18/05/2021

A imperdoável

 



Desta vez ela passou dos limites! Aquela xexelentazinha!!!!!!!!! Como se atreve???? COMO SE ATREVEEEEEEE?!?!?!?!?!?!?!?!?! SUBVERSIVA! TRAIDORA DAS CONQUISTAS SOCIAIS AO NÍVEL DE LIBERTAÇÃO DAS PESSOAS DE VAGINA!!!!!!!!!!!!!!!! Não bastou ter se casado! Não! Não bastou ter se aliado a essa tradição judaico-cristã misógina, homofóbica, genocida, opressora, perpetuadora de privilégios milenares dos povos ribeirinhos patriarcais! Ainda casou-se com uma pessoa de pênis! UMA PESSOA DE PÊNIS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Mas não é esse o pior da história! Não! Ela se atreveu a adoptar o sobrenome dele… Uma pessoa de vagina jovem casou-se com uma pessoa de pênis e aceitou usar o sobrenome dele!!!!!!!!!! Uma acinte contra as conquistas revolucionárias das pessoas de vagina ao nível histórico enquanto enfrentamento da sociedade patriarcal neandertal!!!!! Agora a pessoa de pênis vai dar opiniões na vida dessa jovem de vagina!!!!! NINGUÉM PODE DAR OPINIÕES NA VIDA DE UMA PESSOA DE VAGINA!!!!!!!!!!! Nossos corpos, nossas regras!!!!!!!!! E nossas regras proíbem essa atitude de submissão à cultura milenar segregatória às vontades absolutistas fascistas das pessoas de pênis!!!!! Só falta ela chamar essa pessoa de pênis de… de… de marido!!!!!!!!!!!!!! Isso destruiria todas as nossas conquistas e anularia todas as nossas lutas para derrubar esse sistema patriarcal estuprador injusto e perpetuador de privilégios burgueses!!!!!!!! Isso fará com que percamos todos os nossos direitos e sejamos novamente presas em jaulas conjugais! Mas eu sei o porquê! Eu (esta aqui) que leio pensamentos, vejo através do tempo e conheço a vida dela melhor do que ela, sei por que motivos essa pessoa de vagia teria traído nossa causa libertária! A literatura progressista explica em detalhes o plano maligno e perverso de predestinação que toda pessoa de pênis nasce sabendo e por isso é previamente culpada por todas as mazelas da sociedade corrupta e injusta em que vivemos!

 

Isso é uma tradição criada visando não a felicidade da pessoa de vagina, mas para colocá-la em seu lugar na sociedade patriarcal neandertal, mostrando que não passa de um objecto que naquele momento, está sendo passada de um dono para outro, de uma opressão para outra, de uma castração para outra, de uma escravidão para outra, de uma microssociedade opressora para outra, de uma autonegação para outra! A pessoa de vagina é toda enfeitada como um presente porque é só a isso que se resume nesse ritual que não serve para porcaria nenhuma, a não ser legitimar e consolidar os papéis pré-fixados de gêneros construídos ao longo de milhares de anos na sociedade patriarcal! A pessoa de Pênis com todos os privilégios e liberdades, a pessoa de vagina reclusa para cuidar do curral patriarcal e de seu rebanho, sem o direito de interromper a formação do filhote de pessoas! Enquanto a pessoa de vagina é reduzida a uma autômata escravizada, à pessoa de pênis é permitido estuprar outras pessoas de vagina estigmatizadas e mercantilizadas para satisfazer a construção de sua negação de sua homossexualidade!

 

É tudo uma construção social imposta às pessoas de vagina para sustentar a opressão do patriarcado neandertal opressor, porque casamento é como sexo, é pura construção! Pior ainda o monogâmico que é totalmente antinatural, inclusive o dos cisnes, de várias espécies de pinguins e araras, todos criados, construídos e estruturados por essa sociedade feminicida! É compreensível que jovens pessoas de vagina alimentem sonhos românticos construídos e impostos pela misoginia estrutural desse patriarcado negacionista de sua homossexualidade! Comprou a ilusão de uma felicidade não hormonal e portanto falsa e construída, na vã e idiota esperança de que aquela noite de glória e glamour vai garantir que sejam ambos felizes para sempre! Ela quer o sonho de uma noite de romances tolos em uma festa castradora em que a pessoa de vagina não é o centro das atenções, mas o centro das vigilâncias, porque a partir daquele maldito “sim” ela aceita ser propriedade de uma pessoa de pênis, em vez de viver sua vida em liberdade e seguindo suas próprias regras, e uma delas é não se casar com pessoas de pênis! Mas tudo o que ela realmente quer é gozar das delícias hormonais de uma lua de mel, porque é só a isso que se resume a felicidade, é só hormônio! A ciência provou que sim! Então ela deveria ter aproveitado a vida segundo as regras dela para o corpo dela, que deve ser livre e sem fronteiras para seguir as regras do nosso movimento!

