05/07/2021

A especializada é muito melhor!

 


Câmera analógica:

 

Mesmo aquelas mais caras e sofisticadas, cheias de computadores para auxiliar o trabalho. Com tudo certo, e a tampa retirada da lente, seu mané, aponte, dispare e está feito. Se for mesmo das mais sofisticadas, uma memória electrônica vai mostrar se e o que foi clicado.

 

Eu estou falando de um resultado que uma câmera comum de boa qualidade com um filme comum de boa qualidade pode conseguir, sem precisar penhorar os rins para comprar uma no crediário, e as imagens que só um bom filme de prata oferece podem ser facilmente digitalizadas em arquivos imensos que podem facilmente passar de 24mb por photographia. As profissionais com filmes caros e lentes ídem, nem se fala… Decerto que agregar tecnologia NÃO CONTROLADORA  nessas máquinas ajudaria a fazer milagres, faria um photógrapho amador fazer imagens dignas de profissionais, mas isso é assunto para outro texto… se for conveniente.

 

Ah, claro, com a manutenção em dia ela nunca vai te deixar na mão, não importa as circunstâncias. Dificilmente haverá um dano que não compense o conserto.

 

Câmera digital:

 

Ligue, porque se ficar ligada o dia inteiro não há bateria que dê conta, reze para ela iniciar rápido o suficiente para aquilo que tiver sido avistado com a devida antecedência, aponte e clique. Se tudo estiver certo, evite movimentos bruscos porque pode perder o foco e um passarinho não vai ficar parado para esperar o processador decidir o que é um foco e suas implicações sociopolíticas no contexto negacionista da neossociedade cibernetizada, ele vai voar! Então torça para ninguém passar na frente, porque os décimos de segundos necessários à retomada do foco podem ser o fim de uma bela photo!

 

Mesmo com a certeza de que conseguiu tirar aquela photo, a conhecida letargia dos algoritmos pode ter estragado tudo na hora de armazenar e em vez do passarinho, só um galho seco pode ter sido capturado e estar a ocupar pelo menos 1,5mb de memória, na configuração mais econômica e rápida. Claro, com o tempo essa letargia cessa e tudo fica mais rápido, não muito é lógico, mas se precisar desligar a câmera a romaria recomeça. Mesmo em casos de alvos estáticos, como uma flor, pode haver riscos. Descobri que colocando minha mão detrás de uma, por exemplo, ajuda a ajustar mais e melhor o foco de curta distância, então é só tirar a mão de lá para não estragar a composição e disparar, o problema é que não dá para fazer isso com animais, muito menos se for um predador, como uma aranha… pode não matar, mas vai doer muito assim mesmo.

 

Para que uma câmera dessas seja discreta, compacta e caiba no bolso, por exemplo, não pode ter baterias muito grandes, o que te obriga a levar uma sobressalente consigo, sempre é claro em um invólucro plástico para não haver riscos de curto-circuito com as moedas que porventura lá estiverem.

 

A facilidade e rapidez com que essas câmeras digitais photographam e filmam inundou a internet com gente que se acha digna do Oscar, do Leão de Ouro, da Palma de Ouro, do Kikito de ouro, do Troféu Imprensa, do prêmio Nobel da paz, mas que em sua maioria só fez criar registros de vergonha alheia que farão a fortuna dos arqueólogos cibernéticos, e farão seus descendentes tentarem mudar o sobrenome na justiça. Se antes era preciso ter noção de luz, sombra, profundidade e até de sonoplastia, então a babá electrônica das novas câmeras fez todo mundo se achar o próprio Steven Spielberg.

 

Cedo ou tarde ela vai te deixar na mão, simplesmente porque o software, ao contrário do que as pessoas pensam, não vai rodar incólume para todo o sempre. Cinco anos de uso e já vai pedir aposentadoria. Até pode haver quem possa consertar, mas não sai barato. Fora que uma câmera digital para ter a mesma qualidade de uma câmera química, precisa ser ao menos um nível de preço mais cara.

 

 

Câmera de celular:

 

Desbloqueie o aparelho, selecione o aplicativo de câmera, espere ser aberto e tudo checado, reze para o motorista daquele Corvette Stingray estar apenas apreciando a paisagem porque se ele acelerar vai abrir um buraco de minhoca e nem a luz vai alcançá-lo, então clique. Agora, tenha a precaução de fazer isso sem que outros carros em distâncias diferentes se aproximem, o que é claro que não depende a tua vontade! Se um passar na tua frente antes daquele Corvette, lá se foi o foco! Tente tocar na porcaria da tela e rezar de novo para recuperar o foco antes que ele ganhe velocidade, por experiência própria posso dizer que isso pode levar até cinco intermináveis segundos, tempo suficiente para um carro em velocidade mínima permitida por lei andar mais de quarenta metros. Ainda há o risco de Tico e Teco cibernéticos se digladiarem para ver quem tem razão no foco e na velocidade do clique, então mesmo que pressione o botão a tempo, o melhor que pode conseguir é photographar a ponta do para-choque traseiro.

