11/03/2013

Fabricantes de auto estima

Texto e arte de Nanael Soubaim
Seu filho está triste? Não parece estar cem por cento feliz vinte e quatro horas por dia? Isso é terrível!
Pesquisas científicas recentes, com laudos conclusivos pagos à vista, mostram que 137% das crianças de seis meses de gestação até vinte e dois anos, sofrem em silêncio com a rejeição social. Destes, 155% se devem à sua aparência. 

Ser alvo de brincadeiras na escola, é o principal motivo de crianças se tornarem potenciais atiradores insanos, ou até suicidas. Vejam relatos de pais:

- Eu já passei por isso e era terrível! As pessoas olhavam para mim como se eu não fosse invisível, alguns até percebiam que eu tinha uma espinha na cara! Não quero que meus filhos sofram, não quero que fiquem contrariados, não quero nem mesmo que saibam o que é o mundo real.

- Quando eu era estudante, não tinha jeito. Ou nos alimentávamos direito, ou a acne proliferava mais do que o normal. Ainda me lembro de amigos fazendo brincadeiras sobre minhas espinhas, me lembro de eu mesma tirando sarro dos outros, mas isso não vem ao caso. O importante é que precisamos proteger nossos filhos de algo natural e passageiro.

- Não é porque faz parte das conseqüências de sobreviver à infância, que nosos filhinhos de açúcar devem passar por isso! É por isso que eles usam e eu recomendo o sebo-nete Azóica.  Eu também uso e recomendo, tal qual está no escripit.

O sebo-nete Azoica penetra fundo na pele, causando alergias e efeitos colaterais, mas eliminando a produção natural de gordura que entope os poros, tarefa naturalmente deixada a micro aracnídeos que os limpam sem cobrar um centavo, mas o nosso sebo-nete mata até eles, a sua pele fica limpinha e ressecada, necessitando depois de usar o creme hidratante Azoica super anti-UVA-UVB-UTERERE.

O que estão esperando, não deixem seus filhos expostos a situações que os ensinarão a lidar com frustrações e diferenças, evitando também assim que eles precisem pedir seu colo e estreitem os laços familiares. Vá imediatamente ao seu dermatologista e exija que ele receite os sebo-netes Azoica, ou troque de médico.

Este producto é contra indicado para uma pancada de casos, tantos que vocês não vão conseguir ler as letrinhas, muito menos na velocidade em que elas vão passar. Se os sintomas persistirem, só se persistirem após alguns anos de uso, então sim procure um médico, nós mesmos lhes indicaremos algum.

Pois é, meus amigos, vocês estão vendo novamente a indústria da auto-estima atacar nossos filhos. Novamente querem nos convencer, e não o fariam que não obtivessem uma margem suficiente de sucesso, de que eles só serão felizes se forem poupados do mundo real, se viverem confinados em uma bolha de ilusões até que chegue a hora de eles educarem seus filhos... Só que então não terão aprendido absolutamente nada, para fazê-lo.

A estratégia é manjada, usar imagens e nomes que remetam a alguma credibilidade científica, apelar para os seus corações e depois se apresentarem como a solução do problema. A tática também é simples, apresentar uma pesquisa pela qual ninguém em sã consciência poria a mão no fogo, mostrar artistas em cenas absolutamente forçadas e fazer parecer que nossos filhos NUNCA são capazes de se defenderem dos problemas cotidianos, e que uma conversa cotidiana para estreitamento de laços jamais atenuará eventuais problemas com auto-estiva.

Vocês sabem de que comerciais estou falando. Agora lembrem-se da cena em que a garota é alvo de uma brincadeira me mau gosto, mas em vez de ir ter com o safado que a fez, chega em casa choramingando. É chantagem emocional. Eles sabem que vocês são capazes de torcer o pescoço de quem magoar seus filhos, sabem e exploram sem escrúpulos.

Procurar um dermatologista antes de comprar o sabonete? Nem pensar! Precisa provar seu amor aos seus filhos, abarrotando a despensa de porcarias que vão eliminar TODAS AS DEFESAS NATURAIS DA PELE, e ainda causar alguns problemas alergênicos por exposição cutânea, que a gordura removida costuma resolver sozinha.

Sim, há casos, e muitos casos, em que se deve tomar providências contra a acne, mas não será ressecando toda a pele, eliminando por completo a biodiversidade do corpo humano. Que foi? Sim, caríssimos, nós somos biomas ambulantes. Temos no corpo dez vezes mais células estranhas do que nossas, a maioria absoluta não nos faz qualquer mal. mas eles as querem eliminar assim mesmo, tudo em nome de se ter uma pele de silicone. Essas criaturas microscópicas não estão conosco à toa, são elas que fazem concorrência com os agente patogênicos, deixando-lhes menos com o que possam se alimentar... Fora os que comem nossa gordura excedente, sem cobrar um centavo por isso.

Quando se precisa resolver problemas com acne, quase sempre aqueles creminhos e pomadas tradicionais, baratinhos, aplicados somente na área afetada, resolvem tudo, mas tudo mesmo. Só que estes productos não são vendidos como felicidade artificial, só como atenuadores de um incômodo, o que dá muito menos apelo aos nossos corações moles... Não me faça essa cara de bulldog zangado, ela não me engana! Você sentiu o coração apertado, quando pensou que sua cria pudesse estar passando pelo mesmo. Lamento informar que provavelmente está. Lamento informar que isso é necessário à boa formação psicológica do petiz. Lamento informar que terás que bancar a madrasta de vez em quando e mandá-lo se virar.

É a vida, minha filha! Não se trata de ser justa ou não, não existe outra para fazer comparação. É com ela que nosos filhos precisam a prender a lidar. Colocá-los dentro de uma bolha de amenidades e prazeres, como esses mercenários querem, só vai deixá-los frouxos para as dificuldades que a vida adulta impõe, e insensíveis à dor que eles mesmos não sentirem. Qualquer semelhança com aborrescentes quebrando boates e matando quem termina o namoro com eles, é mera realidade.

