O eleitor terá na sua frente provas materiais contra seus candidatos. Serão filmes que as emissoras não terão apresentado, mas circulam na internet para quem quiser ver.
Serão documentos assinados pelos candidatos, com reconhecimento de firma, mas eles dirão que não foram os autores, que querem calar a voz do povo com calúnias, derramarão uma retórica vazia e cheia de erros de português, após o quê serão aclamados. Investigações mal-explicadamente arquivadas não serão lembradas, palavras que os próprios candidatos reiteraram várias vezes terão sido esquecidas em um passe de mágica, bastando eles aparecerem com suas famílias, então o "estupra, mas não mata" será página virada.
A extrema direita vai defender que o policial deve executar o suspeito em via pública, sem acusação formal, a extrema esquerda vai defender que o policial seja um mariquinha. Qualquer um que tenha um plano decente será rejeitado, pois não proporciona o espetáculo que o povo deseja.
Vão prometer que as escolas serão revitalizadas e que todos os alunos passarão de ano, mas ninguém vai garantir que eles aprenderão algo. Escolas em tempo integral são caras e não dão retorno em menos de dez anos. Bandas marciais são caras e não dão retorno antes das próximas eleições. Aulas de música e philosophia não são tão caras, mas dão resultados antes das próximas eleições que os candidatos tremem só de pensar.
Aparecerão palhaços apelando para o ridículo para conseguir votos, pseudocelebridades sem talento que tentarão garantir ao menos quatro anos de mamata, vítimas de crimes ou tragédias apelando para o bom coração do povo para ganhar votos. Os que realmente terão chances de ganhar apelarão para a barriga e para o instinto vingativo, mantendo o eleitor no estado medievalesco em que se encontra.
Os mesmos jornais que hoje denunciam o mau caratismo do congresso, abrirão suas páginas para qualquer um que pague pelo espaço, como se fosse um anúncio qualquer. O eleitor, privado da formação do senso crítico, não perceberá a manipulação nem sempre sutil das informações em prol desse ou daquele candidato. Não perceberá que um simples flagrante photográphico, que pode nada ter a ver com a realidade da figura, formará uma imagem distorcida em seu subconsciente, distorcida o bastante para fazê-lo titubear ao digitar os números na urna.
Todos farão parecer que está nos futuros eleitos a solução para as mazelas do país, e que o povo deve esperar sentado as ordens para agir como e quando for determinado. Assim que o dotô mandar, todo mundo vai ao mutirão que distrairá as atenções dos problemas que ele mesmo causou. Mas o povo gosta de circo, quando mais horrores, mais ele aplaude.
Ninguém notará que o Brasil é refém de três poderes que brigam entre si para ver quem pode (e ganha) mais, em vez de arcarem com os compromisso assumidos.
Ninguém notará que aquele machão que prega a pena de morte para qualquer crime de qualquer idade, é dono de empresas de segurança privada que faturam muito com a criminalidade. Colocar polícia e sociedade em conflito faz parte do jogo.
Ninguém notará que muitas idéias só não deram certo, porque nunca foram realmente postas em prática. Ninguém quer se inteirar de pormenores, até porque nem todos sabem o que significa "pormenores".
Poucos se importarão em saber quem terá financiado as campanhas, destes poucos, menos ainda se perguntarão o porquê de as terem financiado. O povo não tem discernimento para pensar de quem é o dinheiro que pagará a conta. É tudo do governo, assim como os sinais de trânsito e as repartições públicas, que podem ser depredados pois o povo nada tem a ver com eles. Ninguém pegou uma nota do bolso e entregou para a construção do posto de saúde, então o dinheiro usado foi do governo, não do povo.
Passagens das vidas pessoais dos candidatos com chances de vitória serão usados contra eles, ainda que não tenham peso algum na competência, ou que sejam cousas já enterradas. Mas é espetáculo, eles sabem que um circo de aberrações pode influenciar os resultados das urnas.
Por fim, o povo sairá do pleito exactamente o mesmo. E eu com a convicção cada vez maior do que é opinião: Opinião é a distorção da percepção da realidade subjugada pela conveniência.
3 comentários:
Você, neste texto, retratou um problema cultural do brasileiro. Será que veremos isso mudar?
Beijos
Temos escolha? Mudemos ao menos nossas casas, depois vejamos o que fazemos.
ler todo o blog, muito bom
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