06/04/2012

Por que, Miriam?

Teu bom coração não se nega, Miriam, ele te trai tenro e sensível, detrás de tua postura épica e destemida. Ele sofre, pede que pares e lhe dê atenção. Mas como, não é mesmo? Tens tantos corações para cuidar e tão pouca ajuda para fazê-lo, na verdade tanta gente atrapalhando, que não sobra atenção para o teu próprio.

Sabes que há quem se disponha, Miriam! Por que então, não aceitas a ajuda? Não é só a ti que feres, feres os que a amam, presos na impotência das barreiras que tu colocaste ao auxílio. Eles sofrem, Miriam, ainda que seja o que queres evitar.

O que te impede, Miriam, de aceitar a ajuda, é o teu apego. És apegada à tua independência e tua liberdade. Ironicamente, é este apego que lhe tolhe aquilo que mais prezas, tua liberdade e independência.

Por que, Miriam? Por que? Acaso temes que uma ajuda seja porta para tentarem controlar tua vida? Isso não existe, tu mesma não deixas que a proximidade exceda a linha de teus domínios!

Ainda que tentassem, ainda que procurassem brechas em teus sofrimentos, para tentarem te dominar, não confias nos que te amam, Miriam? Eles não são páreo para o contingente que tens em teu favor. Quem, entre eles, Miriam, pode ser dar o luxo de ter um ex-protegido vindo de longe, apenas para dar um abraço e dizer o quanto o ama? Só tu, Miriam. Só tu.

Os recursos que movem em teu favor, não fazem falta, não se preocupes. Não fazem porque não são mais de quem os moveu, eles se dissiparão sendo ou não empregados, porque não servem para mais ninguém, Miriam. Os recursos que os seus movem em teu favor, são teus. Ninguém mais conseguirá usufruir do que te pertence.

Aceite a ajuda, Miriam. Aceitando-a, estarás ajudando a quem te oferece, acalentando o coração de quem se dispões a aliviar a tua cruz. Duas cruzes levadas pelos que as trazem, têm o peso de uma cruz, cada uma; duas cruzes levadas por dois que se ajudem, têm o peso de uma só. Entendes, Miriam, por que aceitar a ajuda aliviaria tanto o sofrimento dos que te oferecem, quando o teu próprio? São milhares de cruzes que querem compartilhar contigo, Miriam, milhares que teriam, assim, o peso de uma só.

Não perdes um milímetro de tua independência, Miriam, se aceitares dividir com eles as tarefas que a clausura imposta pelos perversos, te impede de honrar a contento. Não tomaria de cada um mais do que uma fração de tempo, que assim seria tão bem aplicada, que de modo algum se tornaria um ônus. Os teus olhos brilhando pela prestação de contas devidamente feita, ah, Miriam, não sabes o quanto isso vale aos que te amam!

Tua nobreza de sentimentos comove, Miriam, não menos nos comove a resignação em teu sofrimento. Comove e fere, a ti e aos que te amam. Feriria menos se te vissem livre, retomando tua vida de onde ainda podes, para consertar o que ainda pode sê-lo.

Mas pensas que entregar pequenas tarefas de tua pessoa, que não podes honrar a contento, é abdicar da independência tão cara que conquistaste ainda cedo, Miriam. De onde tiraste esta ideia? Acaso tua interferência, além das obrigações contractuais de tuas funções, tolheu a liberdade de algumd e teus pupilos? Algum deles está dependente de ti, depois da ajuda? Não, nenhum ficou menos livre, pelo contrário, mas tu não aceitas o retorno do amparo.

Isto é apego, Miriam. Tudo a que nos apegamos, nós perdemos, deverias saber disso melhor do que eu. Para resguardar tua liberdade, levando a ferro o termo de tanto, a perdeste. Ver a vida como missão, é nobre, transformá-la em um calabouço não é.

Até quando vais agüentar, Miriam? Tua saúde é delicada como tua compleição, não te permitirás muito mais tempo nesta toada. Até quando? Queres legar, aos que te amam, mais um motivo para prantos, Miriam? Não, sei que não queres, mas é o que fazes.

Aceite, Miriam, a mesma ajuda que ofertas aos que te buscam. Aceite que assim, também ajudas aos que te ofertam. Que te custa deitar tua cabeça dolorida em um de nossos ombros? Já nos deste os teus tantas vezes!

Desapegue-se de tua liberdade, Miriam, que ela volta. Tua independência não será sequer arranhada, por isso. Ainda serás dona de tua vida, de tuas decisões, de tudo aquilo que se fizeste senhora. Mas aceite, Miriam, a ajuda que te ofertam aqueles te te amam.

Ainda tens o tempo da maturidade a teu favor, não o desperdice. Nos permita ajudar como nos ajudaste, Miriam. Transformaste responsabilidade em penitência, não permitindo que entremos na cela em que se trancaste. Não aceitas nossa ajuda em cousas cotidianas, só porque, alegas, são de tuas contas. Que nos custa uma hora ou duas, em teu favor, Miriam. Por que não se desapegas do que não te pode ser subtraído?


Por que, Miriam?

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