13/01/2012

Todo mundo é perseguido

Estética ocidental tradicional??? Eu sou uma ameaça! Alguém me segure!!!!

É o último grito da moda, sério. Todo mundo resolveu se declarar parte de uma minoria perseguida, mais perseguida do que a própria perseguida.

Nesses dias mesmo, vi reclamações de chateus que acusavam os religiosos (me englobando por generalização) de os perseguirem em fóruns virtuais. Invadindo discussões de religiosos, eles começam a falar besteiras, a xingar todo mundo e depois se ressentirem, quando alguém reage.

Com freqüência tremada, vejo dogmopatas reclamares que são perseguidos pelos católicos, pelos macumbeiros (incluindo de espíritas a budistas) pelos muçulmanos, pelos judeus e, claro, pelos ateus. Aquele adesivo medonho, que muitos colam no carro, dizendo "Em caso de arrebatamento, este carro poderá ficar desgovernado" deve ser de algum neurótico que se sente perseguido pelo próprio Criador.
Também há os camelôs ilegais, que se dizem perseguidos pelos lojistas estabelecidos. Mais do que isso, muitos se dizem perseguidos pelos camelôs legalizados. Preciso dizer que depredar lojas, ônibus e até banquinhas regulamentadas não resolveu cousa alguma?

Há ainda alguns ditos estudantes, que cometeram actos ilegais, sabendo que são ilegais, reclamam do assédio da polícia. Pior, reclamam dos estudantes que não aderem e se sentem incomodados pela fumaça. Já contei-lhes várias vezes de minha experiência em escolas públicas, então estamos conversados.
O cúmulo é recente. Ministros de Estado, algumas vezes pêgos no exercício do ilícito, se dizem perseguidos por motivações politicas... Não sei se me engano, mas no código penal isto tem outro nome. Pior é vir gente à público defender, quando não festejam a certeza de que um corrupto sairá impune, chamando de perdedores e viúvas da oposição os que reclamam.

Também há os reles trolls, que danam a escrever porcaria nas caixas de comentários e reclamam que ninguém tem senso de humor, alguns até reclamam porque ninguém reconheceu sua genialidade e a nota fiscal de compra da verdade. E saem chorando, jurando vingança.

 Generalizando um pouco, há os que se intitulam defensores de uma minoria historicamente perseguida, que vêem até na frase "O Ágile jé é feio, preto fica horroroso" uma declaração de ofensa explícita aos direitos das comunidades bla-bla-bla bla-bla-bla.

Ah, claro, há também os defensores (ainda que às custas de uma nação inteira) de políticos inescrupulosos, bastando que sejam de seu partido ou aliado. Eles também se sentem perseguidos pela oposição, e se diziam perseguidos quando eram oposição e exigiam que um corrupto fosse demitido e preso. Mas nos deles ninguém pode tocar a mão, seja que lado estiver no poder.

Uma característica coletiva desses perseguidos, é que são exímios perseguidores. Experimente expressar alguma mínima simpatia por algo de bom que seus desafetos tenham feito, ainda que o acto tenha sido um grande serviço à humanidade. Eles simplesmente chamam a turma e te trollam, praticam ciberbullying, publicando mensagens ofensivas à sua pessoa, e de louvores aos seus deuses, que ninguém mais consegue comentar. Quando sai a resposta de alguém simpático à tua opinião, já há dezenas de comentários ofensivos e humilhantes separando as duas postagens.

Seja na vida real, seja na virtual, os perseguidos costumam prestar muita atenção a qualquer termo que possa representar uma "ameaça à causa" que defende. Alguns vão mais longe, passam o dia procurando qualquer termo afim. Não, não é exagero. Há pessoas que agem como soldadinhos da causa, atentos a qualquer palavra, qualquer gesto que lembre vagamente algo que possa significar risco. Buscar "racismo", homophobia, misoginia, xenophobia, elitismo ou qualquer ismo em obras clássicas, faz parte de suas rotinas. Nem colegas, nem amigos, nem familiares são poupados. Eu também não fui poupado, perdi mais de um emprego por causa dessa gente. O que vocês disserem entre amigos, acreditem, pode parar nos ouvidos de um líder radical seja lá do que for, e usado contra vocês em um processo judicial; como acontecer com o Marcos Dotha, autor do maravilhoso blog vintage Carissimas Catrevagens, que eu recomendo e rebebendo, ele foi acusado injustamente de racismo, o que me inspirou o texto Ditadura dos Coitados, onde romanceio o acontecimento.

