24/03/2011

Estou com Solda e não abro

O macaco da discórdia
Eu nunca pensei que ansiaria tanto por um cataclisma! O ano de 2012 está demorando demais! As criaturas das trevas estão fomentando a imbecilidade como jamais o fizeram em toda a história e pré-história, cientes de que em breve serão mandadas para um inferno de onde não terão mais oportunidades para tanto. Estão se empanturrando antes que o banquete acabe.

Paulo Henrique Amorim, antes um jornalista que eu respeitava, fez um comentário abestalhado sobre a charge do amigo Solda, comentário que teve repercussões péssimas. O amigo Solda foi demitido do jornal O Estado do Paraná, este que eu também respeitava. Parou de publicar em papél e se enfiou na era digital, mas a mentalidade regrediu para os tempos da prensa manual. Em vez de investigar, com medinho do que o politicamente patético diria, preferiu punir um colaborador antigo sem dar (aqui) chances reais de defesa.

Acontece que por causa de uma charge, na qual Solda desenhou um macaco dando banana para os americanos, o acusaram de ter chamado Obama de macaco. Um grupo histérico, em vez de investigar e constactar os factos, simplesmente mandou e-mails para todo mundo, inclusive para os amigos do Soruda San, entre os quais eu, acusando-o de racismo, usando de uma longa e enfadonha retórica para embasar suas fundações rasas. O próprio Obama teria tomado uma atitude se fosse verdade, pois ele teve uma educação austera, severa e disciplinante o bastante para formar seu senso crítico.
Ou vocês pensam que os verdadeiramente racistas reacionários da oposição (eles sim, têm uma) engolem a leveza com a qual ele ganhou as eleições? Noutra oportunidade falo da sabotagem, que as festas do chá de erva maldita promovem contra ele.

Este é o Obama de Solda

Eu conheço o Solda. Acompanho há quase uma década o seu trabalho e o seu escracho. Ele é trabalhólatra assumido, se recusa a ser workaholic em prol da língua portuguesa. E ele trabalha vinte e quatro horas por dia, aos olhos dos leigos, pois até sonhando modela idéias para suas charges. Ele faz, na realidade, o que disse o sábio chinês, quando sábios eram profícuos na China: Escolha algo que goste de fazer e jamais terá que trabalhar. Dom Suelda gosta de alfinetar o que há de errado através do humor, que para quem conhece fere mais do que um tapa. Ele se diverte trabalhando como um entusiasta do automobilismo, em um laboratório de mecânica. Se ele for racista, nenê, então eles também são.

Não sei e não quero saber quem foi o burro, o completo analphabeto que impôs o termo "raça" à constituição, termo que os cientistas e os magos negam existir na humanidade. Mas a anta em questão acabou oficializando e estruturando algo que era informal, não assumida como deve ser todo e qualquer desvio de caráter. Hoje os grupos realmente racistas têm em que se apegar. Muito obrigado, cretino, por arruinar o trabalho pela tolerância e derrubada de barreiras, que minha geração tanto trabalhou para construir e terá que refazer a duras penas. Ninguém aceita ou rejeita algo na marra, na base do decreto. Mas vá dizer isto aos burólatras ineptos de Brasília! Raça, no conceito original, se refere a uma nação, não a um biotipo. Na época as nações pouco se misturavam e acabavam acentuando fenótipos, mas isto era conseqüência da desconfiança com os estrangeiros, que mesmo assim, vez ou outra, conseguiam entrar para a família.

Algo que os idiotas não sabem: Solda vestiu a camiseta do Obama, quando ele era candidato. Só não votou nele porque não é cidadão americano. Fez campanha como o grande fanfarrão que é, para desespero de certos grupos de Curitiba; estes sim mereciam ser vigiados, mas os histéricos só olham para quem aparentemente pode ser facilmente punido.

Fiz há quase um ano o texto (aqui) "Ditadura dos Coitados", onde descrevo uma ficção inspirada em factos reais, quando um blogueiro foi processado por dizer gosta "desse pretinho", referindo-se ao sabonete Phebo Patchouly, que eu também adoro. Clique no nome e visite a mítica marca, que não me deu nem dará um centavo sequer para dizer isto. Se ele dissesse que lambe o copo de uma loura gelada, poderia ter sido processado pelos caucasianos? Doeu ver a ficção se realizar com gente tão próxima.

