11/07/2009

Para condomínios

Para quem prefere pagar o preço de duas casas por um imóvel com a metade do tamanho, minhas sugestões.

Na sala o uso de assentos de fibra-de-vidro ou plástico soprado, com um fino acolchoado, como nos ônibus coletivos. Se a qualidade do acabamento for melhor que a média, talvez agüente uma leve estante de alumínio pendurada no teto. Nada de mesa de centro, é um luxo que os poucos metros quadrados não permitem.

Na cozinha uma revolução, o fogão vertical. As bocas não ficam mais no mesmo plano, mas na mesma coluna. Os armários virão de fábrica com as panelas e os pratos, todos no tamanho certo para que caibam e se encaixem. Não preciso dizer que a reposição de uma só peça custará os olhos da cara, então os pratos seriam madeira ou alumínio, para que não se quebrem a qualquer queda. A geladeira teria dois metros de altura, para poder caber no cubículo e ainda ter espaço para guardar algo.

A área de serviço teria um tanque flexível em uma armação metálica, para poder ser recolhido quando não estiver em uso. Rodos e vassouras ficariam guardados em ganchos no teto. Lave roupa três vezes por semana, para que não acumulem, pois não há lugar para ela. Aliás, melhor passar o dia pelado, para economizar. Deixe a roupa para quando houver visitas ou precisar sair.
Os quartos terão poltronas reclináveis, ocupam muito menos espaço do que as camas e podem ser usadas para trabalhar ao computador. Não aquelas largas poltronas do papai, mas poltronas esbeltas, no tamanho exacto para acomodar os usuários. Com isso sobra algum espaço para o guarda-roupas, cujas portas serão de lona, com abertura por zíper.

O banheiro terá um vaso anatômico, para que suas pequenas dimensões não causem muito desconforto ao apertado. A pia terá o tamanho de duas ou três mãos adultas, praticamente uma cuia. Aliás, esqueçam a cerâmica, tudo será de poliéster ou acrílico, o que for mais barato na época da construção.

A área de lazer será o que couber em baixo do edifício. Não tentem chamar todo mundo para uma festinha, não caberá. Façam rodízio, os moradores dos apartamentos ímpares se servem e sobem, depois os dos apartamentos pares. Se chamarem gente de fora a cousa complica.
A garagem. Sonho e pesadelo, onde os menores modelos do mercado passam raspando, onde mesmo uma Romi Isetta precisaria fazer manobras para se encaixar. Vocês não acham que eles estavam falando sério, quando mostraram o modelo decorado, acham? Aquela vaguinha apertada onde cabe um carro pequeno, na verdade, é impossível. No modelo ela está sozinha e tu podes fazer manobras com liberdade, a garagem de verdade está no meio das outras e das pilastras de concreto, quadradas e contundentes, onde até um Fiat 147 corre o risco de ficar preso. Raspe a polpança e compre um micro carro japonês.

Não gostou? Então, em vez de alimentar a ganância irresponsável das empreiteiras, que contam com a plena aquiescência estatal, compre uma casa com o dobro do tamanho e metade do preço, que de quebra não tem condomínio. Não há gente se vangloriando de ter entregue apertamentos com pouco mais de 50m² à população carente? Eles só fazem isso porque vocês deixam. Se vocês param de pagar um pelo que daria bons lucros se vendido por meio, a especulação desaparece. O preço da terra é o que se paga por ela, não é um deus-mercado quem dita isso, somos nós-mercado.

3 comentários:

Newdelia disse...

Beleza!É isso mesmo.
Somos nós que supervalorizamos tudo. O mercado somos nós. Babacas, mas essa é a verdade.
Beijos

Nanael Soubaim disse...

A senhora tem um estilo que aprecio muito. Assusta, mas aprecio, pois prova que pegou o que quis passar. Esperem até eu começar a falar de I-pods e Non-pods.

umbelarte disse...

Concordo.Infelizmente nós nos tornamos objetos de consumo (os próprios) e o negócio só tende a crescer.