Ela é a pessoa mais fiél e honesta que já conheci. Beleza refinada sem artifícios e educação esmerada por uma família dedicada. Dá um boi para não entrar numa briga, mas para sair...
Tudo o que falei de Maria Cristina há dois anos não foi o bastante, embora ela tenha achado que falei demais. Até pediu que eu tirasse, com medo que as pessoas lessem, patati e patata.
Ela fez aniversário no último dia Vinte e Cinco de Fevereiro. Passou o dia inteiro ajudando alguém, sem um minuto sequer de repouso para seu corpinho cansado, que há anos pede pelas férias que nunca mais tirou.
É fácil se apaixonar por essa menina, mas tão fácil é também se morder de inveja e ciúmes, até odiá-la. Pois há os espíritos de porco que a odeiam. Suspeito que muitos sejam por paixão não assumida, mas a maioria é porque ela é uma pedra no sapato de marxistazinhos de boutique, que usam de seus cargos e proximidade partidária para perseguir e obter privilégios. Radicais de direita e esquerda são farinhas do mesmo saco, só que com aromas (fedores) diferentes. Em ambos os casos, a medicina se esforça para combatê-los, pois estragam o organismo em que se instalam, destruindo a mais sólida reputação da mais tradicional instituição que se possa imaginar.
Maria Cristina está nessa frigideira, gastando sua juventude para evitar que aventureiros de costas quentes arruínem o trabalho que ela levou anos para construir. Por isso a perseguem, por isso tentam fazê-la de todo modo abandonar seu posto, mas ela não cede.
Seu imenso amor ao próximo a impele ao trabalho árduo que, porém, tem lhe custado muito de sua vida pessoal, de sua já delicada saúde, do convívio com sua família e seus amigos mais caros.
Vocês vão pensar que estou transformando-a em um anjo de candura, quando a primeira face que conheci dela foi a de seus defeitos. Bem, pois estou mesmo, porque aquela figurinha agitada e frenética não consegue esconder o coração maternal que tem, não de mim. Conheço-a há dezenove anos, desde que aquela mocinha petulante segurou o braço de um lutador em plena marcha, e conseguiu detê-lo. São dezenove anos do que é certamente a maior e mais preciosa conquista da minha vida: a amizade e o respeito dela.
Temos tido poucas oportunidades para destilar nossas peçonhas em particular, pelo que muito assunto fica atrasado, alguns já perdidos na memória. Praticamente só quando sozinhos no carro dela, seguindo para algum compromisso, é que conseguimos conversar, até algum bocó chamar pelo celular e nos interromper. Vocês não imaginam quanto conteúdo a conversa mais banal recebe, quando é ela quem fala. Pela experiência que relato, pensa-se ser uma idosa, até se ouvir sua voz e ver seu rostinho maroto que adora debochar da minha caretice. Mesmo com seis anos, dois meses e quinze dias a mais, ela é nitidamente mais jovial do que eu. E mesmo com sofrimentos que não são para serem publicados, mas desbastaram sua saúde física, ela continua linda, meiga (quando quer), afetuosa, uma dama que faria sucesso em qualquer país civilizado.
Eu sempre ficava triste quando sabia de ela ter terminado com um namoro. Primeiro porque é uma moça de educação católica e, embora não reclame, ter sua família constitui um sonho que ela merece; Segundo porque me faz perder ainda mais a fé na raça masculina, principalmente a goianiense. Mas vai ter homem frouxo assim no inferno! Esta cidade tem homens casados, bichas e frouxos, com raras exceções. Posso dizer porque moro aqui desde os cinco anos, ou seja, não sou daqui. O pior é que são frouxos machões, mas que morrem de medo de assumir um compromisso matrimonial, ainda mais com uma mulher forte e independente. Juro que se eu tivesse sido um desses namorados, teria sido o último, porque ela não teria escapado do altar. É triste ver a carinha dela se fazendo de forte, aquela boquinha arqueada e os olhos sonolentos, forçando uma vigília que o organismo mal consegue manter. Os amigos que amealhou a ajudam como podem, mas cada um (incluso eu) tem seus próprios dramas e ocupações, pois vontade de ficar vinte e quatro horas por dia à disposição dela não nos falta. O que lhe resta? Uma equipe reduzida, um departamento com instalações muito precárias, gente de fora que não faz metade do que é paga para fazer e a sobrecarrega, e um governo federal que não dá a mínima para funcionários como ela que, em empresas privadas, já estaria rica com tanta produtividade e horas extras. A última conta que fiz foi em 1998, ela tinha pouco mais de três meses de horas extras; de lá para cá não houve redução.
Eu rezo por ela. Ultimamente tenho rezado dois terços para ela e um terço para mim, inclusive para ter um meio de ajudar mais a criatura mais cristã no melhor sentido da palavra que já conheci.
De vez em quando ela ri do meu jeito tiozão, de eu ficar pasmo com cousas dos jovens, de estranhar ouvir ela dizer "gatinha" ou "gatinho". Passo pelo ridículo com o maior prazer se isso a alegra, pois ela precisa muito. Ela é um broto legal, sensacional, uma brasa, mora.
Ainda espero poder vê-la indo para casa, no máximo cinco horas depois do expediente, feliz a pensar na refeição quente que terá e certa de que uma equipe terá encaminhado tudo quando voltar, no dia seguinte.
Até lá, dedico todo o tempo que puder em seu auxílio, deixo meus ombros à sua permanente disposição, levo sempre que posso a única refeição que ela terá tido ao longo de todo o dia. Enquanto um merecedor de suas núpcias não aparece para ajudá-la, eu me dedico de corpo e alma à criatura mais elevada e levada da breca que a cidade já conheceu.
Feliz aniversário, minha opala de oito matizes.
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