Não tem milagres aqui, mas também não tem segredo. Quem quer ter menos acne, uma pele mais saudável, uma expressão facial mais limpa, precisa abrir mão dos excessos da vida cotidiana. Precisa aprender a comer e o que comer, manter-se longe de drogas, deixar as (palavra odiosa) baladas para de vez em quando, fazer exercícios físicos com moderação, não pegar sol fora de hora, não usar roupas muito quentes, et cétera.

Uma vida de excessos vai cobrar seu preço, pagar para não tê-los é inútil, só vai adiar e acrescer juros á conta. Querem ter pele bonita? Qualquer website de dermatologia tem todas as dicas de que vocês precisam, de graça.

04/03/2013

Ecochatos e ecocegos

EV1 e Superbird; Sabendo usar, dá para se ter ambos no melhor de dois mundos.

Se me perguntarem qual dos dois é o pior, respondo que dou um pelo outro e não peço troco. Os dois são resultado directo da guerra suja de laudos científicos, que tomou conta de praticamente todas as áreas do conhecimento humano. Ambos são ameaças à perpetuação da espécie.

O ecochato ignora que o próprio ser humano é parte da natureza, e que é impossível haver qualquer actividade biológica sem geração de resíduos, por pouco que sejam. Os mais radicais pregam a extinção voluntária da humanidade, mas eles mesmos não nos fazem o favor de dar o exemplo.

O ecocego nega que a humanidade dependa da natureza para qualquer coisa, afirma até que queimar o Brasil inteiro não aferaria nem mesmo os países vizinhos, sem dizer qual foi o pseudocientista que afirmou isso. Seu sonho é devastar o planeta e vender tudo sem medir conseqüências, mas ele mesmo quer viver em uma alameda florida.

Tudo começou com a Eco 72, pouco antes da crise do petróleo deflagrada por Kadafi. Até então, era ponto pacífico que a poluição e o desmatamento desordenado estavam prejudicando a própria humanidade. Ninguém dizia para demolir todos os carrões com mais de um metro e  meio de comprimento, mas era consenso que o uso comedido por si só já reduziria drasticamente a poluição atmospherica, que chegava a níveis alarmantes em todas as metrópoles do mundo.

A partir de então, as pessoas passaram lentamente a se interessar por ecologia, mas ainda tinham alguns mitos na cachola. Por exemplo, a Amazônia não é o pulmão do mundo, este é o mar, a função da floresta é regular o clima, e faz isso com tamanha competência que ela produz seu próprio clima, permitindo uma diversidade e densidade ímpar de espécies. Muitas destas, aliás, estão fornecendo material científico e comercial precioso, ignorado há até dez anos.

No decorrer dos anos setenta, com a crise do petróleo, os extremos se exaltaram. Um lado berrando "Eu estava certo! Ahahahahahahah! O mundo está condenado e vocês são os únicos culpados!" enquanto o outro gritava "Esses comunistas safados querem roubar o seu emprego e destruir nosso modo de vida! Nenhum de vocês é bandido, nossas famílias não podem passar fome por causa de alguns passarinhos idiotas!".

Reagan, por meio do aumento do endividamento, e do aparelhamento da máquina de guerra, conseguiu controlar a crise financeira decorrente da crise petrolífera, inclusive fomentando a produção doméstica. O mundo ocidental ficou tão maravilhado, sem imaginar que a bomba estouraria neste início de século, que nem percebeu suas sabotagens ao desenvolvimento de energias limpas; tendo inclusive removido os painéis solares da Casa Branca.

Preciso dizer que o outro lado encrespou? Não, né! Ninguém se importava muito se em Cubatão, crianças nasciam anencéfalas por causa da extrema poluição, e do triste título de cidade mais poluída do mundo. Simplesmente olhava para o noticiário e esperava que Spectreman viesse limpar tudo com seus raios coloridos.

Ah, sim, tivemos o proálcool. O mundo inteiro nos invejou por uma década inteira. Mas a prioridade de nenhum governo brasileiro foi o Brasil, nenhum mesmo! O que deveria garantir nossa independência energética, virou mico.

Nesta esteira, vendo radicalmente o outro lado da moeda, os ecoxaropes começaram a gritar que a extinção dos motores seria a salvação da humanidade, da qual querem a pronta e voluntária extinção. Como fazer centros cirúrgicos funcionarem, como levar pacientes em tempo hábil aos hospitais, como transportar dezenas de toneladas de água e equipamentos até um incêndio a dezenas de quilômetros, como transportar família mais compras ou bagagem, como atravessar o oceano, enfim, como fazer um mundo integrado existir na base de pedais, é uma equação que eles não conseguem equilibrar; simplesmente porque não dá zero.

Cometendo o mesmo erro de um século atrás, demonstrando que parte significativa da população tem uma afeminação enrustida, soltaram boatos de que carro que não mata por câncer de pulmão e não ensurdece os outros não é carro de homem. E assim o consumidor idiota deixou que matassem o Chevrolet EV1. Só que as companhias conhecem a verdade, são elas que financiam e compram (ou compravam) os laudos pró-petróleo. Hoje temos mais de quatro e meio milhões de carros eléctricos pelo mundo, menos de vinte anos depois dos ecocegos terem matado o EV1. Para meus leitores habituais, eu não preciso desenhar.

D'outro lado, tão medonho quanto, estavam os radicais que pensavam que eram bichos-grilo. Mas só pensavam, porque a philosophia de paz e amor foi p'ras cucuias em três tempos. Eles não ficaram nem um pouco felizes com a redução acelerada dos níveis de emissões, queriam que as máquinas deixassem imediatamente de soltar carbono. Quando os eléctricos ressurgiram, em vez de aplaudirem, atacaram com veemência o potencial poluidor das baterias, sem dar pelotas à possibilidade de se dar pequenas cargas até pedalando, nem para o quanto é remota a possibilidade de o material reativo vazar. Não, eles querem que se instale um gerador em cada roda para alimentar o motor, e assim fazer o veículo funcionar por moto perpétuo... Não, não é piada. Já li e ouvi isso muitas vezes, na internet e ao vivo, de quem ignora as mais elementares leis da física.

