Cena de A Divina Comédia |
Quando a Eddie me convidou para ajudar na revisão desse livro, logo fiquei de orelha em pé. Ela sabe de minha cisma com histórias de terror, ainda mais se houver violência; e o livro é muito violento! Contraindico para pessoas sensíveis, desaconselho para crianças.
Eu não me refiro àquela coisinha estúpida de desocupados do "clube da luta", me refiro a gente que tem motivos reais para ser cruel, querer que o outro sofra até depois da morte, não somente para ter emoção ou provar que é macho... algo que prova justo o oposto.
Bem, voltemos ao livro. Trata-se de literatura fantástica, mas com os pés bem plantados no mundo dos mortais. A autora passou muitos anos estudando, pesquisando e embasando sua trama, para depois pô-la sob o crivo crítico de seus leitores. É um livro grande, levei uns meses para ler e digerir tudo.
A ambientação, o argumento, o roteiro, tudo beira a perfeição. Algo que um filme, infelizmente, não reproduziria nas telas... Os livros sempre são melhores do que os filmes derivados. Até o mundo espiritual é descrito como mesmo as obras espíritas falham em fazê-lo. Sabiam que vocês podem criar um mundo espiritual do seu jeito? E mais, ir morar lá, quando se desvencilharem do corpo físico... Só que não é tarefa para qualquer um. Aliás, o livro também não é para todo tipo de leitor, não ter preguiça é fator eliminatório.
Qualquer um com um pouco de imaginação, pode se ver dentro de cada ambiente, com grandes chances de outros leitores descreverem quase que os mesmos detalhes, porque ela é detalhista, vai contando o que tem e como é, enquanto a porrada corre solta. Mas como eu disse, nada no livro é gratuito, mesmo o que nos parece ser. O que parece não ter sentido agora, algumas páginas ou capítulos mais tarde, terá sua função revelada.
Os traumas mais brandos e esquecidos, são usados pelo inimigo para atingir nossos heróis, especialmente o mocinho, que acaba virando o bode expiatório de todos os outros personagens... ao menos dos que conseguem sobreviver. Prestem atenção a isso, quando começarem a ler, porque são alertas e lições sérias para a vida real, com ou sem magia. As pessoas de verdade também fazem um pouco disso, não te mandando para o deleite de demônios, quando fores dormir, mas fazem.
O que pode desagradar muita gente, é que ela colocou sua essência na trama. Eddie é uma bruxa. O livro está recheado de princípios mágicos, de feitiços, mancias, algumas vezes até ensina alguns rituais e bruxarias pesadas. Nada, porém, que o leitor disposto a correr o risco não possa fazer, em um momento de urgência. Ela é meio maluquinha, mas não é irresponsável.
O ritual de banimento, baseado na oração do Pai Bento, é o que fica mais claro e fácil, mesmo para quem nunca sequer deu três pulinhos para São Longuinho. Isto também vai irritar muita gente, porque desmente alguns dogmas da Igreja, revelando ao cristão comum um poder que ele não sabe que tem.
Para a trama, Eddie Van Feu recrutou, na marra, um grupo de policiais bem barra pesada, e um comandante que já foi processado por coisas bem ruins. Ou seja, ninguém lá é santo. Bem intencionados, talvez, tenho minhas dúvidas, mas nenhum é irrepreensível.
Quanto aos vilões, vou dizer com base em minha experiência lidando com bandidos da pior espécie, e com os policiais que os reprimem; o mais bonzinho desses vilões é pior do que o traficante mais perigoso. Muito mais. O traficante quer se dar bem às sua custas, te deixar vivo é um bônus para eles, os vilões do livro necessariamente precisam da desgraça de alguém para se sentirem satisfeitos. E não é apenas fazer mal e procurar outra vítima, é perpetuar o sofrimento e buscar outra vítima para acrescentar sofrimento. Principalmente, o traficante não tem idéia de que não passa de uma marionete, os nossos vilões são da turma dos manipuladores.
Algo, aliás, que minha amiga deixa claro, é uma das muitas diferenças ente os bons e os maus. Estes sempre aprendem com seus actos, mas jamais com as lições que eles oferecem, ou deixariam de ser maus.
Um ponto que vai agradar muita gente, talvez até os que odiarem o livro, é o banho de cultura e humor. Escrito no mesmo formato das séries policiais americanas, a trama descreve brevemente, por exemplo, os aspectos da magia haitiana, na pessoa de um dos personagens mais carismáticos... e também dos mais perigosos, um feiticeiro chamado Landau.
Eu até poderia dizer como o livro termina, mas estragaria o que ele tem de melhor a oferecer, que são as lições da história. O que importa, para quem sabe viver, não é simplesmente chegar, mas a carga com que se chega, e Uma Guerra de Luz e Sombras oferece muito conteúdo ao leitor atento. Chegando à última das mais de seiscentas páginas, o bom leitor descobre que o viajante de verdade jamais chega, porque cada destino é um ponto de partida. E tudo o que Danny Shelley quer, depois de ter, a rigor, morrido, é continuar sua vida e chegar à próxima estação, ciente de que sempre haverá outra.
Eu recomendo a obra para o leitor ávido por uma história inteligente, gostosa de se ler, mas com nervos fortes e mente aberta, porque é uma trama muito pesada. Como eu disse, nada é de graça no livro, os vilões premeditam milimetricamente cada maldade, de modo a extrair o máximo de prazer de cada uma, não importa a que custo para a vítima e sua família.
Asseguro que depois do "Fim", ma parte de vocês terá morrido, mas haverá outra bem mais aprimorada no lugar. Boa leitura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário