Arte de Banksy, exceto a máscara, Inglaterra |
Eu
limpo e esterilizo a sala logo na primeira hora em que chego, e sou sempre o
primeiro a chegar. Depois vem alguém e passa álcool novamente, mesmo eu já
tendo alertado que o fizera, mas a pessoa retruca “Antes pecar pelo excesso do que
pela falta”. Dez minutos depois a mesma criatura refaz o procedimento na mesa
inteira, mesmo que não tenha utilizado o aparelho, e assim vai durante todo o
expediente. E cada vez que o telephone é utilizado, mais uma camada de álcool é
passada, felizmente as janelas daqui são relativamente grandes e estão sempre
abertas. Mais do que esse comportamento obsessivo, que já vai às raias da
higiopatia, chama a atenção o facto de todos os outros acharei isso normal; ou
“novo normal, como reza a nova idiotice do vocábulo midiático repetido à
exaustão pelos paranoicos passivos. Há muitos anos que as vendas por internet
crescem vertiginosamente, em alguns setores já superaram as lojas físicas
correspondentes, em especial no mercado editorial. É incomparavelmente mais
barato e o alcance é inimaginavelmente maior, isso já acontecia inclusive nas
vendas de automóveis.
A
falta de hábito, ou até desconhecimento de sites especializados em economia e
tecnologia corrobora para isso, porque neles os leitores habituais já estavam
de sobreaviso para o novo mundo nascente, que agora sai por cesária.
Infelizmente os paranoicos não vêem esses canais, na maioria das vezes os
rejeitam, porque eles jogam na cara a fragilidade das informações de que se
gabam em seus proclames simplistas e decorados por retóricas vultuosas. É na
forma que se concentram e com ela que se deslumbram, o conteúdo geralmente lhes
é indigesto. Às vezes, tão somente às vezes e não em todos os casos, dizem que
não estão a par para terem opiniões, mas opinam subliminarmente assim mesmo,
depois voltam a repetir “Currupaco! Pandemia! AAAAAAAAH!!!” para todo mundo
ouvir. Acreditar que tudo isso é novidade dá a sensação de que estão na
vanguarda e, de alguma forma, no controle de uma situação totalmente descontrolada,
que é a própria vida.
Em
primeiro lugar, todas as mudanças econômicos que estão acontecendo JÁ VINHAM
ACONTECENDO desde o início do século, algumas desde os anos 1990. O que essa
pandemia fez, como toda crise global, foi acelerar tudo e fazer gente tirar
projectos que jaziam em suas gavetas.
Em
segundo lugar, micro-organismos não são gatos de senso comum, eles só morrem
uma vez, lavar e esterilizar alguma coisa obsessivamente não torna o ambiente
mais saudável, pode até mesmo estragar tanto os utensílios quanto a própria
pele do indivíduo, pele que é a primeira barreira contra contaminações.
Em
terceiro, mas não menos importante lugar, o foco monopolizado induz à
displicência para com as outras actividades, que não por acaso são os fins de
um ambiente de trabalho, às vezes até mesmo o doméstico; como deixar
computadores freqüentemente ligados e abertos na senha do funcionário, não raro
varando a noite assim, à mercê de espertos e de hackers. Vi agora a pouco um
caso desses com a cafeteira nova… que passou a noite ligada… agora estão
limpando a bagunça. Imaginem isso no trânsito. Imaginaram? Pois já vi também.
A
voracidade com que devoram notícias repetitivas, que falam a mesma coisa com
sotaques diferentes sobre a pandemia, sempre noticiadas como se TODOS os
locutores tivessem exactamente o mesmo texto em mãos, não se repete na
indignação que deveriam ter com as notícias de abusos das castas do judiciário
e do legislativo. Tentar mudar de assunto é quase infrutífero, sempre voltam
repetindo a ladainha “A pandemia do covid 19 do novo coronavírus” como se
tivessem memorizado um script de filme B, não raro perdem as estribeiras ao
menor desvio de tópico, te acusando de negar a crise sanitária e de ser uma
ameaça epidemiológica para toda a humanidade, acrescentando “você não é
epidemiologista” a cada frase dita com rudeza. Após destilarem sua raiva,
voltam a conversar como se nada tivessem feito, ou pior, como se estivessem em
seu direito régio de fazê-lo, o que é muito comum. Depois de te irritarem, pedem
calma… Dão a entender que querem que essa situação dure para sempre.