Caríssimo leitori, vosso amigo de fé, irmão camarada vai lhes dizer o que a experiência me ensinou, e o que deu certo à margem da guerra de laudos corrompidos que os dois lados aloprados divulgam, ainda que matando a comunidade científica de vergonha.
  • Seus carros poluem. Triste isso, não? Mas dá para fazê-los poluir menos. Como quase sempre andam com pouca carga, vocês podem esquecer as marchas pares, na cidade. Arranquem com a primeira marcha, passem, para a terceira e, se for o caso, para a quinta. A aceleração fica mais lenta, mas o consumo cai bastante, na mesma proporção das emissões, e cidade não é lugar de apostar corrida;
  • Andar de bicicleta é muito bom, principalmente se lembrar que a calçada não é lugar para elas. Se puder adaptar um kit de bateria, controlador e motor de furadeira nela, ou mesmo pagar o preço abusivo cobrado por uma eléctrica no Brasil, teu transporte individual estará garantido para a maioria absoluta dos casos, desde que não chova, não precise levar carga nem enfrentar rampas íngremes. Use o bom senso;
  • Quantos Cadillac Big-Block 500" vocês costumam ver pelas ruas? Poucos, né? Nem todo dia se vê mais do que um. Embora seja individualmente um carro beberrão, a soma de seus exemplares é pequena, assim como as emissões totais da espécie. Um carro popular, no conjunto de seu modelo, pode facilmente poluir muito mais do que uma percentagem muito grande dos muscle-cars, que além de poucos, também são utilizados com parcimônia... Ou não haveria viatura no mundo que os pegasse;
  • Falando em carro popular, vamos a um mito muito arraigado. Pensa mesmo que trocar de carro a cada três anos, ou mesmo todos os anos, te garante uma postura ecológica? Tu precisas ficar com ele por cinco ou seis anos, para neutralizar o impacto ambiental de sua construção. Para reverter, no mínimo oito anos, tempo suficiente para ele sair de linha e valer uma ninharia, no mercado de usados;
  • Vamos ser sinceros, transporte público brasileiro é uma desgraça para a acepção da palavra. Mas só porque brasileiro acha que progredir é andar sozinho em um utilitário esportivo, dentro da cidade, usando só marchas baixas. É este povo, ou seja, nós, que deixa o governo entregar o transporte público nas mãos de gente indicada por pilantras dos bastidores da política. Não fosse assim, nenhuma cidade com mais de um milhão de habitantes estaria sem metrô, inclusive Goiânia;
  • Separe o lixo. Ponha material orgânico em um saco e resíduos humanos em outro, bem como papel, vidros, metais, plásticos, borrachas, trapos, material electrônico e madeira, tudo devidamente identificado. Cabe um adendo, as lâmpadas fluorecentes compactas devem ser descartadas inteiras, em caixas forradas e com seu conteúdo identificado. Simples? Nem tanto...
  • Tirem seus traseiros dos sofás, parem de ver bizarre-show que nada tem de realidade, e façam suas associações de bairro, de classe, do que seja, exigir a cabeça do secretário municipal, se ele não providenciar imediatamente um centro decente de triagem, separação e encaminhamento para reciclagem. Não, meus amigos, eles não entendem outra linguagem, tanto menos quanto mais comprometidos com as próximas eleições estiverem. É para colocar os safardanas contra a parede, deixando claro que suas carreiras políticas estão por um fio;
  • Seu pinto não vai cair, se não pegar uma doença grave o não o cortarem fora. Salvo estas duas situações, e nenhuma outra, NADA DO QUE FIZERES VAI AFETAR TUA MASCULINIDADE! Então, benzinho, não tenha medo de rodar numa daquelas motoquinhas movidas à pilha. E caso não saibas, é bastante simples envenenar uma, converse com um técnico competentes, o que poderás ver pelas instalações de sua oficina e as coisas que ele faz no tempo livre. Som? Dá para se colocar, sem grilo;
  • Podes comprar um super carrão eléctrico, mesmo sabendo que ele custa quase o dobro do similar de mesmo desempenho? Para quem é o carro, heim? Então, mané! Compra e não dê satisfações aos outros. Tens mesmo um Plymouth Superbird na garagem? Estás com medo de quê? Use a melhor gasolina, os melhores aditivos, o melhor lubrificante e desfrute de teu carro! Se tens bala para comprar este foguete de asfalto, é porque podes mantê-lo sempre na sua melhor forma, basta seguir o que eu disse sobre andar na cidade;
  • Tu não gastas mais por um chocolate fino? Por um destilado mais elaborado? Por uma roupa de marca? Então por que vais economizar sem necessidade em teu carro, na tua casa, na tua alimentação, no teu lazer, enfim, consigo mesmo? Artigos que geram menos impacto são mais caros até conseguirem escala de produção para baratear, isso só depende do consumidor, ou seja, de nós;
  • Não se mete na vida alheia. Desde que o outro não esteja burlando uma lei, ou prejudicando deliberadamente os outros, deixe-o seguir sua vida. Nada é mais capaz de transformar alguém em inimigo de um conceito de vida, do que ser maltratado por causa dele. Preciso desenhar? Não, né.

Todo o resto é especulação, campanha difamatória, ignorância ou mentira lascada mesmo. Lembrem-se de que vivemos uma época em que pesquisas bombásticas são desmentidas diariamente por novas pesquisas, que são desmentidas pelas consecutivas e por aí vai. Antes de darem crédito ou desacreditarem em alguém, vejam quem está por trás daquela informação, quem financia a pesquisa e a notícia, qual o histórico do pesquisador, mas sob hipótese alguma acredite só porque está escrito, ou porque vai de encontro com sua ideologia ou seja lá como chame suas idéias. Empresas fazem coisas boas e coisas ruins, são geridas por pessoas, não por anjos ou demônios, só por pessoas.

Exemplifico com as ditas terapias alternativas. Amaldiçoadas por céticos radicais, e tidas como salvação suprema pelos bichos-grilo radicais, elas foram combatidas à exaustão pelos laboratórios, porque reduzem a necessidade de medicação. Como sei? Dez anos trabalhando em vigilância sanitária, filhos. Eu vi tudo isso acontecer. Porém, como toda obra humana, essas terapias têm seus limites e contra-indicações, que qualquer terapeuta sério sabe levar ao paciente. A Avnisa liberou esses tratamentos, mesmo sem seus defensores terem bala para fazer lobby, porque apresentaram efeitos práticos mais do que suficientes para merecer o crédito. Isto é só um exemplo ilustrativo, porque gente completamente ignorante combate ou exalta sem ter conhecimento de causa, usando bordões, frases prontas, palavras de ordem  e gritos de guerra.

