Certa tarde (inteira) em uma fila do hospital Juarez Barbosa, me deparo com um cartaz (pretensamente) de esclarecimento a respeito da Hepatite B. Como não tenho a imagem no momento descreverei; Um cartaz horizontal com seis elementos principais, da esquerda para a direita: um rapaz negro dançando break no chão, uma garota cadeirande com uma bola de basquete na mão, outra garota fazendo pose de "gatinha", um enorme sinal de proibido pintado no muro já pixado, um surfista fazendo pose e sinal com a mão como se estivesse na praia, uma skatista fazendo pose com o veículo aos pés. Esclarecimentos a respeito da doença? Não. Instruções claras sobre como evitar a doença? Não. Um texto, ainda que rápido, mostrando as diferenças entre as hepatites? Não. Uma legenda dizendo o que aquela garotada fazendo poses estereotipadas têm a ver, directamente, com a prevenção? Não.
No decorrer das várias horas em que esperei para ser atendido, me perguntei o que era aquilo. A única conclusão a que cheguei, e que descartava o uso indevido e descarado dos impostos que eu pago, é que se tratava de um preenchimento de cotas. Porque a maior preocupação na formulação de uma propaganda oficial, já ficou claro, é ser politicamente correcto, ainda que o resultado final mate a mensagem a ser passada. Informar corretamente, de modo directo e claro a população é muito arriscado. Se o povo começa a pensar, logo começa a questionar, então políticos e programas de televisão perdem seus públicos.
Um exemplo recente de propaganda televisionada, é a que alerta para o excesso de elocidade nas estradas. Estereotiparam o motorista de tal modo, que em vez de engraçado ou carismático ficou canastrão. Ter graça ou carisma ajuda a fixar a mensagem na coletividade, ser canastrão, bem, quem entrou em uma sala de cinema e se esqueceu do filme meia hora depois do fim, sabe do que estou falando. A mensagem final foi "Foi a última vez que ele ouviu sua música preferida", a música era um rock pesado... Eu gosto de rock e não dirijo daquele jeito. Nada foi mostrado de modo claro, apenas sugerido, e muito mal sugerido. Não que eu queira ver aquele erro crasso do Detran, mostrando gente completamente desfigurada na televisão, sem maiores explicações. Só quero profissionais competentes trabalhando livres da censura política e partidarista politicamente patética. Mostrar o carro sendo abalroado de frente por um caminhão, por ter feito uma ultrapassagem perigosa, teria custado pouco e passado a mensagem.
As campanhas sobre medicamentos, então, me ofendem com tamanha incompetência. Digo "incompetência" porque não sou leviano de pensar primeiro na única outra hipótese, a da corrupção. Dão a entender que os laboratórios as encomendaram. Photographei algumas na Vigilância Sanitária Municipal de Goiânia, e minha chefe concordou comigo. São desenhos muito mal feitos, infantilescos, parecem ter sido coloridos com giz-de-cera vencidos. A intenção de quem idealiza as campanhas, quase sempre médicos, é das melhores, mas infelizmente na esphera pública uma idéia precisa passar por muitos filtros e muitas pessoas, muitas delas ocupando cargos de confiança sem ter conhecimento de causa para tanto. É aqui que dana tudo, que conceitos pessoais de certo e errado interferem directamente no trabalho. Notem que em momento algum eu me referi a interesses torpes, estou deixando tudo no ameno orbe da incompetência, que não é crime... Pena.
Cito duas propagandas oficiais que foram directo ao ponto e deram seu recado. Uma de Moçambique mostrando um caminhoneiro descendo do caminhão, já em casa, sendo acolhido pela família. É uma campanha contra a aids, que incentiva o caminhoneiro a pensar na própria família. Outra é nacional, uma pérola. Mostra um senhor já maduro na sala de cinema, com os traços endurecidos pela vida, começando a lacrimejar de emoção pelo filme. Se não me engano era uma campanha pela saúde do coração e a frase no fim era "Chore se for homem". Acreditem, esta propaganda tão liberal e avançada até para os dias de hoje, se deu durante o governo do Presidente Figueiredo. Oh, ja, mein herr. Uma propaganda da ditadura combatendo o machismo, algo que a nossa democracia bêbada nunca fez de verdade. Que ironia. Certo que o Figueiredo, em matéria de ser democrático, dava de dez na maioria dos caciques políticos hoje em liberdade, mas já faz um quarto de século que ele colocou um fim no regime, e as propagandas oficiais só pioraram com o tempo. Há uma diferença entre colocar em discussão e simplesmente discutir.
O que sugiro? Dusas cousas: Deixar publicitários tratarem de publicidade, existe já uma entidade própria para a regulação da propaganda, não precisamos de um doutor bacharéu com cargo de confiança dando pitacos; Olhar par trás, para ver o que e porque deu certo, e o que e porque não deu certo. Se o Estado se empenhasse no esclarecimento da população como se empenham seus dirigentes em suas campanhas eleitorais... Deixa, é utopia. Apenas dê uma olhada na ilustração e veja o quanto eles se encheram de dedos e medos de ofender, na hora de elabora-lo. Para quem não tem muito discernimento (o grosso da população) dá a entender que se medicar é legal.
3 comentários:
Seu post me fez lembrar do anúncio da MS, dando um fim no negro... rsrs...
Vim agradecer também ao meu querido amigo, pelo carinho e pelas palavras lindas que me deixou no dia do meu aniversário. Adorei e não posso dizer que fiquei surpresa, já que você é um gentleman, além de um amigo muito, muito querido.
Obrigada de coração pelo carinho, pela companhia diária.
Beijos no coração.
boa noite...
Jesus te ama, plante o amor, e colherá a paz, amizade,e felicidades..
fica com Deus
Não há outro meio de tratar uma dama, New.
Honestino, vamos plantando que logo colheremos. Vá com Ele.
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