30/07/2009

Enein

Vinhemos aqui e aqui estamos.
Tudo graças ao enein, que é muito criticado pelo povo, mais se não tivesse o enein nozes não poderíamos estarmos nos formando agora, muito menos entrando junto à faculdade.Sim, amigos, colegas, profeçores, paises de alunos. Seus filios estarão indo pra faculdade graças ao enein, esse sistema maraviliozo que reconhece as dificuldade de cada um, do povo proletario, mostrando que não é precizo estudar a vida toda na escola particular, nem ser rico pra ter direito de entrar junto à faculdade.
Alinhais, é os ricos que são contra o enein. Porque eles não quer que os filhos de gente pobre também vai pra junto à faculdade, porque rico não trabalha e não sabe o que é sofrer pra trabalhar e estudar. É os ricos que destróe a Amazônia, que mata os elefantes da Amazônia pra fazer casaco de pele, sem nenhum sentimento. Pobre só pode comprar coiza feita na China, porque é baratinha, mais é honesta.
Por isso que estamos perante aos professores agradecendo pelo enein. Porque ajudou as famílhas pobres: Pai, mãe, filio e filia; todo mundo agora pode terminar os estudos. Por isso que a escola de hoje é que é boa, que não tem mais profeçor brigando por besteira, pra gente decorar o que não preciza.Vamos agradecer junto ao enein, porque ele é que salvou a gente de ser ignorante, de não saber ler e escrever direito.
Aqui todo mundo passou de ano, todo mundo tá feliz, só os praiboe que não gosta de ver a gente se formar. Porque nozes aprendemos, não é porque nos ajudaramnos que não não conseguimos aprenderem. Because one of we go be winner, and the one are I. Viu? A gente aprendeu até língoas, eu decorei mais de quinhentas palavras de ingleis. Por que eles acham que a gente não aprende na escola de hoje? É tudo burgezes que não querem abrirem mãos de seus priviléjil.Mais vamos falar de coisas alegres.
Outra coisa boa que apareceu foi as cota. Só racista não gosta de cota. As minoria do Brasil só pode fazer junto à faculdade por causa da cota. Branco rico pode esperar e pagar outra isncrição, pobre não pode, senão também não come. Isso é jostissa. Um dos três poderes do Brasil: Executivo, lejistativo e justificativo, é esse que está sendo feito agora, porque agora nós também podemos poderem ter diploma superior.
É assim que é democrasia. É assim que as coisa começa a funcionar. É assim que o Brasil vai pra frente, porque atrás vigente.
Eu, como orador das turma que estão se formandos hoje, agradeço junto ao enein com esse discurço que eu mesmo escrevi. Porque se não fosse pro enein, eu não sabia escrever bem assim. É graças a isso que não precizo atravessar a fronteira do Brasil com os Estados Unidos, estarei podendo vencer na vida aqui mesmo, como médico sirurjião que eu vou estar sendo.
Obrigado familha (família chorando de emoção) que me apoiou. Obrigado professores (docentes chorando pelo futuro do país) que me ajudou nos momentos mais difícil. Obrigado diretor (este chorando de alegria porque conseguiu um eleitorado para o ano que vem) que coeimbil os abuzos que queriam fazer contra nozes. Obrigado ao corpo peidagojeco (pedagogos pensando em suicídio pelo crime que cometeram contra a humanidade) pelo sistema de passar de ano. Agora é com nozes, porque o futuro do Brasil somos nozes, só nozez.The winner are I.


Se divertiram? Riram? Não deveriam. Trabalhei algum tempo em escolas públicas e ainda hoje actuo voluntariamente com amigos que trabalham em uma. O que vocês leram não é de todo ficção, é exactamente o que os nossos alunos estão levando para a faculdade. É esse tipo de aluno que poderá vir a operar um de seus entes queridos. Mudanças não ocorrem de um dia para o outro, muito menos quando o que há para se mundar está tão arraigado quanto a mentalidade que hoje reina em nossas escola públicas, e em muitas particulares.