Guerra, aliás, se deixarmos, é no que os dois xaropes econeuróticos vão acabar mergulhando o mundo. Entre eles, a guerra já existe. E numa guerra, vocês sabem quem é a primeira vítima.

23/02/2013

Maria Cristina 6

Seu olhar notívago, cansado, vislumbra as brumas que não lhe encobrem mais o futuro, que ora é passado. Seu olhar sereno, hispano, sobrepõe suas notas à voz ainda juvenil que ressona soprano.

Não quer ser celebrada em sua boda, não quer ser perturbada em seu labor, só quer dar conta do trabalho ao qual se entrega toda.

Suas mãos cansadas escrevem, cientes do peso de cada palavra posta em papel, ciente daquilo a que servem. Suas mãos finas ordenam, para não se perder pedaços de vida que de lá lhe acenam.

Não quer ser adulada por seu valor, não quer aturar pessoas mascaradas, só quer dedicar-se ao que faz por puro amor.

Suas palavras duras, inspiradas, dão conta daquilo que o regular não mais consegue, mas sempre puras. Suas palavras preciosas, adocicadas, dão bálsamo às feridas d'almas desesperançadas, lamuriosas.

Não veste a carapuça de santa, se mostra humana até em seus rompantes, só quer voltar à estrada onde sua vida canta.

Seu caminhar pesado, exaurido, refaz os caminhos de sempre, como se pudesse encontrar o ponto desviado. Seu caminhar seguro, consistente, insiste em se esperançar e construir seu futuro.

Seu coração morno, ferido, acolhe cada filho que lhe emprestam por alguns anos, melhorados no retorno. Seu coração espaçoso, confortável, leva gente sem medir pesos, carinhoso.

Não se arrepende do caminho escolhido, prefere a dor da saudade ao remorso de uma omissão, só pede que o Pai devolva seu sonho esquecido.

Seu rosto abatido, saudoso, tantas vezes alvejado pela injúria profana dos pusilânimes, ainda erguido. Seu rosto tão lindo, angélico, por si só abrandando a dor do seu próximo, sorrindo.

Não se compara o vulgo à sua compaixão, tantas vezes enfrentando o poder oficial pelo indefeso, quando quem deveria nem dá satisfação.

Essa pessoa existe, perfeita em todos os seus defeitos, carrega em seus braços quem não mais consegue andar, quando ela mesma precisa repousar.

18/02/2013

Uma bilionária entre nós


Yoani Sánchez, famosa multi bilionária, acaba de desembarcar no Brasil. A magnata, que fez fortuna atacando cruelmente o pobre coitadinho do Pinel Castro, desceu de sua nave espacial particular, precedida de cento e cinqüenta seguranças fortemente armados, que rechaçaram os pedidos de clemência em favor do mártir cubano.

Logo atrás dela, cerca de duzentos servos trazem sua bagagem de mão, seu cãozinho selecionado e modificado geneticamente, e seu casal de aves-dodô. Todos vestidos com fraque e cartola, ou tiara de prata, no caso das servas. Todos descendo e cantando a musiquinha "Lere-lelê lere-lelê lelê...".

Em sua curta estadia, Yoani pretende divulgar seu primeiro o livro em língua portuguesa, o "Eu, traidora e mercenária", onde conta como enriqueceu com dinheiro americano, sendo agente secreta da CIA em Cuba. Logo na apresentação, ela confessa suas torpezas e ataques maldosos contra a verdade sagrada e absoluta do grande líder Pinel Castro.

Durante as palestras que dará, só para quem pagou dois mil dólares adiantados, por cadeira, ela ensinará a se tomar gosto pelas desigualdades sociais, ver com escárnio a manifestação de livre opinião, e a zombar da infância de crianças pobres. Revelará ainda seus planos para destruir o paraíso para mulheres e homossexuais em que a ilha se tornou, sob a batuta bondosa e misericordiosa de Pinel Castro.


Fonte: Blog da Regbit
Enquanto isso os gatos pingados que representam, sozinhos, toda a população nacional, clamam para que ela deixe o Brasil, ou ao menos não faça os enormes estragos sociais junto ao enquanto perante a um nível de, que por sua culpa assolam o paraíso cubano. Afinal, é ela a a única responsável pelo embargo à Cuba, é ela quem seduz jovens inocentes para a ilusão da democracia e liberdade de expressão, é ela quem convence os traidores a humilharem Pinel Castro, mandando dinheiro para um povo que já vive tão bem, mora tão dignamente e tem suas mulheres tão respeitosamente tratada pelos taxistas, sob a rígida vigilância dos fiscais do governo.

Se tivéssemos um governo de esquerda de verdade, o avião teria sido abatido em alto mar, ainda que matasse todos os outros passageiros, tudo em nome dos ideais. Mas não temos! Dilma é uma banana! Nem censura com fuzilamento sumário ela impõe!

Somente um governo vendido ao imperialismo americano, capacho da CIA, um governo de viúvas enrustidas do FHC, é que poderia deixar uma traidora perigosa invadir o território nacional, sem permissão, sem passaporte, sem lenço e sem documento! Eu vou! Por que não? Por que nãããããããoooooo?

Oh, coitadinhos de nós! Quem poderá nos defender? Yo! El Chavolín Aloprado!

Pepitos de my corazón, eu tinha quase jurado a mim mesmo que nunca mais tocaria em assuntos políticos, especialmente quando fosse de política internacional... Mas não dá! Uma pessoa na minha idade, não tem muita tolerância com infantilidades vindas de adultos. Tanto não dá, que teria quebrado a promessa isso há uns meses, se a tivesse feito.

E por que retomei o tema? Primeiro porque o blog é meu, o editor dele sou eu e eu escrevo o que eu quiser, já que sustento uma democracia para isso mesmo... Muito mequetrefe, mas ainda é uma democracia, né, Yoani!

