09/07/2021

Ser mais homem

 

1937-40 Provincetown, Massachusetts - via Mashable

A velha frase “separar os homens dos meninos” é o norte deste texto, não há a menor intenção de ofender, mas se isso acontecer eu lamento, vá procurar seus direitos: uma fralda limpa e uma mamadeira morna. Para começar um homem é um adulto o mais pleno possível, já que a plenitude absoluta é uma panaceia mitológica. Isso significa no nível mais baixo e básico, assumir suas responsabilidades sem hesitação, por mais que isso doe e desagrade. Parece simples? A atitude em si é, mas há uma multidisciplinaridade holística aqui que complica tudo, e isso inclui com agravante a lida com seres humanos, que é de longe a parte mais dolorosa desse corredor polonês que é a maioridade. Gostamos de pensar que somos muito racionais e objectivos, mas na maioria das vezes nem relativos conseguimos ser, a subjectividade ornamentada orienta a maioria das conclusões e reações de quem tem maioridade legal.

 

Assumir suas responsabilidades não se resume a pedir desculpas e prometer arcar com eventuais perdas, especialmente se o evento poderia ter sido prevenido, isso são apenas palavras e palavras aceitam qualquer coisa, inclusive as do papel. É preciso saber que um homem está apto a arcar com suas atribuições e aceitar que nem todas são de sua escolha, terá que lidar com elas até para conseguir conviver em sociedade. Dentre as que lhe serão cobradas, concorde com elas ou não, estão a civilidade, o respeito para com o próximo e sua propriedade, os deveres cívicos e estar preparado para ajudar quem estiver em dificuldades; estes dois últimos são um tanto polêmicos nos dias correntes, mas mostrarei que não são um bicho de sete cabeças.

 

Ser civilizado não implica em abrir um sorriso de plástico para espalhar alegria artificial pelas ruas, ninguém deveria ser obrigado a sorrir o tempo todo e em qualquer situação. O comportamento civilizado implica em ser o menos desagradável possível à civilização, no caso a sociedade em que estiver inserido, dando às pessoas sinais de que não será desnecessariamente agressivo, danoso ou inconveniente. Não importam seus andrajos ou seu estilo, pode ser um terno clássico com chapéu ou um uniforme de motoqueiro selvagem, é o seu comportamento que dará o recado. Evite mostrar aos outros o que está mastigando, isso pode ser divertido às vezes em seu grupo mais íntimo, mas mesmo junto a outros grupos com costumes semelhantes isso vai te fazer perder crédito. Não se comporte em ambiente alheio ou público como se estivesse em sua casa. Claro que não dá para ser perfeito, mas cultivar o hábito de evitar ser mais desagradável do que o necessário faz parte de ser homem, assim como não usar mais força do que a necessária, quando for inevitável. É uma disciplina que só a prática pode oferecer, então não adianta ler compêndios inteiros, postar em redes sociais e ficar nisso, é preciso tornar essa disciplina parte de sua vida até agir assim naturalmente. Da mesma sorte sinta-se no direito de retirar-se em definitivo de qualquer ambiente e companhia que não te aceitar por causa do seu jeito de ser, sem culpa.

 

Manter íntegro o ambiente em que precisar entrar pode parecer óbvio, mas muita gente não vê problemas em causar danos a quem e a que lhe for conveniente. Um homem de verdade sabe separar o pessoal do profissional e do social, isso se aprende ao longo da maturação, então não deixa um sanitário sujo porque o funcionário do local foi rude, ele faz questão de se manter acima daqueles que o ofenderam e por isso às vezes é visto como arrogante; vocês não podem controlar o que os outros vão pensar, quem quer pensar e falar mal de alguém o fará sob qualquer pretexto. Apenas peguem suas coisas, deixem aos outros usuários do local a impressão de que vocês não merecem aquele tratamento e vão se queixar a quem pode resolver o assunto, bater boca com balconista só vai consumir seu tempo, sua paciência, sua saúde e a tolerância da sociedade à sua presença. Neste caso, aceite parecer arrogante, levante o queixo, fite muito brevemente o desaforado e saia bruscamente deixando-o esbravejar sozinho. No final das contas, quem for suficientemente adulto e civilizado vai compreender seu comportamento e dar o devido apoio se for necessário ir aos tribunais, os outros nem desenhando vão fazer a mais remota idéia de suas motivações.