25/07/2009

Desadolescidos

Adolescência é como uma fase, como tal, tem tempo para começar e findar. Não simplesmente pelo factor idade, mas pelas próprias transformações físicas, químicas e psicológicas inerentes. É uma questão matemática, a soma de todo o contexto (mudança física, percepção diferente do mundo em volta, impulsos hormonais, modo como a sociedade reage, et cétera) é que torna o indivíduo um adolescente. Eu disse "um" e não "o adolescente", porque embora pareçam todos iguais, e o comércio quer que se pareçam, são tão insuportáveis uns para os outros quanto o são para nós.
O papel mais importante da adolescência não é controlar a taxa de crescimento da espécie humana, pela mortalidade causada pelo comportamento irresponsável, embora quase tudo indique que seja. A adolescência é como um túnel, um rito prolongado de passagem para a vida adulta. Sua mais importante função é preparar o indivíduo para assumir sua responsabilidade para com a comunidade em que vive, preparando sua mente de modo que o desfazer de ilusões da infância não seja uma desilusão para com a infância. Deveria ser assim.
Uma adolescência salutar torna a pessoa mais propensa às mudanças que fatalmente virão, aguçando sua curiosidade e melhorando suas respostas aos estímulos, tornando ainda o corpo mais resistente e mais pronto à cicatrização. Adolescente não se cansa porque é adolescente, faz parte dos princípios da época. Aproveitar bem esse recurso chega a ser uma obrigação do indivíduo, uma adolescência bem aproveitada forma um adulto feliz e de bem com a vida. Mais uma vez, deveria ser assim. Nem sempre é.
Se não for possível usufruir da época propícia, não há o que fazer, a lacuna permanecerá e incomodará até o fim da vida. As oportunidades não aproveitadas, sejam quais forem os motivos, não voltam. Havia um amparo, do qual se foi privado, ao aprendizado duro e perigoso pertinente à idade. As lições foram ministradas sem o auxílio, que já não serve, é roupa que não entra mais ainda que se queira vestí-la. Os socorros não prestados no momento adequado, não ajudam mais. Mais ou menos como o medicamento certo para a doença certa, mas no momento tardio.
A admiração que o adulto tem pela época juvenil pode ser reconfortante, mas deste modo ganha um sabor de fel. Aqui há três caminhos básicos a serem seguidos, pelos que não ficaram para trás; A tentativa de reviver ou recuperar o que não pôde ser vivido, transforma o indivíduo em um Peter Pã, com comportamentos infantís, extravagantes, tentando o tempo inteiro se convencer de que ainda tem quinze anos, embora o corpo avise o tempo todo que não; Outro caminho é a da negação, levando à repulsa de tudo o que for relaciodado à juventude, quase sempre gerando um conservadorismo exacerbado e inflexível, capaz de trancar o indivíduo em um casulo que não lhe permite enxergar absolutamente nada de bom nas novidades. Tentar chamar os dois casos à razão, pode render uma inimizade ferrenha. O terceiro caminho é absolutamente insuspeitável. O indivíduo parece ser um adulto saudável, normal, mas é dos que mais sofrem. Ainda que consiga passar impávido pela privação da adolescência, não passa incólume. Por dentro a postura equilibrada vai cobrando seu preço, pois precisa compensar a lacuna, com isso gerando mais lacunas, mais frustrações. Chega o momento em que se torna uma pessoa amarga, frustrada e de mal com a vida; a partir de então não se pode prever seu comportamento, porque as lembranças (ainda que inconscientes) continuam ferindo, mas não matam. O comportamento pode ser atribuído à idade, ou a propensão da própria pessoa à rabugice, embora continue sendo uma boa pessoa. Porém, é o caso mais fácil de ser tratado, se é que o adjetivo cabe aqui. A pessoa tem boas lembranças, apenas não pôde usufruir da época. Embora haja um certo masoquismo em buscar dados, imagens, vídeos e músicas de época, tudo isto preenche momentâneamente as lacunas deixadas, ajudando a aliviar a pressão interna à qual a negligência familiar e social impôs. O indivíduo pode, então, se valer de seu próprio arquivo para facilitar o tratamento. Mas é preciso buscar por ele.

