23/10/2013

Que ingrato!


Eis aqui! A solução pronta e sob medida para os problemas dele. Sabem quanto tempo trabalhamos nesta solução? Sabem? Décadas! Durante décadas nos dedicamos a discutir, debater, retorizar, gerundiar e construir um plano exeqüível, prático e dentro das normas.

Aqui, os problemas que ele teve na infância. Conseguimos equacionar e pormenorizar todos os dados, as minúcias, cada trauma e cada dificuldade que se apresentou no decorrer do período. Podem ler à vontade, está tudo aí, não deixamos escapar um ítem sequer! Não se acanhem, leiam! Até a questão dos bloqueios e dos lapsos de memória está relacionada, nós resolvemos o problema completamente, se ele colocar em prática.

Os problemas da adolescência nos tomaram mais tempo. Até porque adolescência e problema, são praticamente sinônimos. As perseguições mais cruéis, que hoje chamam de bulliyng, foram todas listadas e estudadas com esmero. Eis em cada situação descrita, o procedimento para neutralizar as conseqüências nefastas. A rejeição generalizada e as punições sofridas por ações alheias, ah, que trabalheira! Estudamos todos os vértices possíveis desse polígono triste. Acreditamos ter encontrado uma saída digna e plausível, que está disponível agora, bastaria ele colocar em prática!

As sucessivas ondas de azar... Há coisas que ele precisou enfrentar, mas outras que foram pura maldade das pessoas mesmo. mandamos mensagens encorajadoras, como "Vamos em frente", "Viver é uma batalha", "Só os fracos esmorecem", entre outras, para ele se sentir feliz e contente, enquanto especulávamos maneiras de ele resistir a mais adversidades e rejeições sem razão aparente. Não foi das tarefas mais agradáveis, mas foi exitosa. Conseguimos um guia completo para ele enfrentar e superar tudo isso, bastaria se levantar desta zona de conforto e colocar em prática.

Saber lidar com as frustrações faz parte de ser adulto, ele sabe disso. O facto de elas terem se tornado a regra, a ponto de as pessoas acreditarem que estava bem quando na verdade estava à beira do precipício, não significa nada! Ele tinha que agüentar e ponto final! Nós estávamos trabalhando para resolver isso, era dever moral dele ter esperado até o fim! Eis, vejam que belo trabalho! É impossível ele não resolver seus problemas se tiver a hombridade de estudar nossas conclusões!

Sonhos, oras, sonhos! Todos têm, todos ficam sem! O facto de outros não lhe servirem, não significa que não deveria ter experimentado! Mesmo que destroçasse sua dignidade e aleijasse sua personalidade, ele deveria ter se adequado e se submetido ao que estava disponível, enquanto trabalhávamos para resolver o problema! Havia tantas distrações e tantos prazeres para ele aproveitar, enquanto isso! Tanto é verdade, que aqui está a solução! Só porque o sapato oferecido não lhe servia, não é desculpa para não ter usado!

Como? Deixá-lo livre e pleno para resolver ele mesmo suas aflições? De jeito nenhum! Os riscos de uma deserção eram muito grandes! Com tantos desgostos seguidos, ele certamente abandonaria a tudo e a todos para tentar ser feliz, ou seja lá o que for! Se entregaria a uma vida desregrada, cometeria faltas sérias e tudo mais; ainda que as leituras, feitas continuamente do início ao fim da vida, desmintam nossos temores. Não, ele tinha que esperar o auxílio para tudo vir de uma só vez, num montão no fim do ano, era obrigação dele. Resistir não é uma escolha, é um dever!

Enquanto ele sofria, nós trabalhávamos para ajudá-lo a superar o sofrimento. Agora que conseguimos, o que ele faz? Joga tudo fora! Joga no lixo o trabalho de quase um século! Por que tinha que morrer antes de receber a ajuda? Por que??? Que ingrato!

09/10/2013

A nova fábrica de Papai Noel

Fonte: Genzoman galery

Nikolau acompanha Branca de Neve em uma visita à sua nova fábrica. A antiga não foi desactivada, mas esta nova está trazendo resultados muito satisfatórios, mais até do que os brinquedos distribuídos. Obviamente, por questões de segurança, a princesa precisou abrir mão do vestido medieval e usar uma indumentária mais contemporânea...

- Estranhei muito quando o Mestre falou deste novo ramo, Nikolau! Eu fiquei assustada, confesso que ainda não compreendi os motivos.

- Explicarei no decorrer da visita, Branca. No começo a idéia me pareceu absurda também, tanto que fiz um piloto da distribuição, antes de me decidir e planejar a produção em massa.

Apesar de todo o aparato de segurança, é conveniente usarem trajes de proteção. São três portas a serem transpostas; quando entram a primeira se fecha, a pressão atmosférica é levemente aumentada e a segunda se abre, eles passam e ela se fecha, havendo mais um aumento da pressão e só então a terceira se abre. É algo impressionante! Branca fica deslumbrada com o porte e a tecnologia aplicada. É um laboratório como só em filmes de ficção científica para se ver.

