Maria foi ao museu de arte moderna. Logo na entrada é recepcionada por uma sineta de vacas e uma buzina, ao lado uma longa placa explica os conceitos e as implicações inerentes às metáforas implícitas, et cétera, et cétera, et cétera. No rodapé um convite para o motel. Segue ao salão.
Dá de cara com uma bicicleta velha e enferrujada, que tem tênis no lugar das rodas e uma jarra em forma de abacaxi no lugar do selin. Ao lado uma plaqueta onde se lê "Assim pedala a humanidade". Duas jovens se aproximam com olhares de superioridade sobre Maria, e começam a discutir as implicações daquela obra. Citam de Saramago até a Torat, mas elas mesmas não têm certeza do que estão dizendo. Maria se afasta.
Logo adiante cinco manequins de plástico com frutas no lugar das cabeças. Até imagina a que se refira o artista, embora acredite que um texto ou uma charge desse melhor o recado. Na plaqueta lê apenas "Desfrute". Se ao menos as frutas fossem de verdade...
Anda mais um pouco e encontra mais gente compenetrada em discutir sobre algo na parede. Ela se aproxima e descobre o que é: o extintor de incêndio. Um barbudo fala sobre sexualidade reprimida, enquanto outra afirma que é sobre a super valorização do volátil em embalagens chamativas, um grupo à parte busca referências bibliográphicas a respeito. Maria vê e comenta, inocente, que precisa ser recarregado. Então se forma um fórum sobre a brilhante observação sócio-política. Ela se afasta, assustada.
Em uma sala vê dezenas de bonecas com barbas postiças. Só isso e nada mais. Nenhuma plaqueta, nenhuma informação. Cerca de setenta bonecas enfileiradas. São bonecas ordinárias, que se compram em sacos transparentes e ainda têm algumas rebarbas de plástico. Aparece uma criança, esta olha e solta "Que bonecas feias!" e volta para a mãe, esta envergonhada pela falta de cosmopolice e intelectualidade da pequena.
Noutra sala vê uma banca de revistas montada, onde só se pode ler, não levar. Só vê mangás. Abre um e vê todos coloridos por dentro, com os balões de fala preenchidos com termos chulos. Detalhe: Tudo colorido com lápis de cor, de modo que uma criança pré-escolar não faria pior.
Logo em frente uma velha balança de feirante com o mapa do Brasil na bandeja. Ela se aproxima e um artista de terno e cara pintada de branco não permite que ela se aproxime, sempre alertando para os trâmites, os regulamentos e as legislações vigentes. Maria concorda, melhor não se aproximar, aliás, melhor ir embora. Mas antes vai ao banheiro.
Entra em um box, levanta a tampa e vê um pênis plotado na parte de dentro. Decide segurar até chegar em casa.
Pelo caminho, consegue a boa vontade em uma lanchonete e se esvazia lá mesmo. Aproveita que não almoçou e come algo. Toca o celular. Já que está perto, busca um poster com uma cena do último passeio da família.
Escolhe a moldura, paga e leva. Pendura na sala de estar, que rapidamente se enche de parentes e amigos expondo lembranças do evento. Lembram ainda que foi naquele passeio que Maria aceitou o pedido de casamento, que não tarda a acontecer. Passam o resto da tarde falando a respeito, com um álbum de photographias no colo. Imagens que quem já se foi, de quem está fazendo vestibular para ir e de quem acabou de chegar. Combinam outro passeio para outro álbum e, quem sabe, outro poster.
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