Segundo em respeito aos meus leitores, que quase sempre acabam se tornando meus amigos. Mesmo muitos amigos de tendência à esquerda, enfiam suas cabeças no buraco mais próximo quando ouvem alguém usar os termos "justiça social", "liberdade de expressão" e "democracia para descrever o que há em Cuba e na Mocréia da Morte. Especialmente a sensata amiga Anita, que é estourada, mas sempre estoura em prol do bom senso e da maturidade psicológica.

Terceiro e último porque não me deixariam comentar nas páginas dos jornais. Sempre juntam turmas imensas, ou um número imenso de fakes, para gritar em maiúsculas as palavras de ordem e os discursos a que se resumem seus argumentos. Só ouvem e lêem o que sai da imprensa oficial. Querem ser ouvidos, mas não toleram ouvir.

Não, eu não sou contra haver uma imprensa oficial, sou contra ela ser a única imprensa legalizada em um país.
Não, eu não sou contra o Estado fomentar pesquisas de toda sorte, sou contra ser o único financiador legal em um país.
Não, eu não sou contra haver empresas estatais no mercado, sou contra serem as únicas autorizadas a funcionar em um país.
Não, eu não estou ganhando um centavo sequer para escrever isto. Estou ferrado e meu computador vive dando pau.

Sejamos francos, se ela recebesse um décimo do que a acusam, ela não teria mofado por anos em filas para receber passaporte, que sempre fora negado SEM EXPLICAÇÕES à cidadã; ela estaria vivendo em uma bela casa de praia na Costa Oeste americana, mandando milhares de dólares por mês para sua família. Esta, aliás, é uma das principais fontes de renda de muitos, mas muitos cubanos.

Yoani teria cidadania americana quando quisesse, ainda mais com a rede de amizades intelectuais que tem pelo mundo, especialmente no Brasil. Mas preferiu permanecer em território cubano, onde foi presa várias vezes, sem acusação formal; algo que a nossa juventude imatura e mimada  parece ter esquecido o que é. Não, não quero que saibam na pele, nem de longe quero que sintam o que até uma criança de colo sentiu, ao ser presa com a mãe. Só gostaria que parassem de ler, ver e ouvir informações de uma só fonte.

Uma fonte única, ainda que seja de boa fé, e isso nenhuma ditadura tem, acaba cometendo erros. Eu leio fontes de direita, de centro, de esquerda, de anarquistas, de alienados, enfim, eu não excluo uma fonte só porque me parece antipática. Nenhuma mesmo. Ter fonte única e considerá-la totalmente confiável, não conseguir dar bom-dia sem apelar para discursos e palavras de ordem, é dogmatização, lavagem cerebral pura, torpe e simples.

Eu já li os textos dela. Ela sempre deixa claro que conhece, e lamenta pelas injustiças sociais no Brasil. Nunca escondeu isso. Também deixa clara sua personalidade irritadiça, quando tentam usar sua vida pessoal como desqualificador. Ela é brava, inquieta, pavio curto e tudo mais. Mas dizer que ela traiu seu país, é como acusar o Fiqueiredo de leso-pátria, por ter colocado Maluf em seu devido lugar, ao dizer que prenderia e arrebentaria quem se opusesse à transição democrática.

Ela não quer que Cuba se torne um paraíso especulativo, quer simplesmente que se torne uma democracia, onde o povo possa escolher quem vai representá-lo e, assim, ter chances de conseguir uma vida digna. Não sei se vocês leram as primeiras reportagens sobre Cuba, mas mesmo as mais elogiosas afirmavam que lá se vive muito mal, tanto que usaram o facto de Yoani ter comprado banana e tomado cerveja com os amigos, para dizer que estava enriquecendo com o suborno da CIA.

Meu Deus!!! Eles têm uma base em território cubano, uma base enorme. Se qualquer presidente americano dissesse "Tomem o poder", mesmo que houvesse potência militar que fizesse frente, e não há, não haveria tempo para reação. Cuba está aos pandarecos, só os hotéis para turistas desfrutam de infra estrutura mínima. Seria fácil, o povo já está acostumado a prisões arbitrárias, e como os espiões do regime andam à paisana, poderiam prender qualquer um que se opusesse. Qualquer um mesmo.

Voltando ao caso específico... Os fulanos nem conhecem a cobra-criada, mas boa gente, e já enchem a internet de protestos contra sua presença no Brasil, como se isso fosse nos fazer algum mal. Nem entrarei em detalhes sobre as vistas-grossas para com as denúncias que eles se recusam a averiguar, já que só lêem o que a imprensa oficial manda, como os fiéis de certas igrejas caça-níqueis... Tenho muitas amigas cobras-criadas, não é necessáriamente prejorativo, sei do que estou falando.

O que mais desabona nossa democracia, já tão combalida, é fazerem acusações sem apresentar absolutamente nenhuma prova. Se houvesse uma só prova real, ela jamais teria saído da última detenção. Acontece que ela é muito popular, muito bem-quista na ilha. Como sei? Lição básica de política: Não se molesta um herói nacional, sob hipótese alguma, ao menos não de modo que pareça perseguição oficial. Longe de ser uma heroína, suas seguidas solturas mostram que a população ficaria extremamente aborrecida, se algo lhe acontecesse, porque não foi uma nem duas, são de perder a conta a quantidade de pessoas que somem nos porões da ditadura.

O azar dos Castro, foi ela ter conseguido se comunicar rapidamente. Claro que neste ponto, houve ajuda dos Estados Unidos, mas não do governo. A ajuda, pela disseminação rápida e eficaz do blog, se deveu aos fugitivos do regime, que gostem os ditadores cubanos ou não, são quem garante um mínimo de dignidade aos parentes que ficaram em território cubano, e garantem uma parcela considerável do PIB. Não fosse verdade, essas remessas seriam ilegais. Afinal, só a Mocréia da Morte ainda tem mesada e, diga-se de passagem, a China já pensa seriamente em cortá-la.