 

Ser cavalheiro faz parte da civilidade masculina. Não confundir cavalheirismo com romancismo idealizador, a diferença é a mesma que há entre um homem pacífico e um pacifista bobo sem noção de realidade. Seja pacífico, nunca passivo; da mesma forma seja romântico, mas jamais se permita ser um sujeito meloso e grudento, cego pela idealização do outro. Um homem que se preze é cavalheiro por si mesmo e apesar dos que o cercam, não por causa do julgamento alheio. Coisas simples como ajudar alguém mais fraco a carregar sacolas pesadas até onde for possível, dentro de sua disponibilidade de tempo e recursos, é o mais básico acto de cavalheirismo e a mais básica demonstração de ser homem. Claro que essa demonstração deve ser como a caridade deve ser praticada, de forma espontânea e sem a necessidade de divulgação, no cotidiano como se fosse algo que qualquer um faria no seu lugar. Se acha isso muito pesado e não está disposto a carregar essa cruz, ainda é tempo de pedir revogação de sua maioridade, com todas as limitações legais inerentes… porque só estou começando. A vida de homem não é para meninos, aqui nós contamos só conosco mesmo e estamos na vantagem se recebermos um tapinha nas costas, mais do que isso é pedir muito.

 

Ainda faz parte da civilidade e do cavalheirismo ceder sua vez na fila, se não houver um motivo realmente impeditivo à gentileza, mas lembre-se de que ceder seu lugar não é simplesmente passar a outra pessoa na sua frente. Lembre-se: cedeu, perdeu. Dê seu lugar e vá para o final da fila, vocês só podem ceder o seu lugar, não os de todos os outros que estiverem atrás, porque não… são… seus. Entendeu? Isso é parte, só parte de assumir as responsabilidades e conseqüências pelos seus actos. E por fila entenda-se não apenas um grupo de pessoas mais ou menos alinhadas em uma sucessão regular e ordenada, mas também ceder sua vez de pegar o táxi ou ser o último a entrar no ônibus, se houver damas pleiteando o embarque, especialmente no caso de haver elementos não confiáveis no ponto. Compreenderam que assumir riscos à sua integridade e aos seus bens faz parte de ser homem? Não é porque fez alguma coisa boa que ficará isento de implicações negativas, estejam sempre cientes e prontos para isso.

 

Ao volante ou guidão de um veículo não é diferente. Cabe à parte mais forte, proteger os outros e isso inclui ser tão prudente e prevenido quanto possível. É preferível perder tinta a perder sangue, então um automóvel deve proteger um pedestre, mesmo que se colocando deliberadamente na rota de atropelamento para ao menos atenuar o impacto, especialmente se a potencial vítima for um idoso, uma gestante ou uma criança. Novamente a regra de não fugir às suas responsabilidades vem à tona, vocês terão feito algo bom que pode ter conseqüências ruins por um bom tempo porque, bem, não preciso ensinar a ninguém sobre a selvageria e desdém para com a vida que é o típico comportamento ao trânsito no Brasil, o causador da colisão pode se sentir ofendido por ter sido detido e isso vai roubar uns bons anos de sossego em disputas judiciais. Este parágrafo é um gradiente para o próximo ítem, o respeito para com o próximo.

 

Da mesma forma como um homem de verdade faz algo em sua rotina sem pretender ofender, também deve ter por pressuposto que a atitude ou reação do outro não terá sido intencionalmente ofensiva, isso não só evita contendas desnecessárias como também julgamentos precipitados de juízo, o que em si é uma grande demonstração de respeito para com o outro. Um rompante de indignação que culminar em um impropério cabeludo, pode ser apenas um desabafo que deverá ser abordado em momento oportuno, nunca na ocasião e no estado de espírito que o originou, isso também é uma demonstração de respeito porque preserva uma provável dor que o outro talvez não possa expor em público, e o público de cenas absolutamente desnecessárias. Pareça frio e arrogante no primeiro momento, se for necessário, isso inclusive ajudará a separar uma pessoa injuriada que soltou um desabafo que não cabia mais no peito de um real ofensor, este vai insistir e deliberadamente tentar causar problemas então a sua reação deve ser, para o horror de alguns que porventura estiverem lendo este texto, a mais masculina possível: defenda-se e aos próximos, ainda que buscando apoio policial.