Começam a caminhar no chão de aço inoxidável, que dá uma sensação meio ruim nos passos, mas é o melhor para um laboratório microbiológico de alto risco. Não para eles, mas precisam sair ao mundo e poderiam contaminar as pessoas normais.

Nikolau começa mostrando as culturas primárias, onde os agente patogênicos são cultivados e selecionados. Não perdem tempo com incineração ou qualquer outro meio poluente, o que não lhes serve é eliminado por laser, micróbio por micróbio, ou vírus por vírus. Os muito fracos e os muito agressivos são os sacrificados...

- Como vocês sabem qual deve ser eliminado?
- Pelo metabolismo e pela rapidez com que interage com o ambiente. Veja aqui, tenho um infográfico no meu tablet; nem sabe como foi caro, mandei fazer na Alemanha, não quero nada feito por mão de obra escrava em meus domínios.

O demonstrativo é completo. Tem até um vídeo que mostra os procedimentos para detecção e eliminação dos organismos indesejados, que acabam virando alimento para os selecionados. O tiro é certeiro, elimina directamente na estrutura genética, impedindo que os outros recebam genes dos que foram destruídos. Ele promete mandar o arquivo para ela, por e-mail.

Chama um duende e pede que assessore a visita. Mostra as várias doenças que cada cultura pode ocasionar, bem como os tipos de pessoas que podem receber uma contaminação ou mais...

- No ano retrasado, por exemplo, contaminamos uma dondoca mexicana que desprezava com ódio à flor da pele, os negros, mesmo não sendo nenhuma miss Noruega. Tudo foi feito em três fases, com a ajuda dos duendes; primeiro um vírus que ativou uma alergia a couro natural, obrigando-a a utilizar tecido e os sintéticos que também odiava.

- Aham... Eu conheço gente que precisa de um vírus desse! Vou te passar uma lista, na saída.

- À vontade, confio no seu discernimento. Quando a crista dela baixou, a ponto de ter que usar almofadas para andar em seus carros de luxo, inoculamos um bacilo que lhe atacou o sistema digestivo. Ela precisou se privar de foie gras, escargot, frutos do mar, enfim, coisas que comia como se fossem arroz com feijão. Comia e desperdiçava, diga-se de passagem, ela não admitia que os empregados comessem suas sobras, às vezes mais da metade da porção ia para o lixo.

- E pensar que passei fome na floresta, antes de encontrar os anões! Não se engane, o livro passou rápido pela fase, foram dias comendo frutinhas minguadas, com o inverno se avizinhando rapidamente.

- Como se o sofrimento no palácio não fosse o bastante! Bem, a terceira fase, com a besta fera já amansada, inoculamos uma bactéria que activou uns genes que quase nunca são ligados. Ela passou a precisar de transfusões constantes, por mais de um ano, do tipo A negativo.

- Sangue típico de negros!

- Que causaria um choque anafilático, se esses genes continuassem adormecidos. Com tantos problemas adquiridos, mais os colaterais, ela logo se viu sozinha em sua mansão, em Acapulco. As "amigas" de falsidade e ostentação se afastaram, temerosas de serem contaminadas também. O marido pediu o divórcio e se casou com a amante bonita e saudável. Eu sei que pode parecer maldade, mas ela estava um caco, no auge das crises.

- É esta?

- Sim, é ela.

- Meu Deus, que diferença!

- Antes, durante e depois do tratamento. Vamos ser sinceros, está muito mais bonita sem aquela química toda no cabelo e sem aqueles implantes de silicone!

- Mais proporcional!

- Bem, apesar do sofrimento, e de me ter doído no coração fazer sofrer quem já foi uma criança que amei muito, a síndrome biológica da humildade fez seu trabalho a contento. Hoje ela está curada de tudo o que lhe foi inoculado, mas é de novo a criança doce, meiga e receptiva que eu presenteava com gosto! Não vou dizer que é outra pessoa, aquela monstra que a dominou era a outra pessoa! Esta moça linda de cabelinho chanel é a minha Julia de verdade!

Branca observa todas as photographias do álbum, observando a mulher cercada de amigos de verdade, se misturando às pessoas comuns, comendo à mesa com elas, tirando retrato com os empregados e até trabalhando como voluntária e mantenedora em instituições de caridade. Não lembra absolutamente nada aquela megera oxigenada, que mandava destruir seus carros assim que comprava novos, por não admitir que uma pessoa qualquer pudesse ter o que já fora seu, e hoje agradece por ter sido desobedecida, a frota que doou rendeu muito em bingos e leilões beneficentes...

- Então é isso! Você está enfraquecendo os corpos para dobrar os espíritos!

- Você entendeu. Estou dando a eles algo muito mais valioso do que lembranças de natal, estou dando a chance de voltarem a ser gente, antes de nossa amiga Morte bater às suas portas. É muito mais eficaz do que gastar fortunas em propagandas televisivas, para pedir que vejam seu irmão com o coração.

- A degredação ainda está em curso. É por isso?