19/07/2009

Heráldica

É basicamente a arte e ciência da identidade gráphica. Arte porque segue proporções, cores e desenhos complexos, muitas vezes raras pessoas conseguem desenhar o brasão de sua família sem ter um modelo à vista, tamanha a complexidade de alguns. Ciência porque não é para satisfazer o gosto pessoal, a função de um brsão é identificar e não diferenciar. Parece, mas não são a mesma cousa. Ser diferenciado é ser distinguido dos outros com relativa facilidade, ser identificado é saber quem é a pessoa; nem sempre ambos coincidem.
A heráldica nasceu da necessidade de os cavaleiros medievais serem identificados, durante a batalha, para que não fossem vítimas de fogo amigo, né presidente? O Lula deveria ter vestido uma fantasia de tucano, para evitar as trapalhadas dos companheiros de campanha. Da mesma forma, Fernando Henrique deveria ter se pintado de vermelho, quando era presidente.

Mas voltemos ao tópico do texto. Com o tempo, e a necessidade (não caprichos da moda) os brasões foram se sofisticando e se tornando mais complexos, sendo possível saber pela estampa em um anel ou uma bolsa, de onde o viajante vinha e, portanto, a quem se reportar a qualquer problema. Isto dava uma certa fiabilidade ao sujeito, como um carro de marca consagrada, que se der defeito nós sabemos a quem processar. Saber a procedência e ter certeza de que se tem a quem reclamar, permite que a pessoa tenha acesso a um amparo maior por parte de estranhos, pois estes saberão o que fazer se algo der errado. O brasão era o RG em uma época de recursos precários, quando as pessoas viviam próximas aos castelos para terem proteção do manda-chuva de cada região, pois o Estado como o conhecemos hoje era inexistente... Uhm... Não mudou tanto assim. Por isto, principalmente, que ser fidalgo, ter descendência nobre era quase garantia de receber ajuda aonde quem que ele fosse, não só pelo dinheiro e pelo poder da família.

Eu comecei a estudar heráldica há uns anos e parei, por falta de recursos e disponibilidade, nesta última semana encontrei dois sites supimpas, e em português, sobre o assunto. O da Heráldica Pelotense e o Atelier Heráldico. O brasão que ilustra o texto é do sítio Defesa. Gostaria de já ter disponibilidade para me aprofundar, mas não tenho, a vida à Deus pertence, não à mim. Se estão lendo isto pela internet, cliquem nos nomes, que são links; se estão lendo em uma folha impressa, esqueçam, não vai funcionar.

Não falarei das corrupções que o passar do tempo fez com esta fina arte, não sou apresentador de televisão, nem historiador masoquista. Nós sabemos o que aconteceu e no que resultou. Venda de títulos, concessões indevidas, enfim, peguem um livro de história medieval e dêem uma olhada. Será suficiente para a maioria de vocês.

Se há um milênio a preocupação era não ser decapitado pelo companheiro de combate, hoje a importância da heráldica é outra, é a da identidade individual. Em uma época em que as pessoas aceitam ser massificadas ou entram para grupos criminosos, buscando seu próprio ser, a arte-ciência dos brasões oferece uma identidade segura e perene, dando ao indivíduo a certeza de que ele é alguém. Uma certeza que não desvanece com o fim da novela, da moda ou com o esfriamento de uma notícia bombástica.

Fazer um estudo genealógico da família custa menos do que entupir o carro com sistemas de som pesados, que mal deixam espaço para girar o volante e trocar as marchas. Fazendo este estudo, se a família não tiver, já fornece ao heráldico informações suficientes para confeccionar um brasão que seja a identidade daquele sobrenome.

Ao contrário das marcas comerciais, o brasão não tem qualquer pretensão de agradar aos olhos, atingir um público alvo, nem mesmo fazer sucesso e ser imitado em mochilas e cadernos. Da mesma forma como o CPF nunca foi sucesso em estampas de camisetas, mas cumpre sua função melhor do que se poderia esperar.

