Caríssimos, vivemos em uma época sem
precedentes de neuroses e inimizades gratuitas. Uma pessoa que não tem diploma
em philosophia com viés de raciocínio para alguma ideologia é publicamente
repreendido, se ousar expor um pensamento. Em contrariedade aos próprios
ditames, repreendem quem assume um viés ideológico que contrarie os seus, não
importa o quanto a linha de raciocínio adoptada beneficie o que dizem defender.
Se não é do meu lado, só pode ser mau.
Da mesma forma, actos de solidariedade podem
ser interpretados, divulgados e levados a julgamento como abuso e violação. Foi
o caso recente de uma adolescente estúpida, que processou um homem que a salvou
do afogamento, como se houvesse outra forma de fazê-lo que não fosse
tocando-lhe o corpo. Isto é só um dos casos que proliferam pelo mundo pseudo-racional
em que estamos presos. Mundo em que um cavalheiro é prévia e
preconceituosamente acusado de misógino e abusador.
Existe porém um fundo de verdade no temor da
aproximação masculina, que dependendo da faixa etária, tem o fervor hormonal, a
garantia quase certa de impunidade e a pressão de turmas de cabeças ocas para
agravar os riscos. De quebra, a vítima ainda é responsabilizada publicamente
pelo constrangimento imposto ao assediador. O que fazer então? Ser o brucutu
que esperam que sejamos? Surtar e fazer todas as barbaridades de que nos
acusam, mesmo sem nos conhecerem? Contrariar os hábitos que nos custaram caro
cultivar, em uma região do mundo que despreza homens assim?
Eu digo que não. Afirmo e ofereço uma solução
que atenua muito o desconforto feminino à presença de um homem estranho. Há
muito tempo pratico e tenho aprimorado a prática, por isso posso asseverar sua
eficácia. Embora cause alguma estranheza aos transeuntes, te exclui de pronto
de praticamente todas as suspeitas prévias de más intenções. Garanto aos receosos,
que não imprime qualquer gesto afeminado, se isso lhes for realmente importante.
Chamo de recato masculino, porque é não mais
do que a prática da contenção do gestuário e da explicitação de sua conduta
inofensiva à dama passante. Em verdade uma revisão das normas mínimas de civilidade
e convivência.
Em primeiro lugar, mantenha distância. Não se
preocupe tanto se as condições não permitirem que esta seja confortável, quem
usa o transporte público e anda por calçadas lotadas de gente sem noção de
equilíbrio, sabe que nem sempre é possível. Mas é quase sempre possível não
tocar na outra pessoa. O esforço feito para manter-se de pé, pendurado em um
ônibus lotado, é perfeitamente aproveitável para evitar tocar as partes baixas
da pessoa à frente. A tensão gerada pelo esforço e pelo estresse não será menor
se deitar-se sobre o corpo da moça. Mais, a tua presença naquele lugar evita
que um cafajeste tenha a chance de fazê-lo.
Deve-se ficar não menos atento quando se é
pedestre. Lembre-se de que as pessoas perderam a noção de espaço e do próprio
espaço, esbarrões entre dois tontos são sempre mais graves e mais propícios a
contendas. Fique atento por si e para os outros. Isso inclui ver ao redor quem
se aproxima e quem acompanha teus passos. Dos que vêm é mais simples desviar e
manter distância, ainda que seja virando o corpo para passar por locais
estreitos, mas dos que vão no mesmo sentido é mais complicado. Assim como tu,
eles não têm olhos na nuca. Acostume-se a olhar ao redor, de vez em quando, inclusive
para evitar surpresas desagradáveis para si mesmo.
Caso uma mulher desconhecida esteja no mesmo
passo que tu, retarde um pouco a tua marcha e deixe-a afastar-se um pouco. Só
um pouco, o bastante para ela saber que se fosses um mal intencionado, poderia
safar-se. Não afastar-se demais também é prudente, não só porque poder-se-ia atrapalhar
o tráfego, mas também porque tornaria à polícia suspeita a tua atitude, como se
quisesses despistar de uma ação frustrada.
Ainda a passo, faça um ruído mínimo
necessário ao caminhar. Pise com o calcanhar, com decisão, mas sem caricaturas,
não precisa marchar. Isso faz com que as pessoas ao redor, especialmente à
frente, notem a tua presença, evitando o estresse da surpresa e as reações adversas
inerentes. Imagine uma mulher sozinha, já traumatizada, que percebe poder
antecipar tua aproximação. Embora não seja um alívio, a deixa mais tranqüila,
propícia a aceitar tua presença, até mesmo uma ajuda eventual, e evita um
ataque de pânico no caso de tua figura lembrá-la de um episódio traumático.
