07/03/2009

Como vejo a beleza

Há uns anos percebi que vejo as cousas de modo diferente, inclusive meus padrões estéticos destoam completamente do padrão vigente. Não se trata de uma simples opinião, pois esta muda e meus padrões de beleza têm sido longevos. Se trata da maneira como enxergo o mundo.
Entender como minha cabeça lesada funciona, é trabalho para Jesus Cristo e ninguém menos do que Ele, então me aterei à explicação de como enxergo a beleza... Pelo menos tentarei.

A maioria das pessoas enxerga as partes. Eu também vejo as partes, mas não só elas. Ovo, farinha e água, jogados no forno, não viram bolo. É preciso unir os ingredientes de forma harmônica e precisa, então assar de modo adequado e na temperatura certa, sem exceder nem tolher o prazo previsto para a feitura.

Do mesmo modo vejo um rosto feminino. Vejamos Audrey Hepburn. Se olharmos as partes, ela é um rosto bonito, nada além disso, até comunzinha. Se caricaturada fica parecendo uma camundonga. Mas que camundonguinha linda! Analisando os elementos do rosto, o nariz se destaca, mas ele combina tão bem com o formato do rosto, os olhos amendoados, a boquinha tristonha, e tudo é tão bem proporcionado e distribuído, que resultou num rosto lindo. Uma série de elementos apenas bonitos, arranjados de modo adequado, "enlindeceram" a diva.

As donas de casa que porventura estiverem lendo isto, sabem como um tempero ou um cozimento podem salvar um prato. O mesmo é com a beleza.

Não basta (nem adianta) olhar para os olhos, depois a boca, depois o nariz, depois as bochechas. Muito menos fixar olhares no baixo ventre. Causa impacto inicial, sim, mas quem vive de impacto é técnico de crash test. O impacto passa e só fica o estrago, como sempre acontece com os modismos.

Assim como um bolo não é cada um dos ingredientes, mas todos eles unidos e trabalhados, uma pessoa é muito mais do que as partes mais belas de seu corpo. Acreditem, Angelina Jolie não é só uma boca carnuda, Brad Pitt sabe e não se preocupa em divulgar. Fosse só isso, não teria se tornado a mãezona que é e o divórcio teria saído há muito tempo, porque ela é muito temperamental.

Não se pode exigir de um adolescente que veja o conjunto e admire o resultado. Embora haja as precoces e felizes exceções, os adolescentes só conseguem ver o que se destaca, é da natureza da idade. Só que eu nunca fui uma pessoa típica do meu meio, nem uma criança típica da idade. À margem dos estragos que isso me custou, aguçou meu senso estético e prático, passei a ver a verdadeira utilidade da beleza e asseguro, é muito maior do que o vulgo imagina. A maquiagem passou a ter bem menos efeito para mim, ela até destaca ou disfarça, mas é só.

Passei a ver a beleza que as rugas e o cansaço tentam esconder. Conseguem fazê-lo da maioria, mas não de mim. Para olhos treinados, as linhas da juventude se revelam debaixo das marcas da idade, a senhora simpática passa a exibir traços de beleza que constrangeriam muitas menininhas, se lhe fosse permitido ser bela. A sociedade acha que depois dos cinqüenta não se tem direito à beleza, daí tanta artista já ter carteirinha de sócia de clínicas de cirurgia plástica.

Da mesma forma, reconheço os traços delicados que uma vida dura e injusta tenta esconder sob as expressões severas e desesperançadas de uma mulher sofrida. Olhem bem, eles estão lá. Se ela pudesse exibí-los, seria uma beldade aos olhos destreinados.

Não sei se estou sendo claro o suficiente, talvez (quase certeza) não, mas estou sendo o mais claro que consigo.

Até acho algumas top models bonitas, mas nem de longe vejo motivos para tamanha paparicação. Elas têm impacto, talvez, mas não me impressionam. Elizabeth Savala é uma mulher muito bonita, que não tem sua beleza refinada devidamente aproveitada pela televisão. Exploram o talento dela, que é uma vilã e uma sofredora sem par, talvez porque o público actual não saiba apreciar uma beleza desse naipe. Para mim, não sabem dar-lhe papéis que respeitem sua beleza. A idade? Já falei disso lá em cima.

Como eu adquiri esse padrão é algo muito difícil de explicar. Posso dizer que ele se baseia na anatomia humana. Não muda com o tempo e a moda porque não me apego às opiniões, muito menos às minhas, que são ranhetas demais. Vejo o equilíbrio de traços e proporções com a mesma facilidade com que a maioria fixa olhares nos glúteos. Como consigo? Dois ingredientes: idade e vontade.

Idade porque só o tempo ensina a valorizar as cousas boas da vida, dá maturidade para aprovietá-las devida e intensamente, além de nos fazer reconhecer os limites que nos permitirão usufruir ad infinitum.

Vontade porque as velinhas do bolo não ensinam absolutamente nada. Podem colocar um livro de philosophia no lombo de um burro que ele continuará sendo um burro, só quererá pastar e copular. Ê, vida besta!

Isso se estende também aos objectos. Todo mundo baba por causa do "novo Vectra". O acho feioso. O antigo parecia um rosto feminino, delicado e com um olhar petulante, mas convidativo. O novo parece um cão raivoso mostrando os dentes, fora que ficou anguloso e perdeu em aerodinâmica. Mas causa impacto, agrada ao público alvo, do qual fui involuntariamente excluído.

Mas como já disse, sou atípico. Meus padrões só servem (provavelmente) para mim.

4 comentários:

Lótus disse...

Bem, talvez vc tenha dito tudo o q uma mulher de 30 e poucos anos (e 40 e poucos e 50 e poucos...) queira ouvir. Mulher de realidade, eu digo. Mulher de photoshop não vale!

Adriane Schroeder disse...

Verdade.
E as mulheres deveriam entender que concorrer com pessoas maquiadas e fotoshopadas é bobeira.

Nanael Soubaim disse...

Não se casa com photoshop, não se beija photoshop e não se tem filhos com photoshop.

irene disse...

Estes são olhos de ver...

Que delícia !!