Em vez de esperar a criança procurar amigos de horas alegres, ou um grupo para se vingar do cara que ficou feliz com a vitória do time adversário, é prudente mostrá-la que ela tem uma família, uma tradição, que tem (ou teve) avós, bisavós, tios, primos, que a família não surgiu do nada, assim como o universo também não surgiu do nada. Nada surge do nada. Pode parecer bobagem para um adulto, já com a cabeça apertada e as esperanças drenadas, mas para a criança faz uma diferença enorme. Saber quem se é e gostar do que se é peermite que ela esteja pronta para gostar do próximo. Essa história de tradição familiar é tremendamente importante. Não falo de apego à tradição, nenhum apego é bom, mas de respeito e cultivo das boas trasições, aquelas que fazem a diferença na formação do indivíduo. Um brasão é a síntese perfeita das tradições familiares. Goste-se ou não, foram elas que te trouxeram até aqui, se quer renová-las terá que conhecê-las bem mais do que os outros juntos, ou será apenas uma troca eventual de hábitos, que logo se esvaziarão e formará gente radicalmente apegada ao que fazia sentido, por torpe que fosse.

Se a tua família não tem uma boa tradição, mon ami, lamento. Tens um problema. Se no natal cada um vai para um lugar, se os aniversários são feitos para impressionar os outros e não para homenagear o aniversariante, se a passagem da infância para a adolescência e desta para a vida adulta ficam em brancas nuvens, tens um problema enoooooorme. Começar uma tradição ajuda a aglutinar os parentes, mas o início é muito mais difícil do que pegar uma tradição já estabelecida. Um piquenique uma vez ao ano, no primeiro domingo após (ou coincidente com) o aniversário de casamento dos pais é um bom começo. As pessoas saberão porque estão lá, não será um mero entretenimento.

O problema de estabelecer uma tradição é a dificuldade maior do homem: dar o bom exemplo. Quem inicia se torna automaticamente líder, goste ou não. Um líder é o espelho para os liderados, goste ou não. Se o líder falhar, todos falham, goste ou não. Por isto a maioria dos pais de hoje querem que a escola eduque seus filhos, é muito mais cômodo. E se algo der errado, é culpa do governo, que não deu educação às crianças.

Tradição é sinônimo de responsabilidade, de comprometimento, de conteúdo, três ítens que muito faltam à juventude que quer tudo agora e de graça. Mas a culpa não é só dos fedelhos malcriados, é também dos pais que malcriaram-nos. Mas se os próprios pais não sabem o que querem da vida, o que dizer dos descendentes?

Eu não sou conservador, na acepção da palavra, mas aceito dizerem que meus gostos e meu padrão estético são muito conservadores. Eu me apóio na tradição, não me apego à ela, é uma relação de respeito que venho resgatando há uns vinte anos. O que fez por mim? Para começar, está mantendo minha sanidade mental em uma fase crítica que já dura anos, também está me mantendo sociável à revelia da péssima impressão que tenho do convívio social.

Mesmo para quem não tem uma pataca furada no bolso, é fácil imaginar animais, formas, cores e padrões que traduzem com fidelidade a sua pessoa. É fácil desenhar este brasão no verso de uma nota fiscal e pintá-lo, desde que se seja sincero e não se queira estabelecer um padrão estético. Por precário que pareça, cada vez que olhar para aquele desenho singelo, ele te lembrará quem és, porque aquilo não é um número, não é um rótulo, não é um capricho efêmero da sazonalidade que a moda impõe, é a representação gráphica da tua mais íntima e verdadeira personalidade. Depois de feito o desenho, é interessante estudar o que e como se puder cada elemento dele, o que revelará facetas que a própria pessoa desconhece de si mesma, permitindo que controle melhor as más e fomente as boas tendências, de acordo com sua índole. Clicar nos links acima também ajuda muito a daber o que o teu desenho significa, ainda que muitos dos elementos deles não sejam da heráldica clássica, ele terá padrões que são universais e, portanto, possíveis de serem encontrados nos brasões tradicionais.
Comece de onde puder. Faça teu desenho, depois me conte.

11/07/2009

Para condomínios

Para quem prefere pagar o preço de duas casas por um imóvel com a metade do tamanho, minhas sugestões.

Na sala o uso de assentos de fibra-de-vidro ou plástico soprado, com um fino acolchoado, como nos ônibus coletivos. Se a qualidade do acabamento for melhor que a média, talvez agüente uma leve estante de alumínio pendurada no teto. Nada de mesa de centro, é um luxo que os poucos metros quadrados não permitem.

