Conforme alguns já sabem, eu ouço preferencialmente
a Rádio Executiva FM, pela qualidade da programação e a recusa terminante em
exibir alguns refugos, que são exaltados pela própria Globo, da qual sua
controladora é subsidiária. Nem sempre gosto, confesso, especialmente quando
abusam de versões modernas ou alternativas de clássicos da música. Afinal, qual
o problema com os originais, especialmente quando poucas rádios os tocam? É um
refúgio musical que faço questão de ouvir em volume baixo, só para mim, dando
aos apreciadores de outros gêneros o respeito que eles não dão a ninguém. Rádio
diferenciada, público diferenciado, compreendem?
O que tem me irritado, entretanto, não é a
rádio em si, mas as intervenções tóxicas de lixo midiático, quer por pagamento
de espaço publicitário, quer por obrigatoriedades legais em prol de gente que
não se esforça nem um pouco por merecer minutos valiosos, dedicados a um
público que não gosta de qualquer coisa. Às vezes me parece que alguém na Jaime
Câmara odeia a Executiva e seus ouvintes, porque as interferências na
programação são muito claras, ultimamente até a narração ficou comprometida.
O meio mais fácil de me fazer desligar o
rádio, é com uma propaganda imbecil. Textos pobres, com interpretações rasas e
apelos baratos, têm proliferado exponencialmente nos últimos meses, mas já
apareciam timidamente nos últimos anos. O último e pior exemplo, foi de uma
concessionária Renault, que achincalhou com o padrão de qualidade que sempre
foi a âncora da Executiva. Sabem aquela besteira daquele MC Bin Laden, que
viralizou nas redes sociais? Eu nunca tinha ouvido, até essa tal
concessionária, como acompanhamento de um texto digno de botequins de beira de
estrada, usou a “obra prima” como fundo musical.
Não foi a primeira vez, mas foi o cúmulo. O
famigerado “sertanejo universitário” já infectava de vez em quando, uma
emissora à qual eu já ouvi o caipira legítimo, que também tem perdido espaço
com as interferências sofridas. Eu não sei onde foram parar os bons
publicitários que Goiás gestou nos anos noventa, mas eles fazem falta,
principalmente porque saberiam que certos públicos rejeitam tanto certos “gêneros
musicais” mal executados, que simplesmente não prestam atenção ao anúncio...
Agora estou ouvindo a de um grupo que há pouco conseguiu ser concessionária
Mercedes-Benz, que está maltratando meus ouvidos com um texto ridículo, no pior
estilo “promoção imperdível”.
Pior ainda é ouvir propagandas absolutamente
mentirosas dos governos, obviamente caríssimas, tão caras quanto mal feitas,
pagas com o erário que deveria ter resolvido os problemas que dizem que estão
combatendo. Narrações em tons de benevolência me irritam ainda mais do que os
com empolgação forçada, porque fazem o eleitor parecer uma criança com
demência; o outro quer nos fazer parecer apenas dementes. Irrita mais essas
afrontas à inteligência e à dignidade serem veiculadas em um dos poucos
veículos que ainda nãos e renderam ao idiotismo midiático.
Nãos sei vocês, mas para mim é triste ouvir
Changes do Black Sabbath e imediatamente mergulhar no enxofre de “tá tranqüilo,
tá favorável”, sair de Lonely Looking Sky por Neil Diamond para depois sofrer
com um “vô cumê as muiezada na minha camionetona” no triplo do volume. Não sei
se o idiota que comanda aquela subsidiária percebeu, mas a Executiva é um hotel
tradicional cinco estrelas, não um bordel de beira de estrada, para precisar de
incitações ao baixo ventre a qualquer custo. Os ouvintes da Executiva
simplesmente ODEIAM invasões a seus espaços, e a programação que fez a fama da
rádio é um espaço sagrado para um público órfão de produções de alto nível. Ou
pensam que em alguma rádio popularesca se ouve Elizeth Cardoso cantar Barracão de Zinco? Sim, eu ouço e não é raro.
Ouçam (ou leiam, vocês entenderam) nem todo
vintagista ouve essas rádios, mas todo ouvinte desse tipo de rádio tem ao menos
um toque vintagista. Vintagistas típicos prezam pela qualidade, pelo equilíbrio
estético e pelo conteúdo. Não um ou outro, mas os três juntos. Sabem aquelas
propagandas antigas, em que as marcas se orgulhavam de fazer productos que
duravam uma vida inteira? Nós sabemos. Sabemos e temos muitas saudades, tanto
desses reclames quanto dessa philosophia. Os reclames, aliás, são motivos de um
saudosismo que em alguns beira o patológico, muita gente cai na melancolia ao
ouvir os textos ridículos de hoje e se lembrar dos que prendiam sua atenção, na
juventude. Deprime mesmo! Imagine sair de Cantiga por Luciana, magistralmente
interpretada por Evinha, para cair na fossa séptica de uma catinga pra Lulu em
cana! Nem as crianças respeitam mais, propagandas mal escritas e mal dirigidas
fazem a interpretação pueril parecer simplesmente ruim.
Sim, eu sei que estou parecendo arrogante,
elitista, Et Cetera. Se lhes pareço ser assim, lamento, assim continuarei a
parecer. É melhor do que ser hipócrita e parecer “cool” ou politicamente
patético. É aquela coisa inglesa de “Não se queixe, nãos se explique”. Bem, não
estou me queixando, eu estou por assim dizer, prestando queixa informal, é
também para isso que tenho este espaço.
Seguramente não sou o primeiro ouvinte
insatisfeito com as interferências indevidas, seguramente não serei o primeiro
e nem o último a ser ignorado por engomadinhos de ar condicionado, que
infelizmente tomaram o lugar dos técnicos e suas decisões certeiras, que
realmente construíram este mundo. Mesmo assim, a Beth Regina já me presenteou
com algumas novidades absolutamente encantadoras. Por exemplo, o Pádua, cantor
goiano com menos visibilidade do que seu talento merece. Ele fez uma versão de Batendo na Porta do Céu que deixaria Bob Dylan em prantos de tanta emoção. É
de uma melancolia tão autêntica, que todo o arranjo parece ser o original da letra.
E a Postmodern Jukebox, uma autêntica big
band que, por sê-la, não ouço em nenhuma outra rádio da cidade? Year, uma big
band em pleno século XXI, tradição retomada pela divina holandesa retrô Caro Emerald.
Eu não sei até onde vai essa esculhambação,
mas asseguro que o público de veículos de comunicação deste naipe, não vai se
esquecer de quem o respeitou e, muito menos, de quem o tratou como lambedor de
púbis. As modas passam, as descargas são puxadas, só vai ficar o que e quem
tiver feito por merecer.
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