13/06/2013

O amigo Yoda

Fonte: Death Star PR

Armando é um sujeito normal. Quarentão e solteiro, mora em um apartamento próximo ao trabalho. Paga mais de aluguel, embora o condomínio seja até mais em conta, mas economiza o dobro podendo ir a pé. Com isso poupa não só dinheiro, mas também sua saúde. Afinal, enquanto os colegas ficam presos no trânsito, seja no conforto pouco reconfortante dos carros, seja nas masmorras motorizadas que formam transporte público, ele caminha alegremente pelas calçadas, vendo as lojas, parando religiosamente às 18h30 em uma chocolateria para reabastecer seu único vício, falando com os amigos pelo caminho...

Todos vivem elogiando Armando, por ter conseguido esse apartamento. Ele, humilde e sinceramente, diz que não agiu sozinho, que na realidade só fez seguir o conselho de um amigo. Quando ele diz isso, alguns ainda ficam sem graça, pensando ser chacota, embora a maioria já tenha se acostumado. Mas realmente soava estranho ele não reivindicar a exclusividade de suas sacadas.

Na verdade, Armando só era tolerado por muitos dos colegas, porque tem idéias geniais. Consegue unir o melhor dos mundos, fazer parte de seu grupo de trabalho é certeza de boa remuneração, além de reconhecimento e o status de ter participado de uma campanha vitoriosa. Em uma época de demissões em massa, nos meios de comunicação, Armando é um xodó do grupo de mídia.

Mas a todos ele diz que não fez mais do que seguir conselhos de um sábio amigo. Ninguém precisa mais perguntar quem é esse amigo, porque ele cansou de dizer nos dois primeiros anos no emprego, para o escândalo geral. O nome desse amigo é Yoda.

Não, não se trata de um ser humano chamado Yoda, nem de um livro sobre o Mestre Yoda. Armando afirma e credita todas as suas vitórias, ao respeito integral aos conselhos do Mestre Yoda da saga Guerra das Estrelas. Yoda é seu amigo, gostem ou outros ou não. Um dos motivos para a solteirice, apesar de já ter seu pé de meia bem tecido.

Yoda se aproximou dele quando Armando tinha sete anos. foi quando pediu à mãe que lhe levasse para ver Star Wars, no cinema que Yoda indicara. Não, Armando jamais tinha ouvido falar de George Lucas, até então. Ele adorou, virou geek e passou a estudar com afinco, sempre sob a austera e bondosa batuta do jedi... Era o que ele dizia.

No começo isso lhe rendeu dissabores, reprimendas e seguidas idas ao psiquiatra. A cada psicotrópico receitado, Yoda lhe recomendava um antídoto, para que não lhe fizessem uma lavagem cerebral química. Foi muito dinheiro gasto em drogas que só deram dor de barriga, ainda assim de leve. Logo a alegria de nunca mais ter tirado menos de dez, suplantou o desconforto, e ele até perdeu o apelido de "Armandinho Doido".

Certa feita, um executivo que se intitulava linha dura, começou a implicar com ele. Não aceitava que um provável futuro subalterno se comportasse daquela forma, que acreditasse em algo que não estava cientificamente comprovado e patenteado por algum laboratório famoso. Por diversas vezes conseguiu colocar em suas mãos, verdadeiras armadilhas em forma de trabalho. Armando sempre se safou, sempre creditando Yoda.

Culminou em uma reunião com a directoria do grupo, quando um pequeno contingente tentou colocá-lo contra a parede, revelando sua excentricidade "danosa à imagem da companhia" aos chefes. Armando assumiu que vê e conversa com o Mestre Yoda, falou do tempo em que fez terapia, do que passou durante a infância e juventude, e tudo mais. Não, ele não podia provar que Yoda existia, nem fazia questão. Não, Yoda não poderia aparecer para mais ninguém, não que ele soubesse. Não, não poderia mesmo assumir a exclusividade dos resultados, não só por Yoda, mas também pelos colegas que conseguia fazer render bons resultados. Não, não dava a mínima para o que os outros pensam, desde que não tentassem prejudicá-lo.