Na cozinha uma revolução, o fogão vertical. As bocas não ficam mais no mesmo plano, mas na mesma coluna. Os armários virão de fábrica com as panelas e os pratos, todos no tamanho certo para que caibam e se encaixem. Não preciso dizer que a reposição de uma só peça custará os olhos da cara, então os pratos seriam madeira ou alumínio, para que não se quebrem a qualquer queda. A geladeira teria dois metros de altura, para poder caber no cubículo e ainda ter espaço para guardar algo.

A área de serviço teria um tanque flexível em uma armação metálica, para poder ser recolhido quando não estiver em uso. Rodos e vassouras ficariam guardados em ganchos no teto. Lave roupa três vezes por semana, para que não acumulem, pois não há lugar para ela. Aliás, melhor passar o dia pelado, para economizar. Deixe a roupa para quando houver visitas ou precisar sair.
Os quartos terão poltronas reclináveis, ocupam muito menos espaço do que as camas e podem ser usadas para trabalhar ao computador. Não aquelas largas poltronas do papai, mas poltronas esbeltas, no tamanho exacto para acomodar os usuários. Com isso sobra algum espaço para o guarda-roupas, cujas portas serão de lona, com abertura por zíper.

O banheiro terá um vaso anatômico, para que suas pequenas dimensões não causem muito desconforto ao apertado. A pia terá o tamanho de duas ou três mãos adultas, praticamente uma cuia. Aliás, esqueçam a cerâmica, tudo será de poliéster ou acrílico, o que for mais barato na época da construção.

A área de lazer será o que couber em baixo do edifício. Não tentem chamar todo mundo para uma festinha, não caberá. Façam rodízio, os moradores dos apartamentos ímpares se servem e sobem, depois os dos apartamentos pares. Se chamarem gente de fora a cousa complica.
A garagem. Sonho e pesadelo, onde os menores modelos do mercado passam raspando, onde mesmo uma Romi Isetta precisaria fazer manobras para se encaixar. Vocês não acham que eles estavam falando sério, quando mostraram o modelo decorado, acham? Aquela vaguinha apertada onde cabe um carro pequeno, na verdade, é impossível. No modelo ela está sozinha e tu podes fazer manobras com liberdade, a garagem de verdade está no meio das outras e das pilastras de concreto, quadradas e contundentes, onde até um Fiat 147 corre o risco de ficar preso. Raspe a polpança e compre um micro carro japonês.

Não gostou? Então, em vez de alimentar a ganância irresponsável das empreiteiras, que contam com a plena aquiescência estatal, compre uma casa com o dobro do tamanho e metade do preço, que de quebra não tem condomínio. Não há gente se vangloriando de ter entregue apertamentos com pouco mais de 50m² à população carente? Eles só fazem isso porque vocês deixam. Se vocês param de pagar um pelo que daria bons lucros se vendido por meio, a especulação desaparece. O preço da terra é o que se paga por ela, não é um deus-mercado quem dita isso, somos nós-mercado.

03/07/2009

Maiozinho Vermelho

Maiozinho vermelho mora com os pais, no Centro Velho, desde que nasceu. Mas costuma ir visitar a avó em Copacabana. A pedido de sua mãe, e aproveitando que está de férias do trabalho e da faculdade, colocou um de seus maiôs vermelhos, uma camisa branca aberta, uma bermuda florida e foi levar pão de queijo para a avó, que estaria muito deprimida após terminar com o namorado; aquele safado andou passando a mão na sirigaita da vizinha.

Em seu indefectível Fusquinha 1950 vinho, comprado pelo pai quando Fuscas ainda eram baratos e desdenhados, ela leva a cesta de pães-de-queijo pelas ruas da Cidade maravilhosa. Aproveita o sol e mantém o teto solar de lona totalmente aberto.

No sinal fechado, um tiozão num Vectra GTX com rodas de aro 22" a aborda...

- Aí, broto. Quer andar num carro de verdade?

- Não, prefiro o meu de brinquedo.

O sinal vira palmeirense e ela vira a esquina, aproveitando o exibicionismo do Chevrolet cantando pneus. Ele só percebe quando está lá na frente.

