26/08/2011

Vamos regulamentar!

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É para se regulamentar tudo o que não presta, mas que é praticado? Então vamos!

Regulamentemos o lobby!

Não importa se populações inteiras morreão de fome (ou assassinadas) com isso. Os lobistas existem e agem, por isso devem ter sua ação regulamentada. comecemos por fixar um limite e uma taxa pelos danos causados. Um limite porque se matarem todos os desassistidos de uma vez, não sobra ninguém para enganar e fazer os políticos parecerem bonzinhos a cada dois anos; uma taxa porque... porque... Ah, tudo neste país é taxado e retaxado! Por que com os assuntos regulamentados seria diferente? Assina a petição em três vias e três dagens, todas reconhecidas em cartório, seladas e acompanhadas de uma figuginha rara da Copa de 1970.

Para organizar melhor, e arrecadar melhor com taxas abusivas, serão categorizados em três grupos, com subgrupos a serem regulamentados por leis complementares:

Lobistas ideológicos: que defendem interesses de grupos que querem que o mundo seja do seu jeito, a despeito de a constituição preconizar a liberdade de expressão;

Lobistas econômicos: que defendem interesses empresariais que querem arrancar o seu couro a qualquer custo, desde que o custo também seja seu, e ainda serem tratados como heróis geradores de empregos, mesmo que paguem uma miséria aos empregados;

Logistas aleatórios: esta classe tende a ser discriminada pelas demais, uma espécie de lobbulling, mas eles terão a liberdade de contractar lobistas ideológicos para defenderem seus interesses e sustentar sua futilidade.

Também poderíamos regulamentar os crimes de assalto e afins, criando cotas de assaltos para os meliantes saberem e terem certeza de que terão o que levar para casa, no fim da jornada. O modo de abordagem e a contribuição mínima do cidadão seriam os pontos mais polêmicos, mas para isso os assaltantes poderiam contractar lobistas. A ação da polícia precisaria de freios, um manual para aprender a diferenciar o assalto legal do crime, mas claro que os meliantes precisariam se manter identificáveis, para não serem confundidos com bandidos não legalizados.

Furtos e roubos a estabelecimentos seriam beneficiados com a entrada exclusiva, o que impediria que o assaltante precisasse ferir um cidadão não-assaltante, já que gestos bruscos de temor podem ser confundidos com tentativa de agressão.

E o arrastão, esta modalidade reconhecidamente brasileira, passaria a ser uma atração turística, sendo praticada por profissionais gabaritados, que formariam uma onda de meliantes a tirar tudo do cidadão, que não saberia o que teria acontecido até ver-se nu em público. Com o tempo e o aperfeiçoamento, ganharia requintes de espetáculo, com iluminação especial, sonographia, telões gigantes, narração de comentaristas famosos, enfim... Estão vendo como a regulamentação de uma prática comum só traria benefícios?

Só seria proibido assaltar bancos e políticos, seria anti ético e os cem anos de perdão negados.

Outra cousa a ser regulamentada, já que acontece todos os dias e todo mundo sabe que acontece, é o bulling. O problema é que hoje essa humilhação se realiza pelas mãos de cidadãos despreparados, causando mais traumas do que o necessário e levando a vítima ao suicídio, acabando com uma promissora carreira de achincalhamentos e ausência completa de auto estima.
O bulliner (chique no úrtimo!) seria treinado e capacitado para deixar suas vítimas sempre no limiar da auto destruição, mas só até aí, para que pudesse se recuperar e ser novamente humilhada em outra oportunidade. Um prazo a ser definido por médicos seria fixado como mínimo entre cada prática, com isso a vítima teria até tempo de aproveitar melhor a companhia dos amigos, aos quais daria mais valor com o passar dos anos de bulling. Estão vendo? É só regulamentar que todo mundo sai ganhando, inclusive os laços sociais!

E a corrupção? Esta, meus amigos, é a coisa mais comum e antiga neste país. Então tem que ser regulamentada! Chega de políticos inescrupulosos nos enganando, tendo que mentir em campanha. Será criada a "Apropriação Regulamentar do Erário".

Políticos, funcionários públicos e afins não terão mais que agir na calada da noite, debaixo do pano, alimentando o crime organizado com lavagem de dinheiro. Agora haverá uma cota para cada um, proporcional aos seus ganhos, para livre acesso aos cofres públicos. As caixinhas pedidas para facilitações serão de valor livre, mas terão que constar nos autos a serem preenchidos diáriamente, com matrícula funcional, para que abusos sejam coibidos. O funcionário terá direito a pedir a contribuição, mas não deverá negar o serviço em caso de recusa, apenas deixará o contribuinte mofando na fila como todo mundo.

Ao fim de cinco anos consecutivos de "ARE", a média aritmética dos ganhos mensais extras seria incorporada automática e irrevogavelmente aos vencimentos do funcionário de carreira; cargos eletivos seriam, assim, também considerados de funcionalismo público especial.

O bom desta regulamentação é que o dinheiro retirado não seria perdido, pois haverá registro e será cobrado no imposto de renda, gerando mais receita, mais investimentos e mais cidadania aos que, hoje, precisam trabalhar na penumbra do preconceito social.

A erotização infantil. Claro! Afinal é correlato a sexo, sexo é natural, se é natural não faz mal e não deve ser reprimido.
Com a autorização prévia dos pais e/ou responsáveis, o agente erotizador poderia dar á criança mais inocente e novinha, um aspecto de verdadeira meretriz, colocando roupas curtas, apertadas e desconfortáveis, mas anestesiando tudo com música ruim em volume insuoportável, para facilitar coreografias próprias para maiores de vinte e um anos.

Com  isso a criança pode ter seu ganha-pão desde a mais tenra idade, evitando que engrosse as filas de desempregados recém-formados. Aliás, para quê estudar se o povo sustenta irracionalmente essas modas de mundo-bunda? Deixem os estudos para os feitos, que assim ficam livres da concorrência das pessoas bonitas e ganham o que merecem, por competência.

As regras seriam bem claras, feitas por pedabobos e filosofinhos que nunca saem de suas salas com ar condicionado, não sabem por onde seus filhos (se os tiverem) andam e não fazem as devidas adaptações de soluções que deram certo em países completamente diferentes do nosso.

Também poderemos regulamentar a música ruim, os programas-cão, o neonazismo, enfim, é uma lista longa que precisa da análise minunciosa da sociedade organizada.

Que foi, minha gente? Por que essas caras?
Deixem de hipocrisia! Tudo isso já existe, acontece, todo mundo sabe e geralmente finge que não vê. Já que é para regulamentar tudo o que não presta, a pretexto de dar liberdade e enfraquecer a criminalidade, vamos regulamentar tudo!
Já que as conseqüências de tudo isso é sumariamente ofuscada por análises primaríssimas e tendenciosas, e muita gente "intelectual" apóia, então vamos regulamentar tudo, até a completa devastação da Amazônia, ainda que isto gere um colapso climático e dizime populações inteiras.

Regulamentar não é a solução para tudo? Ou será que só há interesse pessoal, proselitismo disfarçado nessa bagunça toda?

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