Foi assim que ela fez tudo o que fez |
Foi interessante e até um
pouco triste, diga-se de passagem, ter constactado que as páginas de economia
costumam ser mais humanas do que as ditas “sociais”. A começar pelo foco. Essas
páginas, apesar de lidarem com o calculismo e a frieza dos números, histórica e
preconceituosamente tidos como inimigos da vida, se concentram em oferecer
soluções práticas. Apesar de sim, haver interesses particulares em mover a
economia, e falarei disso mais tarde, o modo como abordam é expor roteiros
factíveis e alertas sérios.
Um dos métodos mais
recorrentes é ajudar o leitor a se educar financeiramente. Pode parecer tedioso,
mas é necessário e o brasileiro prova em reincidências que não sabe lidar com
dinheiro, por isso o assunto é sempre pertinente. Sabem aquelas regrinhas de
ver quanto se ganha e colocar no papel o que se pode comprar e pagar? Nós não
sabemos. Não sabemos e a encrenca que foi a última farra de empréstimos é
prova, caímos na mesma armadilha que vitimou os espanhóis e confiamos nas prestações
a juros camaradas em parcelas a perder de vista. Só que não temos um bloco econômico
e político como a União Européia para nos salvar. O Mercosul é uma piada com
validade há muito expirada.
Juros compostos passaram
longe! Aliás, o aprendizado de matemática básica passou muito longe! Também o
de história recente, de geografia, enfim, tudo! Só que não adianta procurar
culpados e apontar dedos, como as páginas de “cunho social” fazem. Não sem
investigações individualizadas e muito menos sem antes consertar o que se puder
do estrago. Há quanto tempo elas fazem isso? Só conseguiram lançar candidatos a
cargos eletivos que, empossados, fizeram as mesmas misérias de todos os
anteriores, e ainda os culpam por seus erros, incitando à discórdia e ao rompimento
de relações pessoais, para preservar sua base eleitoral.
As páginas de economia, por
outro lado, puxam tua orelha sem dó, mas sem apontar um dedo sujo de esfíncter para
teu nariz. Em vez de te tratarem como um número na multidão, tratam como
indivíduo, compreendem que não existe uma solução econômica única para todas as
pessoas do mundo. Por quê? Porque cada indivíduo tem seus próprios sonhos, e
mesmo os sonhos partilhados têm motivações diferentes em cada um que os
acalenta, É por isso que tratam o leitor como pessoa, não como massa. Um sonho
SEMPRE deriva de uma necessidade, consciente ou não. Irônico isso vir de um
ramo de negócios corporativos, não? Não, não é.
Acontece que o dinheiro que
vai para cada um, serve para as necessidades de cada um. Quando digo “necessidades”,
não me refiro só à subsistência de nível pré-histórico, que muita gente prega
como modo ideal de vida. Prega e muitas vezes tenta impor ao resto do mundo. Pessoas
criativas, inventivas, com sede de realização, precisam de mais recursos do que
as que aspiram à rotina horizontal e plana. Se bem que estas só conseguem
vislumbrar essa planície porque alguém quis fazer mais, o que forçosamente
utiliza os serviços dos que almejam a mansidão perpétua, dando-lhe recursos para
manter seu modo de vida.
Vocês estão lendo isto,
gostando ou não, porque alguém sonhou mais alto. Sonhou e conseguiu mover uma
roda gigantesca, que moveu toda uma engrenagem de altíssima precisão, que não
perdoa erros. Esse alguém pensou um pouquinho fora da caixinha. Não precisa ser
muito, só um pouco mesmo, para ver que não dá para aperfeiçoar muito a vela de
parafina, a lâmpada precisou mesmo ser inventada e viabilizada para uso
comercial. Sim, comercial, é assim que os recursos movidos são repostos e
permitem outros avanços. Boa vontade indica o modo operacional e o fim de uma
empreitada, mas não a materializa. Lembrem-se das broncas da mamãe; devemos
viver para os sonhos, não de sonhos.
Aqui vale uma regra de
economia que a maioria ignora, e muita gente quer manter na ignorância. O que
torna uma coisa valiosa não é ela em si, é você. É o trabalho humano envolvido,
a necessidade da aplicação e o desejo de ver o resultado, que faz algo valer o
tempo dedicado, que é expresso em unidades de troca válidas em todos os
territórios que a doptam. O nome genérico dessa unidade é dinheiro. Por isso
uma economia dinâmica e equilibrada, com a plena confiança dos envolvidos,
consegue transformar em fortunas o que até então era nada. Ou seja, bens e
serviços podem ser valorizados, riqueza pode ser criada, mas isso depende da
unidade e coesão dos executores econômicos, que somos nós.
Ao contrário da crença geral
e banal, pessoas felizes são boas para a economia, e uma economia feliz é boa
para as pessoas. Um é o agente e o outro a ação, ambos estão bem ou ambos estão
ruins, não há aqui um meio termo. Mesmo uma economia com indicadores
extraordinários, sem uma população feliz e próspera, é doente e cairá enferma a
qualquer momento. Se as pessoas estão bem, elas fazem coisas boas, e fazer as
coisas é o que move a economia, o dinheiro é apenas um combustível que, como já
vimos, é renovável e reutilizável. E ao contrário da crença geral e banal, sem
o avanço técnico e econômico, não teríamos consciência do valor de um recurso,
e provavelmente já teríamos devastado todo o meio ambiente sem nos darmos
conta. Faça as contas e veja TODOS os exemplos.