Como de hábito, Maiozinho Vermelho foi tirando a roupa aos poucos, dentro do carro mesmo, para já subir ao apartamento da avó no clima de praia. Filha de um Tenente fuzileiro naval e irmã de um Sargento da aeronáutica, está acostumada à disciplina de exercícios físicos e aos bons resultados que eles proporcionam de graça. Estaciona em frente ao condomínio, onde as pessoas já circulam de biquíni, e passa o cartão de acesso na leitora, que libera o portão. Logo se encontra com o porteiro, que encolhe imediatamente a barriga...

- Bom dia, Maiozinho Vermelho.

- Bom dia, seu Lupo. Minha avó já chegou?

- Tá te esssperando. Vai tomar uma corzinha hoje?

- Não, só vou tomar sol pra curtir, pele branca não gosssta de sol.

Encerra a conversa e sobe em seu Jantzen, que não mostra tanto, mas revela e atiça. Os olhos esbugalhados do homem avisavam que ele já começaria a babar. E baba enquanto admira a figura de maiô escarlate de costas, até o elevador chegar. Ela prefere não se virar para não ver.

Deprimida? Mas que nada! A avó brotinho já está de maiô. Manda a neta colocar os quitutes na estufa e desce com ela. Conversando e chiando, como boasss cariocasss, vão encontrando vizinhos pelo corredor. Maiozinho Vermelho é muito popular, principalmente entre os homens. Alguns decidem de sopetão descer para comprar um cigarro, no que são frustrados pelas esposas que decidem acompanhar para ir ao ssshopping.

Chegam à praia e tiram as cangas, que a hora precoce do dia oferece um sol tênue. Maiozinho vai ao primeiro mergulho, já é famosa tanto por seu visual retrô como pela boa forma. Alguns surfissstasss que pegavam um jacaré tentam se exibir e pagam mico. Uivam ao verem a beldade se afastando, para evitar contactos directos. Vai para a avó, que sempre disse e repete...

- Todos os homens são lobos. Uns poucos são confiáveis, mas todos são lobos.

- Tô sabendo, vó. No seu tempo também era assim?

- Mudam as embalagensss, mas o conteúdo é sempre a messsma porcaria.

Enquanto caminham pelo calçadão, um galã de novela as aborda. Rio de Janeiro é como Hollywood, se tropeça em artistas mesmo não se querendo vê-los. Um lobo famoso, mas um lobo que não consegue se disfarçar...

- Esshtou aproveitando este fim de semana, depois terei que viajar para gravar umas cenass na Noruega.

- Putz! Vai morrer de choque térmico!

- Pra isso vou fazer essscala em Blumenau. Mas, gossssstei do seu maiô. É Jantzen?

Este lobo, pelo menos, tem gostos refinados. Agrada mais. Mesmo assim toda a experiência cênica não disfarça os olhares de cobiça e a redução contínua da distância. Melhor dar tchau e continuarem seu passeio matinal. Se lembra dos desenhos de Tex Avery, que explicavam muito bem isto, de modo bem didático: "Chapeuzinho, veja direito, todos os homens são lobos". Sabe que seu pai é um lobo do mar e seu irmão um lobo alado. Só que são casados com lobas faixas-pretas em pau-de-macarrão-dô. Eles preferem voltar desarmados para o Haiti a enfrentar as esposas. Maiozinho sabe, no fundo, que acabará encontrando um lobo também. Mas ao contrário da avó, que se casou aos dezesseis anos, e da mãe que se casou aos dezoito, ela exibe sua maturidade juvenilesca aos vinte e um aninhos, dois dos quais passados como cadete da Marinha. Pois eis que surge um rapaz em um MP Lafer dourado, de capota baixa, que se encanta deveras com o que vê. Enquanto a avó tricota com amigas, ela acena para uma corveta, sabe que provavelmente alguém está observando a praia de binóculos e que pode ser um amigo da época de serviço militar. Ela bate continência e o Almirante finalmente a reconhece, bem como vê o sujeito se aproximando e liga para o pai da moça. Ela olha para trás, e o vê. Gosta do que vê, mas lobo bonito continua sendo lobo. O sotaque não desmente, é forasssteiro...

- Bom dia. Desculpe a sinceridade, mas te achei uma prenda muito bonita.

Ela ri, pede desculpas e volta a rir. Não só pelo sotaque e pela cantada, mas porque ele foi directo ao ponto, tchê. Ele espera ela terminar...