- Sim, também é por isso. Já são bilhões de crianças que eu nunca mais vou ver. Por isso estou apelando para o sofrimento dirigido, controlado e sob medida. É desagradável, mas por ele eu tenho conseguido amolecer os corações como não consegui em milênios de actuação.

- E não existe presente melhor do que um mundo bom onde crescer.

- Não. Eu nem ligo mais para as críticas, só eu sei o que já chorei por ver crianças sendo estragadas por adultos idiotas. Agora eu deixei de chorar e tomei uma atitude, vou consertar essas crianças, elas ficam até mais felizes, depois desse tratamento de choque.

- Vou ajudar. Chamarei todo o universo Grimm, o Jack Frost, o Coelho da Páscoa e vamos planejar isso com esmero.

Ele agradece comovido pela oferta. Procedem a saída, a sanitização corporal e chamam todo mundo. Planejam decepções e perdas de auto estima, além dos ataques biológicos, para que as pessoas baixem a guarda e abram de uma vez por todas seus corações. Afinal, o clima do natal há décadas não deveria mais ficar restrito aos dias que o antecedem.

03/10/2013

A cura, por quem está se curando



























Fátima Jacinto é razoavelmente conhecida na internet. Ela sofreu por muitos anos nas mãos de
um marido perverso, como tantos que estão pipocando em plano século XXI.

Ela aprendeu da forma mais penosa, que os filhos e a dependência financeira são as ferramentas mias usadas pelos canalhas, para a obtenção de prazer pelo uso do poder torpe. A quem não se deu conta, o prazer que certos "homens" buscam, nada tem a ver com a satisfação sexual. Eles sentem prazer em dominar e destruir a vida de suas vítimas. E contam com uma sociedade medíocre para apoiá-los.

Hoje ela está livre, mas as seqüelas de uma convivência doentia se materializou de várias formas, inclusive na de câncer de mama. Ou pensam que os hormônios perdoam seus carcereiros?

Há anos acompanho o trabalho dessa mulher tão digna e adorável. Por ela eu fiquei sabendo de sua luta pela vida, do sofrimento com os efeitos colaterais, inclusive com a indiferença das pessoas, que ainda vêem como culpada uma mulher que se livra das garras nojentas de um machista violento.

Pode parecer coisa do arco da velha, mas ainda hoje, muita gente vira as costas para uma mulher separada. Para esses, se o sujeito põe comida em casa e transa de vez em quando com a esposa, esta tem que se sentir a felicidade em pessoa, como se fosse vaca leiteira, para se contentar com pasto e curral.

Fátima não se arrepende de ter mantido o casamento pelos filhos, ela sabia que eles seriam a primeira vítima do ex-marido. Sim, meus amigos, filhos são apenas uma moeda de troca para os covardes, se não podem usá-los para manter o poder, usam-nos para infringir sofrimento. Ainda hoje é manchetes de jornais a respeito.

Se livrando de um algoz, vieram outros. O câncer de mama foi conseqüência das emoções que represou por anos, e veio acompanhado da falta de recursos. Se hoje é difícil conseguir tratamento completo e competente para câncer, na rede pública, imagine há vários anos!

Extremamente actuante nos canais de que dispõe, ela lançou recentemente o livro A Cura de Nossa Intimidade Ferida. Apesar de enfrentar desde sempre, severas restrições materiais.

Ciente de que veneno trocado não cura o envenenamento, Fátima Jacinto adopta uma oratória sem rodeios, mas madura e de reconciliação da pessoa consigo mesma, mostrando o quanto faz bem melhor deixar no passado as pedras afiadas nas quais pisou.

Não se trata de discurso politicamente correcto ou coisa afim, ela fala e demonstra com sua experiência pessoal, seus aprendizados, até mesmo com relatos de leitoras que se enxergam em suas palavras, encontrando nela alguém que pode orientá-las não só por literatura, mas também por experiência de vida.

Há uma distância enorme entre quem estuda e quem vive um assunto, Fátima Jacinto viveu e dá testemunho sereno de sua vida. Como uma mestra de verdade, ela não se furta o direito de aprender e repassar seu aprendizado, todos os dias. Não importa o quanto seus leitores se encantem com sua sabedoria, ela está pronta para receber maias conteúdo da vida.

Mas não são só mulheres que podem se beneficiar da leitura. Ela não fala para gêneros, fala para pessoas que sofrem e não conseguem enxergar, sozinhas, um caminho a seguir para sair do inferno emocional em que se encontram. Porque eu já disse, emoções represadas e câncer são aliados.

A linguagem dela pode incomodar as pessoas viciadas em competição, em aventura, em viver tudo aqui e agora na potência máxima. Infelizmente um mestre não chega ao coração de quem não está preparado para receber suas lições. Aos demais, ela tem uma linguagem madura, maternal, sóbria e até consoladora para auxiliar as pessoas.

Para comprar o livro, clique aqui. Asseguro que lar as obras de Fátima Jacinto, é ter alguns instantes de mansidão em um mundo há anos em convulsão.