Finalizando, nas minhas atribuições constitucionais de livre expressão: BEM-VINDA, YOANI. FIQUE À VONTADE, QUE A CASA É NOSSA. DIGA O QUE QUISERES, AQUI TU PODES.

14/02/2013

Isso mesmo, tira de linha!


Correctíssima a decisão da Volks! Corretíssima a decisão do Contran. A Kombi tem que sair de linha mesmo! Carro antiquado, inseguro, desconfortável, feio, cheive, paia, radauêi-tererê! Nem faz cara de fisiculturista com diarréia, p'ra impressionar as turmas!

Além do mais, os frotistas não ficarão órfãos por muito tempo, será importada uma van de tração dianteira, que nem pensem em colocar nos atoleiros pelos quais a Komboza passa tranqüila, que custará apenas o triplo do preço. Vejam só, é uma van moderna, segura, confortável, repleta de confortos e dá status. Kombi não dá status, nem seus fãs, que querem um veículo racional e confiável para o trabalho duro.

Qualquer veículo que não proteja integralmente o seu condutor, em uma colisão, tem que ser tirado de linha mesmo! Não só isso! Tem que recolher todos os exemplares e demolir! Em troca, para os ex-donos, poderiam dar um descontinho de 0,5% na compra de uma motocicleta genérica de uma montadora chinesa.

Kombi é um horror! Só quem nunca andou numa p'ra achar que estou exagerando! O nível de ruído é muito alto! Por isso prefiro motocicleta, que é silenciosa, segura, ágil no trânsito, permite andar na calçada lotada de gente, andar entre os carros e quebrar os retrovisores, é fácil de roubar e de adulterar.

Chuva? Ah, chuva não existe, é crendice, superstição. O mundo é um lugar de tempo eternamente ameno e agradável, com ventos suaves e umidade na medida certa.

E o desempenho? O máximo que ela dá, com o último motor AP, é 140 por hora! Como é que alguém vende um carro que não chega nem a 180km/h? É um atraso enorme! Não dá nem para disputar racha com um Camaro!

O que acontece se um carro bater na frente da Kombi? Encolhe toda! Olha o perigo, bem pertinho dos pés do motorista! E se ele machuca, quem vai pagar os dias parados? Por isso que tem que sair de linha mesmo! Que vá andar de ônibus público, que é um exemplo de conforto e segurança para seus ocupantes.

De moto não, ela te torna invulnerável a todos os dissabores do trânsito. Já ouviram falar de alguém que tenha ficado preso nas ferragens de uma motocicleta? Então! É muito mais segura do que uma Kombi! Por isso a Kombi sai de linha e as motos continuam!

E esses mini bugues, que andam sem permissão? Se um carro bate, os ocupantes podem ficar machucados. A moto, por outro lado, fica magicamente parada, de pé, mesmo que um Fenemê a abalroe. Muito sábia, a proteção do Contran para esses veículos salvadores de vidas! Deve ser uma entidade formada só por sábios com pós-doutorado em engenharia automobilística.

Vamos ser francos e racionais; Veículo limpo, seguro e silencioso tem que ser subsidiado, o resto que saia de linha e seja removido das ruas, para não agravar acidentes! Por isso a Kombi sai e as motos continuam!

Quem é que consegue pegar mina numa Kombi? Só se for ambulância!

01/02/2013

Notibruique?


Recordo muito bem, foi um artigo de lascar, a Assembléia Legislativa comprou lap-tops para seus membros, mas muitos deles não sabiam usar. Foi gasto muito dinheiro, para ineptos totais, onerando o erário com mais gastos banais.

Noutra ocasião, um deles disse, sem corar, que do povo não lhes importa a opinião.

Relativamente recente foi o caso do Murirama, parque defasado desta cidade muquirana. Compraram uma montanha russa usada, trinta anos e pelo uso saturada de fadigas disfarçadas com demãos de tinta bem aplicadas. Não obstante o risco ao usuário, mais superfaturamento, comprada pelo quíntuplo de uma nova, tudo às custas do nosso erário.

Itapetininga, outra cidade sofrida, com politipatas sem coração a ferir-lhe a face dolorida. Compraram notebooks modernos, aos legisladores perdidos em seus ternos, sem garantir se todos sabem operar e farão bom uso, os que sabem, das máquinas que vão ganhar. Sim, porque embora saia do teu bolso, Itapetininga, eles tomam posse sem dó e te deixam à mingua.

Os computadores em questão, saiba o cidadão, têm suspeitas fortes de superfaturamento. Sem clareza, sem respeito à boa redação, foi tudo escrito para confundir mesmo, para facilitar a dupla interpretação e permitir que metessem a mão.

Os aparelhos seriam de imensa utilidade para professores, desde os do pré até da universidade. Eles cuidariam, até enfeitariam e protegeriam o instrumento que imprimiria ao seu sacro labor, muito mais qualidade.

E médicos de plantão? Ah, com internet à disposição, pediriam e prestariam opiniões, ajuda, socorro e até diversão, atenuando a longa e ingrata espera da população. Ao atender uma idosa em emergência, o otorrino consultaria o colega geriatra para dar sucesso à ocorrência.

Os policiais! Meu D'us, os policiais! Quantos já não perderam suas vidas por não conseguirem pedir ajuda em tempo? Quantos já não perderam uma ocorrência, por não terem como registrar um flagrante? Esses computadores seriam muito mais valiosos em suas mãos, do que nas de um politipata pedante.

Vão alegar que agilizarão seus serviços com os aparelhos comprados. QUE SERVIÇOS, CARAMBA??? Intimidar fiscais da vigilância em tempo real? Prometer lotes para igrejas picaretas, em troca de apoio eleitoral? Pressionar o prefeito, para sancionar ou vetar o artigo que lhes inibe a tendência para o mal?

Em verdade vou lhes dizer, por experiência neste sertão do planalto central, cousa boa não lhes apetece e foge ao seu cabedal, mas lesar o cidadão em proveito próprio é o que hão de fazer.

Decerto que um ou outro, em momentos de inspiração divina, farão o que presta e atenuarão sua sina. A regra, infelizmente, é de fazerem uso egoísta e desdenhador do sofrimento do trabalhador. Não fosse apenas isso, que não é pequenez, há o preço abusivo pela opacidade licitatória, por verborragia supérfula que da clareza tomou a vez.

