Câmera analógica:
Mesmo aquelas mais caras e
sofisticadas, cheias de computadores para auxiliar o trabalho. Com tudo certo,
e a tampa retirada da lente, seu mané, aponte, dispare e está feito. Se for
mesmo das mais sofisticadas, uma memória electrônica vai mostrar se e o que foi
clicado.
Eu estou falando de um resultado
que uma câmera comum de boa qualidade com um filme comum de boa qualidade pode
conseguir, sem precisar penhorar os rins para comprar uma no crediário, e as
imagens que só um bom filme de prata oferece podem ser facilmente digitalizadas
em arquivos imensos que podem facilmente passar de 24mb por photographia. As
profissionais com filmes caros e lentes ídem, nem se fala… Decerto que agregar
tecnologia NÃO CONTROLADORA nessas
máquinas ajudaria a fazer milagres, faria um photógrapho amador fazer imagens
dignas de profissionais, mas isso é assunto para outro texto… se for
conveniente.
Ah, claro, com a manutenção em dia
ela nunca vai te deixar na mão, não importa as circunstâncias. Dificilmente
haverá um dano que não compense o conserto.
Câmera digital:
Ligue, porque se ficar ligada o dia
inteiro não há bateria que dê conta, reze para ela iniciar rápido o suficiente
para aquilo que tiver sido avistado com a devida antecedência, aponte e clique.
Se tudo estiver certo, evite movimentos bruscos porque pode perder o foco e um
passarinho não vai ficar parado para esperar o processador decidir o que é um
foco e suas implicações sociopolíticas no contexto negacionista da
neossociedade cibernetizada, ele vai voar! Então torça para ninguém passar na
frente, porque os décimos de segundos necessários à retomada do foco podem ser
o fim de uma bela photo!
Mesmo com a certeza de que
conseguiu tirar aquela photo, a conhecida letargia dos algoritmos pode ter
estragado tudo na hora de armazenar e em vez do passarinho, só um galho seco
pode ter sido capturado e estar a ocupar pelo menos 1,5mb de memória, na
configuração mais econômica e rápida. Claro, com o tempo essa letargia cessa e
tudo fica mais rápido, não muito é lógico, mas se precisar desligar a câmera a
romaria recomeça. Mesmo em casos de alvos estáticos, como uma flor, pode haver
riscos. Descobri que colocando minha mão detrás de uma, por exemplo, ajuda a
ajustar mais e melhor o foco de curta distância, então é só tirar a mão de lá
para não estragar a composição e disparar, o problema é que não dá para fazer
isso com animais, muito menos se for um predador, como uma aranha… pode não
matar, mas vai doer muito assim mesmo.
Para que uma câmera dessas seja
discreta, compacta e caiba no bolso, por exemplo, não pode ter baterias muito
grandes, o que te obriga a levar uma sobressalente consigo, sempre é claro em
um invólucro plástico para não haver riscos de curto-circuito com as moedas que
porventura lá estiverem.
A facilidade e rapidez com que
essas câmeras digitais photographam e filmam inundou a internet com gente que
se acha digna do Oscar, do Leão de Ouro, da Palma de Ouro, do Kikito de ouro,
do Troféu Imprensa, do prêmio Nobel da paz, mas que em sua maioria só fez criar
registros de vergonha alheia que farão a fortuna dos arqueólogos cibernéticos,
e farão seus descendentes tentarem mudar o sobrenome na justiça. Se antes era
preciso ter noção de luz, sombra, profundidade e até de sonoplastia, então a
babá electrônica das novas câmeras fez todo mundo se achar o próprio Steven Spielberg.
Cedo ou tarde ela vai te deixar na
mão, simplesmente porque o software, ao contrário do que as pessoas pensam, não
vai rodar incólume para todo o sempre. Cinco anos de uso e já vai pedir
aposentadoria. Até pode haver quem possa consertar, mas não sai barato. Fora
que uma câmera digital para ter a mesma qualidade de uma câmera química,
precisa ser ao menos um nível de preço mais cara.
Câmera de celular:
Desbloqueie o aparelho, selecione o
aplicativo de câmera, espere ser aberto e tudo checado, reze para o motorista
daquele Corvette Stingray estar apenas apreciando a paisagem porque se ele
acelerar vai abrir um buraco de minhoca e nem a luz vai alcançá-lo, então
clique. Agora, tenha a precaução de fazer isso sem que outros carros em
distâncias diferentes se aproximem, o que é claro que não depende a tua
vontade! Se um passar na tua frente antes daquele Corvette, lá se foi o foco!
Tente tocar na porcaria da tela e rezar de novo para recuperar o foco antes que
ele ganhe velocidade, por experiência própria posso dizer que isso pode levar
até cinco intermináveis segundos, tempo suficiente para um carro em velocidade
mínima permitida por lei andar mais de quarenta metros. Ainda há o risco de
Tico e Teco cibernéticos se digladiarem para ver quem tem razão no foco e na
velocidade do clique, então mesmo que pressione o botão a tempo, o melhor que
pode conseguir é photographar a ponta do para-choque traseiro.