Não existe uma mão
invisível, não existe uma entidade mítica, não existe uma sociedade secreta com
motivações secretas sob identidades secretas, tudo isso é mito. Mas existem sim
muitos picaretas que alimentam mitos para manter as pessoas alienadas, sabotar
uma economia e forçar todo mundo a trabalhar selo seu sonhozinho egoísta.
Entendam que manipular a economia é como manipular o livre arbítrio de uma
pessoa. Um Estado que fiscaliza de perto a movimentação econômica e a acerta
nos trilhos, tão somente quando necessário, tem um país próspero e promissor,
mesmo que indicadores do momento digam o contrário. É como uma pessoa forte e
saudável que cai, se fere e sente as dores por algum tempo.
Vamos deixar claro que o
motivo que leva uma pessoa minimamente hígia em suas faculdades neurológicas e psicológicas
a querer mais dinheiro, é realizar a parte material de suas necessidades e seus
sonhos. E quando incluo a higidez nesse rolo, me refiro também ao caráter. Mau-caratismo
pode ser considerado um trampolim para facínoras.
Mas de quanto dinheiro uma
pessoa precisa para realizar um sonho? Aos que alardeiam que é nenhum, reitero
que cada um tem seus próprios sonhos, que os teus com certeza não servem para
mais ninguém. Uma rede pendurada na varanda de uma casinha longe da civilização
é teu sonho? Vá atrás dele, mas não tente impô-lo aos outros. Há quem não goste
de abrir a porta e ver mato, não é problema teu. Há quem goste de abrir a
janela e ver vastos jardins organizados em calçadões bem ornados e cercados de
prédios elegantes. Egoísmo? Quem mesmo quer viver sozinho e só para si? Respeite
o sonho do outro, não há dinheiro que o pague, mas há dinheiro que o viabiliza.
Se não puder ajudar, como as páginas de economia tentam fazer, não atrapalhe.
Digamos que meu sonho seja o
controle acionário absoluto da General Motors Company... PUTZ, voei alto! Tá,
mas não é mirando na horizontal que se acerta um alvo distante, mesmo que ele
esteja no teu horizonte. É para cima e para frente, em ângulo de 45° que se tem
o melhor disparo. Mas ser o rei de Detroit não seria meu objectivo final, seria
a base sólida para uma miríade de realizações que esse posto me permitira. Não
importa agora quais seriam elas, é do meu escopo, só asseguro que não
disseminaria miséria e opressão estatal para conseguir isso.
Um dos mitos mais arraigados
é o de que se precisa de muito dinheiro para se fazer muitas coisas. Na verdade
é suficiente gerenciar a aplicação repetida e em tempo hábil de uma quantia bem
mais modesta do que se imagina. É como transportar em uma Kombi a carga
fracionada que caberia a um gigantesco Kenworth. Ela dá conta, desde que tu
concordes em esperar mais pelo serviço e se empenhe em fazer dezenas de
viagens. Compreenderam? É a necessidade do indivíduo, da pessoa, que move o
mundo e produz uma inovação. Darei mais um exemplo, desta vez mais técnico.
Um motor produz trabalho,
este é nominado por unidades de potência, sendo o cavalo-vapor uma das mais
utilizadas. Como se produz potência? Aplicando força e movendo a máquina. Força
parada produz zero resultado, portanto zero cavalo-vapor, ou 0cv. Não importa
que se aplique uma tonelada, sem se mover, ela não beneficia ninguém e não serve
para absolutamente nada. No caso do motor, a força trabalha girando as rodas, e
força que gira é chamada de torque. Um pouco de torque girando muito rápido,
pode produzir a mesma potência de muito torque girando devagar. É o que
diferencia, basicamente, um motor de uso leve, como o de um carrinho esportivo,
do de uso pesado, como o de um trator. Um precisa de velocidades mais altas, o
outro pode mal sair do lugar. Já um motor de alto torque que alcança altas
rotações, bem, isso é para poucos, mas é uma coisa linda de se ver! Tudo
depende do teu objectivo de vida e do que estás disposto a fazer por ele. Aqui solidez
ética é posta à prova. Dinheiro é poder, e o poder te obriga a tomar decisões
no tempo certo, estejas pronto pra tanto ou não.
Agora, quanto aos interesses,
já que toquei no assunto... Estamos lidando com gente, lembrem-se disso. A
maioria dos que apontam o dedo dizendo “Eu condeno e jamais faria isso”, é a parte
mais propensa a fazer o mesmo ou até pior, no teu lugar. Picaretas não deixam
de existir por falta de liberdade econômica, pelo contrário, eles se valem do
sigilo necessário a uma economia fechada e controlada. Aqui cabe diferenciar os
interesses de gente infeliz dos de gente que quer ser feliz. Esta quer
enriquecer a própria vida com a realização de seus sonhos, aquela quer apenas
controlar e vampirizar a tua vida. Gente feliz, lembrem-se sempre, não enche o
saco. No caso aqui, não trava a economia e não desvia os recursos que deveriam
ir para as tuas mãos. Economia é uma das ciências mais humanizadas que existem,
para o bem e para o mal, como é a própria humanidade. Quer higienizar o mundo?
Corra atrás de teus sonhos, prepare-se para isso, permita que o máximo possível
de gente possa se beneficiar dele, porque se tu não o fizeres, há um canalha
prontinho para ocupar o teu lugar e concentrar tudo em um bunker, só para ele.
Mas só valem os teus sonhos, não os que querem te impor ou vender. Só os teus.
Ler também “Um punk domou o sistema”.
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