15/05/2019

Hanna Barbera para maiores


Mas é claro que eu editei! Isto é um blog de família!

    Não é de hoje que os fãs dos personagens da Hanna Barbera esperam pelo retorno da grife ao mundo da animação e, quiçá, seu glorioso ingresso ao crescente e altamente lucrativo universo das versões live action. Sim, tivemos Scooby-Doo, mas sinceramente não foi o que nós, mais velhos, conhecemos quando o desenho era repetido ad infinitum na televisão.



    Nem vou falar daquele vexame que fizeram com o Manda-Chuva que foi um personagem rico, mas incompreendido pelos americanos na época porque se tratava de um malandro tipicamente brasileiro, o que eles ainda hoje simplesmente não comprendem.



    Que dirá dos Jetsons? Era moderno demais para a época, dizem alguns especialistas, mas eu acredito mesmo é que as pessoas não estavam tão interessadas em ver então uma série futurista baseada no cotidiano de um cidadão comum; ainda mais que os problemas tipicamente mundanos estavam presentes e escrachados no desenho.





    Eu poderia passar anos escrevendo e não abrangeria decentemente todos os personagens HB, seria um livro só para listar os nomes de todos eles.



    Acontece que mesmo com a simplicidade extrema da maioria das animações, a Hanna Barbera conseguia o feito de dar carisma e personalidade a TODAS elas, mesmo quando não pareciam ser mais do que versões diferentes de um mesmo tema; o que geralmente era, mas aí vai o talento de uma equipe que pega um Fusca e transforma em Variant, Brasília, TL, TC, Karmann Ghia, Kombi, Puma, Miura, MP Lafer, bugues infinitos e kits a perder de vista. Todos têm a mesma base e origem, mas cada um tem seu próprio comportamento e prazer de dirigir para tipos diferentes de motorista.



    Era esse o mote da HB. Fazia o pasteurizado ter personalidade, como se uma montadora tivesse divisões ou concessões homologadas para customização para versões de nicho. Alô, General Motors, esse puxão de orelha não é uma indirecta, é para vocês mesmo!




    Voltando ao tópico de entretenimento, é justo essa versatilidade que fazia personagens que eram praticamente copiados e colados terem personalidades próprias, e fazia a legião de fãs angariada relevar uma base secreta do alto de um edifício no centro de uma metrópole de onde saía um jato e NENHUM VIZINHO SEQUER PERCEBIA O ESTRONDO. É um absurdo? Sim, é um tremendo absurdo, mas fazia parte da diversão; era para rir mesmo, quem quisesse chorar assistia ao jornal logo a seguir.



    Ao contrário do que se pensava até os malfadados anos 1990, essa legião de fãs não só não desapareceu como cresceu. Gente que nunca tinha visto as reprises no festival Hanna Barbera, nas tardes ao longo da semana, simplesmente ama a grife. Gente que sequer tinha nascido quando a internet começou a trazer toda essa nação de personagens de volta à tona, constitui uma verdadeira torcida organizada.



    Basta um ilustrador talentoso divulgar um pôster alusivo e a rede se enche de esperançosos pelo não só retorno à programação televisiva, ou por streaming, como por filmes block busters que realmente valham o ingresso e a memória de William e Joseph. Perceberam o que quero dizer? Em uma época em que as franquias de heróis veteranos se expande mais rápido do que o universo, há um público cativo ávido por gastar seu suadi dinheirinho em ingressos e bugigangas com a marca Hanna Barbera. É um pomar de bilhões só esperando pela colheita.



    Ok, já apresentei o paraíso, agora mostrarei o purgatório. Assim como a Marvel com o quarteto fantástico, as melhores intenções para com a HB esbarram em um imbróglio incompreensível de licenças e patentes em que NINGUÉM se senta para discutir a divisão de dividendos, que seriam imensos, decorrentes do sucesso da exploração adequada desses personagens. Fica todo mundo emburrado de cara para a parede e mostrando a língua para quem tenta argumentar. É como se um monte de confeiteiros tivesse cada um, um ingrediente para um bolo viciante, mas nenhum se dispusesse a entregar o seu para fazer esse bolo.



    Só que ao contrário do que acontece com o quarteto, zombado com memes (“As coisas estão estranhas”, “esticaram demais o filme”, “roteiro invisível”, “a franquia se queimou”) os fãs da HB dedicam sua fúria aos executivos engomadinhos que não saem de suas salas climatizadas; síndrome da Chrysler, talvez: excelentes carros e péssimas decisões.