Deixo a Itapetininga um aviso claro, a maracutaia que houve no Mutirama, e ora rende calhamaços em investigação, deixou Goiânia quase sem fundos. O prefeito, que era vice e foi para titular eleito, choramingou até consguir ajuda, sem voltar na decisão de devolver o ferro-velho superfaturado, em sua perversidade aguda.

Para quem não sabe das implicações metalográphicas, este metalúrgico vai esclarecer. Uma estrutura velha e muito surrada, dá ao usuário o risco de ser empalado vivo, no primeiro baque de um pico de temporada.

Um notebook não é tão arriscado à vida ou integridade, mas facilita a um larápio fazer negociata dentro do gabinete, em segredo, ainda que pareça estar trabalhando às vistas da sociedade. Que tipo de negociata seria? Comprar, por exemplo, brinquedo velho para um parque, por várias vezes o preço do novo, sem se importar com quem nele morreria.

23/01/2013

O profissional


Uma amiga disse certa feita, e resumiu tudo, que a hotelaria brasileira não explora o turismo, explora o turista. Quem conhece nossa medonha realidade hoteleira, sabe bem do que ela falou. De um segmento que se rebela contra o órgão federal, só para não ter que se adequar ao número de estrelas que diz ter, não se pode esperar melhor do que isso.

Aliás, a lista de horrores permeia toda a actividade econômica do país, engloba praticamente todas as áreas. O Brasil sofre de uma carência aguda e crônica de profissionalismo. Não, eu não me refiro à nossa estúpida capacidade de burocratizar tudo, tornando lento e dispendioso, um processo que poderia ser rápido e barato. Tampouco me refiro à mocoronga mania de darmos pronomes de tratamento indevidos, a qualquer panaca que consiga o cargo de segundo sub assistente adjunto de auxiliar de suplente.

Se alguém aí acredita que prolixia, formalismos supérfulos e burocracia desnecessária são o que te torna um profissional, lamento informar, mas é tudo o que tu não és. Andar de crachá e gravata italiana, não torna ninguém um profissional. O boneco Ken usa terno e gravata.

Temos o mau exemplo vindo de cima, sem pudores, aceito plácida e pateticamente cá em baixo, pela maioria. Foi ensinado ao brasileiro, que mais ou menos está bom. Chega a ser heresia falar em padrão de qualidade, se faz um serviço meia-boca com um verniz bonito, uma campanha publicitária para enganar quem não conhece os serviços de outros países, e empurra-se tudo com a barriga até que algo obrigue a empresa a investir. A ordem é correr atrás do prejuízo, jamais se prevenir dele, sempre repassando os custos aos preços.

A mentalidade vigente, ainda manda tratar o cliente como se fosse subalterno. Se ele reclamar de um ônibus, após a viagem, por exemplo, o motorista toma isso como ofensa pessoal e pode até partir para cima dele; isso quase aconteceu comigo, há uns vinte anos, mas não pensem que a mentalidade mudou, não por dentro, só a propaganda mesmo. O empresariado brasileiro é quase uma ficção, foram décadas se acostumando a mamar no erário, às custas de comprar gente influente, e hoje mama nas licitações, oferecendo os productos e serviços mais porcos possíveis, para economizar meio centavo que seja, mas sempre exigindo artigos de primeiro mundo para si mesmo.

O brasileiro vive no dilema de querer seu salário no fim do mês, de qualquer jeito, mas sempre desejando que o patrão morra, que a empresa quebre e que a secretária que nunca lhe deu bola, pegue uma doença venérea fatal. Não precisa pensar muito, para perceber que vestir a camisa da firma, ainda hoje não passa pela cabeça da maioria esmagadora. O cidadão entra já de olho no primeiro real a mais de salário que outro emprego oferecer, sem se preocupar em formar vínculos, compromisso, absolutamente nada. Usa a empresa e os colegas sem escrúpulos, para depois reclamar que foi usado.

Lembram da última crise, não lembram? Claro, ainda estamos atravessando a maledita! Coca-Cola, General Motors, Boeing, Motorola, Micosoft, e mais um monte de empresas sólidas, tradicionais, que são quase parte de nossa genética, com ações sendo dadas quase de graça, por algum tempo. Hoje suas ações voltaram a custar as fábulas que valem. Não me lembro de um só grupo de brasileiros ter comprado lotes gordos, quando estavam baratas. E olha que elas continuaram baratas por algum tempo, depois de a Casa Branca ter anunciado o socorro financeiro. Nem empresários, nem fundos de aposentadoria.

Nossas empresas ainda oscilam entre os extremos do turrão que acha que do jeito que faz está perfeito, e rechaça com aspereza qualquer tentativa de mudança, e o aventureiro irresponsável, que raramente sai do cassino pérfido da especulação financeira. Em ambos os casos, o consumidor é só um detalhe, nem sempre desejável. Típico de uma sociedade anacrônica, que almeja o primeiro mundo sem jamais tirar o pé do terceiro.

Não é de admirar que, em vez de estimular o cidadão a usar seus serviços, simplesmente aumentam os preços, pela falta de demanda. E se ela subir, o preço não desce. Alguém aí usa transporte público? Pois é, entenderam o que eu disse. As turmas que se fingem de empresas de transporte público, se encostam nas prefeituras e acomodam, exigindo direitos de serviço essencial, mas também a liberdade de empresa privada. O usuário, que não é tão diferente deles quanto acredita, reclama e paga do mesmo jeito. O próprio brasileiro comum, não tem idéia do que seja profissionalismo, então não o exige... nem se preocupa em descobrir o que seja.

Essa deficiência de profissionalismo, que é basicamente o comprometimento funcional, pode ser facilmente visto nas salas de aula. O aluno deveria estar lá para aprender, mas só pensa em passar no vestibular, quando muito, para depois disputar uma vaga no serviço público e lá se acomodar. Na melhor das hipóteses, que já é muito ruim, a massa almeja ser pulga de reuniões em uma grande corporação, onde nada fará e por isso não cometerá erros, algo que poderá usar para pedir promoções que não merece, até a empresa descobrir que ele não faz falta.