Com dois ou três cliques a porcaria
do software “entende” que é para dar alguma prioridade à câmera, então os erros
diminuem, mas não faça fosquinha antes de entender a anedota. Ainda assim, com
a musculatura photográphica já aquecida, perder o foco é uma companhia tão
constante quanto indesejável. Se na câmera digital dedicada colocar a mão logo
atrás daquela flor pode resolver o problema, aqui há o inconveniente de nem
sempre uma mão só poder tocar onde o foco deve ficar e estar em posição para
disparar, e tirar a mão detrás daquela flor pode fazer a porcaria da lente
focar o chão! O recurso de colocar o botão em qualquer lugar da tela, até
facilita, mas exige algum contorcionismo que mãos mais curtas e grossas, como
as minhas, não estão aptas a fazer.
Há uma miríade de acessórios que
ajudam a contornar isso, mas exigindo para tanto mais investimentos financeiros
não só com eles, como também com bolsas apropriadas para seu transporte seguro;
fora o volume extra que invalida completamente a alardeada praticidade de um
celular. Ainda há o inconveniente dos celulares mais modernos, que é a
impossibilidade de se trocar a bateria, porque o fabricante decidiu que aqueles
2,5 amperes são o suficiente para todo mundo em qualquer situação mesmo com todos os recursos utilizados regularmente, e quem quiser mais terá que
comprar o topo de gama da linha, pelo triplo ou mais do preço.
Ainda há um inconveniente, o facto
de não ser um aparelho dedicado pode te fazer perder uma photo mesmo com tudo
correndo a favor, simplesmente porque se trata de um telephone, então a prioridade
é a telecomunicação, e se alguém te ligar a câmera será colocada em modo de
espera, consumindo energia da bateria mesmo sem poder ser utilizada. Aliás, nem
precisa de uma ligação, basta te chamarem por texto que o alarme abrirá uma aba
de aviso e tirará uma parte preciosa de tua visão da composição da imagem, o
que pode fazer um pedestre estragar tudo. Não, não é só esperar a se recolher,
porque a câmera pode demorar um pouco a voltar à forma e então, meus amigos, o
alvo da photographia pode já ter ido embora. Isso se não travar! Nem venham me
falar daquela porcaria daquela maçã pode fomentadora de ditaduras, já tive
relatos de que aquilo também trava, e quanto mais aplicativos rodando, mais
propenso a travar, daí tem que reiniciar, esperar toda a bagunça ser resolvida
e já viu… Bau-bau photographia.
Como não poderia deixar de ser, a
facilidade e rapidez com que imagens e vídeos podem ser publicados na internet,
sem o intermédio de um computador, faz com que mais porcarias inundem e baixem
mais o já parco padrão de qualidade reinante. Não me refiro apenas a estilos de
gosto dúbio, mas à qualidade da produção, muitas vezes maquiadas com adjetivos
idiotas com neologismos estúpidos para angariar a simpatia de quem se acha o
próprio sucessor de Sócrates.
E pode ter certeza de que, não
bastasse a vulnerabilidade a ataques cibernéticos, em dois anos o aparelho
estará velho. Dá para consertar? Dá. Mas a mão de obra necessária só é
justificada se for um objecto de estimação com alto valor sentimental. Muitas
vezes o software original não será compatível com as novas tecnologias e o
firewall passa a ser só um peso morto, então deixa de ser um utilitário
multitarefas para se tornar só um brinquedo. Fora que um celular para ser páreo
para uma digital dedicada, precisa muito mais caro!
Toda a tecnologia cara de um celular para captura e edição de arquivos, se aplicada a uma câmera digital, faria a felicidade de qualquer amante ou simples hobista, que dirá os profissionais. Pensemos aqui cá com nossos botões; um cartão de memória é praticamente uma unha de plástico que cabe em qualquer fresta, então uma câmera de filme de boa qualidade poderia ter um software e hardware básicos para captura paralela de arquivo, que seria transmitido para o celular sem o risco de o arquivo principal, o do filme, ser corrompido. Imagine então as câmeras profissionais mais completas, e mesmo as filmadoras de película… Os leitores habituais sabem que não sou contra o progresso, mas também sabem que tenho algum cabedal técnico e por isso sei quando uma tecnologia ajuda ou atrapalha; colocar todos os recursos num só aparelho e querer usá-lo como especializado em um ou dois deles, é fazer como aquele investidor principiante e entusiasmado com os balanços de uma ação, ele dificilmente não ficará na miséria. Ter equipamentos especializados reduzem ao mínimo as chances de tudo dar errado, e de seus arquivos vazarem e serem reivindicados por terceiros, mesmo antes de serem publicados.
A praticidade tem seus prós, mas nem na vida pessoal ela deve
ser o norte de uma pessoa, ela te anestesia para os perigos reais e de torna
despreparado para eles.
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