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No ponto de ônibus, esperando pela condução para o trabalho e me perguntando como reporia o sono depois; era essa a minha situação na manhã de hoje. Por volta de 05h20. Não costuma acontecer muita coisa nesse horário, além de meliantes com o producto do furto nas mãos, viciados procurando algo para queimar o a erva, enfim... O trivial de uma metrópole que JÁ FOI um bom lugar para s e viver.
Fora, talvez, uma cena no verão do ano passado, quando uma loura estava visível do tórax para cima, pelo teto solar de um Civic, provavelmente voltando da balada; a carinha e a dança mostravam que tinha acontecido algo mais.
Mas hoje uma cena pitoresca me chamou a atenção. Um velho senhor barbudo, aparentando ser um desabrigado, com suas vestes maltratadas, um saco nas costas e um cano plástico de enrolar fazenda de tecido lhe servindo de cajado. Ele se aproximou de mim, passando mais rente do que seria prudente em uma cidade violenta como Goiânia se tornou, mas ele parecia mais preocupado em suas meditações do que em desviar de desconhecidos potencialmente perigosos, aos quais talvez esteja acostumado.
Enquanto ele se aproximava, uns seis cães, mais diversificados do que pacote de biscoitos sortidos Fortaleza, atravessavam a 24 de Outubro, indo para a esquina da Caixa Econômica Federal. Lá costuma funcionar uma barraquinha de churrasquinho e "jantinha", eles devem ter sentido o cheiro. Não me chamaram a atenção, de início, mas enquanto aquele senhor se afastava, ressonando o ruído do tubo plástico na calçada, os cães começavam a correr para perto dele. Em tempo, essas "barraquinhas" cresceram muito nos últimos anos e quase sempre atrapalham muito, porque tomam as calçadas e vagas de estacionamento como se fossem áreas particulares. Falta regulamentação e fiscalização não é de hoje, nem só neste caso.
Contei um... dois... três e me perguntei onde estariam os outros. Logo veio o quarto. O quinto e o sexto se demoraram mais, devem ter encontrado espetos ou guardanapos que ainda valiam umas lambidas. Me tocou o modo como eles seguiam aquele senhor, imagino que ele deva trata-los com muito respeito; não necessariamente com suavidade, pois a vida tem o mau hábito de embrutecer até quem tem um teto estável, imagine a quem vive pelas ruas, esperando restos alheios!
Mas os cães o seguiam, sem se esfregarem nele, mas sempre por perto. Me surpreendi quando um sétimo cão foi rapidamente sucedido pelo oitavo, ambos com problemas nas patas traseiras esquerdas, mesmo assim andando com desenvoltura em sua dança canina pela avenida ainda fria. Nenhum deles era muito magro, nenhum estava gordinho, mas todos estavam fortes e serelepes, então todos eles e o senhor provavelmente tinham o necessário em intervalos salutares para subsistir.
Antes que o senhor chegasse à outra esquina, com o cano a ressonar na manhã escura e fresca deste inverno esquizofrênico, mais dois cães se apressaram em virar a esquina oeste e alcança-lo. Então eram dez cães, dos quais um homem muito pobre e velho cuidava a contento, mesmo com todas as dificuldades e não só a parte alimentar, porque os dez estavam muito mansos, sem nem se importar com os poucos carros e os ônibus que circulavam àquela hora.
Eu não posso fixar atenção em um só ponto, pois a região naquele horário é erma e quanto mais atento estiver, menos riscos eu corro, mas observei aquele senhor e os dez cães em uma convivência clara e totalmente espontânea, se afastarem até sumirem no único horário em que não seriam tratados como agentes patogênicos. Talvez por isso ele não tenha tentado se afastar mais de mim, nem me olhado, nem me cumprimentado, talvez ser invisível tenha sido a regra de ouro para evitar mais dissabores do que a vida ingrata já lhe trazia.
Tão repentinamente quanto surgiu, o som do tubo na calçada sumiu. Com ele o senhor e seus dez cães. Talvez para ele não faça a mínima diferença e, não fossem dez cães dependendo de si, talvez para ele fosse até um alívio desaparecer pura e simplesmente.
Estamos no segundo semestre, as propagandas de natal não tardam muito a aparecer, então me veio à mente os antigos filmes sobre Papai Noel, em que o bom velhinho podia se disfarçar em alguma forma desafortunada para testar a reação das pessoas. Bem, eu não fui gentil com ele, não do modo como me acostumei, também tenho meus traumas e aprendizados e não incomodar um estranho em situação que me desfavorecem se tornou um hábito quase automático. Ficarei sem presente neste natal, ao que me parece.
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