 

O princípio de que a vida do outro não é da sua conta, enquanto não invadir o seu espaço, também faz parte de respeitar. Não é porque alguém relaxa no comportamento público que constitui risco iminente, pode ser apenas uma mentalidade permissiva e carente de formação familiar. Fique atento, mas não preste atenção à intimidade alheia, da mesma forma que não se deve aproveitar a distração de alguém a redes sociais para bisbilhotar sua vida cibernética, que quase sempre está vinculada à pessoal em um grau bastante avançado. Tu és detetive? Policial? Agente secreto? És responsável por aquela pessoa? Se as respostas forem negativas, então deixe a privacidade do outro para ele, e mesmo nos casos citados ainda cabem limites à vigilância, que variam muito e devem ser adaptados a cada contexto. É como adentrar no ambiente privativo de alguém, assim como seria alguém adentrando no seu ambiente privativo. Claro que qualquer indício de comportamento perigoso deve ser reportado a quem for de direito, fora isso um homem cuida da própria vida e deixa os outros viverem as suas. Mais do que isso, não espera por reciprocidade para ser respeitoso, apenas usa o tom adequado a cada situação.

 

Claro que não poderia deixar de falar sobre o respeito tradicional, tão difamado nos dias correntes, mas sem o qual não teríamos sobrevivido como espécie. Começando, um homem deve aprender a diferença entre insistência e assédio, que essas gerações mais recentes colocam no mesmo saco, como se joio e trigo fossem a mesma coisa só porque são ambos vegetais. E pelo amor de Deus, aquela abordagem infantilesca de “e aí, quer ficar comigo” é um dos maiores causadores de mal entendidos que há! Vocês não podem controlar o que a outra pessoa vai pensar, mas evitar passar uma má impressão desnecessária é imperioso! Aquela expressão já denota aos ouvidos do outro que seu interesse é meramente pubiano! Também por isso um homem não deve portar-se como um menino, porque de uma criança se tolera algo assim, nunca de um adulto. Um homem deve saber abordar com respeito e isso sempre começa com uma saudação consistente, ainda que informal, seguida de comentários sobre o ambiente, o tempo e só então indo para a parte pessoal. Não é um ritual inútil e tampouco estou obrando regras, é um gradiente necessário para a outra parte demonstrar se aceita a sua presença, isso em toda e qualquer situação. Manter uma distância mínima, que dê à outra pessoa a certeza de que poderá evadir para qualquer lado a qualquer momento, é não só sinal de respeito como também um avalista para futuras abordagens… ou mesmo para que o provável par da pessoa não chegue acreditando que se trata de um assédio.

 

Se a pessoa não estiver naquele lugar explicitamente para ter experiências íntimas, nem toque nesse assunto! A insistência, uma vez assegurada a ausência de entraves, se dará com ca-va-lhei-ris-mo. Com gentileza, avançando terreno sem avançar sinais; também se não houver insistência, não haverá pares e a pessoa pode interpretar isso como desinteresse puro. Aquela receitinha básica e beijar a mão, se despedir com cordialidade, mandar flores e tudo mais é o que realmente funciona em uma sociedade saudável; ainda que vocês precisem ser a parte saudável desta sociedade. Essa demonstração de respeito vai se ramificar e ter duas conseqüências principais; primeiro vai mostrar aos seus amigos, bem como aos amigos da pessoa e à sua família que suas intenções não são a de usar, ter prazeres e depois abandonar; a segunda é que vai selecionar as amizades, porque ataques verbais e digitais maldosos virão à tona e muita gente de seus círculos vão concordar com os detratores, então será hora de virar uma página e nela deixar toda essa gente. Aos restantes, principalmente à pessoa de sua insistência respeitosa, ficará a impressão de que és um homem-feito, disposto a abrir mão do que gosta para arcar com seus princípios, objectivos e responsabilidades. Seus defeitos serão mais tolerados e suas virtudes chamarão mais atenção do que eles, esta é uma das partes boas de tudo isso.

