Fonte: Race Brazil |
Existe uma categoria no automobilismo, que uma boa empresa de médio porte pode bancar sem problemas.Não estou falando do kart, que já é arroz-com-feijão da mídia especializada. Falo de uma categoria que quase não recebe espaço eu mesmo jamais vi uma reportagem a respeito.
Me refiro a uma categoria que é levada à sério em todos os outros países, por suas federações e confederações, por permitir que adultos ingressem no automobilismo sem serem milionários. O Brasil, como sempre negligencia esta potencial fonte de circulação de recursos.
Trata-se da Fórmula Vee. O princípio é simples, um carro monoposto com a tradicional e acessível mecânica Volkswagen a ar, usando o máximo possível de peças já existentes no mercado, prontas para utilizar, inclusive as usadas na preparação do motor. Com esta receitinha básica, o médio empresário pode usar o dinheiro de uma caminhonete nova para iniciar uma equipe.
Sim, eu sei, automobilismo e "barato" são antônimos. A vantagem econômica da F-Vee, é que ela não tem custos astronômicos. Qualquer categoria excede fácil um milhão de reais, para fazer uma temporada, fora a compra do carro. Sem contar que a Stok Car brasileira não é mais aquela carismática, que utilizava carros de rua de verdade em suas provas. Carisma é o que não falta à Fórmula Vee.
Para começar, eles têm em média, apenas 75cv @, que empurram um veículo muito leve, com uma suspensão que exige braço da ou do piloto. Essa potência de carro popular seria inviável em qualquer outra categoria adulta, mas na Vee ela faz a festa, tanto do piloto, quanto da equipe e do público.
Mesmo pouca, a potência permite uma aceleração bruta dos carrinhos, que se passam fácil por aquelas réplicas motorizadas para crianças. Com o entre eixos, a distância ente as rodas da frente e as de trás, curto, as derrapagens obrigam a alguns malabares em curvas rápidas, oferecendo ao público o que toda competição deveria oferecer, muita diversão. E diversão sadia.
Há, claro, os detratores. A maioria por motivações políticas e pessoais. São eles, infelizmente, que detém a administração das entidades que dão tanto espaço físico quanto midiático, às categorias. A Fórmula Vee é muito equilibrada, o amigo Zullino trabalhou muito arduamente para fazer um projecto que agradasse a federação, com pés no chão e olhos no horizonte. Não há muitas chances de aparecer um super herói nacional que estampe matérias torpes em telejornais.
Sim, meus queridos, infelizmente a doença crônica da adulação invadiu todos os espaços. As pessoas que se esmeram em ter carisma para ganhar poder político em entidades que poderiam salvar o automobilismo nacional, só se preocupam em abrilhantar suas imagens e alçar vôos mais altos.
Ah, sim, a maioria de vocês não soube. Pois bem, muitos autódromos estão sendo vendidos à especulação imobiliária, no Brasil. O de Jacarepaguá foi só o mais famoso e escandaloso caso. O de Goiânia só não o foi ainda, porque o dono apenas concedeu a área, e só para uso automobilístico. Se pensarem em construir qualquer coisa diferente no lugar, ele toma de volta. Sorte que os outros não tiveram.
Infelizmente, um dos grandes trunfos do automobilismo é uma das causas de sua desgraça, em um país onde ser analphabeto funcional dá status. Precisa usar a cabeça. Não é só pegar um carro e sair dando cavalos de pau na pista. É preciso ter raciocínio rápido, conhecimentos mínimos de matemática, saber interpretar as decisões das reuniões com a equipe e, se for o caso, ter altos graus de conhecimento técnico, que inevitavelmente são precedidos de conhecimento acadêmico.
Well... Enquanto o brasileiro se encanta com polêmicas fúteis e baba por causa de "ídolos" que se esmeram em dar péssimos exemplos, esportes que desenvolvem o intelecto e a sociabilidade, como o automobilismo, vão ficando para escanteio, nas mãos de quem pode sustentá-los sem precisar de uma massa midiática apoiando. Quando aparece uma categoria séria e acessível, é o que estamos vendo.
Aliás, os pilantras que estão vendendo os autódromos, patrimônio público, para incorporadoras que não têm mais onde construir espigões, e não querem pagar o preço justo de um terreno no centro, fazem questão de que o povo continue a pensar que "corrida de carro é besteira pra rico torrar dinheiro".
Uma pequena metalúrgica que patrocinasse a Vee, e fornecesse alguns componentes de sua fabricação, teria um laboratório rápido e barato para aprimorar seus productos, se capacitando a crescer e enfrentar as gigantes do mercado. É só um exemplo, um de muitos que poderiam fazer a economia girar mais rapidamente.
Aliás, aqui deixo um adendo. Ao contrário da crença popular, o volume de dinheiro vale, em um sistema econômico, bem menos do que a rapidez com que circula. Um real que circule mil vezes, faz o trabalho de dez notas de cem. Assim uma categoria relativamente barata, conseguiria alavancar fácil a economia de uma região, se lhe fosse dado o apoio de que necessita, porque até agora eles têm trabalhado no peito e na raça.
Dãã... "O Brasil é país de futebol, quem não gosta de futebol não é brasileiro"... "Corrida é só Fórmula 1, o resto a televisão não mostra"... "Corrida de carro não faz copa do mundo"... "Inteligência é frescura de gringo"... Tudo isso é coisa que já cansei de ler e ouvir. Infelizmente este país se transformou em uma nação de umbigos que só raciocinam daí para baixo. Para a parcela que quer evoluir além do que apregoam as estatísticas do governo, acaba taxada de "burguesa reacionária", fútil, elitista, traidora da nação e mais um monte de abobrinhas. Ou seja, gostar ou concordar com outras coisas, é passaporte para a personificação non grata. Os malandros sabem disso e se aproveitam.
Infelizmente não há atalhos, o caminho é íngreme e os sabotadores vivem a molhar a grama da rampa, mesmo quando já está encharcada. Ajudaria se um artista da moda aderisse? Ajudaria, mas ainda assim é difícil, porque seria necessário manter o público mesmo depois do oba-oba que as publicações "especializadas" deflagrassem. Ainda assim, o gigantismo do estrago não deteve os teimosos que mantém o automobilismo honesto vivo.
Pode até acontecer de os campeonatos monomarcas, usados só para fidelizar a clientela, acabem expulsando as categorias acessíveis dos autódromos restantes. Eu já vi coisa pior acontecer por bem menos e em áreas essenciais. O que não vai acontecer, é essa gente deixar um laboratório eficaz e divertido ser extinto pela falta de caráter e compromisso de dirigentes, como fizeram com o Museu Alfredo Nasser, em Brasília... Ah, desculpem, o jornal não deu destaque nenhum, né...
Bem, caríssimos, pois os convido a pararem de colocar culpas em conspirações internacionais, acima de todos os poderes e de toda paranormalidade, e assumirem o quinhão que lhes cabe. Se há culpa de gente de fora, ela não nos exime da nossa, que é deixar nas mãos dos outros a decisão de nossos destinos, do que devemos ver, vestir, ouvir, assistir, comer e até do que devemos gostar. Tênis, como o automobilismo, não é esporte de burguês, é esporte de quem quer jogar tênis. Metam isto em suas cabecinhas, quem deve decidir o que vocês querem, são vocês, e eu sei que uma parcela gigantesca da população é automobilista enrustida. Não se assume com medo de perder suas turmas costumeiras. Pois paguem o preço, quem realmente for seu amigo, não vai se afastar por causa disso. A diversão, como tudo mais o que o automobilismo traz de bom, é garantida.
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