O
comportamento se assemelha ao que me acostumei a ver em dependentes químicos,
mas ao avesso, porque aqui a pessoa se tranca em uma bolha de realidade pior do
que a própria realidade, e não tolera receber uma boa notícia a respeito que
não venha acompanhada de um alerta de que todos vamos morrer. Eles simplesmente
QUEREM ver notícias ruins, contando infecção por infecção, morte por morte,
caçando canais e sites que repitam cada má notícia a respeito; paralelamente
minimizam qualquer bom progresso. Ainda em comum, eles defendem os fornecedores
de suas drogas com unhas de dentes, como se fossem seus únicos elos com a vida.
Essa auto-obsessão já seria suficientemente ruim se estivesse limitada ao
indivíduo, mas ele insiste que todos devam agir como peru de natal. Manter a
calma não é um problema, se você conseguir NÃO aparentar estar mais calmo do
que eles, porque isso pode soar-lhes como inapropriado ou até ofensivo para uma
época de emergência sanitária. Não obstante, os profetas apocalípticos
oportunistas ganharam mais um tijolo para servir de palanque, para alardearem
que a humanidade não presta e que o mundo está se livrando de nós, tudo
salpicado de discursos antissistema que saíram de moda nos anos 1970; as
grandes extinções, que me conste, não afetaram seres humanos.
Eu
não contesto a necessidade de evitar aglomerações, mas não é exactamente isso
que eles têm feito, porque mesmo Róbinson Crusoé corre o risco de multa e
detenção. Tirar a máscara por uns minutos para comer ou beber, já pode render
cliques convenientes para postagens acusatórias, que só mostram aquele momento
de rosto nu, como se fosse um atentado ao pudor. Usam flagrantes desrespeito
aos decretos para isso, em seus discursos generalizadores, quando se dão o
trabalho de se explicar. Muitos desses pandenoicos já se vêem como autoridades,
ou mesmo como reserva moral da humanidade, e eu gostaria muito que isso fosse
apenas um exagero ilustrativo, como recurso didático, mas não é. Não usar
máscara dentro do carro, mesmo apenas com o motorista, já é risco de autuação.
Se deixarmos, tomar banho e dormir sem máscara será crime. Não basta ser doente
ou dependente, é preciso que todos ao redor o sejam também.
O
caso mais icônico foi um fiscal de Poços de Caldas ter interrompido uma missa
que estava sendo transmitida pela internet, com a igreja vazia, com portas
fechadas (ver aqui)
violando a própria constituição, que para os cleros tornou-se apenas um detalhe
a ser ignorado ou levado ao pé da letra, de acordo com a conveniência de
múltiplos pesos e medidas... e o papa pandenoiado simplesmente não tomou
conhecimento… ou deu de ombros, que é o mais provável. Reações do público?
Praticamente nenhuma, além dos católicos mais tradicionais, cuja indignação não
constou nos pasquins de pandenóia. Novamente o comportamento típico de
viciados, que minimiza ou mesmo justifica prolixamente os abusos feitos em nome
de seu vício. O que deveria ser apenas o monitoramento de uma crise sanitária,
com as devidas correções onde realmente se fizesse necessário, tem se tornado
um punhado de Estados policiais paralelos espalhados pelo país, não raro Estados
paralelos dentro do próprio Estado e financiados pelo erário, como o caso de
Poços de Caldas.
Vocês
podem imaginar até onde isso vai, não podem? Vocês, meus poucos leitores
habituais, sabem o que acontece quando o oprimido se dá conta de que é mais
numeroso, mais forte e que neste caso até financia o aparato opressor… cortar o
patrocínio seria a primeira coisa a fazer. O bordão “vá estudar história”
deveria servir de lição aos próprios pandenoicos… e principalmente aos
parasitas oportunistas.
2 comentários:
Toc toc adoraria saber como o genuíno Zezinho estaria lidando com esse momento de cárcere pandêmico e político.
Basicamente ele exporia os ridículos dos excessos e faria um mini mundo no quintal, para circular livremente.
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