Os executivos olharam para os resultados, para o histórico do homem, deram de ombros para o resto e as boas vindas ao Mestre Yoda...

- Mestre Yoda retribuiu a gentileza. Que a força esteja com vocês.

Noutra vez, um sujeito lhe perguntou por que não deixava de babaquice e passava a falar de coisas de homem, em vez de perder tempo com o que não existe...

- Cara, vira homem! Para de inventar que um bicho de outro mundo te ajuda! Fala de futebol, como todo homem tem que falar, por exemplo!

- Ah, é mesmo? Futebol é coisa de homem... Futebol existe... Te dá alegria? Te dá bons conselhos? Te livra dos perigos da cidade grande? Te ajuda a tirar nota dez em todas as provas? Te ajuda a vencer na vida? Te ajudou a formar um patrimônio maior do que você aparenta ter? Oras, vejam só, algo não existe consegue me fazer mais bem do algo que existe faz a você.

- Ah, vai comparar um esporte que é paixão nacional, com um bicho de desenho animado, otário?

- Não, eu não vou comparar um entretenimento supérfulo com um personagem cheio de conteúdo. Pode ficar com seu esporte, é seu direito.

A discussão não durou muito, com o outro sempre batendo na mesma tecla, até que se cansou, o chamou de veado e foi embora. Armando gosta de esporte, mas prefere o super bowl americano, bem mais pelas cheerleaders do que pelo jogo em si. Hoje, ninguém mias se mete com ele.

Houve uma única vez em que Armando interpelou Yoda, perguntando o motivo de tudo aquilo, e principalmente de não dar as caras para os demais, quando ele o percebia até pelos sentido extras de sua sinestesia...

- Pequeno padawan, bom você perguntar isso foi. Na hora estava de sério falar. Não se preocupe de onde venho, como aqui estou, do que vivo eu e como te acompanhar por toda parte consigo. Se importar com isso, você não deve, ao menos por enquanto não. Eu aqui estou para a você ajudar, porque uma missão você tem neste mundo. Todos uma missão têm, mas você a abraçou alegre e dedicado. Que eu existo você sabe, pois resultados você consegue minha ajuda aceitando. Gratidão eu não lhe peço, mesmo assim você agradece. Não precisa santo se tornar, mas muito bom homem você se tornou, muito humilde você é, alegria de viver você espalha. Era o que pela sua vida te ensinar eu queria, mas muito rápido você aprendeu, agora ensinamentos avançados você terá. Minha aparição importante não é, a não ser para você, que meu aluno se alegra em ser. Os adultos em mim não vão acreditar, ainda que aos seus olhos eu apareça, irão algo beber e para casa dormir vão. Eles razão preferem ter a felizes serem, é só o que eles têm, pois inseguros são, perder o que conseguiram muito temem. A descrença um mecanismo de defesa é, quase tão forte quando o fanatismo pode se tornar. Nem prontos para o coração seguir eles estão, pois aliar com a mente não sabem. Você desde criança isso percebeu, por isso minha ajuda aceitou. Desculpas peço por transtornos que amargou, mas necessário tudo isso foi. Apesar de minha ajuda, o mérito seu é, por você desprendido foi o esforço. Você acreditou, você se esforçou, você venceu. Nestas férias, sugerir um destino eu gostaria, vá para Blumenau. Pode ser que sozinho não mais volte, mas voltar vai.

Depois disso, armando planejou suas férias. Continuou dando créditos a Yoda, continuou recusando ser o centro das atenções, continuou mantendo o Armandinho vivo, curioso, contestador, solícito que escolheu como aluno. Como sempre, vai aceitou a sugestão do mestre. Não estão tão preocupado com onde isso vai dar, quer é fazer uma boa viagem.

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