Atacar e se fazer de vítima é uma habilidade extremamente desenvolvida, nesses novos perseguidos. Um católico soltar "Minha Nossa Senhora!" pode ser o estopim para a indignação de um dogmopata "perseguido pelas bestas-feras do catolicismo", rendendo um espetáculo de atraso mental em público. Se for da família, piorou, ele tenta encher a cabeça de cada um antes que o outro tenha chance de se defender, afinal aquele tem tempo, não raro se permite ter o ponto cortado para gerar intriga, sempre colocando-se como A vítima. Quando a verdade aparece, some sem deixar vestígios até a poeira assentar.

Também têm grande habilidade para reconfigurar palavras, dando-lhes o significado que lhes convir no momento, ainda que contradiga o que disseram antes. A facilidade com que dizem "a minha verdade", "a sua verdade" é capaz de fazer qualquer um imaginar que o partido nacional socialista tinha alguma legitimidade, em seus assassinatos, afinal exterminar os outros era a "verdade" hitlerista. Aliás, defendem suas próprias contradições, enquanto atacam as nossas, ainda sejam imaginárias.

Apontar para o cisco no olho do outro, enquanto desviam conversa da trave que têm nos seus, é um hábito arraigado. Um policial que estiver com a farda amarrotada é criticado, mesmo se sabendo que a mesma é descontada do soldo e por isso não pode ter uma coleção delas no armário. Mas não abrem mão do auxílio-paletó que não lhes desconta um centavo do 13º, do 14º e nem do 15º. Aliás, se alguém passar pela faixa no exacto instante em que o sinal ficar amarelo, ele grita e exige punição exemplar, mas o guardinha que lhe multar por parar na contramão da esquina, obstruindo a guia rebaixada e longe do meio-fio, é um partidarista de seus inimigos e o está perseguindo.

Quando alguém (como eu) parece estar conspirando contra as conquistas das minorias oprimidas, ou contra o direito de credo/não-credo/cruz-credo, ou contra a democracia inflável brasileira, ou ainda as legítimas(?) manifestações populares de baixo-ventre, eles se unem e descem a madeira. Quando acham que destruíram o inimigo (e muitos juram que eu saio chorando feito mariquinha, de seus ataques) suas diferenças aparecem e eles passam a se atacar mutuamente, cada um querendo obrigar os outros a adoptarem suas opiniões como a verdade suprema e absoluta.

O treco é ainda mais feio, pois não se resume ao campo ideológico, dogmático, antipático, político, cultural e enigmático. O simples facto de alguém gostar de uma determinada estética é motivo para ataques e acusações. Lembro do caso de uma escola que demitiu uma professora negra, porque ela usava roupas com forte inspiração tribal-africana, alegando que não era aquela estética que eles queriam para seus alunos. Também há o facto de o gosto pela estética ocidental tradicional, gerar protestos, como se o apreciador fosse uma ameaça às conquistas sociais/femininas/políticas/culturais. Como se eu fosse obrigado a detestar os estilos dos anos trinta aos sessenta... e início dos setenta, que a-do-ro confessa e desavergonhadamente.

Do que eu escrevi, absolutamente nada foi lido em cartilhas ideológicas ou dogmáticas, nem em citações de intelectuais, muito menos de ouvir falar por alguém. Eu conheço tudo isso, já fui vítima de muito disso. Eu sou testemunha de tudo isso. Pelo que já conheço dessa gente, eu bem que poderia criar a organização "Filhos de Soubaim" e começar a atacar gente que pensa diferente, me fazendo de vítima, ganhando simpatizantes, alçando vôos com circunflexo, enfim, mas eu preferi prestar.

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