 

E para finalizar, eu sou intelectual! Eu sei de tudo o que há para se saber! Eu conheço a verdade! Eu sou a verdade, o caminho e a salvação! A minha verdade é a única que realmente vale! Ninguém chega à revolução de gênero senão por mim!

 

Só faltou ela pedir a pena de morte para quem nascer homem. Vamos ser francos, a vidinha da Sasha é dela, foi bancada pela mãe até quando quis e teve todas as suas vontades respeitadas, um dinheiro que foi ganho honestamente e não deve satisfações senão à receita federal, porque essa não tem jeito mesmo. Namorou quem quis, o quanto quis, aproveitou a vida como quis e vai continuar aproveitando como quer, isso inclui ter escolhido se casar nos moldes tradicionais. O corpo é dela, a vida é dela, a decisão é dela! Não estou falando de uma garotinha oprimida que ficou presa em casa durante a vida inteira, obrigada a memorizar uma bíblia neopentecostal porcamente traduzida ajoelhada no milho sob o sol do meio-dia. Ela sempre foi livre, estudou muito, mas muito mesmo, formou sua mentalidade e sua personalidade por conta própria, apoiada pela mãe, que deu a ela toda a liberdade de que precisava! E em vez de ser mais uma idiota repetidora de bordões alheios, ela decidiu ser jovem e fazer o que os jovens mais gostam de fazer, que é contrariar um sistema injusto e opressor; no caso, o que dá a cada um a liberdade para obedecer cegamente as regras dogmáticas do grupo intelectual de ar condicional e julga o indivíduo pelo que a coletividade faz, generalizando ao extremo e ainda cobrando-lhe pelos crimes que algum de seus ancestrais mais distantes talvez pudesses ter cometido. Ela se rebelou não com pompa e holofotes, queimando carros de trabalhadores em protestos que no fundo são pró ditaduras ideológicas, mas intimamente, se decidindo por si mesma pelo romance tradicional.

 

Eu não sou o maior fã de Maria das Graças Meneguel, meu estilo é outro, mas uma das coisas que aprendi a admirar nela é a competência de sua administração tanto empresarial quanto pessoal. Todo mundo dizia que ela estava acabada, depois de romper com sua empresária, mas o supremo senhor da razão deu-lhe ganho de causa. De início, e isso faz muitos anos, fiquei com um pé atrás com o excesso de cuidados que ela aparentemente dispensava à filha, a mim parecia superproteção de mãe inexperiente, muitas vezes até comprando briga com seu próprio público por coisas às quais eu simplesmente daria uma resposta sarcástica chamando civilizadamente o idiota de idiota, mas isso é o que EU faria, seria a MINHA escolha resultante de MEU livre arbítrio para tomar MINHAS decisões, e só eu arcaria com as conseqüências. A vida doida de artista que ela teve deve ter influenciado seu comportamento e seus métodos… bem, para mim qualquer vida baseada em noitadas é doida, então minha opinião aqui não conta tanto, meus parâmetros são bem mais caseiros, já disse isso aqui um monte de vezes em vários textos, enfim. Ao contrário da mãe, que teve um início de carreira nas telas rendendo polêmicas acaloradas com as esteiras de turbulência se estendendo até hoje, foi polêmica em seu auge e continuou polemizando para defender seu rebento, como a mãe com “M” maiúsculo que decidiu ser, Sasha escolheu curtir a vida adoidada ao lado de um esposo para chamar de seu. Esposo… esposo… esposo…

 

Vocês podem acusar a Xuxa de um milhão de coisas, afinal ela está rotineiramente nas manchetes e é calejada o bastante para lidar com isso, mas as funções da maternidade ela cumpriu com louvor. Sua pimpolha seria chamada de “emancipada e empoderada”, se estivesse vivendo da mesada da mamãe em boates escuras cheias de drogas e promiscuidade gratuita, seria assim posta em pedestais como modelo de mulher livre a ser seguido, mesmo não fazendo absolutamente nada de útil, apenas buscando desesperadamente prazeres efêmeros e destrutivos que alimentariam narrativas rasas. Seria um ícone de algum movimento igual a tantos outros que faz o oposto do que prega em frases de redes sociais. Foi uma adolescente comum e deu as dores de cabeça que se espera de uma, nada muito além disso. Ela, entretanto, decidiu ser esposa, em condições nas quais teria de tudo para ser um manancial de desespero e tristezas para sua mãe, sendo inclusive retratada pela “mídia especializada” como uma garota fútil que vivia só para si, e por parecer uma garotinha fútil e egoísta era aclamada por colunistas de “celebridades”, só que ela provou o contrário. Enquanto expunha superficialmente ao público uma vida social, ela construía em sua intimidade a vida que realmente queria levar, e foi isso que revoltou certas pessoas… “formadoras de opinião… que se revoltaram por ela ter tido a sua própria contrária à que esperavam que tivesse, a fazer o que querem proibir os outros de fazerem. A máxima do “a vida do outro não é da sua conta” virou “a vida do outro é coletiva”.

