05/11/2012

Tinteiro-terapia

Fonte da imagem: http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-440165268-caneta-tinteiro-bico-de-pena-jinhao-_JM

É de conhecimento dos leitores habituais, que uso caneta-tinteiro no cotidiano. A espherográphica só sai do bolso para rabiscos rápidos, ou para ser emprestada. Ou pensam que vou entregar uma tinteiro estilo art-déco para um estranho?

Pois vou complementar o que eu disse no texto Tinteiro Sim, que fiz há uns quatro anos, no Talicoisa. Lá eu mostrei as vantagens inaparentes de se utilizar uma caneta-tinteiro com  freqüência e trema, bem como os mitos quanto ao preço e à variedade de marcas; Só no Brasil elas são consideradas artigos de luxo, e só aqui se pensa que são dois ou três fabricantes pelo mundo.

O primeiro efeito terapêutico de uma caneta-tinteiro, é ela mesma, sem precisar de uma gota de tinta. Por sua própria natureza, ela precisa ser mais elaborada, o que justifica algum trabalho artístico no desenho, mesmo que seja minimalista. Embora uma Mont Blanc passe facilmente das dezenas de milhares de reais, afinal é uma jóia com uma pena na ponta, uma boa e decorativa Royal Gold ou Crown, pode ser comprada em lojas populares por menos de cem reais, com garantia, desenho bonito e a certeza de ser um belo presente... E ainda dividem no cartão.

Enfim, só de saber admirar, ela já te tira um pouco da tensão. Há mais baratas, há mais caras, na linha popular, mas à amiúde, todas são psicoterapêuticas.

O segundo efeito, para quando e acostuma, é a recarga. Sabe aqueles tubinhos descartáveis? Vou ensinar um macete... dois pontos: Eu uso uma seringa com a ponta da agulha desbastada, para tirar do tinteiro e abastecer a caneta. sai muito mais barato do que comprar tinta picada, e mais seguro do que carregar vários tubinhos, fáceis de perder.

Isso se aprica também à manutenção, que geralmente é simples e só precisa de água limpa, levemente morna, para tirar a tinta seca da pena. Para o corpo, flanela úmida, no máximo com bem pouco sabão neutro, nada mais.

O terceiro efeito, e o que dá sentido à caneta, é o acto de escrever. Para começar, tu poder apertar e bater até quebrar a pena, mas ela não aceita grosserias. Ou escreve direito, ou ela nem tchuns! Embora as mais caras permitam uma variação notável de espessura e velocidade nos traços, elas não se dão com pressa e desajeito. Vais furar o papel e borrar a carta, se não tiveres cuidado.

Não, não estou dando a receita certa para um infarto agudo do miocárdio, nem a caneta vai resolver os teus problemas. Ela vai é te ajudar a colocar as idéias no lugar, ordenar o raciocínio, no decorrer da escrita, porque ela demanda uma escrita mais metódica e ordeira. No frigir dos ovos, a calma necessária ao manuseio da caneta-tinteiro se transfere para o teu emocional, facilitando focar a raiva onde ela deve ser focar, em vez de agir como uma metralhadora giratória.

A caligraphia medonha torna-se aceitável, com a prática, porque sabes como a caneta ceita escrever, e que de modo algum ela vai contrariar a própria natureza. Aliás, isto é também uma boa chance para começar a aceitar as pessoas com os seus defeitos, em vez de esperar que sejam perfeitinhas, do jeito que vemos no espelho... Né?

Sim, eu sei, este é um bom e apropriado tema para o Vintage Way of Life. Será feito, mas o foco será outro, e a galeria de imagens será menos muquirana.

3 comentários:

Erika Emrich disse...

Adorei! Comecei a menos de um mês a tinteiro-terapia e concordo com cada palavra sua!

Nanael Soubaim disse...

Soham! Grato 8-)

anita psvone leite disse...

Desde pequena eu sempre escrevi, com "bic" e um caderno velho encontrado no ferro-velho. Já tive diários, mas depois que meu irmão leu e me disse que "tinha vergonha de ter uma irmã como eu" parei com eles. Até pouco tempo eu ainda fazia isso. Agora encontrei o meu instrumento certo de terapia, o meu pc. E que se dane, se meus textos envergonham alguém. é melhor do que conversar com as paredes.