05/12/2012

Diploma pra quê?

Imagem cedida pelo autor Alberto Benett.

Jornalismo brasileiro nunca foi lá essas cousas. A diversificação de recursos de mídia, que hoje permitem a qualquer um montar uma matéria e mandar para o ar, mesmo que esteja preso no trânsito, não significou ganho de qualidade, de ética nem de isenção. Pelo contrário.

Desde que foi abolida a necessidade de diploma para se exercer o jornalismo, não que antes a lei fosse cumprida à risca pelos jornais, as redações se encheram de postadores de notícias. Não que o curso de jornalismo, na maioria absoluta dos casos, ensine muito mais cousas do que se aprende na prática, mas a organização e disciplina mínimas necessárias à conclusão do curso, conseguem formar o básico do básico do básico, que é um procedimento operacional de trabalho, mesmo que seja individual e em nada case com os outros. Pelo menos, é um procedimento pelo qual o editor e o leitor conseguem identificar, pelo estilo e linguajar, o autor da matéria.

Da dispensa do diploma até hoje, coincidência ou não, e eu não acredito em coincidências, a qualidade do jornalismo tem piorado volumetricamente. Eu gostaria de citar casos específicos, mas já são tão comuns e banalizados, que fica desumano querer que eu apresente um só dos idiotas, e qualquer um de vocês pode encontrar o fenômeno do copia-e-cola, em qualquer jornal, virtual ou impresso, fora a repetição atrasadas de matérias que tinham sido dadas dias antes, por outros veículos.

A situação ficou tão grotesca, que no acto de copiar e colar, eles já não se dão ao trabalho de fazer uma alteraçãozinha sequer, às vezes nem apagando os créditos originais, sob os quais o "profisisonal" coloca os seus próprios. Ficam dois autores, sendo o do rodapé, claramente o falso, pela incompetência demonstrada em nem corrigir os erros do original.

Se não tomam cuidado para maquiar o plágio, podem imaginar que o cuidado com a língua também não prima. Não se trata de usar expressões pessoais ou regionais, trata-se de esculhambar com o idioma mesmo. Escrever "O juiz impetrou um mandato junto ao ministério..." já não é mais motivo para estarrecimento, mas ainda me estarrece. Não me incomodo com "A gente pensa diferente" ou até mesmo "Véi, isso não cola!", dependendo do tópico veiculado, o que me incomoda é o achincalhamento escancarado.

N'outras línguas, a cousa não melhora. Existe hoje, e eu utilizo muito, a ferramenta em rede de tradução instantânea, que tem o requinte de traduzir até sites inteiros. Já traduzi um texto em árabe, do alphabeto árabe para o português em caracteres latinos. Uma maravilha que os antigos jornalistas nem sonhavam, era um tormento traduzir uma noca em um idioma desconhecido, às vezes varando noites, com o editor berrando ao pé do ouvido. Hoje é só colar o atalho, mandar traduzir e ler. Os jornalistas de hoje fazem QUASE o mesmo.

Eu coloco para traduzir, leio e filtro, porque a tradução é literal, fica muitas vezes sem sentido, para quem não conhece bem o assunto de que está se tratando. Mas os fulanos simplesmente copiam e colam. Não se dão ao trabalho de fazer uma correção sequer, simplesmente copiam e colam, ainda que saia "O desenho da linha córrego foi bolo de queijo, na época" ou "Lana Del Rey estrelado nova apresentação no caminho amplo".

Eu sei, os prazos são apertados, ganha-se por lauda, paga-se pouco por matéria, o leitor não se importa com caprichos, o mundo é injusto e não existe uma estrada de tijolos de ouro. Os jornalistas d'outras épocas também passavam por isso, mas sabiam que um erro crasso de português poderia ter, como conseqüência, sua substituição por alguém melhor alphabetizado. No mínimo.

Parece que eles interpretaram a liberação do diploma, como uma licença para relaxar. Eu sou parente de jornalistas, já ajudei a trabalhar no ramo, inclusive montando bonecos de jornais para fazer fotolitos e mandar rodar. As dificuldades nunca foram desculpa para fazer serviço porco. Nunca! Quando a matéria saía e víamos a simples ausência de uma conjugação verbal, mesmo que o espaço denotasse uma falha simples de datilographia (não riam!), o mundo caía! Ficávamos nos sentindo incompetentes pelas vinte e quatro horas seguintes. E O LEITOR NOTAVA!

Podíamos esperar placidamente pelas trolhas, porque se ontem éramos parabenizados pela bela matéria, hoje seríamos os fugitivos do mobral. E pagava-se mal, muito mal! Não existia uma entidade, como a agência Comunique-se, para dar um mínimo de representatividade aos jornalistas e profissionais de apoio. Ou alguém aí pensa que o repórter trabalha sozinho? Nem se ganhasse bem, conseguiria!

Mas fazíamos um trabalho aceitável. Fazíamos a diferença. Ganhar pouco era motivo até para dar um pé nos fundilhos do jornal e ir procurar outro, mas nunca para fazer serviço porco. Até porque, quem fazia serviço porco, não conseguia se manter no ramo.

Fica em mim, a impressão de que eles aproveitam a pressa, para fazer tudo de qualquer jeito. Que não se valem sequer de corretores ortográphicos, do próprio editor de textos, para evitar os vexames que amigos meus em outros países, notam de cara. Bem fizeram os lusitanos, que se rebelaram contra a deforma ortográphica e continuam a escrever do MODO CERTO.

Não são erros esporádicos, são rotineiros. Também não são simples trocas, como escrever "decidas" em vez de "cedidas", ou "amis" em vez de "mais". Tampouco são erros de alto nível, são falhas que reteriam qualquer um na antiga quarta série primária. Claro que o relaxamento oficial da língua, contribuiu muito, pois agora podem alegar que "é assim qu'eu falo, é assim qu'eu inscrevo". E nisso perseveram até só eles mesmos entenderem o que está escrito. Às vezes nem eles.

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