 

Com dois ou três cliques a porcaria do software “entende” que é para dar alguma prioridade à câmera, então os erros diminuem, mas não faça fosquinha antes de entender a anedota. Ainda assim, com a musculatura photográphica já aquecida, perder o foco é uma companhia tão constante quanto indesejável. Se na câmera digital dedicada colocar a mão logo atrás daquela flor pode resolver o problema, aqui há o inconveniente de nem sempre uma mão só poder tocar onde o foco deve ficar e estar em posição para disparar, e tirar a mão detrás daquela flor pode fazer a porcaria da lente focar o chão! O recurso de colocar o botão em qualquer lugar da tela, até facilita, mas exige algum contorcionismo que mãos mais curtas e grossas, como as minhas, não estão aptas a fazer.

 

Há uma miríade de acessórios que ajudam a contornar isso, mas exigindo para tanto mais investimentos financeiros não só com eles, como também com bolsas apropriadas para seu transporte seguro; fora o volume extra que invalida completamente a alardeada praticidade de um celular. Ainda há o inconveniente dos celulares mais modernos, que é a impossibilidade de se trocar a bateria, porque o fabricante decidiu que aqueles 2,5 amperes são o suficiente para todo mundo em qualquer situação mesmo com todos os recursos utilizados regularmente, e quem quiser mais terá que comprar o topo de gama da linha, pelo triplo ou mais do preço.

 

Ainda há um inconveniente, o facto de não ser um aparelho dedicado pode te fazer perder uma photo mesmo com tudo correndo a favor, simplesmente porque se trata de um telephone, então a prioridade é a telecomunicação, e se alguém te ligar a câmera será colocada em modo de espera, consumindo energia da bateria mesmo sem poder ser utilizada. Aliás, nem precisa de uma ligação, basta te chamarem por texto que o alarme abrirá uma aba de aviso e tirará uma parte preciosa de tua visão da composição da imagem, o que pode fazer um pedestre estragar tudo. Não, não é só esperar a se recolher, porque a câmera pode demorar um pouco a voltar à forma e então, meus amigos, o alvo da photographia pode já ter ido embora. Isso se não travar! Nem venham me falar daquela porcaria daquela maçã pode fomentadora de ditaduras, já tive relatos de que aquilo também trava, e quanto mais aplicativos rodando, mais propenso a travar, daí tem que reiniciar, esperar toda a bagunça ser resolvida e já viu… Bau-bau photographia.

 

Como não poderia deixar de ser, a facilidade e rapidez com que imagens e vídeos podem ser publicados na internet, sem o intermédio de um computador, faz com que mais porcarias inundem e baixem mais o já parco padrão de qualidade reinante. Não me refiro apenas a estilos de gosto dúbio, mas à qualidade da produção, muitas vezes maquiadas com adjetivos idiotas com neologismos estúpidos para angariar a simpatia de quem se acha o próprio sucessor de Sócrates.

 

E pode ter certeza de que, não bastasse a vulnerabilidade a ataques cibernéticos, em dois anos o aparelho estará velho. Dá para consertar? Dá. Mas a mão de obra necessária só é justificada se for um objecto de estimação com alto valor sentimental. Muitas vezes o software original não será compatível com as novas tecnologias e o firewall passa a ser só um peso morto, então deixa de ser um utilitário multitarefas para se tornar só um brinquedo. Fora que um celular para ser páreo para uma digital dedicada, precisa muito mais caro!

 

Toda a tecnologia cara de um celular para captura e edição de arquivos, se aplicada a uma câmera digital, faria a felicidade de qualquer amante ou simples hobista, que dirá os profissionais. Pensemos aqui cá com nossos botões; um cartão de memória é praticamente uma unha de plástico que cabe em qualquer fresta, então uma câmera de filme de boa qualidade poderia ter um software e hardware básicos para captura paralela de arquivo, que seria transmitido para o celular sem o risco de o arquivo principal, o do filme, ser corrompido. Imagine então as câmeras profissionais mais completas, e mesmo as filmadoras de película… Os leitores habituais sabem que não sou contra o progresso, mas também sabem que tenho algum cabedal técnico e por isso sei quando uma tecnologia ajuda ou atrapalha; colocar todos os recursos num só aparelho e querer usá-lo como especializado em um ou dois deles, é fazer como aquele investidor principiante e entusiasmado com os balanços de uma ação, ele dificilmente não ficará na miséria. Ter equipamentos especializados reduzem ao mínimo as chances de tudo dar errado, e de seus arquivos vazarem e serem reivindicados por terceiros, mesmo antes de serem publicados.

A praticidade tem seus prós, mas nem na vida pessoal ela deve ser o norte de uma pessoa, ela te anestesia para os perigos reais e de torna despreparado para eles.

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