Mas que bela mulher!
Ter beleza aos vinte anos é uma dádiva divina, por meio da genética e dos bons tratos em casa. Ser linda aos quarenta, com muitos lutos, perseguições covardes, fragilidade física, inúmeras frustrações seguidas e sem uma vida pessoal que mereça o nome, é mérito.
Ela é bela por seus próprios e exclusivos méritos. Pelo coração livre de rancores e afãs vingativos.
A escassez de amigos que lhe valham o amparo necessário e urgente, pelo qual faz mais do que por merecer, não tolheu o olhar doce e meigo que seu coração nobre e autruista irradia. Ela sabe que seu olhar pode ser tudo de que um colega em profunda depressão (este mal pandêmico) precisa para seguir.
As agruras crescentes não logram êxito em curvar-lhe a coluna, bem como as víboras que almejam vôos políticos não quebraram a autoridade que sua obra impôs à instituição, outrora séria, que vem consumindo sua juventude há duas longas décadas.
Ela dedica sua vida, desde então, a atenuar a corrupção socialmente aceita com que o materialismo desenfreado (dos que pregam "cada um por si e todos contra todos") tem infectado o caráter de nossa juventude, assegurando um fio de civilidade e humanidade àqueles petizes que só esperavam se tornar técnicos, mas que por suas mãos acabam se tornando adultos. Idade é fácil de se conseguir, basta não morrer. Ser adulto envolve muito mais detalhes.
Tirando de seu bolso, da míngua que se tornou o provento de um funcionário público idôneo, para ajudar a manter suas funções, e com o desdém que o governo federal tem pelos que não são dos seus, entregou-se de modo quase sacerdotal ao labor que tomou por livre e espontânea vontade. Sempre dizendo que "os meninos não podem ficar daquele jeito". Os "meninos", às vezes, são pais e mães com mais idade do que ela. Se desdobra para compensar a decrescência do contingente com que pode contar, posto que seu trabalho não é bem visto pela banda podre que tem suas regalias, então não lhe concedem o mínimo para operar suas funções dentro de seu horário contractual.
Saiu dos correios para poder ter mais tempo. Que ironia! Hoje é cativa dele. O amor pela burocracia fútil, que disfarça a inépcia e a egóica mentalidade dos agraciados, impede que os serviços se dêem a contento, burlando os princípios éticos mais básicos e nobres do funcionalismo público, que é a presteza e urgência para com as questões públicas. Ela sabe quem paga o salário de quem e não considera isto uma vergonha.
Ela gostaria de tirar férias em uma serra, visitar parentes pelo país, se mostrar disponível em sua solteirice a quem acaba lendo "quero ficar só", ao verem sua dedicação cristalina. Ah, homens! Um bilhão de ticos mais um bilhão de tecos extras, brigando em vez de trabalhar, só lhes tolhem a visão; geralmente também a maturidade. Para estes ela não tem tempo, quer quem combine com tua mente afiada e ajude a atenuar sua índole encrenqueira. Encrenqueira pelas causas justas, que já a fizeram enfrentar um policial. Tudo por seus meninos. Um pretendente teria que adoptá-los também, ou não saberia compreender e aceitar esse amor desapegado ao trabalho e às pessoas, que nutre com carinho.
Ela queria sua vida em festa, entre deveres e prazeres que são de direito a qualquer cidadã. Poderia tê-la se fosse um pouco menos sensível à dor alheia. Poderia estar com seu marido e rebentos, se fizesse exclusivamente o que reza seu contracto profissional. Poderia, se não fosse ela. Há muita gente precisando para pouca gente se dispondo. Arregaça então as manguinhas e deixa seus sonhos à espera de uma oportunidade.
Diziam os filmes da época de ouro que as mulheres encrenqueiras são as mais belas. Se todas, não sei, mas Maria Cristina honra o postulado. Cutucar onça (ou touro bravo) com vara curta é com ela mesma. Desde que valha à pena. Diziam também que são as melhores esposas e mães... Acredito que ela seria, piamente.
Uma de suas resoluções é o uso intensivo do bom senso. Se considera e se assume perua. Gosta de roupas coloridas, cheias de bordados, bijouterias e jóias que de todo tipo. Gosta de carros grandes e potentes, tem horror aos hatches de mil cilindradas que se esgoelam para sair do lugar. Mas se recusa a se comportar como a adolescente que já não é. Roupas pensadas e feitas para adolescentes estão fora de seu guarda-roupa. Ela tem amigas e colegas que as usam, mas para si prefere a coerência. Advogada (em modo de espera) e assistente social, tem clara em mente a noção de lugar e oportunidade, na hora de se vestir e no modo de agir. Desde a época em que era uma menininha magricela trabalhando em uma creche, cuidando de rebentos alheios. Se o poder público fosse o que se diz, ela estaria escalada para receber a família presidencial americana, em Março próximo. Mas lá estarão os que adulam e enchem sua mesa de burocracia inútil.
