, que passa a ter agenda cheia e precisa recusar convites, da noite para o dia. O contracto inclui o financiamento de um festival de música que marcará seu retorno às paradas de sucesso.

As pesquisas ficam prontas e são publicadas, com adendos contendo duras reprimendas aos “colegas que não usaram de imparcialidade racional e absoluta na condução de suas pesquisas”. Fóruns, debates e programas de televisão são exaustivamente usados para humilhar cientificamente qualquer um que se oponha às intenções, inclusive aos que criticam a parte em que o fumo é indicado para atenuar a depressão pós-parto. Tabagistas inveterados de idades avançadas, e saúde aparentemente perfeita, têm viagens e entrevistas financiadas para várias partes do mundo.

Não fumantes são rapidamente associados à hipocrisia, à restrição de liberdade, à ameaça às conquistas sociais e femininas dos últimos anos. Afinal, é a ciência que está atestando. Há a chancela de pós-doutores afirmando que tudo o que se disse até hoje é mentira, o desconhecimento de partículas-fantasma subatômicas é usado contra os opositores do tabagismo.

As vendas aumentam, os lucros explodem e os especuladores que lavam dinheiro no mercado financeiro ficam felizes. Ponto.

A secretária manda o cliente entrar. Ele reservou o dia inteiro, não só pra ter atendimento exclusivo, mas também para evitar ser visto pelo público e, portanto, comprometido com o porvir.

- Bom dia. Em que posso servir?

- Quero que vocês provem que a mulher é inferior ao homem e lhe deve obediência. Dinheiro não é problema.

- É solução. Vamos conversar...

02/02/2012

À mesa a matrona chora


A mãe colocando-se em prece, à mesa de refeição, é grata pelo que concede e pede pelos que não estão.

A prece se encerra e todos, à sua exclusiva excessão, se põe ao farto banquete que fez, a matrona, de coração.

Observa os filhos presentes, à mesa honrando a oferta da mãe que ao fogo fez arte, mas ela entretida em devaneios não prova de sua alquimia.

Pergunta, silente e serena, a D'us que agora lhe ouça, o que terá sido feito daqueles ausentes d'agora, que há tempos não dizem de si.

À mesa que tanto trabalho consome e dá com prazer, vislumbra os rebentos felizes àquilo que suas mãos santas se puzeram a fazer.

Porém, entre tantos que comem, cadeiras vazias a lembram que gente se foi para semrpe, que outros perderam-se ao mundo que não lhes devolve as cartas.

Teu rígido e firme semblante, aos poucos maleabiliza, com o peito enternecido pelas lembranças da gente ausente.

Não culpa, pois sabe que a vida é dura com quem não a segue, seguiram-na pois os que foram sem dar do que fazem a conta.

Matrona de filhos e netos coloca-se em contemplação, sem dar a notar aos queridos a dor que já cresce e maltrata, que fere o seu coração.

A filha mais velha, porém, se apercebe do que acontece, trocando olhares com a mãe, que olha e olhando responde que está bem, continue sua refeição.

Mas a filha, antiga parceira, sereno amparo de lutos, estende a mão ao seu rosto notando que treme um pouco, e aos poucos desmancha a matrona.


Lá fora a noite que cai, relembra de quando eram juntos, de quantos se foram e ainda não sabe por quais e quantos rumos.

Bem sabe a matrona que uns até poderiam voltar, mas algumas cadeiras à mesa jamais terão quem as usar, a colheita foi precoce.

Com o firme anoitecer a campana se deixa ouvir em badalos, tão tristes responsos que a mulher guerreira não deixa de sentir.

Aos poucos, já amparada, a mulher amolece, desaba, se deixa esvair em seus prantos, estes sem socorro. Alguém canta lá fora "Ave Maria no Morro".