    Enquanto isso, os fãs continuam a se nutrir de versões independentes na internet, onde artistas e roteiristas (que são artistas das letras) esbanjam seus talentos em quadrinhos e pôsteres de fazer inveja a qualquer estúdio gigantesco de Hollywood. Eu me surpreendi há uns dez anos, quando digitei os nomes de alguns personagens e vi uma miríade, do mais tosco ao mais refinado, de desenhos independentes relacionados. Mesmo com a estilização que a maioria impunha, cada personagem era perfeitamente reconhecível, desde as versões mais fofas e inocentes até as mais adultas… e picantes… e indecentes... e outras coisas que nem se o que são… é aqui que a porca torce o rabo, meus amigos.



    Digite “Captain Caveman” e aparecerão milhares de resultados, alguns impróprios para menores. Acrescente “hot” e, em vez de restringir, os resultados serão maiores e mais diversificados. Coloque “hentai” ou “porn” e vais se surpreender tanto com a quantidade quanto com a ousadia. Isso vale para todos os personagens, aliás, podem até procurar genericamente por “Hanna Barbera” que esses resultados dignos da Sexta Sexy aparecem, ainda mais acrescentando as extensões. Pinterest e Deviant Art estão repletos deles. Nem adianta colocar filtros, porque aparecem assim mesmo e, dou a mão à palmatória, a arte geralmente é invejável. Os produtores dessas versões se esmeram em realçar a beleza facial das garotas como nenhum estúdio oficial foi capaz até hoje. Quem não está procurando por onanismo simplesmente fica hipnotizado pelos rostos que eles pintam.





   Torcendo mais o rabo da porca, conclui o que já suspeitava há tempos, a indústria da pornografia é a que mais preserva e divulga a memória do entretenimento, e também a que mais lucra com isso. Alguns vão dizer que estou de sacanagem, mas asseguro meus amigos, aquilo que os filtros tentam barrar sem sucesso é justo o que me levou a conhecer versões renovadas e não eróticas dos clássicos da Hanna Barbera. Hoje não me rendo mais ao rubor, é digitando “Josie and the Pussycats hentai” que as versões em arte mais finas e bem-acabadas, e apresentáveis à família, são encontradas com mais facilidade e profusão. Eu não estou brincando, precisaria praticamente viver disso para poder vasculhar todas as opções de censura livre! Imaginem as com tabela etária…



    Enquanto os estúdios de quadrinhos e filmes se digladiam, cada um escondendo seu ovo e sua farinha, a enxuta e ágil indústria do erotismo vende pequenos e bem-feitos bolos em larga escala. Os bocós não querem ganhar fortunas de uma só vez com nababescos bolos de noiva? Eles ganham fortunas com pequenos cupcakes de fino acabamento vendidos aos milhares, não se envergonhando em desenhar mulheres com traços graciosos e encantadores. Enquanto muitas vezes os estúdios apelam ao “custo/benefício” e depois se perguntam o que teria dado errado, os independentes ouvem seus seguidores e fazem o melhor que eles querem comprar, e fazem em grandes quantidades; e vendem tudo.






    Eles não perdem tempo com disputas internas e reuniões intermináveis, eles focam nos interesses comuns e depois acertam o resto, o importante é atender à demanda e pagar os custos da produção, os dividendos e a distribuição da renda resultante são meras conseqüências dessa agilidade e racionalidade: o fã quer, o fã tem. Ah, claro! Eles LÊEM os quadrinhos e VÊEM os desenhos clássicos, discutem em iguais condições com os nerds mais avançados, enquanto o executivo engomadinho com NBA em coaching pensa que Ben Grimm é um dos irmãos Grimm!



    Sem trocadilhos infames, os estúdios deveriam voltar às suas origens, reaprender a atender ao público vendo seus rostos e se inserirem até o fundo daquela caverna de criatividade e frescor que há décadas eles não conhecem, mas os artistas independentes, livres leves e soltos exploram com fervor.



    Até lá… Well… Até lá vamos continuar digitando “Penelope Pitstop hot” para suprir superficialmente a demanda que os engravatados não conseguem, inclusive com os crossovers mais bacanas que se possam imaginar… mas o mimimi corporativo proíbe.

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