Avessa à informática, desta vez se verá obrigada a fazer sua declaração nesta geringonça esquisita, de plástico e luzinhas, que nunca faz o que manda. Porque ela é mandona e gosta de ser acatada. Que não se subestimem, porém, sua competência e sua vontade férrea. Se for preciso ela entra na sala com uma marreta e faz a devida intimação ao software indolente. Ela tem e-mail. Como nunca voltou, suponho que o abre de vez em quando.
Um de seus sonhos é um Ecosport. Sabe-se lá por que critérios, pois tem uma queda arrebatada por sedãs grandes, como Fusion e Ômega. Fica com seu pequeno Fiesta sedã, que é o que pode ter no momento. São nuances de sua personalidade cristalina, sim, nem por isso escancarada a quem quiser bisbilhotar, pois detesta se ver vigiada. Mas adora dizer em tom desafiador "Eu sei muito bem o que você estava fazendo lá, viu!".
Me pergunto sempre até quando será submetida a este regime perverso, dedicando sua vida a uma instituição que há muito não merece nem sua presença, hoje liderada por quem faz vistas grossas aos escândalos dos que voltaram à cena política. Mas ela mesma já me disse, certa feita, que o mundo protege as pessoas más. As boas, com suas manias de negar o egoísmo, não são divertidas o bastante.
Dia vinte e cinco de Fevereiro, é dia mundial (não declarado) do amor incondicional ao próximo. É aniversário daquela quem olhará para o Mestre nos olhos, sem remorsos por ter feito menos do que poderia, quando seus feitos excederam até o salutar para sua compleição física. É quando os anjos descem um pouco mais às proximidades da Terra.
É dia de Maria Cristina.
Ter beleza aos vinte anos é uma dádiva divina, por meio da genética e dos bons tratos em casa. Ser linda aos quarenta, com muitos lutos, perseguições covardes, fragilidade física, inúmeras frustrações seguidas e sem uma vida pessoal que mereça o nome, é mérito.
Ela é bela por seus próprios e exclusivos méritos. Pelo coração livre de rancores e afãs vingativos.
A escassez de amigos que lhe valham o amparo necessário e urgente, pelo qual faz mais do que por merecer, não tolheu o olhar doce e meigo que seu coração nobre e autruista irradia. Ela sabe que seu olhar pode ser tudo de que um colega em profunda depressão (este mal pandêmico) precisa para seguir.
As agruras crescentes não logram êxito em curvar-lhe a coluna, bem como as víboras que almejam vôos políticos não quebraram a autoridade que sua obra impôs à instituição, outrora séria, que vem consumindo sua juventude há duas longas décadas.
Ela dedica sua vida, desde então, a atenuar a corrupção socialmente aceita com que o materialismo desenfreado (dos que pregam "cada um por si e todos contra todos") tem infectado o caráter de nossa juventude, assegurando um fio de civilidade e humanidade àqueles petizes que só esperavam se tornar técnicos, mas que por suas mãos acabam se tornando adultos. Idade é fácil de se conseguir, basta não morrer. Ser adulto envolve muito mais detalhes.
Tirando de seu bolso, da míngua que se tornou o provento de um funcionário público idôneo, para ajudar a manter suas funções, e com o desdém que o governo federal tem pelos que não são dos seus, entregou-se de modo quase sacerdotal ao labor que tomou por livre e espontânea vontade. Sempre dizendo que "os meninos não podem ficar daquele jeito". Os "meninos", às vezes, são pais e mães com mais idade do que ela. Se desdobra para compensar a decrescência do contingente com que pode contar, posto que seu trabalho não é bem visto pela banda podre que tem suas regalias, então não lhe concedem o mínimo para operar suas funções dentro de seu horário contractual.
Saiu dos correios para poder ter mais tempo. Que ironia! Hoje é cativa dele. O amor pela burocracia fútil, que disfarça a inépcia e a egóica mentalidade dos agraciados, impede que os serviços se dêem a contento, burlando os princípios éticos mais básicos e nobres do funcionalismo público, que é a presteza e urgência para com as questões públicas. Ela sabe quem paga o salário de quem e não considera isto uma vergonha.
