20/12/2010

ABPU-0001


E as regras de trânsito, como unificar?
 O Mercosul, que ao Brasil tem dado mais problemas do que alegrias, eu mesmo não tenho notícia de uma sequer, poderá ter uma placa unificada. (ver aqui e aqui)

A idéia é fazer como na União Européia, unificar a identificação e (quando necessário) a punição devida aos motoristas dos quatro países.
Se tu andares na contramão só para tirar sarro da torcida do Boca Juniors, ainda que consigas fugir, eles terão a alegria de poder ver a multa devidamente aplicada, pelo site do Detran do teu Estado. Ao menos pretendem que assim seja.
O grande problema é que, ao contrário da União Européia, O Mercosul jamais foi um bloco coeso, jamais teve interesses relevantes em comum, jamais se comportou como um bloco, ou seja, jamais saiu do papél.
Não me venham com essas caras, pois ao menor sinal de crise, nossos vizinhos se fecham feito ostras assustadas, querem nos verder tudo com os bônus do acordo sem arcar com seus ônus.

A primeira placa, provavelmente AAAA-0001, seria usada por um ônibus à etanol para transportar os presidentes dos quatro países em eventos pertinentes.
Para a maioria que já se esqueceu, tamanha a "integração" do "bloco", fazem parte peermanente do Mercosul: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Este, alíás, é o que menos nos dá problema, na verdade seriamos um bloco se todos tivessem a estabilidade política uruguaia.
Nossos dirigentes querem começar em 2016, começando por veículos comerciais, depois caminhões, ônibus públicos e então os carros particulares. Agora dê uma ligada para o Detran da tua cidade e faça perguntas a respeito. É tudo feito de cima para baixo e só revelado quando já há pouco ou nada a ser discutido, as autarquias locais recebem tudo de pára-quedas, no dia em que tudo entra em vigor, quando não com atrasos.

Um dos problemas que emperram esta idéia é a discrepância legislativa. Por exemplo, o divórcio na Argentina é bem mais recente do que por aqui, mas lá já se celebram uniões homossexuais. O Paraguai permite a importação de veículos usados, mesmo sem fins de coleção, por aqui as montadoras ficam de cabelo em pé só de pensar no caso.

O projecto já foi aprovado na última cúpula do Mercosul, mas pormenores permanecem brumosos. Nossa legislação de trânsito e homologação veicular é bem rigorosa. As leis de trânsito são em praticamente tudo diferentes, desde as regras até os encargos impostos ao contribuinte de cada país. Como unificarão isto?Aqueles carros chineses que desmanchavam ao menor impacto, há algum tempo já eram vendidos no Uruguai, os que vêm para cá são reforçados, ainda que a custa de desempenho e capacidade de carga menores. Provavelmente eles esperam que haja uma mínima concordância legislativa para futuro breve, pela viabilidade desta e de outras integrações que já tardar muito. Meu optimismo está aquém disto.

Mas falando por nós mesmos, vocês acreditam que o congresso e demais casas legislativas estão realmente se importando com isso? Que alguém de delonga imensas negociações para fazer o que são bem pagos para resolver rapidamente, mas votam em poucas horas o que lhes convém, vai se esforçar minimamente para dar início de facto ao Mercosul?
Não sei vocês, mas eu não tenho a mínima esperança de que isto ocorra sem incentivos financeiros ou políticos. Incentivos vultuosos, diga-se de passagem.
Nossa legislação continua sendo feita por achistas que sabem menos do que falam do que eu sobre celebridades. Com raras e felizes exceções, os parlamentares votam pela cabeça alheia, ou do líder da bancada. Este também não costuma colocar o país acima de seus caprichos. Se houvesse uma constituição para os quatro países, talvez fosse diferente, mas não há.

Particularmente eu gostaria que este bloco já fosse uma realidade. Gostaria realmente que toda a documentação de que um cidadão precisa já estivesse unificada, que não precisássemos sequer sacar a identidade para atravessar uma fronteira, que as tributações fossem pelo menos homogêneas, que tudo tivesse saído do papel. Mas não saiu. Temos um acordo com o México, que nossos vizinhos não têm. De lá compramos carros, muitos apenas montados no México, com peças das matrizes americanas, sem o excesso de taxas que os outros países amargam. A Argentina reclamou com razão de sobra, tem mais ligação com a Europa do que com a América do Norte. Nós não agimos como um bloco quando fizemos o tal acordo. Raramente os quatro agem como um bloco. Na photographia, de vez em quando, mas de resto é cada um com seus interesses. Não necessidades, que isto não interessa aos políticos, mas meramente interesses.

Me perdoem, caros leitores, o pessimismo que exponho, mas sou gato escaldado. O povo não está sequer ciente do que está acontecendo, nem das implicações de uma decisão deste naipe. Com o povo desinteressado, eles aprovam o que bem entendem.

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