Só se eu fosse muito ingênuo, para acreditar que não existe racismo. Só se eu fosse muito ingênuo, para acreditar que terror combate racismo. A verdade, caros leitores, é que muita gente ganha com essas histerias, ganha em termos políticos, ludibriando gente indignada e revoltada para alçar vôos mais altos e perenes. Conheço a política por dentro, conheço a imprensa por dentro, conheço a publicidade por dentro. Aos palhaços que vez ou outra aparecem, me mandando estudar seus manuaizinhos comunofascistas, respondo preventivamente que não sentei a buzanfa em uma sala com ar condicionado, em vez de trabalhar, para decorar baboseiras de um monte de pseudo-intelectuais cujas teorias a minha vida desmente na prática. Da mesma forma como gente assim me chama de "pelego" e "reacionário", panacas da mesma estirpe, mas de gangues rivais, me chamam de "comunista".
Não, eu não tenho ideologia. Tenho raciocínio lógico, senso do ridículo, noção de limites e outras tranqueiras que já são difíceis de se encontrar. Quem aceita rótulo é refrigerante, cousa que não bebo. Ideologia, ao contrário do que fazia há uns vinte anos, escraviza, é um dogma para ateus e teístas radicais.

Para os que ainda não foram capazes de deduzir e não se deram ao trabalho de perguntar, o macaco que Solda desenhou é o brasileiro, que finalmente deixou de imitar tudo o que se faz no exterior e passou a dar banana para os abusados, que aqui chegam como se o Brasil fosse seu quintal. Como sei? Ao contrário da maioria de vocês, eu conheço o ilustre cartunista. Um dos destinos preferidos dele é o Piauí, onde é recebido por uma comitiva bastante colorida de amigos nativos.

Mas engana-se quem acha que um profissional desta estirpe ficará na penúria. Engana-se esphericamente. Já tem gente indo para fila do osso que o cachorro bobo largou. E vejam que "ironia", um advogado negro, que os amigos chamam de "negão" na intimidade, abraçou a causa. Coloquei entre aspas, explico aos que se esqueceram do que é a ironia, para mostrar que se trata de uma ironia. Ah, sim, tem gente novinha e de boa vontade que não teve acesso... Pois cliquem aquiaqui, aqui, aqui, aqui e aqui, et voilá, um mundo novo, mais colorido e divertido se abre diante de vocês. Vão lá e se ponham a praticar, mas com moderação, que o mundo de hoje é perigoso para gente bem-humorada.

Uma lição de bom senso que tive na vida é: Pessoas não são fenômenos! Dois indivíduos não fazem a mesma cousa pelos mesmíssimos motivos. Se quer conhecer a obra, conheça seu autor.
Para quem ainda não se deu conta, querem implantar no Brasil a mesma amaldiçoada indústria de indenizações que há nos Estados Unidos. Criar inimizades gratuitas e dividir concidadãos de um país faz parte. Não há escrúpulos em quem vive disso. A desgraça do justo é o regozijo do perverso.
Recado para quem procura chifre em testa de cavalo

4 comentários:

H.F.S.S. disse...

Belo texto...
Sempre fiquei indignado com essa super proteção aos "afrodescendentes" (sim, conheço de ironia). Distorcem a verdade sempre de qual forma a alguém ficar ofendido, e como é fácil levar pro lado do pseudo preconceito. Mais preconceituoso é quem acha que um macaco pode estar simbolizando um negro. Ridiculo.

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Nanael Soubaim disse...

Pois sim! Proteção preserva, superproteção estraga, basta ver as crianças. Sempre haverá um oportunista querendo estragar uma boa causa, em proveito próprio.

Vy disse...

O que sei é que, já que o preconceito existe então TODOS somos vítimas dele. Já sofri muito por ser magérrima, ou pensa que as magrinhas não sofrem preconceito? E os obesos, o que dizer? Hoje, ninguém paga multa ou tem que pagar fiança por chegar numa loira e chamá-la de burra, ou se dirigir a qualquer um e dizer: "cala a boca branquelo!" Se eu fosse loira,já teria distribuído muito tapa na cara por aí. Então? Como fica?

Nanael Soubaim disse...

Elas por elas. Louros e magricelos não são minorias historicamente discriminadas... Aham, quer dizer, não que conste nos livros de história. Ruivos, por exemplo, por muito tempo foram associados à barbárie e hoje são objectos sexuais cobiçados. Cabe processo?