Ela gostaria de tirar férias em uma serra, visitar parentes pelo país, se mostrar disponível em sua solteirice a quem acaba lendo "quero ficar só", ao verem sua dedicação cristalina. Ah, homens! Um bilhão de ticos mais um bilhão de tecos extras, brigando em vez de trabalhar, só lhes tolhem a visão; geralmente também a maturidade. Para estes ela não tem tempo, quer quem combine com tua mente afiada e ajude a atenuar sua índole encrenqueira. Encrenqueira pelas causas justas, que já a fizeram enfrentar um policial. Tudo por seus meninos. Um pretendente teria que adoptá-los também, ou não saberia compreender e aceitar esse amor desapegado ao trabalho e às pessoas, que nutre com carinho.
Ela queria sua vida em festa, entre deveres e prazeres que são de direito a qualquer cidadã. Poderia tê-la se fosse um pouco menos sensível à dor alheia. Poderia estar com seu marido e rebentos, se fizesse exclusivamente o que reza seu contracto profissional. Poderia, se não fosse ela. Há muita gente precisando para pouca gente se dispondo. Arregaça então as manguinhas e deixa seus sonhos à espera de uma oportunidade.
Diziam os filmes da época de ouro que as mulheres encrenqueiras são as mais belas. Se todas, não sei, mas Maria Cristina honra o postulado. Cutucar onça (ou touro bravo) com vara curta é com ela mesma. Desde que valha à pena. Diziam também que são as melhores esposas e mães... Acredito que ela seria, piamente.
Uma de suas resoluções é o uso intensivo do bom senso. Se considera e se assume perua. Gosta de roupas coloridas, cheias de bordados, bijouterias e jóias que de todo tipo. Gosta de carros grandes e potentes, tem horror aos hatches de mil cilindradas que se esgoelam para sair do lugar. Mas se recusa a se comportar como a adolescente que já não é. Roupas pensadas e feitas para adolescentes estão fora de seu guarda-roupa. Ela tem amigas e colegas que as usam, mas para si prefere a coerência. Advogada (em modo de espera) e assistente social, tem clara em mente a noção de lugar e oportunidade, na hora de se vestir e no modo de agir. Desde a época em que era uma menininha magricela trabalhando em uma creche, cuidando de rebentos alheios. Se o poder público fosse o que se diz, ela estaria escalada para receber a família presidencial americana, em Março próximo. Mas lá estarão os que adulam e enchem sua mesa de burocracia inútil.
Avessa à informática, desta vez se verá obrigada a fazer sua declaração nesta geringonça esquisita, de plástico e luzinhas, que nunca faz o que manda. Porque ela é mandona e gosta de ser acatada. Que não se subestimem, porém, sua competência e sua vontade férrea. Se for preciso ela entra na sala com uma marreta e faz a devida intimação ao software indolente. Ela tem e-mail. Como nunca voltou, suponho que o abre de vez em quando.
Um de seus sonhos é um Ecosport. Sabe-se lá por que critérios, pois tem uma queda arrebatada por sedãs grandes, como Fusion e Ômega. Fica com seu pequeno Fiesta sedã, que é o que pode ter no momento. São nuances de sua personalidade cristalina, sim, nem por isso escancarada a quem quiser bisbilhotar, pois detesta se ver vigiada. Mas adora dizer em tom desafiador "Eu sei muito bem o que você estava fazendo lá, viu!".
Me pergunto sempre até quando será submetida a este regime perverso, dedicando sua vida a uma instituição que há muito não merece nem sua presença, hoje liderada por quem faz vistas grossas aos escândalos dos que voltaram à cena política. Mas ela mesma já me disse, certa feita, que o mundo protege as pessoas más. As boas, com suas manias de negar o egoísmo, não são divertidas o bastante.
Dia vinte e cinco de Fevereiro, é dia mundial (não declarado) do amor incondicional ao próximo. É aniversário daquela quem olhará para o Mestre nos olhos, sem remorsos por ter feito menos do que poderia, quando seus feitos excederam até o salutar para sua compleição física. É quando os anjos descem um pouco mais às proximidades da Terra.
É dia de Maria Cristina.
3 comentários:
Oiêee, fiquei com um fio de inveja. Inveja boa, se é que ela existe... rsrsrs...
Lindo texto. Lindo saber que admiras tanto uma amiga e que ela seja merecedora de seu carinho.
Dê meus parabéns a ela e que desejo que seja muito, muito feliz e que conserve esse amigo que a vê com olhos de diamante.
Beijos e bom fim de semana.
E olha que me ative ao caráter, não discorri sobre sua plástica.
ficou lindo o post, uma verdadeira homenagem.
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