Para começar, um profissional tem compromisso com suas funções. Enquanto trabalha, ele até pode e deve se divertir, mas sob hipótese alguma deve negligenciar aquilo para que foi designado, e aceitou fazer. Isso inclui o aprimoramento voluntário e constante. Não necessariamente ter uma coleção de diplomas e certificados de presença em palestras caríssimas; sabemos que a maioria delas é só engodo. Prestar atenção à sua volta, ver o que funciona ou não a contento, no seu posto de serviço, corrigir por conta própria as falhas que forem de sua competência, encontrar meios melhores de fazer o serviço, são atitudes que te dão maior domínio de suas funções, te tornando mais necessário ao empregador.

Um profissional tem ética. Ele segue uma série de regras de conduta, que lhe garantem não ultrapassar seus limites e direitos. Por mais intimidade que tenha com os outros, reconhece princípios básicos de hierarquia e prioridade. Não se trata de ser adulador ou submisso, mas simplesmente de reconhecer que as atribuições do outro, subjugam as suas. Simples assim. Também, porém, que a escravidão foi abolida, e seus subalternos não são sacos de pancada. O paspalho que acredita que não dá para ser amigo de seus chefes e subalternos, este está longe de ser um bom profissional, e naufragará bonitinho na primeira crise aguda que vir. Aliás, estamos atravessando o miolo de uma das mais graves da história, vocês podem ver facilmente as cabeças que rolaram, apenas procurando na internet.

Um profissional, dentro da ética, procura resultados. Ele não dá desculpas. Se não conseguiu o que almejava, tem uma série de motivos devidamente investigados, apontando onde falhou e onde o suporte falhou consigo. Não se trata de escrever um discurso retórico e prolixo, com exibição gratuita de conteúdo gramatical, até porque um bom profissional sabe muito bem o motivo pelo qual se deve ser simples e directo, em textos oficiais, é para sobrar mais tempo para a vida pessoal, mesmo dentro da empresa. Não basta ser eficiente, precisa ser eficaz.

Ainda dentro da ética, e haja texto para todas as suas facetas, um profissional não compete dentro da firma. Pode parecer estranho aos mais jovens, que já nasceram em uma época em que saber perder, tornou-se motivo para ser preterido. Mas vejam o exemplo da General Motors, que estimulava a competição até para ver quem batia o ponto mais rápido. Não que tenha mudado radicalmente, mas as medidas patológicas ficaram na quase falência. Então alguém pergunta, como a competição interna pode arruinar uma empresa, e eu explico: O concorrente, neste contexto, deixa de ser a outra empresa, e passa a ser cada um dos colegas, até a Dona Joana do cafezinho. Fica-se tão empenhado em garantir o próprio emprego, que esquece-se que não vai conseguir tocar toda a companhia sozinho, nem que terceirize tudo. É mais ou menos como um sujeito que se expõe deliberadamente a agentes cancerígenos.

Um profissional dá sempre o melhor de si, sempre. Não precisa escancarar seus truques para qualquer um ver e te passar a perna, não se esqueçam de que vivemos em um mundo expiatório, onde a malandragem ainda reina. Digo apenas para que não façam menos do que gostariam que fosse feito por vocês, que não desistam de uma tarefa até terem tentado todos os meios disponíveis, e que jamais, nem que o Hélio de La Peña seja eleito miss bumbum, para de se aperfeiçoar. Se o teu colega não faz a parte dele, reclame com o chefe, mas não deixe de fazer a tua. Não é demais lembrar, que estamos importando profissionais. Não se espante se aquele inglês acanhado, em alguns anos, passar a lhes dar ordens. Ele conhece productos e serviços bem feitos, ele sabe a diferença e provavelmente sabe fazer. Vendo um bando de reclamões acomodados, verá também um caminho livre para sua ascensão, principalmente quando tiverem que tratar com negociantes estrangeiros.

Um profissional é organizado. Não apenas no visual, que disso cuida-se com dicas de qualquer site de moda. É organizado no ambiente de trabalho, à sua mesa ou máquina, na administração do tempo, no seqüenciamento  eficiente dos serviços e, quando é o caso, tem até um procedimento operacional padrão para se consultar, a qualquer imprevisto. Essa organização acaba se refletindo na vida pessoal e escolar. O raciocínio também se beneficia, que ganha começo, meio e fim, facilitando planejar e ligar causas a consequências. A lida com a clientela tem os resultados dessa disciplina.

Lembrem-se, um profissional está onde está, para fazer as cousas andarem e funcionarem a contento, no mínimo a contento. Mas quando eu falo “a contento”, não é fazer andar do jeito que der. Andar a contento, para quem quer sobreviver no mercado, é ter níveis mínimos e constantes de melhoria interna. Disso dependem a saúde financeira e a confiabilidade pública de uma empresa, mesmo pública. Aliás, caríssimos, quem disse que autarquia pública não pode fechar o ano no azul, com uns trocados sobrando no caixa para poder investir? Quem? Eu digo quem, aqueles safados que nós elegemos. De profissionais, eles não têm absolutamente nada, não passam de malandros que só estão onde estão, porque trapaceiam, nos enganam e nos fazem crer que tudo sempre será assim e todo esforço é inútil.

A China já está pagando caro por isso, algumas cidades estão se esvaziando, porque a população apática, quando envelhece ou adoece, ou ambos, está sempre a esperar que o governo adopte uma política que lhes seja favorável. Lá, a sociedade não pode se organizar, é crime. Qualquer semelhança com um povo que reclama de lotes baldios, mas não pensa duas vezes antes de usá-lo como lixão, é mera realidade.

Só uma dica para vocês, caríssimi leitori, profissionalismo se aprende em casa, e eu já disse inúmeras vezes neste blog, como fazê-lo. Ensinem seus filhos a gostarem do trabalho, acharem normal arcarem com suas responsabilidades e conseqüências, tratarem os diferentes como gostariam de ser tratados e, não menos importante, aprenderem a perder, sempre vendo os pais dando o bom exemplo. Só isso? Sim, só isso. Estão vendo como só somos terceiro-mundistas porque queremos!