 

Na época em que teve a Sasha, mesmo com o pai sendo conhecido e bem-afamado, foi duramente criticada por ser mãe solteira, inclusive pelo então ministro da saúde José Serra, que recebeu uma reprimenda dura da então também musa da vacinação infantil. Assim como tantas outras calúnias, inclusive de que seu “dixionário” ensinava as palavras erradas, ela esfregou na cara dele o quanto a sua participação na campanha incrementava a adesão dos pais e atenuava nas crianças o medo da injeção. Não, meus amigos, ela não era a única extravagante da época, os anos 1980 foram férteis em tosqueiras que fazem a Xuxa parecer uma simples boneca colorida. Ela se defendeu sozinha, diga-se de passagem, e ao que parece transmitiu essa experiência à filha, que teria então segurança emocional suficiente para trilhar um caminho paralelo ao de outra pessoa, no caso, um homem. Não tenho detalhes até porque ambas tiveram o bom senso de manter suas vidas realmente pessoais fora do alcance dos odiadores invejosos, que agem como fanáticos religiosos sob seus discursos libertários, mas tudo leva a crer que ela não foi prometida para casamento antes de a mãe nascer e tampouco foi levada agrilhoada para o altar, noves fora toda a especulação altamente passional dos opinadores birrentos, Sasha fez valer de facto o poder e a liberdade de sua emancipação plena.

 

Aliás, pelo pouco que a Xuxa já disse da vida pessoal da família, Zafir também teve participação na formação da então petiz, portando um homem ajudou a garota a formar uma personalidade autônoma e capaz de exercer seu livre-arbítrio em uma vida adulta e sem frescuras. Ou seja, a parte do patriarcado dessa equação teria sido altamente benéfica para ela, porque sabemos o quanto um cafajeste pode destruir a vida de uma criança, mesmo não morando sob o mesmo teto. E posto que certa feita a então infanta queria um irmão, e a mãe mandou pedir ao pai dela, é facilmente concluível que ele foi um pai presente e actuante, dentro do que sua carreira doida de artista lhe permitiu. No mais, sendo ele o pai da então menor, sem a sua permissão ela não teria ido para os Estados Unidos, para estudar e viver lá, então a abestalhada narrativa da opressão e submissão ao patriarcado ai, ai, ai mil, vai pra fora do Brasil, cai por terra por pura falta de alicerce. Viveu na cidade mais cosmopolita do mundo, com todos os perigos que vêm de carona nesse bonde, onde pôde ver tudo e teve a chance de experimentar o que quisesse, então decidir o que fazer de sua jovem vida. Ela teve sim escolha, assim como a mãe teve.

 

Eu sei que vocês estão estranhando eu falar de artista em um blog que tradicionalmente é avesso a isso, mas em verdade estou me referindo às pessoas e não aos personagens que suas carreiras demandam que vistam. Pessoas precisam ser ajudadas e fortificadas para que possam se defender sozinhas, buscando obviamente ajuda sempre que a carga for maior do que suas forças, em vez de serem rotuladas e estigmatizadas por faladores frouxos que fazem tudo o que dizem combater. No avatar da rede social, um sorriso e uma frase fofinha, mas a carga de ódio e rancor despejada contra quem se atreve a contrariar suas narrativas faria inveja ao mais imaturo dos mafiosos. Ou seja, mesmo quem aparentemente, durante uma vida inteira e pregressa, teria atendido a todas as expectativas de um grupo dito libertário, quando decide tomar suas próprias decisões sem consultar o manual da doutrina deles, passa a ser no mínimo cidadão de segunda classe, ou membro de uma casta inferior. O que lhes parecer ser conservador é demonizado e acusado de renascimento das trevas medievais, justo eles que querem mudar tudo para que então nada jamais mude para todo o sempre e “AI” de quem então tentar mudar alguma coisa.

 

Sinceramente? Mrs. Sasha, go ahead! Vá em frente e distribua bananas! Tu ainda és jovem, cheia de vida e tem décadas para mudar ou não sua decisão. Vá viver a vida adoidada com sua família, dar cascudos no senhor seu marido e mimá-lo quando ele fizer por merecer! Mande os detratores tomarem xarope de cicuta! Se eles encherem o saco, manda se verem com a sua mãe, ela sabe dar o recado direitinho… e benza a Deus, ela tenta parecer velha mas ainda é um mulherão!

2 comentários:

Unknown disse...

Realmente, as pessoas estão muito preocupadas com o outro e criando um radicalismo inverso.

Nanael Soubaim disse...

Não é de hoje.