A mãe colocando-se em prece, à mesa de refeição, é grata pelo que concede e pede pelos que não estão.
A prece se encerra e todos, à sua exclusiva excessão, se põe ao farto banquete que fez, a matrona, de coração.
Observa os filhos presentes, à mesa honrando a oferta da mãe que ao fogo fez arte, mas ela entretida em devaneios não prova de sua alquimia.
Pergunta, silente e serena, a D'us que agora lhe ouça, o que terá sido feito daqueles ausentes d'agora, que há tempos não dizem de si.
À mesa que tanto trabalho consome e dá com prazer, vislumbra os rebentos felizes àquilo que suas mãos santas se puzeram a fazer.
Porém, entre tantos que comem, cadeiras vazias a lembram que gente se foi para semrpe, que outros perderam-se ao mundo que não lhes devolve as cartas.
Teu rígido e firme semblante, aos poucos maleabiliza, com o peito enternecido pelas lembranças da gente ausente.
Não culpa, pois sabe que a vida é dura com quem não a segue, seguiram-na pois os que foram sem dar do que fazem a conta.
Matrona de filhos e netos coloca-se em contemplação, sem dar a notar aos queridos a dor que já cresce e maltrata, que fere o seu coração.
A filha mais velha, porém, se apercebe do que acontece, trocando olhares com a mãe, que olha e olhando responde que está bem, continue sua refeição.
Mas a filha, antiga parceira, sereno amparo de lutos, estende a mão ao seu rosto notando que treme um pouco, e aos poucos desmancha a matrona.
Lá fora a noite que cai, relembra de quando eram juntos, de quantos se foram e ainda não sabe por quais e quantos rumos.
Bem sabe a matrona que uns até poderiam voltar, mas algumas cadeiras à mesa jamais terão quem as usar, a colheita foi precoce.
Com o firme anoitecer a campana se deixa ouvir em badalos, tão tristes responsos que a mulher guerreira não deixa de sentir.
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