14/02/2009

No seco

Hoje é dia de São Valentin. Não se trata de uma data americanóide comercialista burguesa que oprime as massas hai hai hai mil vai pra fora do Brasil. Ao contrário do dia dos namorados, esta sim uma data planejada para o comércio em uma época de vendas fracas.
Tutto benne, já disse aqui que não sou contra os comerciantes garantirem o franguinho na mesa, por isto mesmo não vou atacar o comércio e não farei uma campanha declarada contra o doze de Junho, já nos bastidores é outra história. Só sou favorável à retomada do Quatorze de Fevereiro e de suas implicações mais sólidas.

Hoje, no resto do mundo, as pessoas mandaram presentes não só para seus amados amantes, mas também para amigos e pessoas às quais simplesmente querem bem. Da mesma forma como cartas-bomba com lindas mensagens de "MORRA!" circularam em vários países.

Tenho uma lista interminável de pessoas às quais teria mandado umas cartinhas, mas o bocó só viu ontem a data no calendário da Eddie. Mas desta vez me perdôo, só desta vez.

Mas se nos ativermos à esphera dos amantes, namorados, noivos, cônjuges e tico-ticos-no-fubá, então eu não teria a quem mandar cousa alguma. Não tenho uma boca para beijar, um outro corpo para acariciar, uma voz que me responda com palavras doces à overdose de glicose que teria acabado de declamar. Não é a situação mais triste do mundo, já estou acostumado, mas é estranho pra chuchu.

Quase todas as pessoas que conheço e têm mais de dezesseis anos, estão namorando, noivando ou casadas. Sem problemas. De vez em quando aparece alguém mostrando a photo dos pimpolhos, me arrepiando os cabelos pelo tamanho que os guris já têm, já que os vi ontem dentro de mijões e hoje estão andando de bicicleta.

É do balacobaco ver gente que conheço progredindo e bem resolvidas em suas vidas afetivas. Mas às vezes me sinto um alienígena, há um tempão sem dar um abraço sequer, ouvindo o outro descrever o que sentiu na noite anterior... Com requintes.

Uma amiga termina de falar comigo e vai se agarrar ao sujeitinho que apareceu. E eu vou para onde? A conversa estava tão boa, com tanto conteúdo de tão alta qualidade e foi interrompida por um "Aí, gata!". Juro que não consigo chamar alguém de "gatinha".

Abismos de linguagem à parte, minha caretice não consegue até hoje compreender (mas respeitar sim) alguém ter dois ou três namoros por ano. Passam a impressão de que só querem ter uma boca, um aconchego e um sexo exclusivo para desestressar da semana de trabalho.

Tenho uma amiga que é linda de cair de costas, inteligente, culta, independente, honesta, enfim. Já conheci uns três ou quatro namorados dela. Com todas as qualidades descritas, os frouxos a deixaram escapar! Só posso acreditar que se enquadram no parágrapho acima, e que eu sou realmente um alienígena. Claro, que ela é geniosa, voluntariosa, compra brigas das quais os outros fogem, mas são detalhes irrelevantes. Eu não teria deixado ela escapar.

Estou sozinho há muito tempo, mais tempo do que tenho de blogueiro. Não sofro por isto, mas a idade chega e pergunta o que farei da vida, quem vai me amparar na velhice, a quem dedicarei minhas poesias, com quem dividirei as pizzas do porvir. Não sofro por isso, mas já começa a incomodar. Há alguns meses o meu alfaiate, que dirige um centro espírita, vem me cutucando no assunto, tenho certeza de que percebi uns três ao redor dele, soprando idéias matrimoniais. De quebra, minha avó disse que morreria sossegada se me visse bem casado. Será um complô?

De repente minhas mãos se acariciam mutuamente, como se uma fosse mão de moça, delicadamente, então percebo que a hora se aproxima. Por estar tão sensível, também fico às comemorações na data certa, que infelizmente não vejo no Brasil.

Que mais hei de falar a respeito?

5 comentários:

Anônimo disse...

Meu calendário está mais atrasado ainda. Só vi informações dessa data hoje, e, claro, lendo seu blog. Se tivesse me atentado para isso antes, gostaria de ter mandado mensagens aos meus amigos dizendo o quanto são importantes na minha vida. Embora eu seja uma amante da amizade e volta-e-meia vivendo fazendo mil declarações a quem eu gosto. Mas por outro lado, também me pergunto: será que o meu círculo de amizade também se esqueceu da data ou a desconhece? Digo isso, porque nem carta-bomba recebi [rs]. E como estou há algum tempo sem interlocutor para as minhas overdoses de glicose, para os meus abraços e beijos, a data ficou no ar.

umbelarte disse...

Gostei...
Eu não estava mesmo lembrada do dia S. Valentim, valeu a lembrança e os esclarecimentos.
Abraço

Nanael Soubaim disse...

Ainda se desse para fazer algodão doce com todo o açúcar que tenho acumulado!

Newdelia disse...

Calma, meu querido amigo!
A bela que cair nesse melado todo tirará a sorte grande. Muita hora nessa calma. Ainda não apareceu parceira a sua altura, acredite.
Quanto ao título do post me fez lembrar de um amigo na universidade que dizia viver com "excesso de falta".
Beijos e aquiete-se... rsrsrs...

Paula Fantin disse...

Excesso de Falta é ótimo!
Acredite, tem muitas mais pessoas na mesma situação... é muito fácil encontrar bocas para beijar, dificil é manter uma relação promissora além de meia dúzia de algumas transas.