Vladimir Kazak |
Declaro
minha mais profunda e sincera repulsa por rótulos, por dogmas, por ideologias,
por quaisquer artimanhas classificatórias que não tenham plena e sólida raiz
nas elucubrações matemáticas da ciência, bem como seu indelével e fiável respaldo.
Declaro
minha aversão a elogios gratuitos, a opiniões agressivas, a maquiagens
eufêmicas à agressividade, a discursos que tomam a legítima vez de respostas
simples e objectivas, a qualquer manifestação de imposição intelectualizada que
não tenha o alicerce compacto e vasto da investigação criminológica.
Declaro
ainda minha inaderência a conceitos que não os meus próprios, aos quais nem
sempre adiro. Minha total devoção ao nada e a Nada, na firme convicção de que
não há outra fonte lícita e limpa de raciocínio e conclusões, posto que não
suportam as pré-concepções e a invasão de idéias que não emirjam de meus
próprios abismos e minha própria estrela.
Posto o
exposto, declaro enfim que rejeito cognomes, jargões, apelidos, denominações e
comparações que não partam de meus cabedais, mas somente de mim e para mim, sob
nenhuma hipótese a orbitar egos alheios.
O
capitalismo está morto. Como previsto e previsivelmente, algoz de si mesmo em
seus ímpetos suicidas. Contra o previsto e previsivelmente, não levou consigo o
ocidente e toda a sua bagagem civilizatória, que ora vaga a deriva no mar
bravio da transição econômica, social e de paradigmas, em sua notável
resistência ao assédio fomérico das piranhas anarquistas, que se consomem umas
às outras ante cada investida frustrada.
O socialismo
está morto. Como previsto e previsivelmente, algoz de si mesmo em seus ímpetos
messiânicos. Contra o previsto e previsivelmente, não logrou êxito à descendência
de que lhe esperavam. Ainda visível, mumificado em canções e poemas plenos de
boas intenções, que vêem o cadáver intacto como um homem apenas em repouso no onírico,
reino do qual jamais realmente saiu.
O comunismo
é natimorto. Como previsto e previsivelmente, vítima de sua alardeada fúria
niveladora. Contra o previsto e previsivelmente, embalsamado após seu aborto,
por ter rompido com os dentes de sabre o cordão umbilical que mantinha-o vivo,
ainda em gestação, por negar a necessidade da tutela materna e sua origem já
contada. Ainda visível, imerso em formol, cercado por órfãos que jamais o
foram, inconformados com o luto ao qual se renegam e contra o qual se revoltam.
Não acredito
em boas intenções, não da prévia e alegada à qual tanto recorrem os defensores desta
ou daquela ideologia. Bons intentos são muitas vezes guarnecidos de gestos
atrozes, pelo simples facto de o bem intencionado não se crer apto a
atrocidades, posto que de si só emanariam o amor e a justiça, ambos cegos e altamente
seletivos em suas mãos.
Não acredito
na inocência prévia, sempre susceptível aos adornos jocosos do cinismo típico
dos mentirosos, que de tanto mentirem, acreditam nas próprias invenções. A
inocência é sempre a alegação, mesmo perante a prova material, dos que
manipulam, subtraem e traem sem pudores e nem remorsos, indiferentes quanto ao
destino de suas vítimas agonizantes.
Ainda que se
me arguam pelos motivos de ter feito o que não fiz, não guardarei rancores no
espaço que dedico a Nada e nada mais direi, além de que a pergunta está
equivocada. Uma interrogação acerca de um factóide pressupõe a culpa e não
permite que se responda o que não se lhe imponha veredicto condenatório. Não
importa o que se responda ao erro, sempre redundará em erro. Deve-se, pois,
corrigir de nascença a retórica de falsa confissão.
Chamo à
razão os que me ouvem, lêem ou mesmo captam os pensamentos. Não à sua razão,
tampouco à minha rude, mas à razão da investigação que busca raízes, não os
responsáveis pelo plantio. O estudo da raiz dirá por si a autoria do plantio,
mas nunca o inverso nos permitiria, por cercar-se dos holofotes das emoções e comoções.
Chamo à
razão que questiona causas e correlações, nunca autoria, pois quem busca o
responsável por precipitações meteorológicas, sempre encontra um ou mais, sejam
reais ou não, mas sempre inocentes do que encerra em si a causa e a
conseqüência. Autores, se houver, serão denunciados pela descoberta artificial
da chuva em questão.
Chamo, finalmente,
à razão simples e órfã, à fonte de conclusões que coloca cada qual em seu
devido papel, sem inversões e sem adaptações do toro ao círculo, cujas
semelhanças precipitam conclusões não investigadas. Ao dar a cada um o seu
papel no palco dos eventos, deixa-se ao cérebro livre o dever de revelar o
afresco sob a tinta grosseira, sem danificar a paisagem frágil que se escondia
sob a pintura de camuflagem. Ao dar a cada um o seu devido papel no roteiro dos
acontecimentos, deixa-se ao coração livre a tarefa delicada de analisar a obra
revelada, para dosar os rigores e os amparos de que cada ponto necessita ao
restauro e exibição pública, permitindo a cada sephirah o livre e pleno
exercício de suas atribuições, que só se executam a contento no nada e em Nada.
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