Vamos ser francos, eu gostaria assaz que o panetone fosse incorporado à dieta diária do brasileiro. Por mim, ele substituiria fácil o pão francês, no dejejum tupiniquim. Seriam versões mais básicas, como o de frutas e o chocotone normais. Vá lá, aqui ou ali uma versão mais sofisticada ou comemorativa, deixando os especiais para os arredores de Dezembro. Mas é só! O comércio está pulando o corguinho de ré e olhos vendados!
Pensei que as decorações natalinas fossem ser retomadas assim que passasse o dia das crianças, havendo até o risco de o quinze de Novembro mostrar um Marechal Deodoro da Fonseca com gorro vermelho. Aliás, o risco deste ridículo ainda existe. Me enganei leda e placidamente, eles não esperaram porcaria nenhuma. Desde o dia primeiro, que atacadistas e algumas lojas já têm itens de decoração natalina, alguns têm até já seções dedicadas. Não são apenas itens para venda, são parte da decoração mesmo. Tirei a photographia acima há uns dias, podem ver para crer.
O negócio até pode parecer piada, mas é sério. O medo de ser o último a decorar o estabelecimento, já chegou às raias do patológico, esses caras deveriam ser tratados, ou vão passar a colocar guirlandas já no dia das mães! Acham graça? Pois é dessa forma que uma tradição acaba sendo banalizada e perdendo todo o sentido, correndo o risco de vir a ser esquecida no futuro, por desinteresse puro e simples da população. A banalização anestesia. O risco de se ouvir "Então é Natal" antes do dia de finados, existe. Alguém quer ver o bom velhinho como garoto-propaganda de serviços funerários?
Não, titio Nanael não é contra a livre iniciativa privada, nem contra a adequação de estratégias de divulgação e vendas, pelo contrário. Gostaria muito que o empresariado nacional fosse menos provinciano e anacrônico, porque não é o Detran que manda vereadores tentarem nos intimidar, para liberar o ilícito. Eu olho torto é para o exagero. Não por acaso, sou avesso ao carnaval brasileiro, especialmente ao televisionado. E o exagero sem sentido é parte inalienável desse provincianismo anacrônico de gente que sempre mamou, e não sabe mais sobreviver sem mamar no erário.
A livre iniciativa de verdade, respeita efemérides, não coloca o carro na frente dos bois e as rodas em cima da carroça. Hoje ainda é dia das crianças, e a divulgação a respeito foi medíocre, talvez asfixiada pelas eleições. Nunca vi campanhas publicitárias tão ruins, praticamente dizendo "Criançada, é tudo irado, então compre". Será que todos os publicitários competentes estão com rabo preso nas campanhas eleitorais? Eu ficarei muito triste se as campanhas natalinas também tomarem esse rumo idiota. Ouvir simplesmente "Ho-ho-ho, Papai Noel está nesta loja, venham comprar aqui", seria decretar a completa incompetência das agências contemporâneas de publicidade, ainda mais que já vi campanhas nestas décadas, que mereciam muito bem serem eternizadas em documentários pertinentes, seria o último prego no caixão.
Já faz tempo que não espero cousas muito boas dos departamentos comerciais, mas sinceramente, eu não esperava que ficassem tão ruins, não tão cedo e não para datas tão caras ao comércio. Não obstante o desleixo com a publicidade sazonal, temos ainda a crescente impessoalidade patologicamente gerundista dos atendimentos, que trata o cliente pelo número do cartão de crédito. O que isto tem a ver com o que escrevi lá em cima? Tudo. Pequenos desleixos em pontos importantes, se tolerados demais, acabam fertilizando outros, que juntos formam um complexo de desleixos graves. Tratar o cliente como tratam a efeméride, é só uma das conseqüências. Aliás, eu já experimentei uma pitada disso, há uns anos, asseguro que é muito ruim.
Há uma possibilidade de melhora e reversão, se o público começar a se incomodar com esses exageros. Infelizmente não será neste anos, os torcedores de partidos estão concentrados demais em querer que o seu candidato ganhe a qualquer custo e preço, preservar uma tradição secular não está nos seus planos, não até verem os outros torcedores chorando. Para o ano que vem, se algum apresentador tiver o bom senso de perceber esse exagero, a discussão em meios de longo alcance pode dar o cascudo que o comércio precisa, para perceber o fuzilamento comercial que está cometendo contra as datas mais importantes do capitalismo. Não que este vá durar muito mais, sem o comunismo para se contrapor, mas o que vir depois se serviria muito bem da parte boa de seu legado. Ah, o que virá depois? Não faço a mínima idéia, mas não se parecerá com o que conhecemos... Graças a Deus! Alguém aí ainda pensa que quela conversa mole de Lênin ainda tem fôlego? Pois pergunte ao médico da UTI.
O ideal, é que as campanhas e a decoração comecem juntas, de forma maciça, com não mais do que um mês e meio de antecedência. Porque isso pega o inconsciente de surpresa, mantendo o encantamento durante todo o período. Mais ou menos como aquela parábola do sapo cozido. O que foi aquecido aos poucos, se adaptou até desmaiar de calor e morreu. O que foi jogado na água já quente, se assustou e pulou fora. Este vai levar a lembrança da queimadura pelo resto da vida, enquanto aquele nem vida tem mais.
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