Não seria, mas aqui se faz necessário em
virtude da conjuntura de descontroles emocionais, especialmente de quem se
rotula como intelectual, lembrar que se a dama em questão estiver atenta à tua
presença, alertada pelos teus passos, estará também a tudo mais ao seu redor, o
que pode evitar até mesmo um atropelamento. Por isso mesmo aconselho a todos
que usem sapatos confortáveis, de saltos baixos, porque tênis dificilmente
produzirão o ruído necessário. Talvez com uma meia-sola de borracha dura no
calcanhar, mas tênis hoje são artigos tão caros e tão difíceis de serem
trabalhados, que é melhor mesmo investir em bons pares de sapatos sociais, com
solados e palmilhas adequados à caminhada.
As mãos merecem uma atenção especial. Aqui
apliquemos a famosa e tão mal interpretada fleuma dos ingleses. Não saia por aí
balançando os braços como se todo o espaço da via pública fosse teu espaço
privativo. O balanço dos braços deve ser o estritamente necessário para
equilibrar o corpo durante a marcha. Nem vou dizer o quanto exageros gestuários
passam más impressões e disparam alertas, vocês são capazes de deduzir por si.
E não se deixem levar pelo óbvio de “Nem todo mundo que parece é”, o óbvio não
passa de um gancho do ego, que te deixa confortável em uma conclusão que não
passou pelo crivo do raciocínio e da investigação.
Mantenha as mãos bem próximas ao corpo, mas
longe o bastante para que se movam com naturalidade. Para saber qual é essa
distância, observe-se parado, se necessário a um espelho, com os braços
relaxados. Em público, mantenha-as sempre viradas para o corpo. Qualquer outra
posição denotará intenções ocultas, fará com que passes a impressão de estar
preparando o bote. Canalhas que se aproveitam do tráfego intenso para tocar
partes íntimas de mulheres, ou mesmo de outros homens, sempre deixam a mão
pronta para isso, para não perderem chance de serem adjetos. À aproximação de
uma dama, e SEMPRE considere uma mulher previamente uma dama, seja quem for,
recolha o braço com a mão virada para dentro, junto ao diafragma, como se
estivesse carregando um guarda-chuva como se deve carregá-lo. Esta posição te impossibilita
de qualquer esbarrão constrangedor e, no caso, passível de má interpretação e
sanção legal.
Sei que nem sempre há tempo hábil, nestas
épocas de neurose e pressas absurdas, mas se mantendo a atenção já corres o
risco, imagine se fores displicente! Eu esbarro de vez em quando, peço
desculpas e sigo meu caminho, não há outro remédio.
O olhar. Ah, o olhar! Policiais dizem que são
capazes de reconhecer meliantes rapidamente, e é verdade. À parte os abusos de
alguns, amplamente incentivados por governadores de poucos escrúpulos, eles são
treinados e praticam o que treinaram. O meliante sempre tem olhar de predador.
Por isso manter uma expressão neutra, ainda com que o cenho franzido, ajuda a manter
as damas ao teu redor confortáveis. O cenho pode ter muitas, mas muitas
motivações, que uma mulher experiente até pode identificar com razoável precisão.
O olhar agudo e direcionado a poucos pontos, sempre significa prontidão para o
ataque.
Ao olhar para uma dama, faça-o sempre aos
seus olhos, sob hipótese alguma fixe olhares no corpo de uma desconhecida; na
maioria das vezes nem de uma conhecida! E não detenha o olhar se não estiver
pronto para iniciar um diálogo, por curto que seja. Olhar à fronte, embora mais
confortável do que a outras partes, é uma evocação não verbal, qualquer
espécie, especialmente do grupo dos primatas, sabe reconhecer isso
instintivamente. Os bebês usam isso para terem a atenção da mãe.
Aos leitores habituais, ficou claro, após
leitura e rápida meditação, que a simples presença de um cavalheiro denuncia a
presença de um meliante, por simples comparação comportamental, assim as más
intenções de outrem tornam-se mais arriscadas; pelo menos maios fáceis de serem
antecipadas e de investigação policial. Sim, há os “homens” que vão te acusar
de tudo o que eles realmente são e não admitem, inclusive de não gostares da
fruta, mas isso também pode ser bom, vai selecionar tuas amizades.
O que eu escrevi não é tudo, mas é o bastante
para evitar quase todos os apuros a que estamos expostos em uma época que teria
tudo para ser a áurea da humanidade, com todos os avanços científicos que as
ficções de outrora nem sonhavam, mas só trouxe às relações o pior da idade
média.
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