- Cara, foi mal. Desculpa aí, mass nunca ninguém falou asssssim comigo.

- Como? O Rio de Janeiro não tem homem para se interessar por uma cabrocha linda como tu?

A avó de Maiozinho e suas amigas páram para ver. Também não acreditam no que ouvem. Ela manda um sinal de mãos como que dizendo "Segura o cara, broto". Manda dar corda para o gaúcho, que aquelas mãos robustas demonstram ser de trabalhador...

- Sou novo por aqui, mas sempre visitei Copacabana e nunca te vi por estas bandas.

- Acho que cê vinha a trabalho, né? É que eu trabalho e esstudo, agora tô de fériasss.

- Então é por isto, tchê! Vejo a praia cheia de gente se estirando ao sol, em pleno horário comercial, como se nada tivessem a fazer, não que seja da minha conta...

Deixa-o falar naquela dicção superssônica dos sulistas. Ele afirma estar ainda mais encantado por ela estudar e trabalhar, então ela dá o "Assume ou vá embora"...

- Sabe cumé, né! Filha de fuzileiro naval com professora linha dura, me colocaram e ao meu irmão pra trabalhar desde cedo, hoje ele é Sargento da aeronáutica.

O clima começa a mudar, ele arregala os olhos e vai mostrar se é ou não lobo que se preze. Todos os outros sumiram, a maioria sem sequer ter visto os dois militares que, aliás, estão quase chegando, mas este...

- Mas que maravilha! Te ensinaram a ser gente desde cedo! Sabe o que a minha mãe fala? Que moças com tu não são feitas em linha de montagem, que por isso mesmo devem ser desposadas assim que são encontradas, senão outro cata. Quer casar comigo?

Silêncio. Súbito e sepulcral silêncio. A praia toda pára para ter certeza de que não ouviu mal. Mas este silêncio é quebrado pelo Opala SS amarelo seis canecos 1977, de onde saem dois milicos enormes, tanto na vertical quanto na horizontal, com caras de caçadores famintos. Eles encontram a moça de olhos tão arregalados quanto costuma deixar os homens, empalidecida, só acordando quando o pai se anuncia...

- Sentido!

Aquela moça de estatura mediana, toda proporcional e bem esculpida, entra em posição de sentido e aguarda ordens.

- À vontade, cadete. Bom dia, rapaz. A quem me dirijo?

Apesar da saudação, o tom de voz é imperativo, mas quem nasceu no campo, pastoreando desde guri, acordando de madrugada para ordenhar, enfrentou enchentes e a luta para reconstruir tudo com a família mais de uma vez, não se assusta. Se tem sua empresa, não foi por presente do papai nem da mamãe, foi a custas de suor, acordar cedo e não ter hora para dormir. Encara...

- Bom dia, Tenente Morsa. Aperta-lhe a mão como homem. Sou Ludovico Schroeder e estou encantado com a maravilhosa educação que deste à tua bela filha. Quero me casar com ela.

- Comé que é?

- Meu bom senhor, uma mulher como tua filha não se encontra a qualquer momento. Pelo pouco que ela me disse e agora estou vendo que é verdade, é a mãe que quero para meus filhos.

Os dois o encaram, para testar a última fibra de resistência e pedem para Maiozinho Vermelho ir ter com a avó, que aquilo agora é com eles. No que chega a professora linha dura em sua motocicleta Amazonas e vai ver o que sua mãe lhe contou pelo celular. É pior do que os militares. Mas o rapaz não arreda pé, é lobo, não cachorrinho de madame. Já lhe diziam suas professoras que a adversidade forja o caráter. Chama o rebento para o ultimato...

- Regina, você tem cinco minutos para conversar com ele, aceitar ou não.

Maiozinho Vermelho fica tal qual o maiô, sua, mas nas actuais circunstâncias...

- Cara, tipo, eu aceito. Mas quem manda na casa sou eu.

Namoro? Noivado? Para quê, tchê? É o tempo de o juiz publicar, a igrejinha ser decorada e os parentes virem do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Rio Verde de Goiás e eles se casam. Lobo que só rosna e lobo que não sonda a presa, ficam com fome.