 

Da mesma forma o respeito próprio é imperioso, sem o que os mal intencionados te enxergarão prontamente como uma presa a ser abatida. Isso não é somente para agressões físicas, mas também para o âmbito social e profissional. É relativamente fácil, mas lamentavelmente cada vez menos para as pessoas identificarem quem é o agressor, assim sua pronta defesa e demanda imperativa por respeito será bem compreendida, mas quando a agressão é imaterial a coisa complica. Por isso mesmo reserve-se o direito de não dar explicações sobre seus gostos, suas preferências e seus hábitos privativos, é o seu mundo particular e nele as regras são as suas. Não se queixe, não se explique. Embora apreciar a beleza feminina seja considerado crime por essas gerações mimizentas, não o é; e o pior é não haver adjetivo melhor do que esse para descrever essa gente. Ainda que a estética admirada seja a impossível das heroínas de quadrinhos, o problema seria exclusivamente seu, se fosse realmente um problema, porque um homem sabe diferenciar a realidade da fantasia e não mistura as coisas, então mande essa gente ir trabalhar e imponha respeito. A quem reclamar dê o contacto de um bom psicoterapeuta.

 

Mais uma coisa… Sim, o policial é seu empregado, o carimbador é seu empregado, o prefeito é seu empregado, até o juiz é seu empregado, todos eles lhe devem respeito e satisfações do que fizerem em seus trabalhos, mas só até certo ponto. Como homens, vocês precisam saber que eles estão lá porque há um acordo coletivo e todo o trabalho que estiverem fazendo a contento deve ser resguardado, bem como suas figuras oficiais devem receber o devido respeito, para isso eles infelizmente precisam ter algum grau de autoridade, é inevitável em sociedades complexas. Exija respeito, mas nunca deixe sua indignação abrir precedentes para que detratores das liberdades individuais enxerguem brechas para suas manifestações nefastas em prol de tiranos. Até mesmo o homem que tentar te matar deve ser tratado com a frieza respeitosa de quem vai esfregar na cara do agressor que a vida continuará apesar dele. Da mesma forma um homem não confunde a afronta pessoal com desacato à autoridade e não usa seu uniforme, ou crachá, para intimidar manifestações pessoais de desagravo. Mantendo-se o limite do respeito, deixe entrar por um ouvido e sair pelo outro, faça o que tiver que fazer e siga com sua vida.

 

Isso, por falar nisso, faz parte dos deveres cívicos, que prezam pelo bom funcionamento e pronto reparo de mazelas da sociedade. Para quem torce o nariz, aqueles com comportamento cívico têm mais credibilidade e voz para quem pode ajudar a resolver os problemas; se esta explicação não foi suficiente, então volte para o jardim de infância, sua maturidade não foi bem-sucedida. Para os que se puseram a pensar a respeito com o espírito desarmado, esclareço que isso nada tem a ver com idolatria ideológica ou partidária, tampouco com a hedionda adulação a figuras públicas, que como eu disse são nossos empregados. Não nossos salvadores, nossos empregados! Se alguém não respeita os próprios empregados, não é boa pessoa e neste específico caso não é um homem de verdade, merece falir e ter um chefe tão duro ou mais. Bons chefes prestam um serviço à pátria muito maior do que o vulgo se apercebe, pois incentiva seus subordinados à prontidão para qualquer problema que ocorra na empresa, e uma vez acostumado à prontidão um eventual chamamento às armas será muito mais ágil e efetivo. Lembrando que um HOMEM é preponderantemente pacífico, mas JAMAIS passivo; almeja a paz para si e a outrem, mas não recua ante uma agressão injustificada.

 

Da mesma forma um homem está sempre o mais a par possível das condições gerais de seu país, a começar pelo seu bairro, então sua cidade, seu Estado e da União; mas não só isso, porque um desarranjo em qualquer nação do mundo chega cedo ou tarde às nossas fronteiras. Então sim, o que espero que ao menos alguns de vocês tenham se dado conta, um homem deve estar pronto para a disputa diplomática, em qualquer esphera que seja necessária, desde uma birra entre duas crianças até o auxílio que lhe for possível para evitar contendas armadas entre outros com o seu país, mesmo que influenciando, persuadindo e dissuadindo cidadãos d’outros gentílicos. Não há pressão mais eficaz do que a interna. Se eu faço isso? Sim, faço, dentro do que me é possível vou ao limite. Mas isso não seria possível se eu estivesse à mercê de pensamentos e conclusões alheios, com lentes ideológicas e partidárias a distorcer minha visão; uma visão saudável nua é distorcida o suficiente para causar problemas, não precisamos de mais. Para tanto se faz necessário o aprendizado de que tantos têm declinado das lições de vida, por serem em suas mentes muito restritivo, e também por isso um verdadeiro homem tem se tornado artigo tão raro.

