Texto baseado
em factos reais, ocorridos nesta semana. Por mais absurda que seja a situação, era aconteceu de verdade, embora meu mau humor crônico tenha preferido trocar as falas mais infantilescas por sons de animais mais evoluídos. Nomes foram trocados e/ou omitidos não para proteger as
cavalgaduras, mas para não contrariar o IBAMA e o amigo Ricardo Baitelo, que é
do Green Peace e protege todos os animais, mesmo aqueles fadados à extinção por
inviabilidade pura, como os do episódio. Vamos ao caso...
Rosana vai
pelo corredor à aula de português, cujo professor tem a autoridade de quem viu
o idioma nascer. No meio do caminho não havia uma pedra, havia um
zoológico. A moça é interceptada por
desocupados que, no ensino médio, com a pedabobagia empurroterápica pseudoinclusora
já em vigor, se habituaram a trocar professores que teimavam em ser
professores, apenas reclamando à secretaria...
- Ocê vai ver
a aula dele??
- Uai, vô!
Por que?
- Porque nóis
tá boicotando!
- Esse
professor é muito chato, nadaver!
- Fica
cobrando coisa demais. Os outro não é assim, não enche o saco da gente!
- A gente vai
trocar ele por um professor jovem, que não embaça pro nosso lado por causa de
celular e conversa na hora da prova.
- Ou uma gostosinha pra gente pegar...
- Vocês não
querem estudar, não?
- Pra quê?
Nóis passa do mermo jeito!
- Passa no
quê, anta? Na prova da OAB é que não é.
- Ôtra
cansera eu tem que acabá...
Forma-se um
fórum de debates que mais parece briga de jardim de infância, onde só quem
realmente se debate é a gramática, agonizando a cada asneira neológica
proferida. A justificativa apara o motim não excede a esphera dos caprichos, que inclui querer acordar tarde todos os dias, ir para botequins em vez da faculdade, emendar o fim de semana já na segunda-feira, et cetera. A idade mental média os torna aptos a concorrer às vagas de uma creche-berçário, não a um cargo jurídico. Já Rosana, acha que pagar a mensalidade que paga, lhe dá direito e dever de ver até as aulas de história em quadrinhos, que porventura forem oferecidas...
- Pois é, foi
justamente por causa do último professor de português que vocês conseguiram
demitir, no médio, que agora estão pagando mais de mil reais de mensalidade.
Não têm competência pra passar numa federal!
- Ah,
professô cansera tem que desinfetar mesmo!
- Inziji
decorá coisa nadavê, que nóis nunca viu.
- E ainda humilha nóis, mostrando pra todo mundo que errou na prova.
- Ah, tá.
Estão assim porque ele pegou uma prova e disse que “pronome não é antônimo de
contranome”. E ele nem disse quem foi a anta que escreveu aqueles garranchos!
- Ah, fui eu,
uai! Quo-quóóóóó... Num tenho que sabê de coisa que não uso... Já tenho nome!
- Issaí...
Riinnch-ooon! Esse véio ta muito folgado ca gente! Eu sô fi de doto deputado e
não tenho que obedecê ninguém nunca na vida e vô sê jovem pra sempre nunca vô
tê que trabaiá Rinch-on!
- Alf! Nóis
ta aqui pra curti, nóis num teim que sabê disso! Trabaiá é pra otário! Au-au
grrrrrrr...
- Pra isso que serve ser assessor de deputado, uai! Au! Au!
- Quer dizer
que eu vou ser a única da turma a conseguir a carteirinha da OAB? Bom, menos
fila na hora dos trâmites.
A
argumentação rasa, digna de bebês que ainda não aprenderam a falar, irrita a
moça e a faz dar as costas, desencadeando uma manifestação de indignação por vontades não satisfeitas. Estão acostumados a sempre darem um jeito, empurrar com a barriga, recorrer ao cartão de crédito como complemento de renda, enfim, atolados até o pescoço no jeitinho em sua pior forma...
- Vai, traíra
au! Au! Au! Auf! Grrrrrr!
- Nóis não
vai convida ocê pra nossas balada! Quo-co-co quo-cóóóóóóóó!
- É aluno como você que desarticula nossas reivindicações! Muuuuuuuuuu!
- Nóis vai
falá mau docê n'orkut riinch-óóóón!
- Quo-co-co-co quo-co-cóóóóóóó!
- Au! Au! Au!
Au! Au! Au!
- Qüe qüéééé!
-
Quo-coróóóóóóóóóóóóó!!!
Eles cansam
de fazer barulho e vão para o pátio, ouvir canções de apologia ao crime e ao
baixo ventre, exibir as chaves da caminhonete dada de presente, sem merecer,
pelo “pa-pááááiiii” e planejar a próxima balada. Saem logo em seguida, quebrando todas as leis de trânsito que conseguem, embora não conheçam nenhuma.
Enquanto
isso, em sala de aula, a única aluna se senta e o professor chega, mas aliviado do que triste com a sala vazia. Mas não alimenta esperanças sem um bom lastro e pergunta...
- Só você?
- É, só eu.
Fazer o quê?
- Perfeito! A
parcela da turma que vale à pena está toda em sala, poderei ministrar com
tranqüilidade e, quem sabe, até abordar conteúdos mais avançados. Posso
apresentar-lhe minha amiga Prosopopéia?
Ela consente,
fica encantada com a fina dama da construção cultural e lingüística.
2 comentários:
Caro amigo... tive o prazer de descobrir seu blog hoje e vi renascer a minha expectativa de encontrar ainda em meio a tanta porcaria,um pouco de senso crítico,ironia e inteligencia.
Parabéns pela qualidade de suas postagens.Estarei visitando-o e quando possível reproduzindo algumas de suas suas postagens em meu blog, carlossam.blogspot.com, e com muito prazer referindo-me ao seu link.Muito sucesso ...
Agradeço, seja bem-vindo.
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