 

Uma extensão do civismo é a disposição em amparar seu compatriota em apuros, bem como o esforço diplomático do auxílio a estrangeiros que padeçam em suas paragens. Especialmente se noutras gestões tenhamos tido participação nos apuros de que esses estrangeiros padecem. Lembram-se? Arcar com as conseqüências de seus actos faz parte de ser homem. Não aceitar delegar a soberania a outros países, especialmente a ditaduras também, isso é imprescindível a qualquer engajamento cívico. Sem soberania não há como decidir sobre seu próprio destino, sob influência ditatorial não há como decidir de verdade nem o que se vai comer amanhã. Também por isso um homem não passa a mão na cabeça de sua própria indústria, mas faz o que estiver ao seu alcance para prestigiar e estimular seu desenvolvimento, tornando seu país menos dependente de serviços estrangeiros, dando ao mandatário mais poder de dissuasão em qualquer confronto diplomático. Não são só armas que dissuadem, se o outro país ver que o seu está se lixando para eventuais embargos, ele terá que ceder em alguma coisa, e essa coisa pode vir a ser o modo como trata seus próprios cidadãos, aqui a moeda de troca é pagar não só pelo que eles querem vender, mas também para o modo como aquilo foi fabricado.

 

Dar particular atenção às tradições, excluindo aqui as mazelas, é um modo saudável e adulto de vivenciar seu dever cívico, porque te integra à nação e ao gentílico com mais facilidade. Um patriotismo saudável e equilibrado salta aos olhos, mas pode parecer exagerado aos detratores, especialmente aos que fazem apologia a tiranos, e por isso eles se esforçam em minar o respeito pelas instituições. Um homem patriota inspira respeito e temor, dependendo das intenções do estrangeiro naquele momento, e por isso pode ser perigoso aos olhos de seus apoiadores. Dentro do princípio de não romantizar ou idealizar, o patriotismo pode crescer à vontade, pois se sustenta por si, evitando que o homem perca suas virtudes e ponha tudo a perder por causas fúteis, apenas por ter sido afrontado. Amparado no conhecimento robusto das tradições, o que inclui o contacto com quem as pratica, incluindo com indígenas, um homem tem subsídios para enxergar com nitidez que limites podem ser expandidos e quais devem ser deixados como estão, ao menos por ora. Justamente por essa visão amadurecida algumas atitudes podem ser mal compreendidas e até usadas em seu desfavor, especialmente no pardieiro das redes sociais, em particular por conta da famigerada e infantil subcultura do cancelamento. É um risco que seus pais nem imaginavam que viria a existir, mas vocês têm que enfrentar com a dignidade necessária, e especialmente não arredar pé de absolutamente nada.

 

Não renegue pura e simplesmente boas coisas importadas, elas têm muito a nos ensinar, mas sempre que possível dê preferência ao que tiver sido produzido aqui, principalmente demande reciprocidade, cada hora de trabalho importada deverá corresponder a outra exportada. Não se trata simplesmente de um interesse comercial, mas da manutenção do bom funcionamento interno de seu país. Sim, o Brasil dormiu no ponto e nem de longe temos algo que se compare ao refinamento tecnológico de um Cadillac em nossas linhas de montagem, então aqui vamos novamente recorrer ao cavalheirismo, ao bom senso, à diplomacia e à matemática para equacionar a questão. Não é preciso sacrificar os nossos para prestigiar o que o exterior tem a nos oferecer, e vice-versa. Uma balança comercial positiva não é tudo, a troca voluntária de bens, serviços e riquezas, quando feita com honradez e celeridade, faz milagres para uma economia. E por falar nisso, que tal falar bem de nossos productos tradicionais em suas redes sociais? Rapadura, moça, pamonha, as redes nordestinas, canções tradicionais, festivais populares, a literatura tradicional e uma miríade de atrações sedutoras que angariariam rapidamente a simpatia de populações estrangeiras, deixando seus governos menos propensos a serem hostis, por pura falta de apoio interno.

 

Tudo isso que escrevi, embora pareça muito a alguns de vocês, é o básico de ser um homem que assim mereça ser chamado, a vida de cada um acrescenta detalhes, melindres e apuros que só cada um sabe quais são. Respeite, respeite-se e exija respeito. Não quis ofender, longe de mim, mas se alguém se sentir ultrajado os conselhos classistas de psicologia e psiquiatria ficarão felizes em encaminhar vocês para bons profissionais.

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